Discurso durante a 56ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

– Alerta para o suposto estado de abandono em que se encontra o Distrito Federal.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF).:
  • – Alerta para o suposto estado de abandono em que se encontra o Distrito Federal.
Aparteantes
Rodrigo Rollemberg, Wellington Dias.
Publicação
Publicação no DSF de 12/04/2012 - Página 11915
Assunto
Outros > GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF).
Indexação
  • CRITICA, GESTÃO, GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF), AUSENCIA, QUALIDADE, SERVIÇOS PUBLICOS, EDUCAÇÃO, SAUDE, SEGURANÇA PUBLICA, DESCUMPRIMENTO, COMPROMISSO, PROJETO, CAMPANHA ELEITORAL, IMPORTANCIA, MELHORIA, INTEGRAÇÃO, DIALOGO, PARTIDO POLITICO, APOIO, GOVERNO, DISTRITO FEDERAL (DF).

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidenta Marta Suplicy, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, esta semana, o Senador Rodrigo Rollemberg fez aqui um discurso que me deixou com a sensação de que a cidade dele e minha e o Distrito Federal inteiro estão abandonados. Mas, quando a gente lê os jornais e vê a tevê, a sensação que a gente tem, por conta dos escândalos, Senador Rodrigo, é que, além de abandonada, a cidade está à venda. Ela está à venda na medida em que nós tomamos conhecimento de que fatos que não aparecem facilmente, a não ser com CPI talvez, estão levando os gastos do Governo a serem manipulados por meios ilícitos. Mas, além de abandonada e além também de estar à venda, dá a impressão de que ela está sendo enganada quando a gente olha para a televisão e vê a publicidade que o Governo está fazendo, com o custo, no ano passado, entre R$100 a 150 milhões, porque ninguém ainda tem certeza de quanto foi.

            Abandonada, o discurso do Senador Rodrigo Rollemberg mostrou com muita clareza. Abandonada, por exemplo, na saúde; abandonada por uma saúde cujas UPAs só aparecem na televisão, porque a televisão não mostra com clareza na propaganda a falta de médicos, até vermos o noticiário e sabermos que não há médicos, ou até visitarmos algumas UPAs e conversarmos com as pessoas que ali estão esperando atendimento e que não o conseguem.

            Na semana passada, um homem foi preso no Hospital da Ceilândia porque, indignado com o fato de que seu filho não foi atendido - obviamente com essa indignação natural de quem vê o filho sofrendo por falta de atendimento médico quando a televisão mostra que tudo é um paraíso -, ele se revoltou. E saiu preso, num camburão. A cidade está abandonada na saúde.

            Ela está abandonada, obviamente, na segurança, quando a gente sabe que hoje existe um processo de operação tartaruga, quando lemos os jornais e vemos as estatísticas de fim de semana, que não eram característica do Distrito Federal, com os índices de assassinatos e sequestros como hoje nós vemos.

            A cidade está abandonada na educação. Não se veem projetos de mudança na educação, como foi prometido na campanha; não se veem hoje nem mesmo as escolas funcionando por causa de uma paralisação, que eu não apoio como paralisação; eu não apoio aula parada, mas a gente sabe que os professores têm razão na indignação de verem que seus compromissos com o Governo, formulados, feitos e assinados na campanha, não foram cumpridos.

            A cidade está abandonada na sensação de paralisia no funcionamento do Governo, quando a gente conversa com as pessoas e sabe que não há um rumo e que há uma máquina governamental parada.

            Isso nos deixa com uma sensação de muita tristeza, de indignação diante do quadro que atravessamos na Capital da República. Mas, talvez, o pior de todos os sentimentos, o mais incômodo, o mais triste, não é nem esse de abandono, mas o de enganados, como nós nos sentimos.

            Nós fomos para as ruas pedir votos para formular e colocar Brasília num novo caminho. O que nós vemos do caminho seguido neste um ano? Nós vemos um estádio em construção; nós vemos publicidades enganosas e nós vemos escândalos que nós pensávamos que tínhamos colocado para trás na história, em 2010. Não colocamos para trás. Eles continuam presentes, insistindo, incomodando a população do Distrito Federal.

            Nós estamos com a sensação de que a cidade está abandonada, à venda e enganada. E não podemos deixar que isso continue. Não podemos deixar que isso continue porque esta é a nossa cidade para sempre e esta é a Capital do Brasil, que nós esperamos ser para sempre.

            Por isso, é preciso não apenas fazer os discursos de denúncia da enganação, do abandono. É preciso também chamar a atenção das lideranças do Distrito Federal.

            O Governo Federal, parece que antes mesmo de nós daqui, tomou a iniciativa correta, fazendo uma intervenção branca, como se diz. Eu diria não explícita, uma intervenção implícita para ver se recupera as rédeas de um governo que não consegue saber para onde vai e não consegue agir como se espera.

            A Presidenta da República fez um gesto em direção de salvar Brasília ao fazer a intervenção, Senador Armando Monteiro, indicando dirigentes do próprio Palácio do Planalto para, dentro do Governo do Distrito Federal, colocar ordem nas coisas e trazer alguns dos compromissos que nós apresentamos com a ética, com a eficiência e com o projeto social.

            Mas não basta a intervenção da Presidenta da República e do Governo Federal, porque isso seria prova de incompetência de todos nós daqui. Nós lutamos contra uma intervenção no ano de 2010, quando tínhamos governador sendo preso, quando tínhamos vice-governador renunciando, quando tivemos quatro governadores em um ano. Nós dissemos: “Aqui não precisa de intervenção”. De repente, eu estou aqui para parabenizar a intervenção implícita, branca. Mas não basta!

            Eu chamo aqui a atenção de outros atores. Quero começar pelo Partido dos Trabalhadores, que é o partido do governador, que é o partido do Governo. O Partido dos Trabalhadores tem de, no Distrito Federal, tomar uma posição clara. Não pode ficar a reboque do sem rumo, como está o Governo e, em função do Governo, a nossa cidade.

            O Partido dos Trabalhadores é o mais forte partido do Distrito Federal. É o partido que tem, provavelmente, mais credibilidade no Distrito Federal. É um partido com o patrimônio de um governo de quatro anos, durante os quais não houve escândalo, durante os quais surgiram algumas das propostas sociais que tomaram conta de todo o Brasil. Foi o Partido dos Trabalhadores que fez o governo de 1995 a 1998 e que pode orgulhar o PT não só daqui, mas do Brasil inteiro.

            O Partido dos Trabalhadores precisa, não vou dizer se distanciar do Governo dele, mas pelo menos fazer com que seu Governo seja a serviço da Capital da República, a serviço do Distrito Federal, Senadora Vânia.

            Depois de fazer o reconhecimento da intervenção feita pelo Governo Federal, de cobrar isso do Partido dos Trabalhadores, quero cobrar de todos nós, os partidos - inclusive o meu, o PDT -, que fomos à rua fazer com que o Governo fosse eleito trazendo um novo caminho.

            Nós não podemos dizer que desconhecemos o Governo do Distrito Federal. Nós não podemos dizer que somos oposição ao Governo do Distrito Federal. Nós temos de exigir que o Governo do Distrito Federal passe a ser situação de um projeto, de um programa, de um rumo e que ele cumpra com seus compromissos.

            O PSB do Senador Rodrigo; o PDT, com a minha participação; o PCdoB - está aqui a Senadora Vanessa; o PMDB, que faz parte da composição e, é preciso reconhecer, foi importante na viabilização da vitória com o vice-governador; todos os partidos, todos nós precisamos fazer algum gesto em uma reunião, em um conjunto de medidas para que nós digamos: esse é o rumo que nós oferecemos aos eleitores. E esse rumo que nós oferecemos aos eleitores e que se perdeu nos primeiros quinze meses ou mais, queremos recuperar para cumprir com os compromissos que formulamos durante a campanha eleitoral de 2010. E isso só pode ser feito com o PT.

            Sem o PT não é possível fazer isso. E isso não será feito só pelo PT. O PT sozinho não faz isso. Nós precisamos, Senador Rodrigo, juntos, encontrar um caminho para recuperarmos, oferecermos e construirmos o novo caminho que nós propusemos. Se não formos capazes disso nos próximos meses e talvez até semanas, nós corremos o risco de que a intervenção implícita - e hoje eu parabenizo a Presidenta - transforme-se em uma intervenção explícita, e não só pelo Governo Federal, mas talvez até por esta Casa, talvez até pela população nacional.

            Senador Acir, o partido que o senhor lidera nesta Casa tem uma grande responsabilidade de fazer com que se recupere o rumo que nós prometemos em 2010 e que o Governador Agnelo abandonou. Ou abandonou conscientemente, por uma formulação própria, equivocada, ou abandonou por incompetência, um abandono total da liderança que deveria ter.

            O Sr. Rodrigo Rollemberg (Bloco/PSB - DF) - Senador Cristovam...

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Eu proponho que nós trabalhemos não com a ideia de ser oposição, mas com a ideia de fazer com que o Governo vire situação de um projeto igual ao que nós prometemos e que não está sendo cumprindo.

            Era isso, Srª Presidente, que eu tinha para falar, mas há um pedido de aparte do Senador Rodrigo Rollemberg, que faço questão de conceder.

            O Sr. Rodrigo Rollemberg (Bloco/PSB - DF) - Muito obrigado, Senador Cristovam. Quero cumprimentar mais uma vez V. Exª pelo seu compromisso com o Distrito Federal. Tive a oportunidade de assomar à tribuna nessa segunda-feira para fazer um discurso e desabafo, expressando o sentimento da população do Distrito Federal, que, como V. Exª reiterou, é um sentimento de abandono efetivo. A nossa cidade, no mês de março, teve 88 homicídios, três homicídios por dia. Lembrei que em 2011 houve um aumento de 13% nos homicídios e de 26% nos estupros em relação a 2010, que foi um ano em que tivemos quatro governadores, o pior ano da história política do Distrito Federal. E tudo indica que em 2012 vai aumentar. Mas a sensação de abandono por parte do Governo vem também da sua falta de iniciativa, de não conseguir resolver uma greve de professores que se alastra há 30 dias e de não convocar os representantes da população do Distrito Federal, os Deputados e Senadores, para contribuir na mediação para a resolução desse conflito, para que possamos voltar à normalidade e ver as crianças do Distrito Federal estudando. Também me chocaram três fotografias publicadas pelo Correio Braziliense que mostram uma invasão monumental numa área de proteção ambiental que é responsável pelo abastecimento de 70% da água para a população do Distrito Federal. Recebemos todo dia reclamações de empresários que não conseguem um alvará, que não conseguem uma liberação para construir, para gerar empregos. Pedi para a minha assessoria fazer um levantamento: 13 dos 30 administradores regionais sequer moram nas cidades que administram, não conhecem as cidades que administram. Servem mais a algum Deputado Distrital que os indicou do que à população. Também estamos vendo coisas no dia a dia. A Senadora Ana Amélia se referiu à grama que não é cortada. Na minha quadra, na 206 sul, tiraram ou roubaram, não sei, uma tampa de bueiro na entrada da quadra. Há uma semana os moradores colocam galho ali, para marcar a área, porque o GDF foi incapaz de trocar uma tampa de bueiro. Mesmo na saúde, não se sentiu melhora nenhuma na saúde pública do Distrito Federal. Quero registrar que o Partido Socialista Brasileiro, na semana anterior ao Carnaval, sinalizou a decisão, pela grande maioria da executiva, de que sairíamos do Governo, porque não conseguimos ser ouvidos pelo Governo. Nós nos propomos a ajudar, mas parece que o Governo não quer a nossa ajuda. Não conseguimos ter nenhuma participação expressiva, no sentido de contribuir para a mudança de rumos no Distrito Federal. Eu, pessoalmente, liguei várias vezes para o governador. Coloquei a bancada e a mim, na condição de coordenador da bancada, à disposição, para tentar ajudar a resolver a operação tartaruga da Polícia Militar, para ajudar a resolver a greve dos professores, mas, em nenhum momento, fui chamado. Agora, quero registrar que, com a decisão do Governo Federal de indicar o ex-assessor da Presidência da República Berger, uma pessoa muito conceituada no Distrito Federal, que tem experiência administrativa, para ajudar na condução, nosso partido resolveu dar um tempo. Estamos discutindo, mas também considero, Senador Cristovam, que só tem sentido rever essa posição anterior do partido se, efetivamente, for para mudar completamente esses rumos e para que possamos ser ouvidos. Nós fizemos campanha juntos, assumimos compromissos juntos, mas - quero registrar - já no dia seguinte à eleição, não tivemos mais oportunidade de ser ouvidos. Tivemos oportunidade de conversar, inclusive com V. Exª: como, depois de uma campanha realizada em conjunto, escolhe-se uma Secretária de Educação da Universidade de Brasília sem sequer dar um telefonema para o Senador Cristovam, para consultá-lo sobre a política de educação no Distrito Federal? O que a gente percebe é que, após a eleição, houve uma troca dos aliados preferenciais. Aqueles aliados históricos que têm uma história no campo da esquerda, que contribuíram para a construção dessa história, foram alijados. E as alianças que existem hoje, aquelas pessoas que foram prestigiadas pelo Governo são pessoas que não participaram da campanha, que não têm essa trajetória de compromisso com a esquerda do Distrito Federal, com o compromisso de construir uma sociedade democrática, uma cidade melhor. Portanto, é importante que V. Exª venha trazer esse fato à tribuna, é importante que nós tomemos a responsabilidade pelo futuro do Distrito Federal, mas não tem sentido - quero registrar a minha opinião - permanecer num governo em que nós não temos a capacidade de influenciar as suas decisões nos seus caminhos.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Obrigado, Senador. Depois passarei a palavra ao Senador Wellington. O senhor trouxe o assunto da greve. Eu fui governador, eu sei o que é ser governador e não poder atender a reivindicações de professores porque os recursos não são suficientes. Mas eu fui candidato também, Senador Wellington, e eu sei como é bom perder uma eleição por não assumir compromissos que não seriam possíveis de cumprir. Quando na televisão, no debate com o meu adversário, ele prometeu 28% de aumento para todos os servidores. Eu disse: “Isso eu não prometo, porque as contas que eu conheço não me permitirão atender”.

            Eu não acuso o Governador Agnelo por não ter dinheiro para pagar. Agora, eu o acuso de ter prometido e não estar cumprindo. Ou ele era incompetente como candidato por não saber a realidade do Estado, ou ele está agora deixando de cumprir um compromisso que assumiu. Uma das duas.

            Então, quero dizer que o que realmente está acontecendo é não cumprir os compromissos com os professores, com os PMs, com os bombeiros, com a área de saúde. Não vou citar a lista imensa porque tomaria muito tempo, mas lembro uma: ele prometeu que pelo menos durante os primeiros seis meses seria ao mesmo tempo governador e secretário de saúde, que usaria um avental branco de médico. Em vez disso, colocou um capacete de engenheiro e foi construir um estádio e concentrou todo o seu projeto nisso.

            Não vou entrar no detalhe se pode ou não pagar agora o que os professores reivindicam; se é justo ou não que professores façam greve. Mas sim, é justo denunciar que o governador não cumpre compromisso.

            Pergunto se posso passar a palavra ao Senador Wellington.

            A SRª PRESIDENTE (Marta Suplicy. Bloco/PT - SP) - Tem um minuto ainda. Como são vinte minutos e hoje nós temos uma coisa que é difícil acontecer, os 31 inscritos - nós estamos no 13º - estão presentes, estão querendo falar... 

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - O Senador Wellington fala em 30 segundos e eu nem respondo se não for possível.

            A SRª PRESIDENTE (Marta Suplicy. Bloco/PT - SP) - Então, vamos dar um minuto a mais e encerrar.

            Por favor, Wellington. 

            O Sr. Wellington Dias (Bloco/PT - PI) - Senador Cristovam, eu queria aqui, primeiro, dizer que posso parecer um intruso por não ser representante do Distrito Federal, mas aqui moram também muitos piauienses e é aqui que eu moro também, e, pelo carinho que tive por essa vitória importante aqui, vim aqui na eleição, participei dela, quero elogiar V. Exª, e aqui também o Senador Lindbergh, por essa postura de apresentar um caminho, um caminho que seja a partir do debate dos partidos que fizeram essa vitória, que geraram essa esperança.

(Interrupção do som)

            O Sr. Wellington Dias (Bloco/PT - PI) - E quero chamar a atenção para um fato: eu acho que não tem outra saída, esse conjunto de lideranças que construiu essa vitória no Distrito Federal é um caminho, e tudo que for necessário fazer para acertar o passo, acho que deve ser feito. E com certeza contarão com a modesta contribuição da nossa bancada.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Eu concluo dentro do prazo, sem dúvida alguma, Senadora, com as palavras do Senador Wellington, que conclui o meu discurso, dizendo apenas: Brasília pode continuar contando comigo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/04/2012 - Página 11915