Discurso durante a 56ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Expectativa com a instalação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito destinada a investigar a ligação de parlamentares e outras autoridades com o empresário Carlinhos Cachoeira.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR.:
  • Expectativa com a instalação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito destinada a investigar a ligação de parlamentares e outras autoridades com o empresário Carlinhos Cachoeira.
Publicação
Publicação no DSF de 12/04/2012 - Página 11858
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
Indexação
  • EXPECTATIVA, INSTALAÇÃO, CONSELHO, ETICA, COMENTARIO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, LIDER, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), APOIO, CRIAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, CRITICA, GOVERNO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, ANTERIORIDADE, RECUSA, INVESTIGAÇÃO, CORRUPÇÃO.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srs. Parlamentares, ontem, finalmente, instalou-se a Comissão de Ética, presidida pelo Senador Valadares. As informações de hoje são de que o PMDB vai indicar o Presidente; se não indicar, o Senador Valadares tem todas as condições para presidir.

            Ontem, S. Exª, ainda que presidente interino, aceitou a representação do Líder do PSOL e deu prazo de dez dias para que o Sr. Senador apresente a sua defesa prévia.

            A imprensa, hoje, analisa estranhando, porque, ontem, ela dizia que não ia acontecer nada, que havia um complô, uma movimentação, que o Senado estava tão comprometido que não ia acontecer nada.

            Aconteceu, e diante de uma exposição feita pelo Líder do PT, em que ele mostra como foi sui generis a decisão do Supremo, não aceitando a solicitação do Senado para remessa para cá dos dados da Polícia Federal, à revelia de outras decisões em que, em situação idêntica, ele autorizou. E não se entende qual foi o motivo. A única diferença é o advogado de agora, que é mais brilhante, talvez, do que o dos casos anteriores. Por isso, comunicava o Líder do PT que íamos criar, por iniciativa dele, uma CPI.

            Estranho a Oposição e o Governo, PSDB; PMDB, todos os partidos concordarem. Presidente da Câmara e Presidente do Senado fizeram entendimento e disseram que, semana que vem, será constituída a CPI.

            O nobre Senador do PSDB do Pará dizia da tribuna há poucos instantes - eu o aparteei - que ele está esperando a retirada das assinaturas, que o Governo vai pressionar e, pressionando o Governo, os Parlamentares retirarão a assinatura. Eu digo daqui, neste momento, o que eu lhe disse à parte: não vão retirar a assinatura. Não vão retirar a assinatura porque este momento é uma situação especial. Disse e repito: não me lembro de uma ocasião em que o Senado Federal esteve tão desgastado, tão no chão, tão humilhado, tão espezinhado pela opinião pública como agora.

            E há um fato novo no mundo: as redes sociais. É uma revolução o que está acontecendo no mundo inteiro. O povão não é mais escravo das televisões, dos rádios e jornais, das grandes redes. As dezenas, centenas, milhares e milhares de pessoas se reúnem, se intercomunicam. Aconteceu isso na Ficha Limpa, e esta Casa, por unanimidade, votou o que não se imaginava que votaria. E é o que está acontecendo agora. Aconteceu ontem na Comissão de Ética e irá acontecer amanhã na eleição do Presidente e acontecerá, na semana que vem, na criação da CPI. Nós vamos apurar! Nós vamos apurar!

            Agora, o que convém destacar é que esse Cachoeira que está aí - eu não me tinha dado conta - é o Cachoeira que apareceu mil vezes na televisão dando dinheiro e marcando percentual da gorjeta e da vigarice com Waldomiro, Subchefe da Casa Civil. Lá no primeiro governo do Lula, vim a esta tribuna e disse: vou sair daqui e vou falar com o Governo para ele demitir ainda hoje esse Waldomiro e iniciar o processo contra Cachoeira. Lamentavelmente, Lula não fez isso. Não se movimentou com relação a Cachoeira, não demitiu Waldomiro e as coisas continuaram. Hoje, sete anos depois, o mesmo Cachoeira que iniciou esse escândalo todo, volta.

            Naquela ocasião, pedi para demitir e não demitiram. O Senador Jefferson Péres, do Amazonas, e eu entramos com um pedido de CPI. O Presidente Sarney, atendendo à determinação do Presidente Lula, Sarney como Presidente do Senado, não criou a CPI. Não deixaram instalar a CPI. Fomos ao Supremo e ganhamos. O Supremo mandou criar a CPI e ela foi criada. Aí já não era mais a CPI do Cachoeira, aí não era mais a CPI do Sr. Waldomiro, era a CPI do Mensalão, porque a cachoeira tinha aumentado e, pela falta de determinação do Presidente em agir, o mensalão apareceu.

            O Cachoeira de seis anos atrás é o chefão da corrupção. O Ministro da Justiça do Lula naquela época, que não aconselhou, que não orientou o Lula para fazer o que tinha de ser feito, é hoje o advogado do Cachoeira. Quinze milhões já recebeu, segundo o noticiário da imprensa. É por isso que louvo o Líder do PT e louvo a Senhora Presidenta que, com seis anos de atraso, vai fazer o que tinha que ter sido feito lá atrás. “Ah, mas vai ter gente do PT!”. “Não importa”, diz o Líder. O que tem de ser apurado será apurado, o que cair na rede é peixe.

            Por isso acredito que nós vamos investigar. No momento em que a CPI está desmoralizada como nunca nesta Casa, não dá em nada, a começar pelos líderes, como os do PMDB, que nomeiam pessoas para não fazerem nada, apesar disso, nessa hora, vamos dar uma resposta à sociedade. Aquilo que eu dizia e repito: não espere nada do Congresso por força do Congresso; não espere nada do Executivo por força do Executivo; não espere nada do Judiciário por força do Judiciário. Espere do Executivo, do Judiciário e do Legislativo por pressão da sociedade.

            E aí está o povo exigindo, e aí está o povo exigindo. Duvido que alguém, meu nobre Líder, Senador do PSDB do Pará, duvido que alguém retire a assinatura da CPI, porque esse alguém será atingido, marcado pela marca da sociedade. Eu creio, com essa decisão da CPI, com a instalação para valer do Conselho de Ética... O Conselho de Ética, na última vez nem se reuniu, o Presidente, hoje Secretário lá no Maranhão, mandou arquivar a última solicitação sem dar satisfação para ninguém, nem reuniu a Comissão. Hoje mudou, estamos vivendo um novo momento. Se Deus quiser, as coisas atingirão o seu lugar. Eu acredito que vivemos este momento.

(A Srª Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Eu digo ao nobre Líder do PT, eu o respeito muito. Já fui Líder do Governo e quanto tinha que tocar o Governo, eu ajudava; quando tinha que debater, eu debatia. Ser líder e ser amigo do Governo não é bater nas costas, mesmo quando as coisas estão erradas. Nota 10 ao atual Líder, que tomou uma posição dessas. A imprensa causou impacto. Estou vendo no noticiário da televisão quando com outros líderes a imprensa disse: “Não, mas o Líder do PT vai pedir”. O Líder do PT vai pedir? Vai pedir, eles não acreditaram. Pois age muito melhor quem faz isso, é mais amigo do Governo do que lá, quando o Lula era Presidente, quando o Cachoeira e o Waldomiro, na televisão, mostravam o escândalo da imoralidade e arquivaram, quando não deixaram criar a CPI. O Lula pediu para não criar e o Sarney, Presidente do Senado, não criou. Um ato de violência, tanta violência que nós pedimos ao Supremo e o Supremo mandou criar. Só que levou um ano e aí já estava tudo contaminado.

            Age muito melhor o Líder hoje. Com essa decisão do Líder e com a afirmativa: “Vamos apurar, doa a quem doer”, está na linha da Presidente da República, que não aceita as coisas erradas, disse ela, que não tem compromisso com o equívoco, que não aceita o toma lá dá cá. Age bem a Presidente...

(A Srª Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - ... no sentido de buscar responsabilidade. Governabilidade sim, os governos participam do Governo, sim, mas não como agora, não com alguém com a ficha, não suja, mas ultravermelha, ocupando cargos de posição.

            Meus cumprimentos a esta Casa, meus cumprimentos ao Congresso Nacional. Estava na hora de tomar uma atitude, e ela foi tomada. Essa é daquelas atitudes que a gente sabe como começa, mas não sabe o seu final. O final deverá ser apurar a verdade doa a quem doer.

            Muito obrigado, Srª Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/04/2012 - Página 11858