Discurso durante a Sessão Solene, no Congresso Nacional

Reverência à memória do ex-Senador e ex-Presidente da República Itamar Franco.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Congresso Nacional
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Reverência à memória do ex-Senador e ex-Presidente da República Itamar Franco.
Publicação
Publicação no DCN de 11/08/2011 - Página 2268
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • CUMPRIMENTO, AUTORIDADE, SENADOR, FAMILIA, PRESENÇA, SESSÃO SOLENE, HOMENAGEM POSTUMA, ITAMAR FRANCO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, COMENTARIO, CONDUTA, ETICA, EX PRESIDENTE.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, senhores familiares, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, uma saudação especial ao povo especial mineiro, onde fez carreira o Presidente, e uma muito especial ao Mauro e à Vânia, grandes amigos que o acompanharam e que tanto honram este País.

            Esqueci-me de cumprimentar todos da Mesa.

            Eu creio que uma maneira de fazer uma homenagem ao Itamar é fazer uma pergunta e tentar respondê-la. Por que ele, Senador Taques, ficou na história? Por que outros tantos de nós passamos por aqui e não entramos na história, entramos só na política? Itamar não. Itamar entrou na história. Por quê? Podia resumir em uma palavra, mas, quando se resume em uma palavra, não fica claro: a grandeza. A grandeza dele. A grandeza o colocou na história. Mas por que ele teve grandeza e tantos outros não têm?

            Aí eu tenho que usar algumas outras palavras. Eu uso a palavra luta. Ele não foi um político burocrático, ele não foi um político que ficou apenas tentando encher o tempo dele ao longo de sua vida. Ele foi um homem que caracterizou a sua atividade política como parte da militância por aquilo que ele acreditou ao longo da vida.

            Segundo, a coerência. Ele, do começo ao fim, fez a sua vida política com as mesmas crenças. Podia até estar de um lado, do outro do ponto de vista partidário, mas não do ponto de vista das suas crenças: a crença do nacionalismo, a crença do povo e o que o povo precisava. Essa coerência é que deu grandeza.

            Mas eu quero colocar também o estadismo. São poucos os políticos que não só têm estadismo, mas coincidem a sua vida com a história fazendo com que o seu estadismo apareça. Muitos de nós passa todos toda a vida e não surge a oportunidade de, pelo estadismo, ficar na história com a grandeza.

            Ele foi um estadista.

            E o que caracteriza o estadismo? É estar no lugar certo na hora da dificuldade. No Estado não vale aquela expressão, Senador Aécio: no lugar certo na hora certa, não. É no lugar certo na hora difícil. E ele estava lá na hora difícil deste País, do primeiro Presidente saindo do poder, saindo do Governo e, ao mesmo tempo, um País em ebulição, em baixa estima, corroído pela inflação. E ele chega ali e tem um estadismo de recuperar a autoestima do povo brasileiro, de fazermos voltar a acreditar na democracia, porque muitos já não acreditavam dizendo que eleição direta não valia a pena. Ele conseguiu trazer isso.

            Eu coloco mais uma palavra: a realização, que poderia estar dentro do estadismo, mas merece um tratamento especial. Ele foi um político que realizou. Aqui se falou no Ministro Hingel, que foi um realizador, mas todos sabem que foi Itamar que teve a ousadia de criar, com competência, a estabilidade monetária neste País. A realização é outra palavra que rima com grandeza.

            Coragem cívica é outra palavra também que rima com grandeza. E ele foi um homem com coragem cívica, de estar com a posição igual sempre, mas sem deixar de tomar medidas, sem deixar de ocupar posições que exigiam uma grande coragem.

            Finalmente, salvo uma palavra que dá grandeza, mas que não deveria ser necessária, porque falo depois, digo como última: o sentimento de história. Essa frase aqui mostra que ele tinha sentimento. Ele foi um homem que teve o sentimento de que ele era um pedaço da história deste País e um homem que iria ajudar a fazer um futuro na história deste País. Essas são as palavras que fizeram dele um homem, resumidamente, usando a palavra que a Senadora Ana Amélia usou: grandeza.

            Finalmente, uma palavra que eu não deveria colocar, porque ela deveria ser o óbvio para todos, mas, lamentavelmente, no Brasil, é uma exceção: honestidade. Eu não gosto de colocar como qualidade de ninguém ser honesto, porque deveria ser o mesmo que dizer que ele respirava. Nós não podemos, no mundo de hoje, deixar de lembrar para os jovens que estiverem assistindo a isto aqui que nós tivemos, sim, um político honesto na Presidência da República chamado Itamar Franco. Por isso ele está na história, por isso nós estamos homenageando-o e por isso, muitas e muitas vezes, daqui para frente, outras homenagens como esta serão feitas e por isso, daqui para frente, seu nome vai estar nos livros em que as crianças vão estudar a história do Brasil. Por isso ele está vivo. Porque quem teve a grandeza dele não morre.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.

            Parabéns a todos.


Este texto não substitui o publicado no DCN de 11/08/2011 - Página 2268