Discurso durante a 64ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre o escândalo do Sr. Carlos Cachoeira e suas repercussões no Estado no Paraná.

Autor
Roberto Requião (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
Nome completo: Roberto Requião de Mello e Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR.:
  • Considerações sobre o escândalo do Sr. Carlos Cachoeira e suas repercussões no Estado no Paraná.
Publicação
Publicação no DSF de 21/04/2012 - Página 13671
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
Indexação
  • CRITICA, REFERENCIA, REU, CHEFE, QUADRILHA, JOGO DE AZAR, ESTADO DE GOIAS (GO), MOTIVO, FINANCIAMENTO, CORRUPÇÃO, COMENTARIO, ATUAÇÃO, ORADOR, BUSCA, ENCERRAMENTO, JOGO DO BICHO, ESTADO DO PARANA (PR), ILEGALIDADE, ATIVIDADE, ACUSAÇÃO, SENADOR, EXISTENCIA, PARCERIA, CONGRESSISTA, ACUSADO.

            O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco/PMDB - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Mozarildo, enquanto o nosso Valdir Raupp se organiza, eu aproveito para conversar um pouco sobre este escândalo do Cachoeira e as suas repercussões no Estado do Paraná.

            Tenho um verdadeiro horror ao jogo, ao bingo e aos cassinos, não exatamente ao jogo ou ao bingo numa igreja ou numa associação comunitária, para construção de uma creche, para uma obra social. Mas o jogo organizado, o bingo, essas loterias servem, ao fim e ao cabo, para lavagem de dinheiro do crime organizado, do narcotráfico, do roubo de carros, do tráfico de armas. As quadrilhas lavam o dinheiro no jogo.

            Vejam como funciona. Um bingo fatura, no fim do dia, R$50.000,00, mas seus organizadores dão entrada em R$1 milhão. Pagam o imposto, e esse R$1 milhão que saiu do crime organizado, que tem origem criminosa, depois de pago o imposto, é lavado. Esse dinheiro acaba mesmo sendo utilizado em atividades legais. Era aquela história da máfia nos Estados Unidos que organizava lavanderias - lavanderias mesmo, de lavar roupa - para dar entrada no dinheiro. Daí veio a expressão “lavagem de dinheiro”. No Brasil, até empreiteiras são organizadas com o dinheiro do crime organizado lavado no jogo.

            No Paraná, eu combati essa prática com muita força, com muita decisão. Foi um jogo muito duro. À época, a imprensa do Paraná inteira me agredia. Eles diziam: “Não; mas o jogo vai dar empregos, vai dar dinheiro para as práticas sociais do programa de voluntariado do Estado” e coisas tais”.

            Foi uma parada dura e acabei com o jogo no Paraná.

            O Cachoeira andava por lá, Senador Raupp; andava por lá. Ele era sócio de uma tal de Larami, que operava a loteria do Estado do Paraná no governo do Lerner, que me antecedeu. Consta, inclusive, que o Chefe da Casa Civil era, clandestinamente, dono de bingos e, à noite, pela secretária eletrônica, tomava as contas do faturamento de cada um dos seus estabelecimentos. Foi um jogo duro; foi um jogo pesado. E essa Larami operava a loteria do Estado e, se não engano, um tal de Totobola, que era um sorteio pela Internet.

            Eu acabei com isso tudo no Estado. E, quando eu me elegi Senador - depois de governador, eu me elegi Senador da República -, numa tarde, recebi um telefonema de um Senador, que me disse que estava com um amigo e gostaria de me fazer uma visita. Ora, Senador, companheiro de bancada, por que não me visitaria? E esse Senador foi ao meu gabinete e me apresentou um sujeito: “Olha, estou aqui com um empresário do jogo, o Sr. Carlos Cachoeira”. E eu disse ao Senador: “Se você tivesse me dito com quem vinha, eu não o teria recebido. Mas, uma vez que já está aqui, quero agradecer o fato de ter vindo”. Ele me perguntou espantando: “Mas por que agradecer?” Respondi: “Porque eu gosto de olhar nos olhos e na cara os tipos que quero pôr na cadeia, e quero, Sr. Carlos Cachoeira, vê-lo preso!” Isso foi testemunhado, inclusive, por alguns deputados estaduais que estavam no meu gabinete.

            Esse Carlos Cachoeira chegou ao meu gabinete, e eu não sabia quem era, e se apresentou: “Eu vim aqui conversar porque acho que o senhor cometeu um erro. O jogo dá emprego, dá dinheiro para o Provopar e eu gostaria de conversar...”

Eu toquei esse sujeito do meu gabinete. Eu era Senador de primeiro mandato. E, agora, de repente, não mais que de repente, vejo documentos da Polícia Federal, de um tal de Roberto Coppola, que se dirige a um tal de Aprígio, que é cunhado do Carlos Cachoeira, onde se diz que pretendiam entrar com uma ação contra o Estado do Paraná por lucros cessantes, agora, no Governo do Carlos Alberto Richa, do PSDB, e me agride com palavrões pesados: “Ainda bem que saiu esse Governador Roberto Requião, filho disso, filho daquilo, hincha bola.” E se referem com carinho quase ao Governador atual. “O nosso encontro com o atual governador foi muito bom”. E esse encontro, pela data dos e-mails capturados pela Polícia Federal, deu-se cinco dias depois da eleição, o que nos possibilitaria fazer ilações muito interessantes a respeito da reinvestida do jogo na campanha e no governo do Paraná. Mas vamos conversar sobre isso na CPI.

            Certamente, o Sr. Beto Richa será chamado a vir à CPI para uma acareação com o tal Roberto Coppola, dono da Larami, a fim de explicar que tipo de entendimentos estava fazendo e por que um governador, a cinco dias não da posse, mas da eleição, recebe o representante do jogo organizado e da corrupção de políticos no nosso País. Sem dúvida, isso vai ser muito interessante.

            Mas aonde quero chegar com essa oportunidade que o Senador Mozarildo me dá? Eu pisei o rabo do gato, divulgando para o Brasil todo, pela Internet e aqui da tribuna, com a força da TV Senado, os documentos de e-mails capturados pela Polícia Federal, que já são públicos. Um jornal de Goiás publicou e a Gazeta do Povo do Paraná publicou também os desaforos e as agressões a mim e o elogio ao governador atual do Paraná.

            Pisei o rabo do gato, mas o bichano está miando por várias bocas. O Secretário da Fazenda do Paraná, o ex-Deputado Luiz Carlos Hauly, hoje põe no Twitter: “O Sr. Requião teria também recebido bicheiros no Palácio Iguaçu”. Mentira! A pior figura, Senador Mozarildo, que eu recebi no Palácio Iguaçu foi o Deputado Luiz Carlos Hauly, se assim vocês considerarem. E o Deputado Francischini disse: “Vou convocar o Governador Requião na CPI para explicar o que ele...” Francischini, com essa pose de moralista? Parece o Demóstenes da Câmara Federal esse Francisquini. Então, o gato está miando por bocas diversas. E sempre é assim: você pisa o rabo do gato, e o gato mia pelas bocas que ele comanda.

            Lembro-me, Senador Raupp, da CPI dos Títulos Públicos, da qual fui Relator no Congresso. Peguei pesado. Mostrei os governadores que tinham metido a mão em dinheiro público, os malfeitos, a corrupção, a safadeza. Quem é que me agrediu? A IstoÉ e a Veja. Imediatamente, inventaram uma história de que a minha mulher tinha mandado dinheiro para os Estados Unidos. É claro que tinha mandado! Declarou no Imposto de Renda um apartamento do pai dela que havia sido vendido e mandou o dinheiro para a irmã através de uma casa de câmbio legalmente estabelecida e registrada no Banco Central.

            Mandei à Veja essa documentação toda. Nunca houve correção, Senador Mozarildo.

            Daí o meu interesse, por exemplo, nessa lei do direito de resposta que eu propus. Mas parece que a “gatarada” mia no plenário também, porque pediram para a matéria voltar ao plenário e já existem dezenove emendas tentando desnaturar e cortar os dentes afiados da lei do direito de resposta.

            Então, faço um apelo aos meus amigos e às pessoas que, no Brasil, no meu Paraná e na minha Curitiba, se interessam por política: pisei o rabo do gato, vejam por que bocas o gato mia. Da boca que sai o miado vocês encontrarão a responsabilidade e a vinculação com o crime organizado.

            O jogo em si não é um problema. A lavagem de dinheiro é um problema. O problema do jogo, por exemplo, está no vício, nos aposentados que jogam as suas pensões, a sua possibilidade de sobrevivência numa máquina, num cassino, mas fundamentalmente ele é um crime no mundo inteiro.

            Eu conheci, em Atlantic City, nos Estados Unidos, alguns cassinos. Fui dar uma olhada lá. O que descobri? Que a legislação americana grava pesadamente de impostos o lucro dos cassinos. Então, como eles funcionam? Eles fazem um hotel paralelo, que não está vinculado à razão social do cassino, e simulam o pagamento pelo cassino da hospedagem dos jogadores. Então, chega um jogador no qual eles têm interesse - e é evidente que eles têm interesse em todos os jogadores que chegam lá - e eles dizem que o hotel está pagando US$4 mil a diária num quarto de luxo. Como o hotel não tem a gravação de impostos que tem um cassino, então o hotel apresenta lucro e não é gravado pelos impostos, enquanto o cassino diminui o seu lucro para não pagar impostos. É um trambique no mundo inteiro.

            Eu espero que, no Brasil, nunca se estabeleça essa ilusão. E não quero dizer que toda pessoa que acredita na possibilidade de legalização do jogo esteja vinculada ao crime organizado. Tem muita gente que se ilude com essa fantasia dos desdobramentos positivos econômicos de um cassino. Esse Senador, por exemplo, que levou o Cachoeira ao meu gabinete, acreditava na legalização do jogo. Nunca vi vinculação dele com algum malfeito na República, mas ele foi o veículo que levou o bandido ao meu gabinete e eu tive e oportunidade de dizer-lhe na cara: “Quero lhe ver na cadeia! Saia daqui!”

            Minha gente, pisei o rabo do gato! Observem agora, vocês que se interessam pela corrupção na política, as bocas pelas quais o gato mia. A Veja, a IstoÉ, parlamentares, radialistas, apresentadores de televisão, canais de televisão por este Brasil inteiro. Está aí a rede de influência da corrupção, do crime e do jogo organizado no nosso Brasil.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/04/2012 - Página 13671