Discurso durante a 17ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro da realização, durante o Carnaval, do evento da Igreja Carismática Católica em Brasília, denominado “Rebanhão”.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IGREJA CATOLICA.:
  • Registro da realização, durante o Carnaval, do evento da Igreja Carismática Católica em Brasília, denominado “Rebanhão”.
Publicação
Publicação no DSF de 29/02/2012 - Página 4166
Assunto
Outros > IGREJA CATOLICA.
Indexação
  • REGISTRO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, ENCONTRO, JUVENTUDE, REALIZAÇÃO, IGREJA CATOLICA, PERIODO, CARNAVAL, OBJETIVO, DISCUSSÃO, PROBLEMA, RELAÇÃO, ADOLESCENCIA, NECESSIDADE, CRIAÇÃO, ATIVIDADE SOCIAL, REFERENCIA, ABERTURA, ESCOLA PUBLICA, FIM DE SEMANA, COMUNIDADE.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srs. Parlamentares, comprometi-me a falar desta tribuna - e tentarei fazê-lo agora - sobre algo que me parece muito importante, embora tenha tido pouquíssima presença em rádios, em jornais e na televisão.

            Em meio aos festejos do Carnaval - e o Brasil tem o mais famoso Carnaval do mundo, o mais famoso e o mais intenso -, tenho tido a oportunidade, há vários anos, de acompanhar a movimentação de várias entidades, de modo muito especial, na cidade. Exatamente nesses dias são feitas concentrações, retiros, rebanhões e tantos outros nomes, pelas mais variadas igrejas ou entidades sociais, para debater, para discutir os problemas da sociedade, da fé, da vida, as questões sociais que vivemos.

            Assisti ao rebanhão no ginásio, no eixo monumental. Quinze mil jovens superlotando aquele local foi qualquer coisa de impressionante! E o que me chamou atenção - e isto acho muito importante, essa foi uma organização da chamada igreja carismática católica -, foi a alegria, a manifestação de entusiasmo com que as questões eram feitas. Não era aquela fé soturna, aquela repetição permanente das mesmas palavras, dos mesmos símbolos, mas era um debate atual.

            As pessoas cantavam e se movimentavam, era quase uma festa de Carnaval. Eram pessoas alegres, felizes e que debatiam e discutiam o dia a dia dessa mocidade. Eu dou muita importância a isso, especialmente quando vejo a situação difícil em que se encontra a nossa mocidade, quando vejo que a escola está muito aquém do que já foi e do que deveria ser. É uma escola que ensina para passar no Vestibular, que instrui, o que é uma grande coisa, agora, educar, formar cidadãos, dar-lhes personalidade, dar-lhes princípios e orientação para a vida do dia a dia, é cada vez mais difícil.

            Vejam o meu Estado. Quando fui Governador, o problema mais difícil que eu enfrentei foi o setor do sindicato dos professores. Lá se vão vinte anos, muitos governos passaram, mas a discussão é a mesma, sem nenhuma preocupação com os jovens, sem nenhuma preocupação com a mocidade.

            Se olharmos o contexto da sociedade de hoje, no qual a família é praticamente um ponto de encontro, no qual a rainha da família é a televisão, uma televisão que deforma a mocidade... Nesse programa que agora é líder de audiência, numa votação para ver quem ficava e quem saía, 65 milhões de pessoas votaram. Sessenta e cinco milhões! São mais votos do que os que a Dilma obteve! Um número maior de pessoas do que o número de votos que a Dilma obteve votaram na Rede Globo para escolher quem saía e quem ficava. É a insurreição do absurdo, do escândalo, da irresponsabilidade! Cá entre nós, acho, com toda sinceridade, que, se o Dr. Roberto Marinho estivesse vivo, o programa não teria baixado ao nível em que está, pelo menos seria mantido um mínimo de seriedade. Levando isso em conta é que essas reuniões me emocionaram.

            É no meio disso que essas reuniões me emocionaram.

            Eu disse para meu filho, dezessete anos: “Vá lá, meu filho. Vá ver os jovens cantando, brincando, debatendo, discutindo, conversando, namorando, mas conhecendo as realidades da vida, conhecendo os caminhos da vida, a responsabilidade da vida”.

            Nem as igrejas, de modo geral, estão muito preocupadas com isso, no etéreo, no fugaz. E as escolas, meu Deus do céu. Eu defendo muito, insisto muito, e acho que o Ministro da Educação, uma pessoa muito inteligente, muito competente, deveria analisar e adotar isso oficialmente.

            Lá em Porto Alegre, as escolas, nos finais de semana, geralmente apareciam depredadas. O governo arrumava, pintava, deixava-a novinha e, dez dias depois, vidros quebrados, campo de futebol com as goleiras derrubadas. Uma selvageria incompreensível.

            Mas o que é isso? Qual a razão de ser? Está se começando a adotar uma vila, uma favela. E, Srª Presidente, deve ser assim também em São Paulo, como é no Rio Grande do Sul: uma área cada vez menor, cada vez com menos campo de futebol para a gurizada brincar, praça para gurizada fazer alguma coisa, para poder andar. Na favela, a casinha dele está colada na outra. Não tem por onde andar, não tem o que fazer. E, aos sábados e domingos, eles veem ali aquele colosso, o prédio mais bonito que há, com piscina, com cancha de esporte, com tudo fechado. E ninguém pode ir lá.

            E pensamos transformar, aos sábados e domingos, a escola em clube comunitário. Poderiam entregar - porque as professoras não quiseram - a chave da escola para o clube, para pais e para a sociedade dos amigos daquela favela. E eles que usem. É uma maravilha. É criança jogando bola, é criança na piscina, é clube de mães, até carteado de canastra ou coisa que o valha. Haveria lugar para todo mundo. E, no meio disso, curso de formação das crianças, debate, discussão, orientação, conscientização das questões.

            Sinceramente, eu não consigo entender quantas coisas o Ministério da Educação poderia fazer e, na verdade, não faz.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Eu acho que os professores, em tese, inclusive no meu Estado, Rio Grande do Sul, ganham muito menos do que deveriam, mas, mesmo assim, poderiam abraçar esta causa: pensar não apenas no seu salário - é justo que pensem -, mas também nessa mocidade que está aí com uma expectativa tão grande e com uma irresponsabilidade nossa com relação ao seu futuro.

            Eu passei o Carnaval muito emocionado. No fim, eu estava quase cantando com aquela gurizada. Eu me emocionei de ver ali dez mil jovens bonitos, sadios, moças bonitas e bem vestidas, usando calças jeans, mostrando beleza, sentimento. Não eram freirazinhas, não. Mostravam alegria na melhor das intenções, a coisa mais linda e mais pura que existe.

            Minha querida Marta Suplicy, lutei muito para criar a TV Brasil. Criei uma comissão aqui no Senado, briguei e lutei. Mas, para mim, a TV Brasil tinha que ser uma espécie de BBC de Londres, uma grande televisão. Fizeram isso que está aí: zero ponto de audiência. Votaram correndo, sem nenhuma preocupação, sem nada do que devia ser. E essa TV Brasil ainda existe. Embora tenha começado muito mal, tem condições de desempenhar esse papel: de conscientizar, de politizar, de esclarecer a nossa mocidade. Eu acho que vale a pena e eu, sinceramente, venho aqui cumprir uma emoção de consciência, venho aqui dizer muito obrigado pelos três dias que passei, em que vi e me emocionei. Fez muito bem para mim, para eu educar o meu filho, a minha filha, porque acho que esse é um grande caminho. E V. Exª é um especialista nessa matéria. Está aí uma obra pela qual o Senado poderia fazer alguma coisa. Muito obrigado. 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/02/2012 - Página 4166