Discurso durante a 43ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reflexão sobre o transcurso, hoje, do Dia Mundial da Água; e outros assuntos.

Autor
Jorge Viana (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Jorge Ney Viana Macedo Neves
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DO MEIO AMBIENTE.:
  • Reflexão sobre o transcurso, hoje, do Dia Mundial da Água; e outros assuntos.
Publicação
Publicação no DSF de 23/03/2012 - Página 8028
Assunto
Outros > POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
Indexação
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, DIA INTERNACIONAL, AGUA, REALIZAÇÃO, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), OBJETIVO, DISCUSSÃO, REFERENCIA, MEIO AMBIENTE, PRESERVAÇÃO, CONSCIENTIZAÇÃO, PESSOAS, RELAÇÃO, FLORA, AGUA POTAVEL, MUNDO, ELOGIO, POPULAÇÃO, POLITICO, PLANETA, TERRAS, UTILIZAÇÃO, REDUÇÃO, AGUA MINERAL.
  • COMENTARIO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, COMISSÃO, SENADO, ATUAÇÃO, CONFERENCIA, AMBITO INTERNACIONAL, AGUA, LOCAL, PAIS ESTRANGEIRO, FRANÇA, DEBATE, ACESSO, AGUA MINERAL, POPULAÇÃO, PLANETA TERRA, DISCUSSÃO, IMPORTANCIA, AGUA ENGARRAFADA, FATO, FONTE, VIDA, ELOGIO, POSIÇÃO, SECRETARIO, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), REFERENCIA, DESENVOLVIMENTO, COMPROMISSO, POLITICAS PUBLICAS, MOTIVO, AUMENTO, RECEBIMENTO, AGUA POTAVEL, MUNDO.

            O SR. JORGE VIANA (Bloco/PT - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Srª Presidente.

            Queria, antes de tudo, referir-me, cumprimentando todos os que estão em casa e que nos assistem pela TV Senado e que nos ouvem pela Rádio Senado, a uma parte da fala do Senador Pedro Simon, quando ele se referiu à saúde do Presidente Lula. Ele é sempre muito eficiente em apontar os problemas do nosso País e em buscar soluções. Mas eu queria também fazer este registro, antes de começar a falar do tema que me traz à tribuna do Senado.

            Eu estava ausente do País, e o Presidente Lula voltou para casa, depois de um período difícil de internação. Mas o Brasil inteiro, todos nós estamos felizes, porque, agora, ele começa o processo de recuperação.

            O Brasil precisa, como disse o Senador Pedro Simon, da liderança do Presidente Lula - o mundo até, eu diria -, porque ele é uma pessoa muito especial, é a pessoa, talvez, que mais conhece o Brasil. Eu tive o privilégio, ao longo do período em que sonho em melhorar o mundo através da militância política, de ter convivido com ele nos últimos trinta anos e aprendi muito.

            Para a semana que vem, estou organizando, com o Líder do meu partido, uma visita ao Presidente Lula, mais uma visita a São Paulo. Certamente, quero voltar à tribuna para relatar que o encontrei bem melhor, porque essa doença é uma doença difícil, mas ele, se Deus quiser, vai vencê-la, como os médicos têm falado que já a está vencendo.

            Srª Presidente, venho hoje - como fez, inclusive, o meu colega Sérgio Souza - à tribuna do Senado Federal para falar do Dia Mundial da Água.

            No dia 22 de março de 1992, as Nações Unidas instituíram o dia 22 de março como o Dia Mundial da Água.

            Antes de mais nada, eu queria cumprimentar todos que, de alguma maneira, se preocupam com esse tema: os produtores, as organizações não governamentais, as ONGs, os comitês de bacias, os Governos, os Parlamentares, os cidadãos.

            Eu tive o privilégio, acompanhado do Senador Rodrigo Rollemberg, do Senador Aloysio Nunes, do Senador Sérgio Souza e da Senadora Kátia Abreu - a Senadora estava pela Confederação Nacional da Agricultura, mas nós fomos pelo Senado - de participar do VI Congresso Internacional sobre Águas.

            Pude ver, tanto no oficial como no paralelo - eu e o Senador Aloysio Nunes fomos aos dois -, que, felizmente, temos muitos cidadãos, em todos os países, preocupados com esse recurso, com o uso desse recurso, com o acesso a esse recurso, que é a água.

            Parece pouco. O nosso Planeta é conhecido como planeta água, mas um primeiro dado: segundo a ONU, apenas aproximadamente zero, vejam bem, Srªs e Srs. Senadores, ou 0,008% da água do Planeta pode ser consumida.

            Então, é um recurso que, aparentemente, nós temos em abundância, mas ele é, de fato e na realidade, um recurso escasso, daí a importância de as Nações Unidas terem criado o Dia Mundial da Água.

            Mais ainda, no dia 22 de março de 1992, a ONU fez a divulgação da Declaração Universal dos Direitos da Água.

            O texto apresenta uma série de medidas, informações e sugestões para conscientizar ecologicamente a população e os governantes.

            Daí, entendo ser da maior importância, à véspera da Rio+20, depois do Congresso Mundial de Água, nós estarmos aqui, registrando da tribuna do Senado uma preocupação com o manejo desse recurso tão essencial à vida, que é a água.

            Eu quero, também, cumprimentar o Presidente da ANA, Agência Nacional de Água, o Vicente Andreu, e a Ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. Eles estão promovendo um evento.

            Acaba de chegar aqui, também, o Senador Rodrigo Rollemberg, de uma viagem um pouco mais longa que a minha. O Senador Rodrigo Rollemberg teve a missão de nos representar em várias mesas.

            Assumimos o compromisso, eu, o Senador Rodrigo, que preside a Comissão de Meio Ambiente, o Senador Sérgio Souza e o Senador Aloysio Nunes - ou seja, é um movimento suprapartidário -, de instituir, aqui, um grupo de Senadores que vai cuidar da agenda da água no Senado Federal e no Congresso.

            Então, Srª Presidente, da Declaração Universal dos Direitos da Água, eu queria fazer a leitura do art. 1º:

Art. 1º - A água faz parte do patrimônio do planeta. Cada continente, cada povo, cada nação, cada região, cada cidade, cada cidadão é plenamente responsável aos olhos de todos.

            É muito importante, porque a responsabilidade, de fato, é de todos, para que possamos melhor manejar esse recurso.

Art. 2º - A água é a seiva do nosso planeta. Ela é a condição essencial de vida de todo ser vegetal, animal ou humano. Sem ela não poderíamos conceber como são a atmosfera, o clima, a vegetação, a cultura ou a agricultura. O direito à água é um dos direitos fundamentais do ser humano: o direito à vida, tal qual é estipulado do art. 3 ° da Declaração dos Direitos do Homem.

            Vou pular o art. 3º.

Art. 4o - O equilíbrio e o futuro do nosso planeta dependem da preservação da água e de seus ciclos. Estes devem permanecer intactos e funcionando normalmente para garantir a continuidade da vida sobre a Terra. Este equilíbrio depende, em particular, da preservação dos mares e oceanos, por onde os ciclos começam.

            Queria também dizer, Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, e a todos que nos assistem, que quando falo que é um recurso escasso é porque de cada seis habitantes deste nosso planeta, deste nosso mundo, um não tem acesso à água de boa qualidade. Eu estou me referindo a 800 milhões de habitantes do nosso planeta que não têm acesso à água. Ou seja, não há como combater a fome sem se ter acesso à água.

            Daí nós precisamos compartilhar, no Dia Mundial da Água, essas informações, buscar e fazer valer algumas das soluções.

            Recentemente, em um Congresso de que eu participei, eu vi que há muitas soluções e muitas propostas. Mas, e daí? O que são soluções e propostas se não se há uma atitude política para implementá-las? A atitude que a própria ONU, o Secretário-Geral da ONU, adotou agora, é importante - daqui a pouco vou me referir a ela -, porque algumas regiões do planeta têm escassez física de água, como o próprio Brasil, em que, na Amazônia, temos abundância de água e uma população pequena; no Nordeste, nós temos pouca água e uma população grande. Mas nós temos regiões, no mundo inteiro, em que a água é um recurso absolutamente escasso, que tem gerado muitos conflitos que podem se agravar ainda mais.

            Mas não é só isto: a escassez física. Falo também da escassez política, de falta de decisão política, de infraestrutura. Em nosso País, no Sudeste, 95% dos que vivem naquela região têm água tratada, 70% têm esgotamento sanitário. Mas essa realidade só vale para o Sudeste brasileiro. Nas outras regiões, nós temos um contingente enorme da população que não tem acesso a água tratada e muito menos a esgotamento sanitário.

            Está se fazendo hoje a pegada hídrica. O que é a pegada hídrica? É calcular o consumo per capita de água. Alguns estão consumindo muito e outros não têm quase nada para consumir. E é bom que o mundo tenha acesso a essas informações. Eu tenho aqui algumas informações sobre a pegada hídrica. Nós temos, por exemplo, que a média mundial é de 1.243 litros de consumo de água por ano por habitante.

            Mas vamos a alguns países. Os Estados Unidos consomem, em média, 2.483 litros de água por habitante por ano. E na África? E no Nordeste brasileiro? A média no Brasil, por exemplo, é de 1.381 litros. É quase a metade do que um americano dos Estados Unidos do Norte consome. Na China, o consumo médio é de 700 litros por habitante, Srª Presidente. E quando eu falo que essa média global é de 1.243 litros por habitante/ano, isso falseia a realidade de um recurso tão importante.

            Nós estamos falando de direitos do cidadão, direitos humanos, acesso a água. E aí o mundo ainda não decidiu se vai universalizar o acesso a água ou vai transformar a água numa poderosa commodity, como muitos tentam fazer.

            Este ano, o tema do Dia Mundial da Água é “Água para as Cidades”, com a intenção de chamar atenção para o abastecimento de água nas cidades. As cidades que têm crescimento rápido da população urbana, a industrialização, os conflitos, os desastres naturais, que estão consumindo vidas humanas, e a incerteza causada pela mudança climática.

            Daí eu queria dizer, referindo-me a todos os que nos acompanham na TV e na Rádio Senado e também pela Internet, que tem que haver uma mudança de comportamento, uma atitude em relação à água dos governos, de quem trabalha com produção, mas também de nós, consumidores, uma mudança mental, uma atitude, um novo comportamento.

            O Governo do Acre, nós, no Acre, temos uma preocupação com a água, temos uma preocupação com os nossos recursos hídricos. Acabamos de enfrentar um gravíssimo desastre natural que afetou milhares de famílias, mas já estávamos trabalhando com a política de cuidar melhor das bacias hidrográficas.

            É muito feliz a iniciativa de ter como tema Água para as Cidades, porque 84% dos brasileiros vivem nas cidades e muitos deles recorrem às cidades para buscar melhor serviço, e a água segue sendo um serviço escasso, de baixa qualidade na maioria das cidades brasileiras, Srª Presidente.

            Queria dizer também que alguns dados da ONU são importantes. Nós precisamos de 10 a 15 vezes mais água para produzir um quilo de carne que um quilo de trigo. É óbvio que boa parte das águas está nesse ciclo das chuvas, essa pegada das águas vem no ciclo das chuvas. Em 2030, vamos necessitar, pelo menos, de 50% a mais de comida para poder saciar a fome, que atinge mais de 1,5 bilhão de pessoas no mundo; vamos precisar de mais 45% de energia no Planeta; e vamos precisar de uma oferta de mais 30% de água.

            Quero também dizer que, segundo a OMC - Organização Mundial de Saúde e o Unicef, mesmo o mundo tendo alcançado as metas do milênio, que era de reduzir pela metade a proporção de pessoas sem acesso a água potável, o universo é muito grande ainda. Nós estamos falando de quase um bilhão de pessoas que não têm acesso a água potável no nosso Planeta.

            Também é importante reproduzir aqui, na tribuna do Senado, o posicionamento do Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, que afirmou, nesta quinta-feira, Dia Mundial da Água, que só com um bom aproveitamento da água será possível vencer a luta do combate à fome.

            Disse o Secretário-Geral da ONU:

Se não aumentarmos nossa capacidade de utilizar a água sabiamente na agricultura, não conseguiremos acabar com a fome e, por consequência, teremos que enfrentar uma série de problemas, incluindo a seca, a fome e a instabilidade política.

            Ele falou da importância do uso sustentável de um recurso natural limitado, o mais importante que temos, que é a água. Ela é um recurso natural limitado. A quantidade de água consumível no planeta é a mesma, daí a importância de nós lutarmos para não haver mudança climática. Ele disse que devemos reafirmar nossos compromissos por políticas que promovam direito à água para todos.

            Aqui queria dizer também que a água terá um papel-chave na construção do futuro que queremos. A comunidade internacional precisará reunir dado de segurança hídrica, alimentar e nutricional no contexto de uma economia verde na próxima Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável Rio+20, que será realizada em junho, no Rio de Janeiro. Isso é fundamental.

            Queria referir-me ao que falou o Diretor-Geral da FAO, o brasileiro, companheiro, José Graziano da Silva, que indicou que, para um melhor aproveitamento da água, é preciso intensificar a agricultura sustentável, usar a água de forma mais inteligente e também mudar a forma como comemos, reduzindo o desperdício e promovendo dietas mais saudáveis.

            Acrescentou Graziano:

Para alcançar essas metas, temos que investir em pessoas, infraestruturas, educação e conscientização, assim como encontrar incentivos para que os pequenos camponeses adotem boas práticas e fortaleça sua capacidade de produtividade.

            Queria, por fim, Srª Presidente, dizer que estamos diante de um recurso tão especial, e os especialistas falam da cifra de 1,386 bilhão de quilômetros cúbicos como sendo o volume de água do planeta, valor que tem permanecido praticamente constante nos últimos 500 anos, o que materializa o que falei há pouco. Desse total, 97,5% estão sob forma de água salgada nos mares e oceanos; 68,9% das águas doces se encontram em geleiras e na calota polar. Ou seja, é um recurso de difícil acesso.

            Então, Srª Presidente, concluo minhas palavras dizendo que, nesse encontro de que participamos, e sobre o qual o Senador Sérgio Souza já se referiu, assumimos o compromisso de assegurar a promoção dessas propostas que vamos apresentar ao Senado e à Rio+20.

            Concluo, pois, dizendo que espero sinceramente ter aliados no Senado Federal, já que temos visto na Casa uma consciência de que o Brasil é a grande possibilidade de aumentar a oferta de alimentos no planeta, sendo que esse aumento de oferta da produção agrícola e agropecuária de forma sustentável, respeitando o nosso meio ambiente e cuidando da nossa rede hidroviária.

            Penso que as bacias hidrográficas, que já têm os comitês em vários Estados brasileiros e contam com o envolvimento da sociedade brasileira, precisam ganhar força no interior do País para que, tratando melhor as nossas bacias hidrográficas, possamos dar uma demonstração, com atitudes concretas, do respeito que temos a esse recurso tão especial: a água.

            E que o Governo do Brasil siga tomando as atitudes necessárias para que façamos aquilo que a ONU estabelece: todos terem acesso a água de boa qualidade.

            Muito obrigado, Srª Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/03/2012 - Página 8028