Discurso durante a 31ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração do lançamento, pela CNBB, da Campanha da Fraternidade 2012, com o tema “Fraternidade e Saúde Pública”.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração do lançamento, pela CNBB, da Campanha da Fraternidade 2012, com o tema “Fraternidade e Saúde Pública”.
Publicação
Publicação no DSF de 20/03/2012 - Página 7056
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CAMPANHA DA FRATERNIDADE, CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB), REGISTRO, ANO, DEFESA, SAUDE PUBLICA, ELOGIO, ATUAÇÃO, IGREJA CATOLICA, NECESSIDADE, IGUALDADE, ACESSO, SAUDE, EDUCAÇÃO.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, que ao mesmo tempo é o primeiro signatário, meu caro amigo Exmº Sr. Carlos Mathias, que é Vice-Reitor acadêmico da Universidade do Legislativo, Exmº Padre Luiz Carlos Dias, que aqui representa a Conferência Nacional dos Bispos, eu não podia deixar passar, Sr. Presidente, a oportunidade de vir aqui cumprimentar a CNBB por todas as suas Campanhas da Fraternidade, e todas as vezes venho aqui quando há sessão para isso. Nem que fosse pelo resgate da palavra fraternidade, que é uma palavra que está caindo em desuso, e ao cair em desuso ela provoca a ruptura dos seres humanos, porque é a fraternidade que nos une, não apenas a biologia. Na biologia, nós estamos muito próximos de outros animais, do ponto de vista dos DNAs. É o espírito que nos diferencia, e a fraternidade é um ponto fundamental.

            Segundo, nesse caso, por tratar-se da saúde. E eu não podia vir aqui deixar de dizer a minha opinião de que saúde não é uma questão apenas social, é uma questão ética. A desigualdade de roupa, de comida, do tamanho da casa, da possibilidade de viajar ou não viajar, a desigualdade de renda, tudo isso são questões sociais. Mas a desigualdade no acesso aos serviços de educação não é desigualdade, é imoralidade. Uma pessoa poder viver mais ou viver menos conforme o dinheiro que tem é algo imoral, incompatível com a decência. Todos nós falamos até muito em saúde de qualidade; eu coloco primeiro saúde igual, depois de qualidade. Porque a qualidade depende da técnica, a qualidade depende de o país ter recursos suficientes para oferecer, com a máxima qualidade para todos, depende do avanço técnico, a qualidade; a igualdade, não, a igualdade depende da decisão da sociedade, através do Governo, em fazer com que uma pessoa não compre vida e outra não possa comprar também.

            Não podemos deixar que isso aconteça, mas é o que acontece hoje. Dependendo da sua renda, você pode ter uma vida mais longa ou uma vida mais curta. Isso não pode continuar. Essa imoralidade tem que desaparecer no Brasil.

            Mas não posso deixar de falar que há outras imoralidades desse tipo. A desigualdade, como eu falei, da comida, a desigualdade da roupa, da casa, são desigualdades sociais, mas a desigualdade no acesso à educação é uma imoralidade. Uma pessoa poder desenvolver o seu cérebro porque pode pagar uma boa escola e outra não poder desenvolver porque não pode pagar uma escola é uma questão de ética, de moral, não é uma questão social, fundamentalmente.

            Nós temos que unir essas duas coisas, não só porque a educação é fundamental na saúde e a saúde, fundamental na educação, mas também porque essas duas, esses dois pontos de uma sociedade, se eles não estiverem dando o mesmo acesso a todos, essa sociedade é imoral.

            Nós aqui comemoramos muito a Ficha Limpa. O Brasil não merece Ficha Limpa se tiver saúde e educação desiguais. Nós falamos em ficha suja de políticos. O Brasil tem ficha suja se houver desigualdade na saúde e na educação. E eu coloco mais dois pontos que são imoralidade, não desigualdade. O terceiro é a justiça.

            Não é decente um país em que a Justiça trata diferentemente as pessoas conforme a possibilidade de pagar ou não um advogado ou ter acesso a advogados mais competentes do que outros. Não tem diferença, Senador Pedro Simon, na imoralidade de comprar tempo de vida porque pode-se pagar um médico ou comprar tempo livre porque pode-se pagar um advogado. Lamentavelmente, essa coisa que está nos envergonhando tanto e que o Senador Pedro Simon falou, a corrupção no Brasil, é tratada diferentemente, conforme o poder de contratar um advogado ou outro. A justiça, como a educação e a saúde, têm de ser iguais para que o País seja decente, para que o País mereça ficha limpa, ele mesmo. Nós corremos o risco de termos feito uma grande coisa e aqui, um dia, todos terem ficha limpa, mas definirmos políticas que não fazem o Brasil merecer ficha limpa. Se a gente tiver aqui todos os políticos honestos, o que será um imenso avanço, e eles continuarem tratando o Orçamento para priorizar o que serve à parcela rica, ignorando o que serve e é necessário à parcela pobre, teremos políticos de ficha limpa e política de ficha suja.

            Finalmente, o quarto item é o meio ambiente. Não podemos abusar do meio ambiente hoje, sacrificando as gerações futuras. Da mesma maneira que procuramos saúde, educação e justiça iguais para nós, desta geração, é preciso fazermos que o meio ambiente seja, nas próximas gerações, tão saudável, tão harmônico, tão em equilíbrio quanto ainda está sendo para nós.

            Aproveito, então, Padre, esta sessão da fraternidade, em homenagem à Campanha da Fraternidade, primeiro, para elogiar as Campanhas da Fraternidade, todas elas, pela palavra fraternidade. Só isso já justifica. Em segundo lugar, pelos temas que foram escolhidos ao longo da história. Agora, por inserirem a saúde. Lembro a ideia de que saúde desigual é corrupção, independentemente de haver ou não corrupção no desvio de dinheiro. Enquanto a saúde for desigual, o País não deve estar em paz consigo mesmo, não merece ficha limpa. O mesmo para a educação, para o meio ambiente e para a justiça.

            Parabéns à CNBB. Agradeço à CNBB por trazer esse tema, de que esta Casa precisa tanto. Conte conosco, junto a vocês, para que essa campanha tenha resultados.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/03/2012 - Página 7056