Discurso durante a 69ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Apelo à Presidente Dilma Rousseff para que apoie à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, objeto do Requerimento 1, de 2012-CN; e outros assuntos.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO.:
  • Apelo à Presidente Dilma Rousseff para que apoie à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, objeto do Requerimento 1, de 2012-CN; e outros assuntos.
Aparteantes
Paulo Paim.
Publicação
Publicação no DSF de 28/04/2012 - Página 15046
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO.
Indexação
  • COMENTARIO, CRITICA, ATUAÇÃO, EX PRESIDENTE, AUSENCIA, CRIAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), APURAÇÃO, CORRUPÇÃO, REFERENCIA, PAGAMENTO, MESADA, POLITICO, CONGRESSO NACIONAL.
  • SOLICITAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, APOIO, CRIAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, INCENTIVO, PRESIDENTE, RELAÇÃO, APURAÇÃO.
  • COMENTARIO, CRITICA, RENAN CALHEIROS, SENADOR, ESTADO DE ALAGOAS (AL), AUSENCIA, RESPEITO, RELAÇÃO, TRATAMENTO, ORADOR, REFERENCIA, FALTA, INDICAÇÃO, CONGRESSO, CONGRESSISTA, COMPOSIÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, confesso que fiquei profundamente emocionado com o discurso do Senador Luiz Henrique.

            Senador Luiz Henrique, como um dos relatores (Relator principal) do Projeto do Código Florestal, conseguiu fazer um trabalho realmente muito positivo. Andou pelo Brasil, reuniu todas as entidades referentes às ligadas à economia rural, aos chamados empresários na área da agricultura, e reuniu os defensores do meio ambiente. Foi um longo debate, uma longa discussão, mas todos debateram.

            Nesta Casa estiveram Senadores, Deputados Estaduais, Deputados Federais, Prefeitos, Governadores...

            Todos debateram, expuseram e apresentaram as suas propostas. O termo foi aprovado, uma data histórica nesta Casa. Eu me lembro da nobre líder Kátia Abreu, presidente da Confederação Nacional da Agricultura, uma das apaixonadas defensoras dos produtores rurais que, da tribuna, de uma maneira emocionante, aplaudiu o acordo, aplaudiu o entendimento. Até brincaram com ela dizendo que ela terminaria aderindo à base do Governo, mas ela disse que isso era bem diferente. Foi um momento histórico, uma ação tão difícil, tão complicada, principalmente para nós que, logo ali adiante, vamos ter a Conferência Rio + 20 tratando da matéria. Seria muito importante que pudéssemos comandar o debate no Rio de Janeiro, se soubéssemos qual é a posição do Brasil sobre a matéria.

            A gente imaginava que a votação na Câmara seria tranqüila, seria a homologação do que foi aprovado aqui. De repente, muda tudo. E, se formos analisar, a mudança não foi em torno do Código Florestal, a mudança foi em torno do ambiente que estamos vivendo. Os partidos não estão se dando conta da importância deste momento, a turma do toma-lá-dá-cá, a turma do ganha- emenda-e- vota-com-o-Governo, a turma do nomeia-e-vota-com-o-Governo, nunca esteve tão efusiva na Câmara. E foi uma surpresa. O debate, repito, não foi na questão referente ao Código Florestal. É claro que os líderes que defendem os produtores, vendo uma chance que se lhes aparecia, oferecida pelo próprio líder do PMDB na Câmara dos Deputados e pelo relator do PMDB, entraram nela.

            Eles, que estavam satisfeitos com a votação feita aqui no Senado, entraram nela, e o PMDB foi vitorioso; derrotou a Dilma e o PT. Grande “vitória”. Tem-se de ver essa ligação com o que está acontecendo no Conselho de Ética e na CPI.

            Todos nós sabemos que a CPI nasceu do Presidente Lula e do PT, de uma ala do PT. A Presidente Dilma, que passou o ano que passou, muito difícil -cerca de sete Ministros foram demitidos por questões referentes ao malfeito -, pretendia, neste ano, entrar na chamada agenda positiva. E, de repente, o Presidente Lula lança a CPI, a CPI do mesmo Cachoeira, aquele lá do Waldomiro Diniz.

            Quando desta tribuna eu disse -- “Vou ao Palácio falar com o Lula para ele demitir o Waldomiro, braço direito do Sr. José Dirceu, e abrir processo contra o Sr. Cachoeira.” -- era para dar a linha do Governo Lula, para mostrar que a linha dele era pela ética, pela dignidade e pela seriedade. E o negócio tinha aparecido na televisão aberta e escancaradamente: o cidadão discutindo a comissão, quanto é que iria levar, pegando o dinheiro e botando no bolso. Era escancarado! O Lula não demitiu o Waldomiro, não abriu inquérito contra o Cachoeira e não deixou criar a CPI. José Sarney, o presidente do Senado, e Lula, presidente da República, não deixaram criá-la.

            Eu e o Senador Jefferson Péres entramos no Supremo, pedindo a CPI. Ganhamos, mas levou um ano, e, naquele ano, não era mais Cachoeira. Naquele ano já era Mensalão, por que tudo tinha se dado.

            Estranho que o Lula, quando era Presidente, não deixou criar a CPI e, agora, quer a CPI. Com o mesmo Cachoeira.

            A imprensa publicou que, no almoço que Lula teve com a Presidente Dilma, ele a tranquilizou dizendo que nada iria envolvê-la.

            Eu gostei da resposta que a imprensa publicou que a Presidente Dilma teria dado: “Eu só quero dizer que, quem aparecer nas gravações e estiver no Governo, vai ser demitido.” Bem diferente do que o Lula fez quando estava no Governo e não demitiu.

            Foi nessa CPI que o PT criou que o Lula queria botar como relator o cidadão que tinha sido afastado da Liderança do Governo. É claro que estivesse magoado, é claro que estivesse ressentido. E como é que uma pessoa magoada e ressentida iria ser o relator de um projeto dessa natureza? E Lula insistiu. Felizmente, perdeu.

            O relator escolhido é um homem, dizem todos, equilibrado e com muito bom senso. Não que o outro não o seria, apenas teria razões mais que concretas para ter mágoa, ter ressentimento por ter sido afastado. E essa ocasião não era o momento propício para ele entrar numa matéria como essa.

            Aí, o PMDB, os grandes líderes do PMDB de hoje - Srs. Renan e Jucá - desta vez não entraram na CPI.

            Foi publicada uma notícia de que ninguém no PMDB quis aceitar a presidência da CPI. Não é verdade. Eu, por exemplo, não fui convidado. Eu me ofereci e aceitaria, mas a imprensa já publicou que eu sou ‘inconfiáve’l. É a segunda vez que isso aparece.

            O Sr. Renan não indicou os nomes significativos da bancada - teria nomeado as pessoas mais despreocupadas com a matéria - e fez questão de, nos primeiros movimentos no Conselho de Ética e na CPI, nem tomar conhecimento. Deixou tudo por conta do PT.

            E o argumento é de que querem ver o circo pegar fogo para, então, forçar o Governo a recorrer ao PMDB, para que os senhores Jucá da vida entrem para fazer o que for preciso.

            Senhora Presidente Dilma, eu não gozo de intimidade alguma com Vossa Excelência. E Vossa Excelência tem demonstrado ao longo do tempo que não tem preocupação em manter nenhum tipo de conversa comigo, o que eu respeito. Não sei até se eu poderia lhe dar algum conselho positivo. Tenho falado e lhe dado algumas ideias desta tribuna. Nunca obtive resposta, mas eu insisto e dou um novo conselho.

            Eu disse desta tribuna -- “Resista, Presidente” --quando Vossa Excelência demitiu os ministros e havia um movimento no sentido de terminar com isso, E Vossa Excelência resistiu. Um partido de seis Senadores exigia, lá no Ministério dos Transportes, uma posição absurda. Vossa Excelência se manteve firme. Ele saiu do Governo, mas Vossa Excelência se manteve firme.

            E essa “maldita” governabilidade. Eu boto a maldita entre aspas porque governabilidade é um termo bonito, mas no Brasil se transformou em desgraça, porque sinônimo de troca-troca, de busca de favores. E isso começa no seu Partido, Dona Dilma: o velho PT de tanta tradição, de tanta história, hoje, é um montão de gente brigando por cargos e por favores. Um dos cargos mais disputados é exatamente o fundo de pensão da Petrobras, que não tem nada para fazer, não tem missão política, não tem missão técnica. Só tem dinheiro para distribuir! E comissão para tirar por fora.

            Acho que Vossa Excelência tem de ser firme nessa CPI, até porque, Presidente Dilma, esta é uma CPI diferente de todas as que já tivemos. A CPI é convocada a partir de uma denúncia, a partir de fatos que se vão acumulando, que vão crescendo.

            E o Congresso pede a CPI.

            A CPI vai investigar, vai fazer o levantamento, vai ver as coisas que estão acontecendo, para depois ver se apresenta ou se não apresenta a denúncia, se tem coisa séria ou se não tem coisa séria.

            Essa CPI nós estamos começando pelo fim. A rigor as coisas já estão provadas, graças ao trabalho da Polícia Federal, que merece respeito. A Polícia Federal é PT. Não, retiro, a Polícia Federal não é PT. O Governo é PT e a Polícia Federal está sob o comando do Ministro da Justiça. Mas o trabalho foi feito com muita seriedade.

            As conclusões já estão com o Procurador-Geral da República. E o Procurador-Geral da República já apresentou denúncia. E a denúncia já foi para o Supremo. E o Supremo já indicou relator. E o relator já aceitou a denúncia. O que cabe a nós fazer nesta CPI? Aprofundar. Mas os fatos já estão provados.

            Presidente Dilma, deixe os fatos evoluírem. Quando vejo o PMDB unido para defender um governador... O PT unido para defender o governador de Brasília e o PSDB unido para defender o governador de Goiás. Isso não é importante. A CPI vai ter a grandeza de buscar a verdade, doa a quem doer. Nesse sentido, eu acho que estamos vivendo um grande momento.

            Eu repito: nós descemos a zero no conceito, na moral, na dignidade e na ética neste País. Mas acho que, agora, estamos começando a mudar. E essa perspectiva otimista de que estamos diante de um novo horizonte começa com a Presidente Dilma.

            Ela não é o que alguns imaginavam, uma governante de bater na mesa e explodir. Se assim fosse, também, cairia o Governo, porque governar com uma minoria na Casa, com uma minoria chantagista, de troca-troca, é muito difícil. Ela tem de exibir muito jogo de cintura.

            Mas acho que a hora é agora. A hora é agora. A Ficha Limpa já está aprovada, e a Corregedora Nacional da Justiça, Ministra Eliana Calmon, tem ampla liberdade de apurar o que tem de ser apurado.

            Ontem foi uma maravilha. Por unanimidade o Supremo decidiu que a cota de negros aplicada pela Universidade de Brasília deve ser adotada em todas as universidades.

            O Conselho de Ética, que estava morto, sem ser enterrado, ressuscitou. Um grande Presidente e um grande Relator. E a CPI, que a imprensa achava que ia dar em nada, está criada.

            Vamos adiante. Vamos adiante. Talvez estejamos vivendo o momento do fim da impunidade.

            Presidente Dilma, tenha coragem. Resista. Resista, Presidente Dilma.

            Muito estranha a posição do Presidente Lula, muito estranha. Quando era ele, abafou tudo, não deixou criar nada. Agora, na vez da Dilma, Lula quer se vingar do PSDB.

            Mas terminou bem. O Lula atirou no que via e acertou no que não viu. Terminou bem. Vamos à CPI, mas não como alguns estavam imaginando.

            A imprensa. A imprensa tem até razão. As últimas CPIs foram tão grosseiras, tão ridículas, tão humilhantes!

            Até parece meio estranho ter muito otimismo. Mas devemos ser otimistas. Tudo está naa mãos de V. Exª, Presidente Dilma. Deixe apurar! Deixe apurar! E demita quem tem que ser demitido. Faça a limpeza que tem que ser feita.

            Vamos votar o projeto de iniciativa do próprio Supremo Tribunal Federal enviado a esta Casa, e que o Senador do Espírito Santo apresentou: candidato condenado pelo juiz, recorre ao Colegiado; candidato condenado pelo Colegiado, vai para a cadeia; não é mais candidato. Pode recorrer seis vezes, como acontece no mundo inteiro, mas na cadeia.

            Presidente Dilma, Vossa Excelência tem que ter coragem. Se é para ser reeleita para a Presidência da República, é muito mais fácil Vossa Excelência ser reeleita com o aplauso da Nação brasileira, como símbolo de um novo Brasil, do que fazer concessões e baixar a cabeça para o PMDB aqui, para o PT ali, ou até para o Presidente Lula ali adiante. Seja firme, Presidente! Tenha coragem!

            Fico muito magoado quando vejo essas declarações de que na CPI o Governo está blindando “a”, blindando “b” e querendo limitar o trabalho da Comissão. Concordo que não se deve querer que a Oposição faça um trabalho para transformar este ano, que é tão importante, em um ano de desgaste, querendo desmoralizar o Governo. Mas, cá entre nós, a Oposição está tão vazia no Congresso, está tão sem discurso, que não sei o que a Oposição quer. Qual é o programa, qual é a ideia, qual é a plataforma da Oposição?

            E, para azar dela, de tudo o que está aí, os maiores envolvidos são exatamente o ex- Futuro candidato à Presidência da República do Partido Democratas, o Senador, e o seu Governador, grande nome lá de Goiás. Então, não será a Oposição que poderá colocar a faca no peito da Presidente ou irá querer indispor seu governo. O que ela tem de fazer é não se assustar com o ex-presidente do DNIT que está dizendo que vai abrir a boca contra todo mundo. Ele que abra! A Presidente Dilma teve o peito e a coragem de não nomear o ministro de seu partido, quando a bancada dele fazia pressão. Pois Dilma não nomeou. Saiu toda a bancada, mas ela não cedeu. E a popularidade de Dilma alcançou a lua.

            Seja firme, Presidente. Que a CPI apure o que quiser. Que ela faça aquilo que o presidente Fernando Henrique Cardoso não deixou fazer. Fernando Henrique não deixou criar a CPI dos Empreiteiros. Fernando Henrique não deixou criar a CPI que envolvia a privatização da Vale do Rio Doce, um escândalo! Venderam por apenas US$ 3 bilhões, dinheiro emprestado para o BNDES, uma empresa que valia não sei quantos bilhões mais.

            O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Senador Pedro Simon, se V. Exª me permitir, gostaria de um aparte, no momento mais adequado do seu pronunciamento. Sei que o Presidente será tolerante.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Já lhe darei o aparte, já lhe darei. Afinal, estamos só nós aqui. Não é a Senadora Marta Suplicy quem está aqui presidindo a Mesa. Se fosse a Senadora Marta, ela iria querer se impor para mostrar seu poder. Repito: a Presidente Dilma não nomeou o favorito do partido do ex- presidente do DNIT. E ela agora está sendo ameaçada. O partido do ex-presidente do DNIT está tremendo de medo, porque ele está dizendo que vai contar as coisas que sabe. Pois ele que conte, conte tudo. 

            Está todo mundo estranhando, e a imprensa está publicando, que o Sr. Márcio Thomaz Bastos seja o advogado do Sr. Cachoeira. O Sr. Thomaz Bastos era o Ministro da Justiça do Lula quando Lula não demitiu o Waldomiro Diniz, o então Vice-Ministro da Casa Civil, e quando não processou o Cachoeira. E o Sr. Thomaz Bastos foi o homem que deu ao Lula a orientação para dizer que no Mensalão não havia corrupção, dizia “era apenas caixa-dois, coisa vulgar que todo mundo fazia”... Pois agora o Sr. Thomaz Bastos é o advogado do Cachoeira!

            Mas o importante não é isso. O importante é que a imprensa está publicando que não se trata de dinheiro. O Sr. Thomaz Bastos tem uma banca de advogados espetacular, era ministro e poderia ter continuado ministro, foi para casa, é um homem que merece todo respeito. A imprensa tem publicado que o Sr. Thomaz Bastos não é advogado do Cachoeira apenas para ganhar R$ 15 milhões, mas é advogado do Sr. Cachoeira para controlar com ele o vazamento das gravações que ele tem. É isso que a imprensa está dizendo, e que também foi por isso que ele conseguiu transferir o Sr. Cachoeira de um presídio de segurança máxima do Rio Grande do Norte para o Distrito Federal. Ele estava muito triste em Mossoró, longe de sua esposa, e o Sr. Thomaz Bastos conseguiu transferi-lo aqui para Brasília, onde ele está muito feliz. Mas diz a imprensa que a função do Sr. Thomaz Bastos é orientar o Sr. Cachoeira na liberação das fitas que ele tem.

            Todas essas questões estão vindo à tona. E eu vejo na CPI pessoas como o Deputado Miro Teixeira, como os Senadores Pedro Taques e Jarbas Vasconcelos, pessoas que podem sacudir a CPI.

            Tenho trinta anos de Senado Federal, Sr. Presidente, eu pertenci a todas as CPIs desta Casa, todas elas. A CPI do Impeachment de Collor nasceu no meu gabinete. A CPI dos Anões do Orçamento nasceu no meu gabinete. A CPI dos Corruptores e das Empreiteiras nasceu no meu gabinete e morreu na gaveta do presidente Fernando Henrique, que não deixou que fosse criada.

            Hoje sou carta fora do baralho. Na Comissão de Relações Exteriores eu não relato um único nome de um embaixador. Na Comissão de Constituição e Justiça, quando algo é destinado a mim, costuma ser um projeto para nome de rua... Graças ao Sr. Renan, líder da bancada do PMDB, eu e o senador Jarbas Vasconcelos somos cartas fora do baralho. Eu vou lá na CPI do Cachoeira por conta própria, só para assistir. Não tenho nem direito à palavra. São 32 titulares, mais 32 suplentes das duas Casas. Mas eu vou lá, não porque eu pertença à intimidade do Dr. Renan e do grupo que está no comando do PMDB, o que muito me honra. A essa altura, se o Dr. Renan me indicasse para membro da CPI, eu ia ter que explicar por que ele me indicou. Os mais desconfiados Iriam dizer: “Ué, o Simon mudou tanto que o Renan acabou por indicá-lo!”. Qie isso fique muito claro: o Renan está lá e eu estou aqui!

            Certa vez, pouco antes da reforma partidária de 1979, muito antes do PMDB, o Dr. Tancredo foi infeliz quando disse: “O meu MDB não é o MDB do senhor Arraes, o MDB do senhor Arraes não é o meu”. Tancredo não foi feliz. Ele criou o PP e terminou tendo que voltar atrás e retornar para o MDB. Na verdade, o meu MDB, o MDB de Tancredo Neves, de Teotônio Vilela, de Ulysses Guimarães não é o MDB de Renan Calheiros. Aliás, o MDB nem era do Renan. Naquela nossa época da luta, Renan Calheiros era o Líder do Presidente Collor. Na época do Impeachment, Renan era o Líder de Collor. É por isso que ele está se dando tão bem com Fernando Collor, indicado membro da CPI. Deve ser inspiração de Renan. Considero uma grosseria esse isolamento que a Mesa do Senado e a Liderança do PMDB fazem com relação a mim e ao Jarbas. Mas eu suporto tudo isso, porque estou aqui, como sempre estive, empunhando essa grande bandeira da luta pela ética, contra a corrupção e a impunidade. Eu estou aqui e sei que esse grupo que hoje comanda o PMDB passará, um dia.

            E todos nós temos um orgulho muito grande pela história de luta, de resistência, de dignidade do nosso velho MDB de guerra, que lutou contra a ditadura e o arbítrio -- até o momento em que os Renans da vida assumiram o comando deste PMDB.

            Mas, se Deus quiser, se a Presidente Dilma for firme, ela poderá ser a grande heroína da história deste País. A Presidente da República poderá ser um marco definitivo de nossa História.

            Antes e depois de Dilma Rousseff.

            Antes, o Brasil da impunidade, o Brasil dos Renans da vida.

            Depois, o Brasil da Presidente Dilma.

            Concedo o aparte, com o maior prazer, ao Senador Paim.

            O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Senador Simon, o meu aparte é breve nesse um minuto ou dois que o senhor ainda têm. Primeiro, gostaria de dizer que V. Exª é um patrimônio da democracia, do povo brasileiro e, para orgulho nosso, de todos os gaúchos e gaúchas. A sua posição histórica em defesa da ética é a sua posição em todas as CPIs. V. Exª nunca mudou de opinião, nem de posição. A sua posição é sempre a mesma em todas as CPIs, seja qual for o Governo. A sua posição, agora, no Código Florestal só pode, de nossa parte, receber todos os elogios. A sua posição em relação ao fim do voto secreto, uma emenda de nossa autoria também, à qual tenho recebido todo o apoio. A sua posição na defesa das cotas foi brilhante. Quando alguns vacilaram, repito: para mim, foi um dia histórico; vou falar sobre o tema. V. Exª me cobrava inclusive: “Senador Paim, não abra mão da política de cotas no Estatuto da Igualdade Racial, que eu vou defender lá na CCJ”. Eu só poderia dizer: “É uma alegria sempre ouvir V. Exª”. Por isso eu me perguntava lhe fazia ou não o aparte. Mas o aparte é só proferir uma frase que eu proferi ontem para o relatório do Ministro do Supremo Tribunal, Ministro Ricardo, a quem disse e vou dizer a V. Exª: “Que bom saber que no mundo existem pessoas iguais a você”. Obrigado.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Existem pessoas iguais, não melhores do que V. Exª, um homem que começou na simplicidade de um simples trabalhador. Um autodidata, que de líder sindical e presidente de sindicato virou Deputado e depois Senador.

            O que admiro em V. Exª é a fidelidade aos seus princípios. Ah, se todo PT fosse igual a V. Exª, o Brasil, hoje, seria um paraíso! Ah, se todo o PT defendesse, no Governo, as teses que defendia quando era Oposição! É o caso de V. Exª. Poder-se-ia dizer que na Oposição era fácil defender as teses altamente democráticas, simpáticas aos trabalhadores. E algumas envolvendo verbas vultosas do patrimônio.

            V. Exª chegou ao Governo e tem seu desgaste no Governo porque este, a rigor, gostaria que V. Exª se acomodasse e mudasse o discurso com a maior tranquilidade. Mas V. Exª tem competência, uma grande competência!

            Para minha querida amiga Heloísa Helena, Senadora de Alagoas, eu dizia, na hora da votação: “Não faças o que o PT quer que tu faças. Segue o Paim. Vai numa linha por onde tu permaneces fiel aos teus princípios, mas não dês armas ao teu adversário”.

(Interrupção do som.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - V. Exª permaneceu fiel, mantendo a linha, mas não deu chance para fazer o que eles queriam. V. Exª é uma grande bandeira, Senador Paim.

            O trabalho que V. Exª está fazendo na Comissão de Direitos Humanos nunca foi feito na história deste Congresso. É a primeira vez que isso acontece, na história deste Senado meio aburguesado, meio de elite. Estou aqui há 30 anos e cansei de ver aqui empresários, intelectuais, pessoas do mundo inteiro... Mas nunca havia visto o povão que V. Exª traz, o pessoal das filas de hospital, das favelas, os injustiçados dos sindicatos, os excluídos.

            Todas as segundas-feiras - e V. Exª pegou um dia, segunda-feira, às 9 horas da manhã, quando não tinha nem mosquito no Senado; o cafezinho ainda não tinha chegado -, V. Exª abre, a sessão da Comissão de Direitos Humanos rigorosamente às 9 horas da manhã. É um espaço que não existia; mas hoje todo mundo assiste, a Comissão dos Direitos Humanos lota com centenas de pessoas. Pessoas que nunca imaginaram botar os pés nesta Casa agora estão falando, agora estão sendo ouvidas nesta Casa. E muitos projetos de V. Exª e de outros Senador estão andando, estão avançando agora por causa disso, por causa de seu trabalho. 

            Se há alguém que deve ser respeitado neste Senado é V. Exª. Eu tenho muito orgulho de ser amigo de V. Exª Tenho muito respeito por V. Exª. Eu entendo que V. Exª tem esse respeito até no PT. Não é o meu caso no meu Partido, porque eu sou uma pessoa que o comando do PMDB gostaria de ver pelas costas... Se bem que a recíproca é verdadeira.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Mas, mesmo assim, o PT tem que respeitar V. Exª. Mesmo o Lula que, brincando, diga que o problema dele na presidência é que ele tinha que decidir se usava as verbas para o Brasil ou para as emendas de V. Exª. Na verdade, V. Exª é que está certo, e eu o admiro muito por isso.

            Eu encerro, Sr. Presidente, agradecendo a tolerância de V. Exª . Eu encerro dizendo, com toda a sinceridade, nesta sexta-feira: a minha palavra é de otimismo. Eu nunca tive essa sensação... Acho que nunca chegamos tão perto de iniciar a retomada como agora. É até engraçado porque, até dois meses atrás, a imprensa reduzia o Parlamento a zero, a imprensa nos ridicularizava. E, de repente, não mais do que de repente, as coisas se inverteram. É verdade que os líderes, principalmente do PMDB, ainda não se dão conta. Então, eles estão nessa posição ingênua, ridícula, de deixar a CPMI andar para ver o Governo cair em desgraça, para a Oposição bater, para o Governo ficar mal e, depois, ter que bater à porta do Sr. Renan e dizer: “Renan, venha nos salvar.” Mas, isso não vai acontecer.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - O Dr. Renan pode ficar tranquilo, não vai acontecer porque a CPMI vai adiante, e vamos iniciar então a retomada pela dignidade e pela ética.

            Obrigado pela tolerância, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/04/2012 - Página 15046