Discurso durante a 56ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

– Relato da participação de S. Exª. como integrante da comitiva da Presidente Dilma Rousseff em recente viagem oficial aos Estados Unidos da América.

Autor
Marta Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Marta Teresa Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA.:
  • – Relato da participação de S. Exª. como integrante da comitiva da Presidente Dilma Rousseff em recente viagem oficial aos Estados Unidos da América.
Publicação
Publicação no DSF de 12/04/2012 - Página 11920
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • REGISTRO, VIAGEM, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ORADOR, REALIZAÇÃO, REUNIÃO, DEBATE, COMBATE, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL, IMPORTANCIA, PARCERIA, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, INVESTIMENTO, ECONOMIA, EDUCAÇÃO, INOVAÇÃO, DESENVOLVIMENTO TECNOLOGICO.

            A SRª MARTA SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Caros Senadores e Senadoras, ouvintes da Rádio e da TV Senado, subo à tribuna agora para contar um pouco sobre a viagem com a Presidenta Dilma aos Estados Unidos.

            Chegamos hoje às cinco da manhã. Foi uma viagem extremamente interessante porque pude perceber de perto a atuação da nossa Presidenta, a sua competência, sua capacidade de se colocar, de se explicar, de responder a questões difíceis, a sua firmeza e, principalmente, o seu conhecimento sobre questões tão variadas.

            A viagem foi dividida. Foram dois dias muito intensos. No primeiro dia, foram focadas a relação empresarial e a relação governamental com o Presidente Obama, em Washington. O segundo momento foi em Boston, com uma visita às universidades, universidades de ponta como a MIT e a Universidade de Harvard, e uma palestra na Harvard Kennedy School. E a presidenta se saiu muito bem em todos os aspectos, que vou agora detalhar.

            No primeiro dia, com uma ênfase grande, encontro com empresários brasileiros, grande parte do PIB brasileiro. E até a Presidenta brincou que estava encontrando com eles nos Estados Unidos, tendo encontrado ainda há pouco, e o porquê de estar encontrando empresários brasileiros lá fora; e colocou com clareza que era muito bom estar ali com empresários que tinham interesse nos Estados Unidos, que tinham investimentos, como também parcerias americanas, e que ela queria ouvi-los. Isso sensibilizou bastante o empresariado brasileiro. Eram CEOs de grandes empresas brasileiras.

            Em seguida, foram reuniões, seminários com os brasileiros, com os americanos e também conjuntamente, quando foi enfatizada principalmente a parceria econômica, a parceria tecnológica e na educação, o que a Presidenta considera importantíssimo como resultado dessa viagem.

            Agora, foi interessante também - não foi nesse momento, mas em outros momentos da viagem - como a Presidenta colocou com clareza a sua posição sobre a questão do Irã, da energia nuclear e do respeito que se tem de ter à autonomia dos povos, mas principalmente de que não se coloque combustível ao acirramento nessa questão do Irã. Ela colocou com firmeza a posição brasileira e depois, também com muita delicadeza, mas com nenhuma sombra de dúvida, o perigo que considera se porventura tivermos um acirramento dessa questão.

            Foi um privilégio também um jantar na Embaixada brasileira, em que estavam presentes as ex-Secretárias de Estado Madeleine Albright e Condoleezza Rice, quando a Presidenta colocou essas questões, e elas tiveram um diálogo muito intenso sobre essas questões internacionais de defesa e de posicionamento internacional.

            No final, o Chanceler Patriota comentou que tinha sido realmente um privilégio escutar uma discussão - estou colocando discussão, mas não era uma briga; eram pontos de vista sendo aprofundados - entre três mulheres tão competentes e que tinham tanto conhecimento sobre essas questões internacionais.

            Nesse primeiro dia, a agenda na Casa Branca também foi focada no estreitamento da relação empresarial entre os dois países. Para se ter uma ideia da importância - e isso foi bastante enfatizado pela Presidenta - os Estados Unidos foram o segundo principal parceiro comercial brasileiro, somente atrás da China.

            Entre 2007 e 2011 o intercâmbio comercial brasileiro com os Estados Unidos cresceu 40%. A Presidenta colocava a importância dos Estados Unidos também aumentarem os seus investimentos para conosco.

            Em conversa com os executivos americanos, a Presidenta enfatizou a necessidade também das nossas parcerias diversificarem os interesses. Pediu o apoio também aos CEOs, tanto brasileiros como internacionais, para o Programa Ciência Sem Fronteira.

            Foi um programa que a Presidenta lançou ano passado e que vai distribuir mais de 100 mil bolsas de estudo, de graduação e pós-graduação no exterior até 2014. Pode ter um impacto gigantesco no desenvolvimento tecnológico brasileiro.

            O diagnóstico do nosso Governo é que, sem investimentos em educação, pesquisa e tecnologia, vai ser muito difícil o país sustentar as altas taxas de crescimento econômico. Diversas vezes, principalmente nas universidades, a Presidenta reiterou a nossa produção intelectual, os papers que são publicados nas revistas internacionais por professores nossos. Mas, esses papers não se transformam em ação concreta. Há uma discrepância gigantesca entre o número de papers publicados, que chega a ser bastante grande, e quanto se transformam em ação, em patentes para nós brasileiros. Não chega nem a 0,2%.

            Então, ela colocava a importância de haver papers publicados nos jornais internacionais, porque isso faz uma diferença em carreira acadêmica, para o próprio desenvolvimento da ciência, mas que nós temos necessidade hoje de transformarmos esse conhecimento em patentes para o nosso Brasil, para o nosso povo, e isso não está acontecendo.

            Esse salto é que a Presidenta Dilma está buscando. É esse salto que ela está querendo para investir nos nossos jovens, para que eles tenham a condição de aprimoramento num país que, por excelência, é o país da inovação.

            Se pensarmos em tudo de modernidade que temos (Internet, Google etc.), veremos que tudo isso foi desenvolvido nos Estados Unidos. É lá que criam, porque é outro tipo de abordagem, é outro tipo de incentivo.

            Achei muito interessante essa preocupação da Presidenta, traduzida em uma ação concreta de busca dessa parceria com as grandes instituições internacionais.

            Aos CEOs, a Presidenta enfatizou que o Brasil e os Estados Unidos são parceiros iguais. E apreciei muito uma frase que ela colocou: “ninguém é igual ao outro porque quer ser, mas se torna igual pelo que constrói.” Esse é o caminho que o Brasil está fazendo. E, dentro do quadro internacional, o Brasil tem eixos importantes de interesse que coincidem com os dos Estados Unidos. É por essas características que os Estados Unidos são um parceiro estratégico para o nosso País.

            E nesse mundo bipolar, nós atribuímos aos Estados Unidos esse papel estratégico para o Brasil em três eixos enfatizados pela Presidenta.

            1 - pela capacidade econômica americana. Mesmo hoje, numa situação difícil financeiramente, os Estados Unidos reagem, os Estados Unidos têm uma capacidade de se renovar, de arrumar, de ter respostas que nós realmente admiramos.

            2 - pela capacidade americana frente à tecnologia, desenvolvimento de tecnologia de ponta. Em todas as áreas os americanos se superam e aos outros países.

            3 - pelos componentes históricos americanos de luta pela democracia que nós brasileiros também hoje temos em comum.

            Durante as audiências a nossa Presidenta destacou a importância de expor os brasileiros também à cultura americana de inovação e de criatividade, e explicou o desafio de criar condições para que as classes médias novas e emergentes se tornem produtivas em áreas dependentes de capital humano bem treinado e educado.

            Esse ponto também foi interessante porque nós temos 40 milhões de brasileiros que entraram na classe média e que hoje exigem um serviço melhor de saúde, de educação, e nós precisamos de gente qualificada para realmente poder prestar serviços de maior qualidade.

            Além do estreitamento da relação comercial entre os dois países, o encontro também foi importante para coroar o estreitamento da relação do Brasil com o Governo americano e, em especial, a relação da Presidenta com o Presidente Obama. Eu me permitiria uma liberdade poética porque, quando tivemos a percepção de que a relação pessoal da Presidenta Dilma com o Presidente Obama havia mudado de patamar, eu me lembrei muito da relação Fernando Henrique e Clinton, depois Lula e Bush e que, agora, nesse segundo encontro - a primeira viagem aos Estados Unidos como Presidente - com Obama, essa relação começou a ser construída. E nós todos sabemos a importância também de uma construção pessoal, de uma amizade pessoal, de uma admiração pessoal que se constrói exatamente nesse contato. Eu acredito que o grande êxito dessa viagem foi exatamente isto: a mudança de patamar da relação Brasil/Estados Unidos e a mudança de patamar da relação pessoal entre a Presidente Dilma e o Presidente americano.

            Bom, no segundo dia de viagem, a Presidenta se voltou mais para a questão da educação. Aí foi só uma questão de busca de parceiros para pesquisa e para inovação. A Presidenta reiterou as características que tornam essencial a parceira do Brasil com os Estados Unidos, além de enumerar uma série de fatores que se tornam atraentes para a parceira. Ela primeiro disse - e achei interessante, Senador Paim - porque eles eram importantes para nós e depois ela explicou por que nós também podíamos ser atraentes para eles. Isso foi dito na Kennedy School, em Harvad. Primeiro, pela relação com os nossos vizinhos. Há muitos anos não temos guerra com os nossos vizinhos. Segundo, porque nós integramos os Brics, que são responsáveis por 25% do PIB mundial. Isso é muita coisa. Depois, porque nós somos um país que luta pela melhoria da qualidade de vida da nossa população e também porque não temos conflitos bélicos. Por último, porque não rompemos contratos.

            Então, foi interessante que ela tenha ponderado por que nós somos bons. Não estávamos lá somente dizendo que nós queremos as coisas boas deles, que eles têm muitas, mas que nós também somos parceiros muito importantes para os Estados Unidos. Ela reiterou que as parcerias que buscamos são nas áreas de bioenergia, segurança alimentar, biotecnologia e defesa, entre outras. E também foi além, dizendo que gostaria o nosso Governo de ter a certeza de que contratos assinados não fossem derrubados pelo Legislativo.

            Em vários discursos, inclusive na Universidade de Harvard, a Presidenta cobrou a retomada dos investimentos produtivos como antídoto para barrar a crise econômica mundial e ampliar a oferta de empregos no mundo. Ela disse acreditar que não há outro caminho para a economia global recuperar o fôlego e superar os estragos provocados pelo que ela chama de "tsunami monetário" que não seja injeção de US$ 9 trilhões na economia global pelas economias em desenvolvimento - e que tem incentivado a valorização das moedas de países emergentes, especialmente o real. Essa questão do tsunami financeiro, que está prejudicando os emergentes, foi colocada na Casa Branca e em todos os discursos seguintes da Presidente, inclusive na fala final da Casa Branca, nas universidades. Foi uma posição sempre muito clara da Presidente, muito firme e, até onde eu sei, foi bastante apreciada.

            Ainda em Harvard, onde Dilma destacou o fato de a Universidade ser, pela primeira vez em 375 anos de história, comandada por uma mulher, a Drª Drew Faust, ela lembrou que os Estados Unidos são uma economia flexível, sempre capaz de liderar as crises e sair delas, e por isso a parceria entre os dois países para o século XXI é de enorme interesse para nós.

            A Presidenta também falou da necessidade de darmos importância a patentes, ampliando a oportunidade de acesso aos mercados e melhorando a qualidade da educação. E cobrou também uma mudança dos Estados Unidos no posicionamento em relação a Cuba, especialmente no veto à participação do país na Cúpula das Américas.

            Como vocês têm visto, não teve nenhum assunto que a Presidenta não tenha tocado, por mais delicado que tenha sido.

            Olha, foi uma oportunidade, da minha parte, fantástica, ouvir a Presidenta Dilma se colocar, acompanhar seus pronunciamentos, as suas explicações ao povo americano, aos estudantes, sobre a complexidade de eliminar a pobreza extrema ao mesmo tempo em que tenta criar um setor de alta tecnologia, enfatizando sempre a importância das potências emergentes neste mundo "multipolar" e listando as qualidades brasileiras para esse novo tempo.

            Olha, por meio de nosso otimismo quanto ao futuro, pelo nosso compromisso com a expansão das oportunidades dos mais necessitados e daqueles que começam a progredir pela vontade política para reunir indivíduos de histórias e visões de mundo muito distintas, é que tenho certeza de que a Presidenta, realmente, está trilhando um caminho excepcional.

            No MIT, também presidido por uma mulher, a Drª Profª Susan Hockfield, visitamos o Media Lab, interessantíssimo, que é um espaço muito grande e que não parece um laboratório. Lá foram desenvolvidas grandes invenções americanas. É aberto a docentes e alunos do MIT. É um espaço para criar, para inovar, para inventar coisas novas.

            E é nisso que a Presidenta está querendo ter a parceria para que nossos alunos e nossos professores possam aprender como é que se cria a situação, o clima para se desenvolver tecnologia nova.

            Depois de tantas reuniões, tivemos ainda no MIT uma reunião com diversos cientistas e pesquisadores, cada um falando sobre sua especialidade. Foram convidados principalmente cientistas brasileiros radicados nos Estados Unidos, alguns já em transferência para o Brasil, outros não. A Presidenta insistiu que muitos, se não vierem para cá, se não retornarem, pelo menos convidem cientistas, professores ou alunos brasileiros para que possam ser seus colaboradores nos Estados Unidos.

            Estou certa de que a sensibilidade de uma mulher voltada obsessivamente pela busca da excelência e da modernização na educação vai fazer diferença muito grande no nosso processo de inovação, pesquisa e desenvolvimento tecnológico. O Brasil, com a Presidenta, está brigando, está lutando e está tendo clareza do caminho que devemos seguir para pertencermos ao primeiro mundo em todas as áreas e não só em algumas, como hoje já acontece com as pesquisas da Embrapa ou as pesquisas sobre petróleo em que usamos tecnologia de ponta. Mas em tantas outras ainda somos muito atrasados.

            Como lembra a diretora do Programa América Latina e do Programa Brasil do Council on Foreign Relations, Julia Sweig, em brilhante artigo na Folha de S. Paulo de hoje: "Deveríamos aproveitar e atravessar a porta que a presidenta Dilma abriu para os Estados Unidos".

            Era isso, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/04/2012 - Página 11920