Discurso durante a 25ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro do encontro, ocorrido esta semana, na Alemanha, da Presidente Dilma Rousseff com a Primeira-Ministra alemã Angela Merkel; e outro assunto.

Autor
Marta Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Marta Teresa Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
FEMINISMO. POLITICA EXTERNA.:
  • Registro do encontro, ocorrido esta semana, na Alemanha, da Presidente Dilma Rousseff com a Primeira-Ministra alemã Angela Merkel; e outro assunto.
Publicação
Publicação no DSF de 09/03/2012 - Página 5369
Assunto
Outros > FEMINISMO. POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • REGISTRO, ENCONTRO, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PRIMEIRO-MINISTRO, PAIS ESTRANGEIRO, ALEMANHA, ASSUNTO, DISCUSSÃO, ECONOMIA, MUNDO, EXCESSO, PROTECIONISMO, COMERCIO.
  • COMENTARIO, ORADOR, RELAÇÃO, IMPORTANCIA, AUMENTO, PARTICIPAÇÃO, POLITICA, MULHER, AMBITO INTERNACIONAL.

            A SRª MARTA SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Obrigada, Senador Jorge Viana.

            Caras Senadoras e Senadores aqui presentes, ouvintes da Rádio Senado, nessa última segunda-feira, nós testemunhamos um encontro que, para mim, foi extremamente importante e que talvez tenha passado batido para a maioria das pessoas, que tem um significado e por isso hoje também resgato para a luta das mulheres neste 8 de março.

            Não sei se V. Exªs observaram, na segunda-feira, nós tivemos chefes de governos - e aí há um grande simbolismo, porque ali estavam a Presidenta Dilma e a Primeira-Ministra alemã, Ângela Merkel, em Hanover, por ocasião da Feira de Tecnologia, a maior do mundo, e que tinha neste ano tem o Brasil como convidado especial.

            Esse encontro envolve duas das mulheres mais poderosas do mundo. No ano passado, a revista Forbes incluiu a Presidenta Dilma e a Primeira-Ministra Merkel entre as três mulheres de maior poder e influência no mundo. Esse seleto grupo contou também a Secretária de Estado Hillary Clinton, cuja atuação como principal articuladora da política externa norte-americana, também, merece destaque.

            Quero ressaltar ainda que é uma grata coincidência que esse encontro tenha ocorrido exatamente na semana em que comemoramos a nossa data tão especial e o protagonismo alcançado pelas mulheres nas mais diferentes esferas, seja política, econômica, cultural e que isso não se limita as nossas fronteiras, mas que no mundo todo nós vemos as mulheres galgando espaços e lugares de extrema relevância.

            Vemos hoje, por exemplo, que a solução para a pior crise econômica já vivenciada desde a Grande Depressão de 30 passa por mãos femininas. Além da Presidenta Dilma, à frente da 6a maior - eu acho que agora vai se tornar a 5ª - economia mundial, e da Primeira-Ministra Merkel, líder do bloco europeu, nós temos também a Diretora-Gerente do FMI, Christine Lagarde, a primeira mulher a presidir também o Fundo desde a sua criação em 1944.

            Esse encontro de Hanover merece também nossa atenção porque foi palco de um embate de ideias que, acredito eu, sintetiza bem a polarização do atual cenário econômico mundial, porque o fato é que a economia mundial hoje se divide em dois grupos de países.

            O primeiro é daqueles que estão no centro da crise. São países onde a alavancagem financeira, especulação e a indisciplina fiscal atuou como combustível, alimentando uma crise que antes limitada ao setor imobiliário norte-americano e alastrou-se pelo mundo. Esses países buscam, de todas as formas, evitar um período recessivo mais prolongado que possa se transformar em depressão econômica, e buscam impedir novas quebras financeiras.

            A principal solução adotada nesse caso foi inundar a economia com o "tsunami monetário", como bem apontado pela Presidenta Dilma. O principal objetivo aqui foi recapitalizar instituições financeiras, empresas, e, no caso europeu, Estados como a Grécia, e com isso tentar reativar o emprego e o consumo das famílias. Todavia, essa medida necessariamente leva à perda de valor de moedas como o dólar e o euro, gerando um pouco de inflação e, principalmente, desvalorização cambial. E o câmbio tem produzido sérios efeitos colaterais sobre um segundo grupo de países.

            Esse outro grupo é constituído por economias que se mantiveram à margem da crise, protegidas por regras financeiras mais prudentes e maior responsabilidade fiscal. O Brasil - nós já integramos esse grupo - já vem sofrendo com os efeitos do tal "tsunami monetário". De fato, o câmbio mais desvalorizado reduziu a competitividade do produto nacional no exterior.

            Eu, presidindo tantas vezes esta sessão, ouço reiteradas colegas colocando a desindustrialização do nosso País e as dificuldades que estamos atravessando. E por quê? Porque aumentou a entrada de importados no País, prejudicando nossa indústria e os empregos dos brasileiros, E, legitimamente, estamos buscando nos proteger desse tsunami.

            Aliás, vale dizer que até mesmo em relação à medidas de proteção comercial, a Alemanha tem sido tão protecionista quanto o Brasil. A organização Global Trade Alerts, especializada nessa questão, nos mostra que, desde a crise de 2008, a Alemanha adotou 82 medidas de defesa comercial, ao passo que o Brasil criou 80, visando proteger a indústria nacional. Na mesma comparação, para se ter uma ideia, os EUA criaram 106, a China 94, e a índia 101 medidas de proteção comercial.

            Por isso, a crítica da Primeira-Ministra Merkel, apesar de focar num protecionismo que, de fato, é existente, é injusta com o Brasil. O Brasil não tem sido o único país, nem aquele que mais tem adotado medidas nessa direção.

            E mais: a solução adotada pelo Brasil e outros países que se encontram na mesma condição é a melhor possível. Ao invés de entrarmos numa guerra cambial sem fim e cujos resultados seriam prejudiciais para todos e fatais para o comércio internacional, nós estamos adotando medidas que compensam os setores industriais mais sensíveis e} principalmente, desestimulam a entrada do pior tipo de divisas cambiais, aquelas de natureza especulativa.

            Nesse contexto, acho que a política econômica do Governo Dilma está corretíssima. Para nos protegermos, estamos utilizando os melhores instrumentos, dadas as circunstâncias internacionais. Além das que o Governo vem adotando, acredito que o "tsunami monetário" deva sim ser combatido com medidas estruturais que buscam a redução do custo Brasil, como desoneração tributária e a melhora de nossa infraestrutura produtiva. Para tanto, precisamos preservar a todo custo a responsabilidade fiscal e o ritmo dos investimentos.

            Além disso, é importante não interrompermos a sequência de reduções da taxa de juros. Hoje, o Copom decidirá sobre uma nova redução da Selic - esse discurso eu ia fazer outro dia, ele já reduziu, o que foi muito bom, nós também achamos que foi na medida certa. Estamos diante de uma oportunidade única para que nós entremos com mais força nessa situação de combate à desindustrialização e à inflação. A inflação segue em processo de desaceleração, com pouco mais de 6% em 12 meses, e rumando para o centro da meta, em 4,5%. O PIB registrou crescimento real de 2,7%, em 2011, o que é um bom resultado na comparação com outros países, mas que está abaixo de nosso potencial, como bem afirmou o Presidente do Banco Central, Antônio Tombini, em audiência pública realizada última semana nesta Casa.

            Por fim, vejo nesse bom embate travado entre a Presidenta Dilma e a Primeira-Ministra Merkel um sinal positivo de que avançamos muito nos últimos anos. Ele é resultado do novo protagonismo alcançado pelas mulheres no âmbito mundial. É também o retrato, principalmente, da nova condição conquistada pelo Brasil como um dos principais atores e interlocutores no cenário econômico internacional. Quero dizer e reiterar que o Presidente Lula teve um papel fundamental nessa questão do nosso protagonismo internacional. Mas a imagem de duas mulheres resolvendo a maior crise que tivemos em tantas décadas é realmente algo que - não pela crise, mas pelo protagonismo das mulheres - muito nos deixa entusiasmada.

            As mulheres ainda precisam conquistar tantos lugares, tantos espaços, mas nós sabemos que o século XXI - eu acredito - é nosso. E é um século em que vai haver muita mudança, porque a mulher não é melhor nem pior que o homem. Ela é diferente. Você coloca um problema, o homem analisa por um lado; e a mulher analisa por outro. Esse olhar de 52% da população deve estar também aqui representado na nossa Casa, Congresso Nacional, onde temos 10% só de mulheres. Mas nós estamos lutando.

            Por isso, bom 8 de março para todas vocês que estão nos assistindo, Senadoras e Senadores.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/03/2012 - Página 5369