Discurso durante a Sessão Solene, no Congresso Nacional

Reverência à memória do ex-Senador e ex-Presidente da República Itamar Franco.

Autor
Luiz Henrique (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/SC)
Nome completo: Luiz Henrique da Silveira
Casa
Congresso Nacional
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Reverência à memória do ex-Senador e ex-Presidente da República Itamar Franco.
Publicação
Publicação no DCN de 11/08/2011 - Página 2274
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • CUMPRIMENTO, AUTORIDADE, SENADOR, FAMILIA, PRESENÇA, SESSÃO SOLENE, HOMENAGEM POSTUMA, ITAMAR FRANCO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, COMENTARIO, CONDUTA, VIDA PUBLICA, EX PRESIDENTE.

            O SR. LUIZ HENRIQUE (Bloco/PMDB - SC) - Srªs e Srs. Senadores, Sr. Augusto Franco, irmão do saudoso Itamar, queridas Fabiana e Georgiana, meu caro Hargreaves, o verdadeiro sancho pança do quixote Itamar Franco, o Presidente da Câmara dos Deputados e da Constituinte, o também inexcedível Ulysses Guimarães, narrou para mim um episódio, numa daquelas noite, Pedro, em que ficávamos divagando sobre a memória deste País.

            Ele residia próximo do Palácio e, quando soube do suicídio de Getúlio Vargas, ele acorreu logo para lá, sendo um dos primeiros a chegar ao leito de morte do grande Presidente Getúlio Vargas.

            Ele narrou a cena: um quarto modesto, um crucifixo, uma cuia de chimarrão e poucos pertences pessoais. Ao narrar isso, Ulysses olhou para mim e disse: “Getúlio era um anacoreta”. Itamar era um anacoreta. Infelizmente, pessoas como Itamar Franco vão se tornando dinossauros, espécies em extinção na política brasileira.

            Itamar era um homem que levava à frente, com total rigor, um lema que é fundamental para todos nós: todo homem pode possuir, só não pode é ser possuído pelas coisas que possui. Itamar nunca foi possuído pelas poucas coisas que possuiu. Itamar era intransigente quando empenhava a palavra e muito mais quando assinava um documento.

            Eu quero me referir a um episódio importante da nossa história recente: o episódio da eleição indireta que levou, via Colégio Eleitoral, o inesquecível e também inexcedível Tancredo Neves à Presidência da República, acompanhado de seu Vice-Presidente, hoje Presidente desta Casa, José Sarney.

            O programa do MDB, o estatuto do MDB abominava o colégio eleitoral. Estabelecia como regra clara, objetiva e incontestável que o Partido e nenhum de seus Parlamentares, fossem Senadores ou Deputados, jamais participariam da farsa do colégio eleitoral, que produzia uma eleição muito mais “eficaz” do que a urna eletrônica, porque esta, que aliás, é um avanço científico e tecnológico, construído pela inteligência científica dos homens do meu Estado, propicia sabermos o resultado no máximo em duas horas após o pleito, seja ele municipal, estadual ou federal. A eleição do colégio eleitoral já nos propiciava saber o resultado um, dois, três meses antes do pleito.

            Pois bem. Nós nos negávamos a ir ao colégio eleitoral e constituímos um grupo na minha casa, ao qual aderiram Deputados que se notabilizaram pela sua ação política na Câmara dos Deputados e que depois ascenderam a cargos maiores da República, como Odacir Klein, Ministro dos Transportes; como Tarcisio Delgado, que chegou à Secretaria-Geral do nosso Partido; como Pimenta da Veiga, que ascendeu ao Ministério das Comunicações; como Flávio Bierrenbach, que chegou ao Superior Tribunal Militar. Era um grupo de remanescentes do famoso grupo autêntico.

            Redigimos um documento, demos a ele o nome de Só Diretas e saímos a arregimentar forças, assinaturas de Deputados que se comprometiam a não participar do colégio eleitoral. Evidentemente que éramos um grupo de jovens Parlamentares sem experiência, mas Itamar, Senador, foi um dos primeiros que aderiu ao movimento.

            A eleição de Tancredo ganhou as ruas, ganhou a alma do povo. A candidatura de Tancredo transformou-se em uma avalanche de opinião pública, e nós entendemos que havia um fato novo, e o fato novo era que a candidatura Tancredo Neves não se constituía numa nova anticandidatura, como a de Ulysses, mas numa candidatura que iria vencer não apenas pela maioria parlamentar no colégio eleitoral, mas pela força imanente que vinha das ruas.

            Fizemos várias reuniões de avaliação e chegamos à conclusão de que deveríamos romper aquele pacto, deveríamos acompanhar o Partido no colégio eleitoral. Fomos, e eu me lembro bem desse dia, ao Gabinete do Senador Itamar Franco, e ele nos disse: “Vou ser mal interpretado. Muita gente maledicente vai dizer que eu não irei ao colégio eleitoral porque quero ter uma liderança maior que a do Tancredo, que quero me contrapor ao Tancredo. Eu sei que vou sofrer um desgaste eleitoral imenso lá em Minas, mas eu não vou!”

             “Mas, Senador, o senhor não está convencido de que a candidatura do Tancredo, embora indireta, se transformou em uma verdadeira eleição direta pela comoção popular que ela provocou?” Ele disse: “Sei, estou consciente disso, mas eu assinei o papel e dei a minha palavra”.

            E com todo o desgaste de sua decisão - o Hargreaves acompanhou isso -, ele não foi ao colégio eleitoral por uma só coisa: coerência. Quando eu falei a ele: “Presidente, nós todos não queremos ir ao colégio eleitoral. Mas agora virou uma questão de realpolitik, é um fato novo que se impôs, essa popularidade fantástica, essa ansiedade fantástica da população de ver Tancredo Neves na Presidência da República, mesmo por via indireta”. Ele disse: “Não, eu reconheço, mas assinei e vou manter a minha assinatura”. Pegou o documento e disse: “Vou guardar no cofre para cobrar de vocês um dia”. E guardou no cofre.

            Assim era o Itamar, o Itamar coerente, impertinente na sua coerência; era o Itamar que teve uma vida plena de luta, uma vida plena de defesa das suas convicções, uma vida plena de dedicação, como sacerdócio, à vida pública.

            Vale para Itamar aquela lição de Brecht, com a qual encerro o meu discurso - e tenho a honra de encerrar o ciclo oratório desta solenidade. O que disse Brecht...

            O SR. PRESIDENTE (Pedro Simon. Bloco/PMDB - RS) - Senador, antes do senhor encerrar, a Senadora está lhe fazendo um apelo, primeiro perguntou a mim - ela que é da Mesa sabe que não é regimental, mas quer, mas se V. Exª concordar...

            O SR. LUIZ HENRIQUE (Bloco/PMDB - SC) - Com grande alegria, minha conterrânea, Senadora pelo Amazonas, mas que Santa Catarina tem orgulho de tê-la como uma conterrânea. Eu concedo a palavra à Senadora Grazziotin.


Este texto não substitui o publicado no DCN de 11/08/2011 - Página 2274