Discurso durante a 63ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem pelo transcurso, hoje, do Dia do Exército Brasileiro e do Dia do Índio.

Autor
Mozarildo Cavalcanti (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/RR)
Nome completo: Francisco Mozarildo de Melo Cavalcanti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA INDIGENISTA.:
  • Homenagem pelo transcurso, hoje, do Dia do Exército Brasileiro e do Dia do Índio.
Publicação
Publicação no DSF de 20/04/2012 - Página 13462
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA INDIGENISTA.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA NACIONAL, EXERCITO, SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, MENSAGEM (MSG), COMANDANTE, GENERAL DE EXERCITO, DOCUMENTO, RELAÇÃO, ORGANIZAÇÃO MILITAR (OM), COMANDO MILITAR DA AMAZONIA (CMA).
  • HOMENAGEM, DIA NACIONAL, INDIO, CRITICA, POLITICA INDIGENISTA, REFERENCIA, PRESIDENCIA, FUNDAÇÃO NACIONAL DO INDIO (FUNAI), PROBLEMA, DEMARCAÇÃO, RESERVA INDIGENA, AUSENCIA, ASSISTENCIA SOCIAL, INTEGRAÇÃO, COMUNIDADE INDIGENA, SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, DOCUMENTO, ASSUNTO, DADOS, CRESCIMENTO, GRUPO ETNICO, PAIS, BIOGRAFIA, MARECHAL, EXERCITO.

            O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (Bloco/PTB - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Waldemir Moka, hoje, casualmente, eu diria até que por uma feliz coincidência, se comemora o Dia do Exército Brasileiro e o Dia do Índio.

            E, por que é que eu digo coincidentemente e de uma maneira feliz? Porque se tem alguém que pode dizer que teve a primeira preocupação com os índios no Brasil foi o Marechal Cândido Rondon que, por sinal, era descendente de índios. Tinha bisavós maternos e bisavó paterna indígenas, e ele próprio tinha todos os traços de indígena. Foi ele quem fez o trabalho magnífico, tanto na expansão do telegrafo e das comunicações para fronteiras como os contatos com as tribos indígenas dos diversos Estados brasileiros.

            Então, hoje, quero prestar uma homenagem primeiro ao Exército e quero fazê-lo, Sr. Presidente, lendo o final de uma mensagem do Comandante do Exército, General do Exército Enzo Martins Peri. Vou ler só a parte final, pedindo que seja transcrito na íntegra.

O Brasil, cada vez mais, precisa de seu Exército com capacidade de dissuasão e pronta-resposta; e de sua tropa com autoestima elevada, honrada e respeitada. Como se sabe, a dissuasão, nas missões internas, provém desse conjunto de predicados intangíveis, e não da perspectiva inicial do uso da força. A dissuasão externa, para preservar a soberania e os interesses nacionais, advém da existência de forças modernas, bem equipadas, adestradas e em estado de permanente prontidão, capazes de desencorajar intimidações, agressões e ameaças. Neste caso, o Ministério da Defesa tem se empenhado na consolidação do Plano de Articulação e Equipamento de Defesa, planejamento que permitirá a implantação definitiva dos Projetos Estratégicos do Exército, indutores do nosso necessário Processo de Transformação.

            E, ao final, ele diz um trecho, Senador Moka, que acho fundamental:

Confiem na Política de Defesa Nacional e na Estratégia Nacional de Defesa do nosso Brasil; confiem na cadeia de comando - em todos os níveis, sob a autoridade suprema da Presidenta da República; confiem que as manifestações de entendimento das nossas urgências serão traduzidas em atos concretos; confiem na valorização da carreira que escolheram por vocação; [Isso está se referindo aos militares.] confiem nos estímulos que recebem pelo seu profissionalismo; confiem que existe o tempo certo para semear, cultivar e colher!

A sociedade reconhece e confia no seu Exército. E o Exército, patrimônio dessa sociedade, somos todos nós.

            Portanto, ele termina:

Sigamos, servindo ao Brasil, unidos, altivos e confiantes - com o mesmo destemor dos heróis de Guararapes, prontos para enfrentar os tempos desafiadores.

            E, ao tempo em que faço esse registro, tenho aqui uma série de documentos que gostaria de pedir a V. Exª fossem transcritos, porque dizem respeito às unidades militares na Amazônia, especialmente no meu Estado de Roraima, e ao cuidado que precisamos ter ao olhar principalmente para as regiões de fronteira deste nosso País.

            Quanto aos indígenas, quero hoje prestar uma homenagem muito especial a eles. E o faço, Sr. Presidente, na condição, como sempre digo, de humanista. Não sou daqueles que defende, de maneira ideológica, com viés não nacionalista, a questão indígena no País. Tenho criticado aqui, de maneira ferrenha, a política da Funai, que, aliás, nunca foi presidida por um índio. Apesar de termos milhares de índios com curso superior, ainda hoje é presidida por não indígenas. É um contrassenso que uma Secretaria da Mulher não seja presidida por uma mulher, que uma Secretaria da Desigualdade Racial não seja presidida por alguém que seja das minorias raciais. No entanto, a Funai é presidida sempre, sempre foi, por pessoas não indígenas.

            Rondon, que foi o inspirador da precursora da Funai, que foi o Serviço de Proteção aos Índios, sempre preconizou a questão de que o índio tinha que estar realmente integrado à Comunhão Nacional, respeitada as suas diferenças, as suas peculiaridades, mas lhes dando oportunidade de terem dignidade como seres humanos.

            O que temos hoje, na verdade, Senador Moka, é uma desagregação, uma segregação dos índios e uma desagregação da comunhão nacional, com uma política indigenista equivocada, que já demarcou mais de 14% do Território Nacional para cerca de 817 mil índios, que representam 0,3% da população nacional.

            Eu não estou aqui questionando o tamanho de terras só. Estou questionando principalmente que essa política não se preocupa com o ser humano índio, com a condição humana em que vive o índio, a índia, as crianças indígenas. Tiro pelo meu Estado, Senador Moka, que tem mais de 57% da área demarcada como terra indígena, com 11% da população indígena, no entanto os indígenas vivem marginalizados da política Federal da Funai, que não dá assistência à saúde, não dá assistência à educação, não dá assistência à produção, a nada. Os índios têm que fazer o quê? O que eles fazem na atualidade: viver nas cidades, nas sedes dos Municípios e as reservas são uma espécie de sítio, onde vão plantar, colher, passar os fins de semana, fazer suas festas.

            Eu pergunto: em que melhorou a qualidade humana da vida do índio com essa política indigenista?

            E pior, Senador Moka, se formos pegar ao pé da letra o que diz a Constituição, a Constituição que tive a honra de votar como Constituinte, a Constituição deu um prazo de cinco anos para que a União demarcasse as terras indígenas pendentes neste País.

            Hoje, mais de 20 anos depois da promulgação da Constituição, a que estamos assistindo? A Funai sempre identificando novas terras, querendo tomar terras que não havia mais como... Disse o Supremo, o fato indígena em si, e como se não tivesse terras suficientes para os índios do Brasil.

            Eu estive recentemente em Miami e vi uma reserva indígena, Senador Moka, onde, dentro dela, dentro da cidade praticamente, existe toda uma condição de vida próspera para os índios. Existem hotéis, supermercados, lojas, cassinos, e os índios têm lucro e participação direta nessas questões. E lá há o respeito sobre a comunidade indígena, ao que ocorre na comunidade indígena.

            No Brasil, as comunidades indígenas, as reservas indígenas, são para inglês ver. E o que é pior - já denunciei da tribuna -, tem índio, se é que se pode dizer assim, muito sabido, que está - e denunciei recentemente aqui -, alugando, arrendando as terras que não são dele, são da União, para usufruto exclusivo dele, para estrangeiros. Isso está registrado. Mandei, inclusive, a questão para o Ministério Público Federal, para apurar.

            E espero que aproveitemos este Dia do Índio, hoje, que coincide com a comemoração do Dia do Exército, em uma homenagem ao Marechal Rondon, para que possamos fazer uma nova política indigenista em que se valorize a pessoa e não apenas se valorize a terra. Aliás, terra que se valoriza não sei para quem, porque o índio que vive na sua comunidade indígena, quase à unanimidade, vamos dizer que pelo menos 90%, vive de maneira precária, de maneira lamentável, sob os aspectos, como citei, da saúde - falo isso como médico -, da educação, do incentivo à produção, porque o índio não pode mais viver, como vivia à época de Pedro Álvares Cabral, da caça, da pesca e da retirada do extrativismo.

            Então, quero deixar este registro na minha visão nacionalista da questão indígena, na minha visão humanista, como médico.

            Encerro, pedindo a V. Exª que autorize a transcrição destes documentos, e presto a minha homenagem sincera aos índios de todo o Brasil, especialmente aos índios, índias e crianças indígenas do meu Estado de Roraima.

            Muito obrigado.

 

************************************************************************************************DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR MOZARILDO CAVALCANTI EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I e §2º, do Regimento Interno.)

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Matérias referidas:

- Mensagem do Comandante do Exército;

- Entre 1991 e 2010 (...)

- Cândido Rondon


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/04/2012 - Página 13462