Pela Liderança durante a 52ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com a queda da participação da indústria na riqueza produzida no País; e outro assunto.

Autor
Valdir Raupp (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RO)
Nome completo: Valdir Raupp de Matos
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
ECONOMIA NACIONAL.:
  • Preocupação com a queda da participação da indústria na riqueza produzida no País; e outro assunto.
Publicação
Publicação no DSF de 05/04/2012 - Página 11055
Assunto
Outros > ECONOMIA NACIONAL.
Indexação
  • ANALISE, RELAÇÃO, CRISE, INDUSTRIA, PAIS, COMENTARIO, REFERENCIA, APROVAÇÃO, REQUERIMENTO, AUTORIA, ORADOR, OBJETIVO, REALIZAÇÃO, AUDIENCIA PUBLICA, COMISSÃO DE ASSUNTOS ECONOMICOS, COMISSÃO DE ASSUNTOS SOCIAIS (CAS), FATO, DEBATE, PROBLEMA, POLITICA INDUSTRIAL.

            O SR. VALDIR RAUPP (Bloco/PMDB - RO. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, se fosse possível, eu precisaria de um pouquinho mais do que cinco minutos para finalizar meu pronunciamento.

            Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, nos últimos meses, vários Senadores e várias Senadoras vêm manifestando, da tribuna, uma legítima preocupação com os rumos da nossa indústria. Recordo-me, por exemplo, dos pronunciamentos dos nobres colegas Paulo Paim, Cyro Miranda, Ana Amélia, que neste momento preside a sessão, e Walter Pinheiro, entre muitos outros parlamentares no Senado e na Câmara dos Deputados que se mostraram e se mostram aflitos com a crescente desindustrialização do nosso País. Eu mesmo já expus alguns receios sobre esse assunto em mais de uma oportunidade, alertando para os perigos de não se tomarem atitudes firmes diante da crescente competitividade dos produtos oriundos dos demais países emergentes, sobretudo a China, cuja agressividade comercial é cada vez maior.

            A bem da verdade, essa é uma preocupação que, hoje, toma conta não apenas dos parlamentares, não apenas da imprensa, não apenas dos empresários e industriais, mas de todos os cidadãos do País.

            De fato, a queda gradual da participação da indústria na formação das riquezas nacionais é um processo que, em nosso País, já se verifica há, pelo menos, duas décadas. O que chama a atenção, no presente, é a intensificação desse processo, o consenso de que ele precisa ser revertido e, principalmente, a necessidade de se adotarem ações urgentes para reverter essa perigosa tendência.

            Dessa forma, considero da maior importância que o Senado Federal contribua para esse debate, discutindo as causas da desindustrialização nacional e apresentando propostas para a interrupção e a reversão desse processo.

            Foi com essa intenção, Srª Presidente, que apresentei requerimento para a realização de audiência pública conjunta da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) e da Comissão de Assuntos Sociais (CAS), para debater a desindustrialização nacional. O requerimento já foi aprovado em ambas as Comissões, e nele propus que se convidassem, para a audiência, os Srs. Fernando Pimentel, Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; Antônio Delfim Netto, economista; Paulo Skaf, Presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo; Robson Braga de Andrade, Presidente da Confederação Nacional da Indústria; Artur Henrique, Presidente da Central Única dos Trabalhadores; Paulo Pereira da Silva, Deputado Federal e Presidente da Força Sindical; e Paulo Bellini, Presidente do Grupo Marcopolo. O mesmo requerimento foi apresentado pelo Senador Moka, na CAS.

            Acredito, Srª Presidente, que, reunindo autoridades representativas do Poder Público, da classe industrial e da classe trabalhadora, teremos uma excelente oportunidade de discutir as causas da desindustrialização e de, a partir daí, alinhavar algumas estratégias que nos permitam abandonar essa posição extremamente desconfortável. Teremos a oportunidade de discutir, por exemplo, a eficácia das diversas medidas que o Governo Federal vem adotando para combater esse processo, especialmente diante da complexidade do quadro econômico atual, que mescla aspectos positivos e aspectos negativos.

            Ontem mesmo, a Presidente Dilma, com um conjunto de Ministros da área econômica, lançou um pacote, visando a melhorar essa situação. Tenho a certeza de que os R$19 bilhões colocados no BNDES para empréstimo às empresas e as desonerações de IPI de vários produtos poderão amenizar essa situação.

            De fato, embora tenhamos ultrapassado o Reino Unido e assumido o posto de sexta economia do mundo, alguns dos nossos indicadores não deixam de ser preocupantes. Crescemos apenas 2,7% em 2011, menos do que a China, com 9% de crescimento; a Índia, com 7% de crescimento; e a Rússia, com 3,5% de crescimento. E, entre os setores da nossa economia, a indústria, mais uma vez, foi o que registrou o menor crescimento, 1,6%, enquanto o setor agropecuário cresceu 3,9%, e o setor de serviços, 2,7%.

            O Governo Federal tem dado mostras de que a questão industrial é uma das prioridades no momento.

            Medidas recentes para controlar a valorização do real diante do dólar e as sucessivas reduções da taxa Selic, que deve alcançar o patamar de 9% em futuro próximo, são indicações claras de que o Governo está tentando criar condições favoráveis à recuperação da indústria brasileira, que investiu pouquíssimo no segundo semestre do ano passado.

            Tais ações vêm sendo reforçadas por declarações do Ministro da Fazenda, Guido Mantega, que afirmou, em audiência pública no Senado, há alguns dias, que o Governo não abandonará a indústria e que prevê um crescimento de 4,5% para a economia brasileira em 2012. Compartilhamos, é claro, o otimismo do Ministro Mantega, mas não podemos deixar de perceber que as causas profundas da desindustrialização não vêm sendo combatidas com a devida firmeza.

            Afinal, um real supervalorizado e uma taxa de juros alta não são os únicos, nem os principais obstáculos que a indústria brasileira tem enfrentado. A competitividade da indústria brasileira continuará seriamente comprometida enquanto impusermos ao setor produtivo uma das maiores cargas tributárias do Planeta, enquanto dificultarmos a criação de novas empresas e a formalização de novos negócios, enquanto não formarmos, educarmos e reciclarmos adequadamente nossos trabalhadores e, principalmente, enquanto não eliminarmos os inúmeros gargalos da nossa infraestrutura na energia, no transporte, na tecnologia.

            Pergunto-me também se as recentes medidas protecionistas adotadas pelo Governo Federal, como as restrições impostas à importação de automóveis fabricados no México, não apontariam o surgimento de uma tendência perigosa na nossa política de comércio exterior. Nós, que, por muitos anos, criticamos o protecionismo praticado por norte-americanos e europeus em relação aos nossos produtos, agora nos valemos de práticas semelhantes, justamente quando deveríamos adotar uma postura mais voltada para a integração regional, para a valorização do Mercosul, para o estímulo ao comércio intracontinental. Enquanto os países da Europa, da Ásia e da América do Norte intensificam cada vez mais as transações comerciais intrarregionais, a América Latina segue na direção contrária. Estamos criando mais e mais empecilhos para o comércio com nossos vizinhos, e, no meu entendimento, essa é uma estratégia ruim no longo prazo, por mais benefícios que ela possa trazer no curto prazo.

            Em suma, Srª Presidente, são questionamentos dessa natureza que eu gostaria de ver debatidos na audiência pública conjunta da CAE e da CAS que realizaremos no Senado. Tenho a certeza de que boas ideias e boas soluções surgirão desse encontro.

            Nos mais de quinhentos anos da nossa história, nunca estivemos tão próximos da condição de país plenamente desenvolvido. O que nos impede de dar os últimos passos nesse caminho é justamente o fato de que não estamos explorando o potencial da indústria nacional. E um País com as dimensões do Brasil só alcançará o pleno desenvolvimento ancorado em uma indústria forte e competitiva. É nisso que temos de trabalhar no presente.

            Muito obrigado, Srª Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/04/2012 - Página 11055