Discurso durante a 75ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Satisfação com a eleição do Sr. François Hollande para a presidência da França; e outro assunto.

Autor
Rodrigo Rollemberg (PSB - Partido Socialista Brasileiro/DF)
Nome completo: Rodrigo Sobral Rollemberg
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL.:
  • Satisfação com a eleição do Sr. François Hollande para a presidência da França; e outro assunto.
Aparteantes
Eduardo Suplicy.
Publicação
Publicação no DSF de 09/05/2012 - Página 16317
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • CONGRATULAÇÕES, CANDIDATO ELEITO, PRESIDENCIA, PAIS ESTRANGEIRO, FRANÇA, EXPECTATIVA, APROXIMAÇÃO, PARCERIA, BRASIL, NECESSIDADE, APOIO, ATUAÇÃO, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL, ECONOMIA NACIONAL, COMBATE, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL.

            O SR. RODRIGO ROLLEMBERG (Bloco/PSB - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Srª Presidenta Marta Suplicy.

            Srªs e Srs. Senadores, subo à tribuna na tarde de hoje para registrar a vitória do presidente francês François Hollande. A vitória do novo presidente francês François Hollande representa muito mais do que uma vitória socialista em sua dimensão estritamente ideológica ou partidária. É também muito maior do que a escolha de milhões de eleitores franceses que se opõem a uma extrema direita xenófoba. Representa um processo eminentemente global, que começa a se afirmar por uma nova visão, por um novo caminho de desenvolvimento. Representa a derrota do receituário monetarista da austeridade, que está na raiz da crise europeia, em sua política recessiva, que prostrou o continente pela secagem dos investimentos públicos, pela adoção de impostos que punem a classe média e os mais pobres em favor dos mais ricos e das grandes empresas, sem falar no sistema financeiro.

            Certamente, a visão social-democrata de Hollande não é a garantia de uma mudança radical, mas se trata de uma bela oportunidade de mudança de direção para a Europa.

            Hollande fez uma definição absolutamente correta ao dizer que seu maior adversário era o sistema financeiro, que não disputa a eleição, mas governa, porque estamos diante de uma crise estrutural e não circunstancial de um modelo neoliberal. Trata-se de uma crise de todo o sistema econômico, baseado na supremacia do capital financeiro. A crise da Europa, assim como a crise vivida pelos Estados Unidos, vem colocar em evidência não só as falhas do sistema financeiro, tal como foi erguido e hoje funciona, mas também a sua força frente aos governos. Frente a isso, o neoliberalismo continua a ser para muitos países a única linguagem usada para confrontar a crise e enfrentar os conflitos sociais que nos rondam.

            Einstein tem uma máxima que cabe perfeitamente nesse contexto. Para ele, não podemos resolver problemas com as mesmas ferramentas que os geraram. Por isso, diante dessa crise de hegemonia, a eleição de Hollande é a afirmação de um bloco alternativo de esquerda que possa conciliar, dentro de uma perspectiva sustentável, crescimento, emprego, inclusão e justiça social, com responsabilidade econômica, mas também com autonomia política, principalmente para garantir os direitos básicos da população.

            Nesse sentido, há uma forte expectativa em relação ao Brasil, pelo protagonismo que o País vem assumindo no cenário mundial como país que conseguiu aliar, nos últimos anos, crescimento econômico, redução da pobreza e das desigualdades sociais, redução do desmatamento, num ambiente de consolidação da democracia.

            Sob essas perspectivas, podemos dizer que Hollande se torna um grande aliado da Presidenta Dilma. Em diversas declarações na visita que fez recentemente à Alemanha, na presença da Chanceler Angela Merkel, a Presidenta brasileira fez duras críticas e atacou as políticas expansionistas, que provocam um verdadeiro tsunami monetário e que levaram a uma guerra cambial.

            O Brasil dá o seu exemplo, ao forçar indiretamente a queda dos juros no mercado financeiro. Combinada com a decisão do Banco Central de baixar gradualmente a taxa Selic, uma das mais altas do mundo, essa medida do Governo tende a aquecer a economia na contramão da crise mundial e é indispensável, embora não suficiente, para fazer o País crescer com distribuição de renda e desenvolvimento social.

            Nesse sentido, todos nós devemos apoiar as atitudes, as ações anunciadas pela Presidenta da República, porque sempre, neste País, defenderam aqueles que pregam o desenvolvimento nacional a redução dos juros como instrumento fundamental para o desenvolvimento da economia brasileira.

            Portanto, quero associar-me a todos os brasileiros que, neste momento, apoiam a decisão da Presidenta Dilma Rousseff.

            Estamos na contramão da União Europeia, ao defender o desenvolvimento como alternativa para a crise, e não a estagnação.

            O novo Presidente francês, Senador Eduardo Suplicy, já deu seu recado: a austeridade não é mais uma fatalidade. Consciente de que essa eleição pode significar um fato novo para a Europa, espero que tenha coragem de enfrentar a complexidade de interesses e jogos que essa trama impõe.

            Ouço V. Exª, com muita alegria, Senador Eduardo Suplicy.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Caro Senador Rodrigo Rollemberg, quero compartilhar a saudação que V. Exª agora faz com respeito ao que se sucedeu na França, ou seja, o resultado das eleições em que o candidato do Partido Socialista Francês, Sr. Hollande, venceu por 52% a 48%, no segundo turno, o então Presidente Sarkozy, que foi um presidente de grande relevância e repercussão na França e no mundo ao longo do seu mandato, objeto de grandes polêmicas, mas que, inclusive, com respeito ao Brasil, mostrou sinais de amizade. Esteve aqui com o Presidente Lula, conversando no mais alto tom de cooperação mútua. Portanto, é importante que o novo Presidente Hollande tenha também já demonstrado uma atitude tão positiva com relação ao Brasil. As eleições francesas, em especial o que aconteceu com o Partido Socialista Francês, envolvem lições para os partidos políticos no mundo. V. Exª acompanhou e sabe que o Partido Socialista Francês, que tem cerca de 200 mil filiados, promoveu uma prévia entre os seus seis pré-candidatos por volta de outubro último. Eles fizeram três debates públicos com alto grau de audiência. Dois candidatos foram para o segundo turno da prévia da escolha do candidato à Presidência: a Srª Ségolène Royal e o Sr. Hollande, os dois, de maneira equilibrada. Resolveram, então, fazer um novo debate em dois domingos. Estima-se que esse debate foi assistido por cerca de cinco milhões de pessoas. No primeiro turno, 2,7 milhões de pessoas compareceram para votar; e mais de três milhões compareceram na segunda votação. Cada cidadão francês que colocava seu compromisso assinado por estar de acordo com os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, conforme os objetivos do Partido Socialista Francês, e que pagaram um euro equivalente a R$2,40, puderam votar. E isso representou uma participação popular notável, a ponto de, logo após o resultado que confirmou a vitória do Sr. Hollande, ele já estava à frente das pesquisas de opinião, algo que não ocorria anteriormente. Portanto, o processo de escolha democrática por prévias com esse tipo de participação, abrindo-se a todos os eleitores simpatizantes do Partido Socialista Francês, constituiu um dos pontos altos. Acredito que essa experiência possa ser examinada por nós que estamos aqui votando iniciativas como a do Senador Aécio Neves, aprovada na Comissão de Constituição e Justiça, segundo a qual todos os partidos agora podem realizar prévias por um procedimento legal. Então, quero congratular-me com seu partido-irmão na França.

            O SR. RODRIGO ROLLEMBERG (Bloco/PSB - DF) - Obrigado, Senador Suplicy.

            Este é o momento oportuno também para nós, socialistas, refletirmos sobre o futuro do Brasil e o nosso papel frente ao desenvolvimento do País e à crise que nos circunda. Temos que dar um passo efetivo em direção ao novo quadro civilizacional que humanizem os cifrões que nos desumanizam e que repensem os valores que nos desvalorizam.

            É pelo resgate do real sentido da política em sua relação primordial com a polis, que envolve toda sua gente, que se pode chegar a uma mudança efetiva.

            Em uma democracia, quando se recebe o mandato do povo, nenhum objetivo é impossível. Lembro da frase do mestre Miguel Arraes, quando voltou ao governo de Pernambuco, no final dos anos 80: “O que for possível a gente fará e o que não for possível...

(Interrupção do som.)

            A SRª PRESIDENTE (Marta Suplicy. Bloco/PT - SP) - Para encerrar, Senador.

            O SR. RODRIGO ROLLEMBERG (Bloco/PSB - DF) ...o povo nos ajudará a fazer”. Que seja, então, pela legitimidade popular que se faça um caminho legítimo de desenvolvimento.

            Esse é o nosso desejo e o nosso registro, agradecendo a V. Exª, Srª Presidenta.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/05/2012 - Página 16317