Discurso durante a 17ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Denúncia da existência de loteamento de cargos públicos, no Banco do Brasil, em troca de apoio político.

Autor
Alvaro Dias (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PR)
Nome completo: Alvaro Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • Denúncia da existência de loteamento de cargos públicos, no Banco do Brasil, em troca de apoio político.
Publicação
Publicação no DSF de 29/02/2012 - Página 4175
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DENUNCIA, DISPUTA, MEMBROS, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), DIRETORIA, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), REGISTRO, GRUPO, PARTICIPAÇÃO, CORRUPÇÃO, CRITICA, ORADOR, ATUAÇÃO, PARTIDO POLITICO.

            O SR. ALVARO DIAS (Bloco/PSDB - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Marcelo Crivella, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, hoje, eu deveria falar sobre a reunião que tivemos, pela manhã, na Presidência do Senado, com lideranças de trabalhadores e de empresários, discutindo o pacto federativo e o fortalecimento da indústria nacional. Depois, nós nos reunimos com Governadores, que apresentaram suas súplicas diante das dificuldades que vivem em razão de encargos que sobrecarregam as unidades federativas, sem a contrapartida dos recursos para atender a novas demandas. Mas, Sr. Presidente, a oposição tem o dever de denunciar as eventuais falcatruas existentes no País, especialmente no Governo. Por isso, hoje, mais uma vez, venho à tribuna para lastimar a existência de um modelo promíscuo que loteia os cargos públicos em troca de apoio político.

            O aparelhamento do Banco do Brasil chega às páginas policiais. O Banco do Brasil tornou-se o exemplo mais vistoso da forma como o Governo petista ocupa as estruturas de poder. A bicentenária instituição está agora no centro de uma disputa em que se digladiam grupos e facções do PT. O que menos parece importar aos contendedores nessa disputa olímpica pela medalha de ouro do aparelhamento do Estado é o interesse público.

            Desde a semana passada, os jornais vêm desnudando o clima de guerra que se instalou no maior Banco público do País. “No Governo, há o temor de que uma guerra de dossiês cause crise sem precedente e respingue em outras áreas”, informou a Folha de S.Paulo na última sexta-feira. A tônica é a disputa de facções petistas pelo comando do Banco do Brasil e da Previ, seu bilionário fundo de pensão.

            Mais especificamente, debatem-se, por meio de notas na imprensa e de declarações em off, o atual Presidente do Banco, Aldemir Bendine, e Ricardo Flores, que comanda a Previ, e seus respectivos grupos de apoiadores, um tentando derrubar o outro. Nenhum deles apresentou qualquer indício de que aja em favor do bem público. Na realidade, brigam pelo controle do dinheiro público.

            O Banco do Brasil avizinha-se de ser o primeiro banco brasileiro a dispor de R$1 trilhão em ativos. Seu lucro, em 2011, bateu em R$12,1 bilhões. Já a Previ é uma das principais investidoras do País - está, inclusive, no consórcio que assumirá o aeroporto de Guarulhos - e tem patrimônio na casa de R$152 bilhões, conforme números de seu balanço de 2010.

            Não é de agora que a diretoria do Banco do Brasil tem sido usada como moeda de troca na gestão deste Governo. Já serviu para abrigar aliados de outros partidos, derrotados em eleições e militantes problemáticos. Mas o epicentro das disputas no Banco tem se dado mesmo dentro do PT.

            Ainda hoje, a Folha revela mais um episódio dessa triste saga: depósitos suspeitos feitos na conta bancária do ex-Diretor Allan Toledo. Quase R$1 milhão foram creditados ao longo de 2011, época em que ele dirigia a área de Atacado, Negócios Internacionais e Private Banking do Banco do Brasil.

            “O Banco do Brasil abriu sindicância para apurar o caso por suspeita de lavagem de dinheiro, notificou a Polícia Federal e trocou informações sobre o caso com ela”, informa o jornal. A investigação teve início depois da demissão de Toledo e originou-se de relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), do Ministério da Fazenda.

            O dinheiro veio de uma aposentada, que, por sua vez, recebeu igual quantia de um empresário que é sócio do dono do frigorífico Marfrig. Teria sido fruto de venda de um imóvel, que, no entanto, continua habitado e em nome dos mesmos antigos proprietários um ano e dois meses depois da transação financeira. Ou seja, tudo na operação sugere uma mera triangulação de valores.

            Vale ter presente que o Marfrig foi uma das empresas mais bem aquinhoadas pela política de escolha de “campeões nacionais” tocada pelo BNDES na gestão petista. O banco de fomento é, hoje, o segundo maior acionista individual do frigorífico, com 14%, só atrás das famílias fundadoras.

            O BNDES aportou R$715 milhões na empresa. Foi, em tudo, um mau negócio: o frigorífico só gera prejuízo, está superendividado e vê-se obrigado atualmente a fechar fábricas e a demitir funcionários. Até meados do ano passado, o Marfrig tinha rendido perda de R$201,4 milhões para o banco oficial.

            Governistas sempre viram no Banco do Brasil uma espécie de galinha dos ovos de ouro. Desde o início do governo Lula, o comando da instituição foi disputado por capas-pretas do Partido, como Luiz Gushiken, Ricardo Berzoini e João Vaccari, com larga militância no sindicalismo bancário paulista.

            O Banco também esteve no ápice do escândalo do mensalão. A Visanet, mantida pelo Banco do Brasil e por outras instituições financeiras, foi uma das fontes comprovadas de recursos desviados para o esquema de compra de votos mantido pelo PT no Congresso, conforme mostraram investigações do Ministério Público Federal e da Polícia Federal.

            O novo escândalo no Banco do Brasil é apenas o mais recente na seara do Ministério da Fazenda de Guido Mantega. Ao lado da Casa da Moeda e da Caixa Econômica Federal, desponta como parte de um esquema cujo maior objetivo parece ser drenar dinheiro público para benefícios privados e, principalmente, partidários.

            Mas a grande verdade é que a guerra pelo comando do Banco do Brasil acaba de produzir um crime: a divulgação de informações financeiras de Allan Toledo, que, até o fim do ano passado, ocupava o posto de Vice-Presidente mais importante do Banco.

            Há um novo Francenildo na cena política brasileira. Mas, desta vez, ele não é um caseiro, mas, sim, um dos principais executivos do mercado financeiro no Brasil.

            O fato concreto é que Allan Toledo acaba de ser vítima de um crime: a quebra de seu sigilo bancário. E o mais grave é que esse crime pode ter ocorrido justamente na instituição à qual ele serviu, como um dos principais executivos, durante 30 anos.

            Em 2006, foi Francenildo Costa que teve seu sigilo bancário quebrado na Caixa Económica Federal. Agora, é a vez do Sr. Toledo, que, indignado, pretende acionar na Justiça os responsáveis pela quebra de seu sigilo bancário.

            O fato concreto é que a crise do Banco do Brasil já começa a se transformar em escândalo no atual Governo, mais um dos grandes escândalos do atual Governo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/02/2012 - Página 4175