Pela Liderança durante a 43ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Análise da conjuntura econômica brasileira. (como Líder)

Autor
Lúcia Vânia (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/GO)
Nome completo: Lúcia Vânia Abrão
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO, ECONOMIA NACIONAL, POLITICA INDUSTRIAL.:
  • Análise da conjuntura econômica brasileira. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 23/03/2012 - Página 8031
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO, ECONOMIA NACIONAL, POLITICA INDUSTRIAL.
Indexação
  • COMENTARIO, APREENSÃO, ORADOR, RELAÇÃO, AUMENTO, CONSUMO, PRODUTO IMPORTADO, RESULTADO, LIMITAÇÃO, CRESCIMENTO, INDUSTRIA NACIONAL.
  • CRITICA, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, PAIS, DEMONSTRAÇÃO, DEFICIENCIA, ECONOMIA NACIONAL, NECESSIDADE, GOVERNO FEDERAL, CRIAÇÃO, ESTRATEGIA, POLITICA, INVESTIMENTO, COORDENAÇÃO, PACTO FEDERATIVO, INSTITUCIONALIZAÇÃO, SISTEMA ELETRICO.

            A SRª LÚCIA VÂNIA (Bloco/PSDB - GO. Pela Liderança. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, por mais que as aparências indiquem o contrário, o Brasil não tem, no momento, um projeto de futuro.

            Os últimos números da economia brasileira mostram que o Brasil é algo muito distinto da máquina de crescimento que o Governo tenta mostrar. Evidentemente, a crise europeia e suas repercussões colocam imenso constrangimento à economia e à política econômica. Mas essa é uma questão do mundo, da instabilidade global, e terá sua condução por seus próprios caminhos e meios.

            Quero, aqui, apontar para o que está ao nosso alcance e vai sendo empurrado com a barriga. O País está numa encruzilhada. As decisões de agora vão definir o perfil do nosso futuro e nosso espaço no contexto internacional.

            O comportamento da economia brasileira é frágil. Tomando o crescimento de 2009 a 2011, o PIB brasileiro avançou apenas 3,3%.

            Mas preocupa-me discutir o futuro do País. Quero apontar três pontos nevrálgicos:

            1) nossa indústria de transformação era, ao final de 2011, 5,7% menor que no terceiro trimestre de 2008, momento onde a crise internacional emergiu;

            2) comparando os mesmos momentos, nossas exportações cresceram apenas 7%, isso mesmo, em 3 anos, apenas 7%;

            3) mas nossas importações no pós-crise explodiram: no último trimestre de 2011, eram 35% superiores ao trimestre onde a crise emergiu, em 2008.

            O problema mais grave é que o percurso da economia brasileira até a crise de 2008 mostrou-se uma economia de consumo sem investimento.

            Na média, a taxa de investimento durante o período de 2003 ao terceiro trimestre de 2008 foi apenas 2,9% superior ao período compreendido entre o início de 1994 e o final de 2001 (não se computou o período eleitoral de 2002, onde a forte queda do investimento decorreu das desconfianças em relação à transição que se delineava).

            Tomando o período de 2009 ao final de 2011, as coisas pioram, e a taxa de investimento foi, na média, apenas 2,8% superior à registrada entre 1994 e 2001.

            Mas agora a situação é pior do que a no período pós-crise internacional. Além do consumo sem investimento, temos o crescimento do consumo dado pelo produto importado. As manchetes dos jornais já estamparam que 20% dos bens finais aqui consumidos não são aqui produzidos.

            Mas, sem alarmismo, é pior do que isso. Para continuar a sobreviver com o real supervalorizado, as empresas têm de ampliar a presença de insumos importados em sua produção. Muitas vezes, o diferencial não é a qualidade do produto importado, mas apenas a possibilidade de trocar um custo em reais por um custo em dólares.

            É evidente que o consumo vai bem. Há pelo menos três anos, as medidas de desoneração de impostos e o consistente avanço do emprego, especialmente em termos quantitativos, de vez que os novos postos de trabalho são basicamente com remuneração abaixo de dois mínimos, vêm dando lastro ao crescimento do consumo.

            Em 2010, a demanda contribuiu com 9,2% do crescimento do PIB, ou seja, exigiu importações para viabilizar um crescimento do PIB de 7,5%. O mesmo ocorreu em 2011, em escala mais moderada (3,8%), mas ainda acima da capacidade de produzir de nossa economia.

            Mas o grande fator a explicar o consumo tão acelerado não é a expansão da renda dos brasileiros, mas sim seu acesso ao crédito. Crescendo a uma taxa anual média de 13%, em termos reais, o estoque do crédito doméstico ao setor privado saltou de 24,8% do PIB, em 2003, para 47% do PIB, ao final de 2011. Não que a expansão do crédito ao consumo seja ruim; ao contrário, é para dar mais e melhor igualdade a todos que faz sentido dirigir o País.

            Mas há grandes riscos. A expansão da vulnerabilidade de nossa balança comercial só não transparece por conta dos altos preços das commodities; aliás, alguns as satanizam como as responsáveis pela desindustrialização.

            Sou completamente contra essa tese. Os nossos grandes itens de exportação são um patrimônio do Brasil, e a imensa capacidade tecnológica que os diversos setores conseguiram pode ser indicada com um dos casos de sucesso de nossa economia. Mas, daí a jogar nas commodities toda a carga de nosso futuro, já é uma estratégia do desastre.

            Mas já passamos ao terreno da angústia. Será que é impossível ver que o País está perdendo sua indústria? Será que estamos fadados a conviver com a necessidade de ficar torcendo pelo crescimento da China para garantir que os preços das commodities continuem a sustentar nosso saldo comercial? Será que o pré-sal tem que ser nossa única alternativa?

            Na minha opinião, a questão é outra. Até que foi possível aos dois governos que antecederam a este lograr continuar conduzindo a economia nos marcos colocados pela gestão anterior.

            É fácil dar um banho de consumo no País, regado a crédito farto. Mas desenhar uma nova estratégia de investimento e construção de nova capacidade produtiva é muito mais difícil e envolve coisas que o Governo não consegue coordenar: o pacto federativo, a institucionalidade do setor elétrico, a forma de compor interesses na indústria do petróleo. O populismo do consumo tem seus limites, e o País espera um projeto de futuro.

            Era o que tinha a dizer, Srª Presidente.

            Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/03/2012 - Página 8031