Discurso durante a 58ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Otimismo com os trabalhos a serem desenvolvidos pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investigará o “caso Cachoeira”, conclamando a sociedade a se mobilizar para fiscalizá-los.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO.:
  • Otimismo com os trabalhos a serem desenvolvidos pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investigará o “caso Cachoeira”, conclamando a sociedade a se mobilizar para fiscalizá-los.
Aparteantes
Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 14/04/2012 - Página 12433
Assunto
Outros > SENADO.
Indexação
  • EXPECTATIVA, ORADOR, RESULTADO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, MOTIVO, INVESTIGAÇÃO, ACUSAÇÃO, CORRUPÇÃO, POLITICO, PAIS, SOLICITAÇÃO, ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL (OAB), POPULAÇÃO, BRASIL, AUMENTO, PARTICIPAÇÃO, POLITICA, OBJETIVO, AMPLIAÇÃO, FISCALIZAÇÃO, CONGRESSO NACIONAL.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) -

            O Senado Federal vive um momento de perplexidade, um fato envolvendo o senador de Goiás. Durante nove anos, foi um verdadeiro ‘Demóstenes’ a favor da democracia, da liberdade, da dignidade. A situação dele é muito difícil, muito difícil.

            Impressionante o aspecto negativo da opinião pública em relação ao Senado. 

            Aqui, numa pizzaria do Lago Sul, já foi lançada - e faz grande sucesso - a pizza Senado Federal, R$9,90, apontando o resultado do que vamos fazer aqui.

            Eu repito o que tenho dito à imprensa: eu, que tenho sido muito pessimista com relação à atividade do Senado - a reforma administrativa está dando zero vezes zero, piorando em vez de melhorar; as últimas CPIs foram dramáticas em suas consequências, uma humilhação tremenda para o Congresso Nacional -, estou otimista em relação a esse trabalho que vamos fazer. A imprensa se surpreende comigo quando digo isso.

            O Correio Braziliense está dizendo aqui: “CPMI já passa por esvaziamento”.

            Aliás, o Correio Braziliense tem tido uma postura notável com relação a denúncias de fatos que acontecem em Brasília, no governo da capital federal e no governo federal. O que diz a imprensa, o que diz o Correio Braziliense é que os comentários são os piores possíveis. Primeiro, que já haveria uma tentativa no sentido de esvaziar a comissão, que as pessoas já estariam arrependidas, teria sido um ato de explosão de manifestação sem o devido cuidado. Segundo, que o motivo de o PT ter entrado com essa CPI seria a tentativa de esvaziar a decisão do mensalão lá no Supremo, mostrar que aquele mensalão foi uma farsa, que aquilo, como dizia o Lula, nunca foi outra coisa senão caixa-dois, que é balela de uso comum em qualquer segmento da sociedade brasileira.

            Que bom o pronunciamento do futuro Presidente do Supremo, que bom! Garantiu que o julgamento vai sair.

            Dizem alguns que o ano mais notável da história do Supremo vai ser este. E o relator, Ministro Barbosa, apesar de doente, uma notável ação, e um Ministro se queixou de que ia levar muito pouco tempo para poder estudar. Qualquer Ministro do Supremo hoje já tem cópia de todo o processo e cópia de todo voto do relator. Não vai ter aquela história do Ministro na hora do voto “peço vista” porque não conhecia. Conhece. Há muito tempo conhece tudo. Todos os Ministros conhecem tudo.

            Vai ser um grande julgamento.

            Mas o que diz a imprensa é que o PT estaria nessa para tentar esvaziar, ridicularizar a decisão referente à CPI do mensalão, hoje, lá Supremo.

            É interessante salientar, eu votei no Lula várias vezes. Até me convidaram para integrar o Governo do PT. Não aceitei, mas me convidaram para ficar na liderança aqui. E eu estava vendo com simpatia. Quando apareceu no jornal o Waldomiro sub-Chefe da Casa Civil, com o mesmo Cachoeira que está aí. A televisão repetiu mil vezes a vigarice. Fui no Governo, falei da tribuna, e os anais estão aí para provar, expliquei: “É um escândalo. E tenha certeza de que o Lula vai dar a orientação do Governo dele. A orientação do Governo dele é demitir já o Valdomiro e tomar providências com relação ao Cachoeira”.

             
E era um governo forte o do Lula. Sabe quem era o Ministro da Justiça brilhante do Lula? Sr. Bastos, um grande advogado. Ele deve ter orientado o Presidente Lula. O Lula não fez, não demitiu, não tomou providências. Lá ficou Valdomiro. Lá ficou o Cachoeira e as coisas continuaram. Lula não demitiu.

            Entramos com um pedido de CPI. Vamos colher as assinaturas! Os Partidos não assinaram. Pelo regimento, competia ao Presidente do Senado, Senador Sarney, nomear. Fomos ao Sarney. Interferiu o Presidente Lula. O Sarney não consentiu. Não saiu a comissão.  
O Senador Jefferson e eu fomos ao Supremo e ganhamos. O Supremo determinou a criação da comissão. Levou um ano.

            O Sr. Lula não tomou nenhuma providência no sentido de combater a corrupção e mostrar que seu Governo era um governo de seriedade, quando a comissão começou a trabalhar, não era mais nem o Cachoeira, nem o Valdomiro. Era o Mensalão, porque era corrupção para tudo quanto é canto.

            Na época, tentou-se fazer o que se chamou de Comissão Chapa Branca. Presidente do PT e Relator do MDB e não se esperava nada. E a comissão foi espetacular. Mostrou, provou, levantou, concluiu e mandou para o procurador e o procurador mandou para o Supremo. Está lá: formação de quadrilha. O chefe da quadrilha, segundo o Procurador-Geral da República, chama-se Sr. José Dirceu.

            ...isso que aconteceu lá, as mesmas pessoas estão aqui. O chefão é o Cachoeira. O advogado mudou de posição, o Sr. Bastos que era Ministro da Justiça que deveria ter orientado o Presidente Lula naquela ocasião, hoje é o advogado do Cachoeira, que 15 milhões ele já recebeu. Que pode ser o advogado pode ser advogado. Não é nem pecado e nem crime. Mas cá entre nós!

            Eu tenho a maior admiração pelo Sr. Bastos, mas fiquei profundamente magoado, eu fiquei profundamente magoado. Eu gostaria que o Sr. Bastos me explicasse, lá atrás, quando nós pedimos a cabeça do Sr. Waldomiro com o Sr. Cachoeira, qual o conselho que ele deu para o Lula? Qual o conselho que ele deu para o Lula que não aceitou demitir o Cachoeira, demitir o Waldomiro; não aceitou abrir processo contra o Cachoeira, não deixou criar a CPI.

            O que muda da situação agora para 4 anos atrás, é que lá o Márcio Thomaz Bastos era aliado, era o Ministro da Justiça, hoje ele é o advogado do Cachoeira. É uma situação dramática. Eu acho o Sr. Thomaz Bastos um advogado notável, com credibilidade notável, poderia devolver esses 15 milhões e ir para casa. Agora o Cachoeira está entrando com um pedido para que seja solto porque está na prisão fechada no Rio Grande do Norte.

            Ao contrário daquela vez, o líder do PT hoje pediu a CPI, bancou a CPI - eu acho isso é ser amigo - a Dilma está tendo mais sorte que o Lula. A Dilma pegou um líder do seu partido que lhe dá um conselho positivo na certa linha.

            Mas a imprensa vem dizer que o PT quer é desmoralizar o mensalão; mostrar a essa CPI que aquilo tudo foi figuração. Por outro lado, que o PT quer, diz o Correio Braziliense, desmoralizar o PSDB, com a figura do governador de Goiás, principalmente.

            Em compensação, o PSDB teria como grande argumento, que ele vai usar nessa CPI, desmoralizar o Governador de Brasília, também altamente comprometido.

            Eu sou de uma outra época. O líder do meu partido indicou para presidente da Comissão - aliás, correto - o Líder do Partido Socialista. Grande escolha! Mas ele disse que indicava porque ninguém do PMDB tinha aceitado a presidência. Não é verdade. Não só eu nunca fui convidado...

            Aliás, eu sou uma figura marcada. Alguém vai escrever na minha biografia, por mais humilde que ela seja, que naquele período que o Sarney e o Renan dominaram no Senado; que naquele período em que o diretor-geral foi o Agaciel; que naquele período em que aconteceu isso e mais aquilo; em que

            o Senador Sarney era Deus, e o Renan era seu profeta;

            pessoas como Pedro Simon ficavam no limbo - um gabinete no porão -, não participavam de nada. Têm muitos Senadores do PMDB que poderiam ser presidentes da CPI e aceitariam ser presidentes. O Conselho de Ética, desmoralizado por culpa do PMDB, porque botou lá um presidente que era suplente do suplente do Rio; que mandou arquivar uma questão lá no Conselho de Ética, sem dar satisfação para ninguém, envolvendo gente importante envolvendo gente importante do MDB.

            Estão lá no Conselho de Ética. Membros do MDB: o Senador Renan, que não deve ter muita simpatia pelo Conselho de Ética, no qual ele foi condenado e renunciou à presidência do Senado; o Sr. ex-Líder do Governo; e o Maranhão, com o poderio que tem, trocou dois membros. Dois Senadores do Maranhão estão lá: um, que nem está aqui e que é Secretário de Governo do Maranhão; e outro, que diz, com todas as letras, que não tem condições, não tem adaptação para julgar colega seu. Esses quatro, provavelmente, não aceitariam a Presidência do Conselho. Mas os Senadores do MDB são 21. Podia citar um por um, dos que seriam brilhantes e que aceitariam. Não foram indicados. E será que vão tutelar esse? O que o Senador Renan vai fazer no Conselho de Ética? Ele, que é contra a CPI, contra a criação de CPI? O ex-Líder do Governo não quer.

            O que quero dizer é isto: o MDB tomou as decisões no Conselho de Ética, e a Bancada do MDB não teve uma reunião. O Sr. Requião declarou que o MDB não é a favor, não tem simpatia por comissão parlamentar de inquérito, embora ele vá assinar. Mas a bancada não foi reunida.

            A bancada não foi reunida para discutir se quer ou não quer CPI;

            a bancada não foi reunida para discutir quais são os membros que vão para a CPI; a bancada não foi reunida para dizer, para abrir mão, como o Senador abriu, da Presidência do Conselho; e a bancada não foi reunida para discutir esse membro. Aliás, a bancada não é reunida para coisa nenhuma. Agora, estou lendo no jornal que a bancada insistiu na escolha do Lobão para Ministro; a bancada insistiu na escolha de “não sei quem” para “não sei o quê”. Leia-se, na “bancada”: Sarney e Renan. Isso me magoa.

            Eu tive entrevista com vários jornalistas, e eles estranhavam que, no meio desse pessimismo, derrotismo com relação à hora em que estamos vivendo, eu estivesse entusiasmado. A ilustre jornalista Dora Kramer chegou a estranhar o meu otimismo, e eu quis explicar para ela. Pergunta ela: “se eu digo que as últimas CPIs foram um fracasso, uma vergonha, uma desmoralização; nem a dos cartões corporativos nem a das ONGs chegaram a resultado nenhum; o PT denunciando o PSDB, o PSDB denunciando o PT; conclusão, zero, nem relatório apresentaram...” E eu digo que tenho confiança. Por que digo que tenho confiança?

            Eu me refiro a ti, meu irmão, que poderá estar assistindo a este programa de televisão. Digo que tenho confiança, porque se sente hoje o raiar de uma nova realidade na sociedade brasileira. Eu sempre disse: meus irmãos,

            não esperem nada do Congresso, porque do Congresso não vem nada; não esperem nada do Judiciário, porque do Judiciário não vem nada; não esperem nada do Executivo, porque do Executivo não vem nada. Mas eu espero do povo brasileiro.

            Eu espero da sociedade brasileira. Eu espero dessa realidade mundial, que são as redes sociais, essa participação. Lá naqueles países, no fim do mundo, com quase zero de liberdade, lá no Egito, o povo derrubou a ditadura com as redes sociais.

            O Obama foi um exemplo. O Obama entrou na campanha para presidente da república para marcar posição, para se lançar como uma grande liderança, tinha um ano no Senado, e se lançou. Misturou seu destino com as redes sociais, começou a dialogar com a mocidade, começou a discutir com todo o povo nesta fórmula e foi um milagre. Todas as lideranças do partido democrata que estavam com a Srª Clinton foram esfaceladas pela vitória da sociedade. Isso está começando a acontecer no Brasil.

            Repito, se não fosse esse movimento da sociedade jamais o Ficha Limpa teria passado, jamais passaria neste Congresso Nacional, por unanimidade. A OAB, CNBB movimentando a sociedade e a sociedade em rede cercando o Congresso na hora da votação da Ficha Limpa, cercando o Supremo na hora em que era enquadrado o problema da Ficha Limpa, mudou e nós votamos por unanimidade.

            Esse problema do Sr. Demóstenes, esse problema agora era para terminar no zero também. Se o Lula, numa hora difícil, não deixou criar CPI nenhuma, matou a questão, não fez nada, agora se quisesse a Presidenta Dilma, com prestígio enorme, poderia botar a mão em cima. Mas a CPI foi criada, a imprensa me telefonou garantindo que os membros não iriam votar a figura do Relator. O PMDB ajudou nisso, não indicou presidente, não aceitou ser relator, mas a sociedade estava olhando e o nome foi indicado, um bom relator.

            Eu não acredito, com toda sinceridade, que o Sr. Humberto Costa vai ter como preocupação cuidar apenas do Governador de Goiás, não acredito. Eu não acredito que o Senador Alvaro Dias terá como tese, como preocupação, cuidar do Governador de Brasília, não acredito. Os fatos podem envolver um, envolver outro e envolver mais gente. E mais gente pode ser envolvida.

            Faço um apelo ao meu bravo e extraordinário Presidente da OAB, aos irmãos da CNBB.

            Acredito que essas duas entidades devem sair à frente, como uma forma de conscientização da sociedade para acompanhar o nosso trabalho, fiscalizar a nossa atuação, cobrar de nós o que é feito. Quero ver os membros da Comissão, os membros do Conselho de Ética impedirem a vinda de um ministro A ou de um cidadão B porque é desse ou daquele partido.

            Faço um apelo tanto aos membros da Comissão de Ética quanto aos da Comissão Parlamentar de Inquérito de que o espírito que reine nas comissões não seja do momento dos cartões corporativos, não seja aquele da ação, mas seja o que reinou aqui, na época do impeachment do Presidente Collor, na época dos anões do Orçamento, quando se cassaram mais de quinze parlamentares. Nós, Senadores, nos transformamos em juízes, ministros do Suprem, tendo no lugar da presidência do Senado, o Presidente do STF, Ministro Sanches. Foi uma sessão histórica.

            Nós não criamos uma CPI para cassar Collor, eu pedi uma CPI para investigar as denúncias do irmão dele, Pedro Collor, contra o Sr. PC Farias, na entrevista na Veja. E nós estávamos no meio da Comissão e eis que aparece a figura do motorista... Um homem simples, humilde, motorista que conta e desvela toda a história. A outra CPI, a dos “anões do orçamento”, cassamos 15 Parlamentares. Quinze! De todos os partidos!

            Naquelas CPIs, nós conseguimos transformar a Comissão em um tribunal. Não tinha o que acontece agora nas Comissões: que é do Governo está lá para defender qualquer coisa e quem é da oposição está lá para esculhambar qualquer coisa. Não! Eu acho que este é o momento histórico.

            Aí eu me dirijo à OAB, à CNBB e à mocidade: vão para a rua! Vão para a rua! Venham nos fiscalizar! Venham cercar o Congresso para olhar, para ver, para determinar, para cobrar de cada um de nós! Eu acho que é este novo Brasil, essa nova classe social, essa mocidade, essas agências (praticamente redes de televisão pessoais) que vão decidir nosso futuro.

            Está no Correio Braziliense, que os líderes já estão caminhando para o esvaziamento, nós aqui não temos condições para resistir, nem o Sr. Sarney, nem o Sr. Renan, ninguém, nós não temos condições. Mas o povo olhando, cobrando, fiscalizando, pode fazer com que vivamos um momento notável, que é o momento que começou com a Ficha Limpa. Lugar de corrupto é na cadeira. Fim para a impunidade! Com prazer, Senador.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Senador Cristovam, permita, antes que V. Exª dê o seu aparte, que eu registre a presença do Prefeito de um Município do Rio Grande do Sul, que está ouvindo atentamente, Sr. Paulo Machado, Prefeito Municipal de Butiá. Sei que ele tem outro compromisso, mas está ouvindo o pronunciamento atentamente.

            Senador Simon, retorno a palavra a V. Exª.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Obrigado, Sr. Presidente.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) -

            Sr. Presidente, Sr. Senador, o senhor trouxe, nesta manhã, uma dimensão nova para essa CPI. Ela já tem uma coisa nova: está é a CPI do Brasil, porque todos os partidos, ou praticamente todos, ou muitos deles, vão estar envolvidos. Não vai mais ser aquela CPI que tem o PSDB de um lado e o PT de outro. Essa é uma CPI em que todos os partidos estarão envolvidos. Isso é diferente. Vai ser uma CPI, Senador Paim, com uma mobilização, com uma efervescência maior do que as outras. Mas senhor trouxe uma novidade: é que essa pode ser a primeira CPI aberta do Brasil, uma CPI que não se limita aos que estão ali dentro, Senadores e Deputados participando, o povo inteiro pode participar. Essa é uma dimensão nova. Não tivemos ainda CPI aberta. Não aberta do ponto de vista formal, legal, mas aberta do ponto de vista das instâncias que hoje o mundo têm, que o Brasil têm, e que traga legitimidade, além da legalidade. Então, o seu apelo é extremamente positivo. E eu queria apenas complementar: que cada um que assistir à CPI pela televisão, ela vai ser transmitida, fique ligado não apenas como assistente, mas também como ativo, como agente, como participante; não só assistente, mas também participante. Para isso, hoje, a gente tem blogs, a gente tem twitters, hoje a gente tem sites, hoje a gente tem celular encontrando o Senador na hora em que ele vai fazer pergunta. Essa é uma CPI que, além de ser geral, pode ser a primeira CPI aberta do Brasil. Ela pode ajudar a passar o Brasil a limpo. E tem que ser sem tolerar nada, a não ser o rigor com a verdade. Um jornalista me perguntava nesses dias, ontem, antes de ontem, se não havia o risco de parar a CPI. Eu disse: “Se esta CPI parar, a gente vai precisar fazer uma CPI para saber por que a CPI parou”, porque é um gesto tão forte de traição ao que a população hoje deseja que não se pode parar uma coisa dessa sem que a gente saiba por que teria parado, quais os interesses escusos por trás disso? Como o senhor, eu também estou otimista. Esta pode ser uma CPI muito dolorosa, mas muito necessária. Como todo parto, que carrega sua dor, mas carrega uma vida nova. Não tenho o excesso de otimismo de achar que depois desta CPI vamos ter um novo Senado. Não. O novo Senado vai passar pela eleição do próximo Presidente, isso vai ser muito importante; vai passar pela reforma que está sendo proposta - e o senhor mesmo foi o primeiro a me chamar a atenção para os problemas que essa reforma carrega -; vai passar não só por uma reforma administrativa, como estão tentando fazer, e ruim, mas por uma reforma política, por uma reforma regimental que mude a maneira como a gente trabalha, mas a CPI pode ser o ponto de partida. Aliás, o segundo, o primeiro foi a Ficha Limpa, o segundo pode ser essa CPI. Essa CPI pode ser a CPI da limpeza, do jeito que a gente teve uma Ficha Limpa como Lei. Como o senhor mesmo disse, a Ficha Limpa não teria passado aqui em nenhuma hipótese se não tivesse sido a mobilização e a própria origem dela na mobilização da população. Vamos esperar que essa seja uma CPI absolutamente ampla e absolutamente aberta para a participação da população.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Plenamente de acordo com V. Exª. Se nós levarmos os trabalhos normalmente, o Conselho de Ética e a CPI não darão em nada. Nas últimas reuniões do Conselho de Ética, em que o Presidente era o Sr. Senador Duque, suplente do suplente do Cabral, com a maior tranquilidade, envolvendo figura muito importante do Senado, ele mandou arquivar. Não reuniu o Conselho de Ética para discutir antes nem para decidir a decisão dele. Nunca mais reuniu o Conselho de Ética.

            Eu acho um homem extraordinário o Presidente da OAB, um homem que está tendo grandes posições, e tenho muito respeito pela CNBB. Quando falo nessas duas entidades, eu falo em várias entidades. Eu acho que elas podem fazer um grande movimento: pedir para o povo acompanhar. Não estou pedindo para aplaudir e não estou dizendo que vaie. Se acham que se deve vaiar, que vaiem, mas não é isso que eu estou pedindo, mas acompanhar. Então, orientar no sentido de um bom caminho é importante, e esse deveria ser o apelo.

            O Requião foi relator da CPI dos Precatórios. A CPI teve mais pesquisa e audiência superior à novela da Globo. Dizem até que convidaram o Requião para trabalhar na televisão, porque ele deu um show. E se denunciaram Governadores do MDB considerados notáveis líderes, dos maiores. Denunciou! É verdade que o Presidente era o Fernando Henrique, e o relator era aquele de quem nem quero lembrar o nome, o chamado “arquivador-geral”, E tudo que saía do Congresso ia para a gaveta dele e lá ficava. Foi mais triste do que o período da ditadura! Não denunciava, não arquivava, não baixava diligência. Ficava na gaveta, sem fazer nada, durante oito anos. Mas a CPI terminou com um belíssimo trabalho. O líder do MDB na época, Jader foi quem pediu a CPI, e o Requião foi o herói do MDB. E hoje vem o atual líder dizer que o MDB não tem simpatia por CPI. Desde que ele e o Sarney dominam o MDB, nós não temos simpatia por CPIs.

            A CPI dos Precatórios foi dura - envolveu o Maluf e o Pitta, que foi quem inventou aquela operação diabólica dos precatórios -, mas pegou prefeitos e governadores muito importantes. E a TV Senado competia com as outras televisões. Todo mundo assistindo.

            Dirijo-me, aqui, ao extraordinário Dr. Cavalcante, Presidente da OAB, e à CNBB. Eu acho que não estou exagerando. Eu peço que se faça um apelo para que o povo acompanhe. Acompanhe! Veja, assista, e se a maioria eventual resolver esmagar a minoria, proibindo que as pessoas sejam ouvidas... Por exemplo, se, de repente, a maioria determinar que venha depor o governador de Goiás e, na semana seguinte, não aceitar que venha depor o governador de Brasília, mostrando parcialidade, que as redes sociais ajam, para não sair esse esvaziamento de que se está falando, para não sair isso que se diz, que o PT estaria criando a CPI só para desmoralizar a votação do mensalão. Como vem aí a votação do mensalão, histórica - e o notável novo presidente do Supremo, numa atitude de dignidade e de coragem, disse: “Vai ser votado nos próximos sete meses.” -, já tem gente querendo fazer isto aqui. Isto aqui: fazer uma onda, aqui, para desmoralizar a votação lá.

            Eu sempre digo: para nós vencermos essa rede de corrupção, de irresponsabilidade, de jeitinho brasileiro - “Não, não vale a pena, não dá.” -, da lei do Gérson, do brasileiro que quer levar vantagem em tudo, para vencer isso, só os jovens, que vivem este grande momento. E, neste momento, de certa forma - ficha limpa já foi aprovada -, eles estão sem uma causa para levar adiante, o movimento.

            A causa é essa.

            Eu não estou dizendo que já saiam às ruas, no sentido de fazer isto, fazer aquilo, mas usem seus instrumentos: liguem, falem, acompanhem, discutam, debatam. Se, amanhã, alguém fizer besteira na CPI ou no Conselho de Ética - se arquivar ou fizer uma irregularidade, uma imoralidade -, berre! Aí, pode dar certo.

            Daqui não sai nada. Quiseram fazer uma reforma política. Então, aprovaram que existe a fidelidade partidária: o mandato é do partido; não é do cidadão. Mas, a cada eleição, durante seis meses, o cara pode pular de galho em galho à vontade. Essa é a fidelidade partidária. E assim o resto. Daqui de Casa, não sai nada.

            É nesse sentido, minha ilustre jornalista, colunista de O Estado de S.Paulo - veja V. Exª que, até agora, eu acertei. V. Exª levantava dúvidas se seria eleito o presidente do Conselho de Ética. Eu digo: vai ser eleito. V. Exª levantava dúvidas se teria relator. Vai ter relator. E a Comissão de Ética, até ontem, estava se dizendo que é meio anárquica, no sentido de não encontrar coisa alguma. Podemos encontrar.

            Estou no otimismo: acho que estamos numa marcha cruzada para terminar com a impunidade. A Ficha Limpa foi isso. Decisão aqui da Casa. A decisão do Supremo foi isso. Os caras achavam que o Supremo ia esvaziar. E encaminhar nesse sentido.

            O Sr. Senador do Espírito Santo apresentou emenda constitucional, a pedido do presidente do Supremo, de que o ilustre Senador do PSDB de São Paulo é o relator. O que ele quer? Condenado a primeira vez, condenado a segunda vez, cadeia, como nos Estados Unidos, como na Europa, como na China, como na França. É fantástico. Muda tudo. Em vez de ficar que nem hoje, dez anos, 12 anos, recorre um, recorre dois, recorre três, recorre quatro, recorre cinco, recorre seis, e não acontece nada, prescreve. É o Presidente do Supremo que envia a esta Casa uma proposta, copiando o americano, o francês, o alemão, o italiano, o chinês e o japonês. Nós estamos no caminho. Se nós, agora, neste momento, tomarmos essa posição e enveredarmos por aqui, estamos iniciando uma grande etapa.

            Por isso, encerro, Sr. Presidente, fazendo um apelo dramático. Vou procurar, pessoalmente, o Presidente da OAB, o Presidente da CNBB e várias outras entidades para que eles façam isso.

            Não é pedir para ir para a rua, porque acho que não é nem o momento para isso, mas pedir que se faça um movimento de conscientização para acompanhar o Senado, para acompanhar o Senado. E pode. Isso é uma maravilha. A TV Senado foi o grande feito na biografia do Senador Sarney. Eu tenho muita coisa para dizer de errado, mas a criação da TV Senado foi uma grande coisa. O cidadão pode olhar, ao vivo, o debate, porque, antigamente, tudo que acontecia aqui, o assunto mais importante do mundo se resumia a uma linha no Jornal Nacional. O resultado foi tal. Agora, não. É verdade que ainda não é uma tevê aberta - podia ser, deveria ser, está demorando para ser -, mas, em tese, quem quer assiste.

            O apelo é este: vamos iniciar uma cruzada onde o povo vai acompanhar o Congresso.

            E, o povo acompanhando o Congresso, eu garanto, minha querida jornalista Dora Kramer, que a coisa vai ser diferente.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/04/2012 - Página 12433