Discurso durante a 67ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apelo pela despolitização da Copa do Mundo de 2014, visando a uma maior celeridade das obras necessárias para o evento, especialmente no âmbito do Estado do Mato Grosso.

Autor
Pedro Taques (PDT - Partido Democrático Trabalhista/MT)
Nome completo: José Pedro Gonçalves Taques
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DISCRIMINAÇÃO RACIAL. ESPORTE, ESTADO DE MATO GROSSO (MT).:
  • Apelo pela despolitização da Copa do Mundo de 2014, visando a uma maior celeridade das obras necessárias para o evento, especialmente no âmbito do Estado do Mato Grosso.
Publicação
Publicação no DSF de 26/04/2012 - Página 14518
Assunto
Outros > DISCRIMINAÇÃO RACIAL. ESPORTE, ESTADO DE MATO GROSSO (MT).
Indexação
  • ELOGIO, VOTO FAVORAVEL, MINISTRO, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), RELATOR, PROCESSO JUDICIAL, JULGAMENTO, CONSTITUCIONALIDADE, AÇÃO AFIRMATIVA, INCLUSÃO, NEGRO, UNIVERSIDADE.
  • SOLICITAÇÃO, GOVERNADOR, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), ELIMINAÇÃO, INTERFERENCIA, POLITICA PARTIDARIA, MELHORIA, QUALIDADE, GESTÃO, NATUREZA TECNICA, REFERENCIA, ANDAMENTO, OBRA PUBLICA, CAMPEONATO MUNDIAL, FUTEBOL, AMBITO ESTADUAL.

            O SR. PEDRO TAQUES (Bloco/PDT - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, cidadãos brasileiros que nos assistem pela TV Senado, que nos ouvem pela Rádio Senado, povo do Estado de Mato Grosso, povo de Roraima, de Pacaraima - BV8, em homenagem ao Senador Romero Jucá -, essa decisão aqui revelada por V. Exª, Sr. Presidente, sobre ações afirmativas ou discriminações positivas do Ministro Ricardo Lewandowski, é um avanço para a sociedade brasileira.

            Vamos imaginar a seguinte construção histórica, se V. Exª me permite, antes de eu entrar no tema propriamente da minha fala: até por volta de 1850, 1860, a Suprema Corte americana entendia que a escravidão era constitucional. Alguns Estados do sul dos Estados Unidos gravavam em suas leis a escravidão, e a Suprema Corte entendeu como constitucional. Aí a Guerra da Secessão, um dos motivos teria sido esse.

            Até por volta de 1950, alguns Estados do sul dos Estados Unidos proibiam casamentos inter-raciais - negros e brancas, brancos e negras. Isso era proibido em alguns Estados do sul. E a Suprema Corte americana afirmou que essas leis estaduais não ofendiam a Constituição da República.

            Até por volta de 1960, alguns Estados do sul dos Estados Unidos proibiam que o negro votasse e fosse votado. E aí, em razão das manifestações de defesa dos direitos civis, os negros passaram a votar, inclusive no sul, e hoje um negro é Presidente dos Estados Unidos. Isso graças às ações afirmativas ou discriminações positivas. Alguns são contra, outros são favoráveis.

            Eu sou favorável às ações afirmativas em determinado espaço temporal.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Para dizer que V. Exª está com toda a razão, pois, segundo o parecer dele, as cotas são provisórias.

            O SR. PEDRO TAQUES (Bloco/PDT - MT) - Provisórias. Muito bem.

            Existe um livro muito interessante do Ministro Joaquim Barbosa - esse livro está em francês, mas existe a tradução em português - sobre ações afirmativas, que são políticas públicas ou privadas que têm por objetivo superar desigualdades que são históricas, discriminações que são históricas, em razão de que há 500 anos, por exemplo, oprimem os negros no Brasil. É lógico que eles chegaram aqui muito tempo depois do descobrimento, mas nós temos esse ranço histórico que vem dos europeus.

            Portanto, eu quero me congratular com essa decisão do Supremo. Em um determinado momento histórico, nós precisamos dessas cotas e também precisamos debater as cotas sociais, sob pena de perdermos mais uma geração de brasileiros.

            Muito bem.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, muitos mato-grossenses que estão me assistindo pela TV Senado provavelmente se lembram, Senador Armando, do tempo em que Copa do Mundo era um assunto distante. Mais distante ainda era imaginar os jogos do Mundial em Cuiabá, eterna capital do Estado de Mato Grosso, fundada em 1719.

            Pois bem. Em 31 de maio de 2009, o Presidente da Fifa, esse famoso Joseph Blatter, que com certeza virá depor aqui em uma das comissões do Senado, esse cidadão anunciou nas Bahamas as 12 cidades brasileiras que irão receber os jogos da Copa do Mundo de 2014. Esse anúncio se deu no dia 31 de maio de 2009. Muito bem. Mato-grossenses lotaram pontos de concentração preparados para a comemoração, entre as quais cito um tradicional ponto turístico de Cuiabá, a Praça Oito de Abril, a data de fundação da cidade, a chamada Praça do Chopão, um restaurante fundado em 1974.

            O anúncio foi feito em ordem alfabética, Senador Renan Calheiros: Belo Horizonte, Brasília, Cuiabá! Em poucos segundos, a agonia se transformou em euforia. E a rivalidade havia cessado. A briga mais acirrada, Senador Armando, pelo menos nos bastidores, na escolha de uma das sedes foi travada pelas candidaturas de Cuiabá e Campo Grande, nossa vizinha irmã em Mato Grosso do Sul.

            Peças publicitárias, pressão política e promessas de investimento maciço de recursos públicos e privados na infraestrutura das cidades marcaram a disputa, vencida pela capital do meu Estado, Mato Grosso, que, para minha honra, mandou-me para Brasília representar aquela unidade federada.

            De lá para cá, já se passaram quase três anos. Repito, já se passaram quase três anos. A euforia dá lugar à preocupação. Nós estamos a 775 dias da Copa. Setecentos e setenta e cinco dias da Copa, Sr. Presidente.

            Não é segredo nesta Casa que eu, como agente público, como agente político, tenho divergências com o grupo político que atualmente governa meu Estado. Já expus algumas críticas contundentes à administração, defendendo minhas convicções. E isso é bom. Essa dialética é o que ajuda o País a crescer.

            Mas há uma razão para o discurso de hoje. No meio de todo o barulho e exaltação de alguns debates públicos envolvendo a Copa do Mundo no Estado de Mato Grosso, precisamos lembrar que não importa quem somos. Não importa quem somos ou de onde viemos. Cada um de nós é parte de algo maior, algo mais importante do que partidos ou preferências políticas. E eu venho de um Estado governado pelo PMDB, Senador Renan. Não interessa o partido político.

            Governador Silval Barbosa, a chance da despolitização da Copa é agora. A chance da despolitização da Copa é agora. Nós temos um único caminho para a viabilização máxima de suas oportunidades e de seu legado. O Estado precisa de um técnico à frente das obras da Copa, sem politicalha, sem envolvimento de partidos políticos.

            Lembro muito bem de quando a Agecopa foi criada, uma agência para administrar as obras da Copa, por iniciativa do então Governador e hoje Senador Blairo Maggi.

            Antes de fazer esse discurso, eu comuniquei a ele que falaria do seu nome aqui, por lealdade parlamentar.

            Foi criada a Agecopa, uma agência autônoma que teria orçamento próprio e exigiria desfiliação partidária de todos os seus membros. Em tese, seria o início da concretização de um sonho de todos os mato-grossenses: investimentos de até R$5 bilhões em obras que iriam, ou ainda irão, transformar Cuiabá em uma cidade moderna e bem aparelhada.

            Mas o tempo passou e mostrou o quanto é difícil um governo de coalizão manter sua posição. Pressão daqui, pressão dali, e a Agecopa não existe mais. Escândalo aqui, demora na execução de projetos ali, e a secretaria criada para tocar as obras já não tem mais secretário. Temos uma secretaria sem secretário. Esse troca-troca continuará prejudicando projetos? Partidos já brigam pela indicação do novo nome que estará à frente do pacote de obras. Novamente uma disputa partidária? Quanto tempo durará o novo secretário que administrará a Copa do Mundo em Mato Grosso?

            Essa é uma pergunta que nós todos temos de fazer.

            Antes de qualquer secretário, quem está à frente da Copa do Pantanal para o acerto ou para o erro, para o certo ou para o errado é o Governador do Estado de Mato Grosso.

            Governador Silval Barbosa, o senhor foi eleito com o compromisso de honrar a realização do Mundial no nosso Estado. Portanto, repito: é hora de um técnico liderar a Secopa. Mato Grosso precisa de um gestor com a conduta ilibada, que tenha experiência em obras públicas e que tenha foco exclusivo nas obras da Copa.

            O que está em jogo agora não é quem vencerá as próximas eleições de 2012 ou 2014.

            Repito isto: o que está em jogo agora não é quem vencerá as próximas eleições. Afinal, acabamos de ter uma eleição. O que está em jogo é se haverá geração de empregos e renda para a comunidade; melhoria do transporte público; aumento da mão de obra especializada para a construção civil; intercâmbio cultural; aumento do turismo; construção de novos hotéis; melhoria na segurança e na rede de saúde do Estado que todos amamos.

            Torcemos muito pela construção da Arena Pantanal; reforma e ampliação do Aeroporto Marechal Rondon; implantação do Veículo Leve sobre Trilhos, o afamado VLT; pela construção das trincheiras do Santa Rosa, da Miguel Sutil, do Verdão, da Avenida dos Trabalhadores; da Ponte sobre o Rio Coxipó; da Rotatória do Aeroporto, da Rotatória do Tijucal, da nova ponte sobre a Rodovia Mário Andreazza; sem contar o turismo, que deverá ser incrementado.

            Temos muito a oferecer aos turistas, nacionais e alienígenas. Com quatro grandes ecossistemas - o Pantanal, a Amazônia, o Cerrado e o Araguaia -, Mato Grosso é uma das potências nacionais do turismo ecológico, Srs. Senadores. São inúmeras as opções, como a Chapada dos Guimarães, a 50km de Cuiabá; o Lago de Manso, a 100km; o Pantanal, a 90km; os rios cristalinos de Nobres, a 140km. Cito ainda a região do Araguaia e suas paisagens paradisíacas na beira do rio Araguaia. Esta é a oportunidade de nós mostrarmos nossas belezas naturais para o mundo. E beleza natural é o que não nos falta.

            Com o trabalho árduo da classe política e apoio da população, seremos recompensados. União é a palavra para quem lutar por este anseio chamado Copa do Mundo. Essa responsabilidade não começa no Senado, ou na Câmara, ou nos governos. Começa na consciência de cada cidadão, que hoje já pode acompanhar e cobrar seus representantes até por meio da Internet. Eu, por exemplo, acolho diariamente, Srs. Senadores, inúmeras sugestões de projetos e avalio as críticas que recebo pelo Facebook e pelo Twitter, com o intuito de construir este mandato de forma participativa.

            Srªs Senadoras, Srs. Senadores, planejar, executar e fiscalizar. Eu acredito que podemos. E acredito que devemos. É, no mínimo, isso que as pessoas que nos puseram aqui esperam de nós.

            Somos parte da família mato-grossense, Governador Silval Barbosa. Acreditamos que, em um Estado onde se encontram todas as raças, crenças e pontos de vista, ainda estamos ligados como um povo, não interessa o partido político que somos. Compartilhamos as mesmas esperanças e o mesmo credo.

            Por isso, Governador, solicito a V. Exª, requeiro a V. Exª, peço a V. Exª que deixe a politicalha de lado, porque nós precisamos nos unir para que esta Copa possa nos orgulhar.

            Avancemos juntos, ou não avançaremos. Porque os desafios que enfrentamos são maiores que qualquer partido e maiores que qualquer forma de fazer política com p minúsculo.

            Governador Silval Barbosa, a população do Estado de Mato Grosso confia em V. Exª.

            Para isso V. Exª foi eleito. Eu fui eleito por outro campo político. Mas, neste interesse, no interesse da Copa, não existem partidos políticos.

            Eu me coloco aqui, em Brasília, para continuar a auxiliar o nosso Estado neste momento importante para a nossa história.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/04/2012 - Página 14518