Discurso durante a Sessão Solene, no Congresso Nacional

Reverência à memória do ex-Senador e ex-Presidente da República Itamar Franco.

Autor
Inácio Arruda (PC DO B - Partido Comunista do Brasil/CE)
Nome completo: Inácio Francisco de Assis Nunes Arruda
Casa
Congresso Nacional
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Reverência à memória do ex-Senador e ex-Presidente da República Itamar Franco.
Publicação
Publicação no DCN de 11/08/2011 - Página 2272
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • CUMPRIMENTO, AUTORIDADE, SENADOR, FAMILIA, PRESENÇA, SESSÃO SOLENE, HOMENAGEM POSTUMA, ITAMAR FRANCO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, COMENTARIO, VIDA PUBLICA, EX PRESIDENTE.

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente; senhores convidados, familiares; amigos; colaboradores do Presidente, do Senador, do Governador, do Prefeito; e, especialmente família do Presidente Itamar Franco, eu sou do PC do B, Partido Comunista do Brasil.

            Nós tivemos, não do ponto de vista pessoal, mas do ponto de vista partidário, a oportunidade de conviver com o Senador, com o Presidente e o novamente Senador Itamar Franco. Quando presidiu o País, não tínhamos representação no Senado, estávamos na Câmara dos Deputados, mas considero que algumas questões são marcas muito importantes importante que nos permitem fazer essa referência histórica a uma figura da luta do povo brasileiro.

            Primeiro, o Itamar foi para o MDB quando era mais fácil ir para a Arena. Ele estava na resistência política, democrática. Essa é uma marca que leva para sempre, a de um homem que resistiu a um regime ditatorial, que buscava subordinar os interesses do nosso País a interesses alienígenas.

            Tem muito significado para nós, tendo em vista a história, a sua insubordinação. Não aceitar que o Parlamento brasileiro fosse coonestado e levado a defender interesses que não eram os seus, não eram os da História, da construção da História do Brasil.

            Depois houve um segundo aspecto que surgiu praticamente na trajetória presidencial - tivemos antes a luta constitucional - e também ali foi muito importante também o seu posicionamento. Na Presidência é algo assim muito interessante o modo como você trata de uma questão que deve ser também o cotidiano do gestor público e da pessoa.

            O Itamar tratou o problema do tema da corrupção com simplicidade. O Itamar nunca quis ser uma mariposa que o holofote abria e ele corria para aparecer mais capaz de enfrentar a corrupção que os outros. Não! Foi com simplicidade que reagiu quando o acusaram e quando ele buscou tratar do tema porque ele foi o alvo da acusação,

            Ele foi o alvo da acusação, partindo daqui, do Senado da República.

            Ele enfrentou a acusação com simplicidade e depois buscou agir no sentido de criar mecanismos capazes de inibir ao máximo essa chaga presente no mundo desde que o mundo é mundo, até hoje e em todos regimes, digamos assim.

            Então, ele teve a capacidade de enfrentar tudo com simplicidade.

            Por que se utilizam muito da facilidade, do escândalo e da injustiça para transformar uma pessoa honrada no compromisso do seu papel de servidor público. Lembremos do caso, Hargreaves, que o Itamar chegou para você e você deve ter chegado para ele e dito: eu saio. Saia e vai voltar, porque você vai ser examinado e vai prevalecer o meu critério, você é uma pessoa honrada e vai voltar para cá.

            Assim o fez. Não ficou na onda do holofote, do espetáculo, que vende jornal e que dá ibope, que cria cena, que teatraliza o escândalo. Agiu de forma simples, correta e justa. Teve o nosso apoio, foi bom e foi correto. Como tratar um tema árido de forma simples sem querer colocar isso como a questão central do Brasil. Para dar ibope todo dia, para fazer cena todo dia, vira a questão central do país. Isso não. A questão central do país é outra.

            Primeiro, vamos defender os interesses do Brasil, da nossa economia, vamos ajustar a nossa economia. Essa é a questão. Esse é o ponto que temos de pegar com a mão. Nós temos de mobilizar o país em torno da defesa dos interesses econômicos e sociais. Como elevar a qualidade de vida do povo? Como melhorar a vida do povo?

            Acho que aqui ele deu outra marca, foi muito importante.

            Travou um caminho que já vinha prevalecendo no consenso de Washington, de que a história havia acabado, a nossa história. A história acabaria para ter uma só história: a história do Fukuyama.. Então, ele travou isso aí. Disse: “Não, vamos suspender esse negócio aqui. Acaba com essa onda de neoliberalismo a toda linha. Sustenta”.

            Por que neoliberalismo a toda linha significava destruir as bases capazes de fazer com que a nossa economia pudesse se desenvolver. Então, botou o dedo na ferida: suspendeu esse negócio. Acabou esse negócio de querer privatizar tudo, querer acabar com tudo em nosso país.

            Foi muito ajustado e muito correto o seu posicionamento.

            Depois Itamar foi para o Governo de Minas. Foi uma luta, porque tinha crise - é evidente - que vinha lá detrás, desde a quebradeira de 1982. Vinha tudo rolando de lá para cá. O Itamar... A pressão era muito grande, em um Estado como Minas Gerais, endividado, em grandes dificuldades. Como ia fazer?

            A pressão maior era a seguinte: “Olha, vocês têm aí uns ativos muito importantes, muito importantes. E a lei, que não é corrupta, porque está na lei, diz que você pode entregá-los. Entrega, é tudo legal. É um assalto descarado, mas é legal. Ninguém vai ser preso. A Polícia Federal não vai agir, o Ministério Público não vai, o juiz não vai, a televisão não vai, e você vende. E eles vão fazer uma festa para você, uma festa extraordinária. Vai ter vinho, vai ter champanhe, vai ter tudo, e ainda vão colocar você na televisão, todos os dias, para dizer: “Olha que maravilha! Que Governador maravilhoso!”

            E o Governador fez o contrário. Ele disse: “Não, vou chamar a força pública e vou dizer aqui ninguém mexe.” E assim fez. Ele chamou a força pública e disse aqui ninguém mexe, ninguém toca nesse patrimônio do povo mineiro e brasileiro. Foi muito significativo, fortaleceu o segmento da sociedade brasileira que se contrapunha à ideia do consenso de Washington, destruidor da economia e das bases capazes de fazer a economia nacional se levantar.

            Por isso, quero dizer nossas honras ao nosso Presidente Itamar Franco, ao brasileiro; simplesmente ao brasileiro Itamar Franco. Acho que foi assim que ele se comportou. Acho que foi muito ajustado o caminho que ele percorreu até os últimos dias no plenário do Senado Federal.

            Obrigado, Presidente. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DCN de 11/08/2011 - Página 2272