Pronunciamento de Pedro Simon em 15/05/2012
Discurso durante a 80ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
– Considerações acerca da instalação, amanhã, da Comissão da Verdade.
- Autor
- Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
- Nome completo: Pedro Jorge Simon
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
DIREITOS HUMANOS, ATIVIDADE POLITICA.:
- – Considerações acerca da instalação, amanhã, da Comissão da Verdade.
- Aparteantes
- Eduardo Suplicy.
- Publicação
- Publicação no DSF de 16/05/2012 - Página 18785
- Assunto
- Outros > DIREITOS HUMANOS, ATIVIDADE POLITICA.
- Indexação
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- COMENTARIO, IMPORTANCIA, INSTALAÇÃO, COMISSÃO NACIONAL, VERDADE, OBJETIVO, INVESTIGAÇÃO, VIOLAÇÃO, DIREITOS HUMANOS, DITADURA, REGIME MILITAR.
O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, amanhã às 11h, a Presidente Dilma Rousseff instalará oficialmente a Comissão da Verdade. Sabe Deus o que deverá estar passando pela cabeça da Presidente nessa hora histórica da sua vida, sabendo que ela é uma parte importante de toda história.
Essa fotografia, Sr. Presidente, que apareceu nos jornais do mundo inteiro, eu olho e “reolho” várias vezes. Uma jovem, uma moça, sei lá se já com 20 anos, na cadeia, torturada, e, na hora da fotografia, os coronéis, juízes do tribunal, escondem a face por vergonha.
Pois essa moça, pelo voto direto, é a Presidente da República e cumpre a ela, com decisão deste Congresso, instalar, amanhã, a Comissão da Verdade. Com muito atraso. Quarenta países já fizeram isso. Nós, que estamos vivendo o momento democrático mais longo da história da República, amanhã, faremos o que já deveríamos ter feito há muito tempo.
Por isso, digo: o que se passará na cabeça da Presidente? Ela, que meditou, teve competência de escolher um grupo de pessoas que está tendo o respeito de toda a sociedade brasileira, pelo equilíbrio, pela serenidade, pela credibilidade que as pessoas que Sua Excelência escolheu merecem por parte de toda a sociedade.
Quando falei, desta tribuna, sobre a comissão por ela nomeada, eu falei o meu pensamento, que era este que estou dizendo agora, mas vejo que aquele pensamento é o que representa a sociedade, os mais variados segmentos, e a escolha dos nomes é metade da importância do início do trabalho: merecer credibilidade, e eles merecem.
Essa comissão deveria ter sido feita lá atrás, lá atrás, 20 anos atrás. Não foi. E agora estavam a pipocar... E as chamadas redes sociais são uma realidade. Não é nem a Veja, nem a Globo, nem quem quer que seja, hoje, os únicos determinantes da orientação da sociedade. Nós, aqui, nas Diretas Já; nós, aqui, no impeachment. E agora, nós, aqui, na votação da Ficha Limpa, tivemos o caso: os jovens, nas ruas, cercaram esta Casa e esta Casa acompanhou a pressão da sociedade. E isso já está começando; negativo, mas praticamente impossível de segurar.
“Jovens pedem apuração de crimes da ditadura durante protesto.” Em vários lugares isso está acontecendo.
Em Porto Alegre, jovens foram para frente das casas em que moram pessoas conhecidas pelo seu passado marcado, nessa época do arbítrio, ou em outros lugares que serviram de prisões para a tortura, e picham, e pintam... Isso já está acontecendo.
E exatamente na hora que isso está acontecendo, e é para vir num crescendo, que, amanhã, a Presidente instala a Comissão da Verdade.
Amanhã será um dia histórico!
Quem tinha de estar falando na tribuna hoje era o Dr. Ulysses. Tenho a certeza de que estaria falando, se estivesse vivo, e estaria falando em nome de toda a sociedade; ou o Teotônio. Infelizmente esses vultos não estão entre nós. Mas, pela idade, falo eu; apenas pela idade, nenhuma outra importância característica. Mas falo para dizer que eu entendo que a sociedade brasileira considera que amanhã se começa uma etapa muito importante na história deste País.
E esta Casa tem de estar preparada para dar o apoio político necessário à Comissão da Verdade. Na figura de um deles, o Ministro Dipp, o primeiro coordenador da comissão, eu saúdo toda a comissão. Deus os oriente, para que tenham a grandeza, a compreensão, a respeitabilidade necessária para o desempenho da missão que vão ter. E eu tenho convicção de que eles terão. Eu tenho convicção de que eles terão, passados 20 anos.
É verdade que, na Argentina, 30 mil pessoas morreram e foram torturadas, ou coisa mais. Meses atrás condenaram à prisão perpétua um ex-Presidente da República com 86 anos de idade.
Nós temos um outro princípio nos movimentando. Não é ódio. É a busca da verdade. Olha, meus irmãos, a sociedade não pode continuar e viver sem o restabelecimento da sua verdade histórica, sem a sociedade saber o que foi, o que era, o que aconteceu no seu passado e de que maneira se construiu o seu presente.
Fizeram uma pesquisa outro dia na Universidade de Brasília e perguntaram quem era Ulysses Guimarães. E um percentual impressionante não soube dizer - nem que ele era Deputado Federal em Brasília! Povo que não tem memória não justifica a sua história.
Por isso, meus irmãos, essa instalação era necessária. Muita gente se perguntou durante muito tempo por que tanto tempo o tribunal de Nuremberg e por que tanto tempo se falou no holocausto. É porque saber, conhecer, viver, retratar, repetir as coisas que aconteceram é a forma que nós temos de ver e de sentir para que elas não se repitam.
Eu vejo hoje os nossos jovens felizes, tranquilos. Ainda há dois dias, lá no Rio Grande do Sul, era manchete o número impressionante de jovens de 16 anos tirando o título eleitoral - e não é obrigatório dos 16 aos 18 anos. Mas uma campanha feita estimulando fez com que eles o tirassem.
Nós temos que saber que esta democracia é cheia de erros. Estamos nós aí numa CPI escandalosa. Mas esta democracia que estamos vivendo neste momento teve um longo período. Teve gente que sofreu, que morreu, que foi torturada, gente que pagou um preço muito alto para que isso acontecesse. E este País deu ao mundo uma lição de capacidade e de consciência quando tudo levava para uma guerra civil de consequências imprevisíveis. Inclusive o mundo externo pensando até em dividir o País em Brasil do Norte e Brasil do Sul.
O povo brasileiro, com capacidade, com garra, sem derramamento de sangue, mas com muita disposição, estando de um lado a Igreja, os empresários, os militares, a grande imprensa, praticamente o mundo, os jovens e um grupo de políticos conseguiram ir às ruas e fazer com que a vitória da democracia existisse e se derrubasse uma ditadura de vinte anos, com quatro, cinco generais presidentes ditadores, sem derramar uma gota de sangue.
Mas talvez por isto, porque não tivemos a luta violenta, esta mocidade de hoje às vezes não se dá conta da importância do nosso passado.
E é o que a Comissão da Verdade fará: mostrar a nossa história, mostrar a nossa biografia, mostrar o que foram esses anos e o que aconteceu. E muitas mães que não conseguiram enterrar os seus filhos, porque nem os ossos receberam poderão saber a verdade. Elas têm direito a conhecer a verdade. Este é o trabalho da Comissão da Verdade: buscar, tomar conhecimento e fazer aquilo que já deveria ter sido feito há 20 anos.
Conhecer a verdadeira história nossa é uma necessidade. Termos coragem de olhar a sociedade, o que foi e o que aconteceu é uma responsabilidade nossa, não com ódio, nem com vindita, nem querendo, como alguns dizem, reabrir as coisas que já aconteceram no sentido de buscar a vingança. Não! Mas no sentido de reavivar a história para ver a verdade.
Eu creio. Dar força à Presidente para que ela vá adiante. Dar força a essa comissão para que ela cumpra o seu dever. Permitir a todos, a toda sociedade, em qualquer canto do Brasil, que tenham o direito à palavra. Está aí a amiga Erundina, com sua comissão na Câmara dos Deputados, fazendo um trabalho extra, auxiliar, abrindo as portas a quem quer falar.
Para mim, a figura mais emocionante desta época em que estamos vivendo se chama Mandela, que passou 27 anos na cadeia, que sofreu tortura, violência e viu o seu povo dominado, esmagado pelos ingleses num regime em que os negros eram escravos dentro da sua própria pátria.
E Mandela conseguiu a independência de seu país da Inglaterra e terminou com o racismo.
Eleito Presidente, em meio a todos aqueles que queriam dar o troco, ele criou a Comissão da Verdade. E criando essa comissão, ficou-se sabendo o que cada um fez. E tomando conhecimento da acusação, o cidadão tomava a sua decisão de pedir perdão público perante a nação dos crimes que cometeu. Muita gente não gostou da decisão de Mandela. Cometerem crime de racismo, prenderam, aprisionaram, exploraram e agora pedem perdão? Respondia Mandela: “Nós temos dois caminhos - buscar a paz, o entendimento, o entrosamento e ser uma nação caminhando para adiante dentro dessa paz, ou ser um país de ódio, com a violência substituindo a violência.”
Vamos cobrar o que fizeram contra nossos irmãos. E nessa cobrança haveremos de fazer exageros e eles haverão de querer dar a resposta. Isso será algo que não terá fim.
O SR. PRESIDENTE (Mozarildo Cavalcanti. Bloco/PTB - RR) - Senador Pedro Simon, se V. Exª me permitir ousar interromper o seu pronunciamento, quero registrar a presença dos alunos do curso de Administração Pública e Empresas da Universidade Getúlio Vargas, do Rio de Janeiro.
Sejam bem-vindos a nossa sessão!
O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Um abraço aos jovens. Fico feliz de estar falando aos jovens exatamente neste momento.
Amanhã vai se instalar em Brasília a Comissão da Verdade. Essa Comissão, que foi criada pelo Congresso e será instalada pela Presidente Dilma, vai permitir que se faça um levantamento do que aconteceu no Brasil ao longo de todos esses 20 anos. Vamos conhecer o que houve, quem fez e quem não fez.
Deputada Rose, alguém falou: “Tinha de pagar o preço, tinha de ser condenado, ser preso e ir para a cadeia”. Eu disse o seguinte: “Eu, Pedro Simon, fui um político que lutei a vida inteira contra a ditadura”. Mas, às vezes, alguém dizia: “Mas também não foi preso, nada aconteceu. O Simon devia ter alguma ligação com ele”. Digamos que, de repente, aparecesse que eu tenho essa ligação. Digamos que, nessa Comissão da Verdade, apareça que o Pedro Simon colaborava, era o cara que informava, era o cara que orientava. Juro por Deus que prefiro que me condenem à morte ou que me deixem a vida inteira na cadeia a eu ter de caminhar pelas ruas olhando para as pessoas sem coragem de enfrentá-las.
Então, não é uma coisa assim tão irresponsável! É uma coisa que tem conteúdo, tem conteúdo. Não é pena de se colocar na cadeia, mas é pena para o cara saber o que é e ter um retrato na testa daquilo que ele foi.
Meus irmãos da Comissão, a primeira declaração que ouvi da Comissão da Verdade, do coordenador, o Ministro Dipp, achei perfeita. Ele deu o tom da serenidade, ele deu o tom do entendimento, que acho que deve aparecer. Mas, hoje, apareceram nos jornais algumas declarações atribuídas a alguns membros de que não gostei muito, pois surgem divergências. Acho que não era a hora de falar. Nem se instalaram, vão se instalar amanhã. Talvez, eu nem devesse falar isso, porque já recebi a informação de que sobre algumas divergências que apareceram o cidadão ilustre membro já disse: “Não é verdade. Deram uma interpretação diferente ao que falei. Não é isso que falei”.
É claro que se vão reunir sete membros, sete pessoas da mais extraordinária competência, com a maior experiência que se possa imaginar, alguém ligado ao Sarney, alguém ligado ao Lula, alguém ligado ao Fernando Henrique, alguém ligado à atual Presidenta. Portanto, há divergências, e é claro que essas divergências vêm à tona. Mas deve haver diálogo, deve haver entendimento, deve haver respeito, deve haver integração entre os membros.
Mas, de repente, no jornal, aparecem hoje três membros com três posições antagônicas. Fico com o Dipp e fico feliz com a informação que obtive. Quando souberam que eu vinha à tribuna, fizeram questão de dizer: “O que está no jornal não é o que eu disse. Equivocaram-se. Estou dando uma nota, para dizer que não é o que eu disse”. Isso é bom, porque, na Comissão, deve haver não a unanimidade - eu até diria que é meio relativa, mas quase verdadeira a afirmativa de que “toda unanimidade é burra” -, mas entendimento.
Essa Comissão deve merecer o nosso maior respeito. A este Plenário, faço este apelo: vamos acompanhar, meus irmãos, o trabalho dessa Comissão, vamos prestar solidariedade, vamos dar apoio, vamos dar estímulo, vamos dar a solidariedade necessária para que ela faça o seu trabalho!
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me permite um aparte?
O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Já lhe darei o aparte com o maior prazer.
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - É muito importante, Senador Pedro Simon, o sopro de energia positiva que V. Exª dá à Comissão da Verdade, instituída pela Presidenta Dilma, e, sobretudo, o testemunho que V. Exª também aqui dá sobre a qualidade dos sete membros designados. Todos eles merecem nossa confiança, assim como mereceriam se aqui estivesse presente o ex-Presidente do Congresso Nacional e da Câmara dos Deputados Ulysses Guimarães, Presidente do Partido de V. Exª. Meus cumprimentos!
O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Eu agradeço a V. Exª.
É difícil o trabalho da Comissão. Em primeiro lugar, são apenas sete membros, por dois anos, e 14 funcionários para assessorá-los. Não se sabe ainda qual vai ser o local. Mas o que importa é saber que a intenção do Governo é a melhor possível; que a intenção desta Casa, que votou o projeto por unanimidade, foi a melhor possível; que a intenção da Presidente na escolha dos membros foi a melhor possível. E a Nação acompanhará tudo isso, para que hoje estejamos à véspera de um grande acontecimento.
Meus cumprimentos, Presidente!
Na pessoa do Ministro Dipp, cumprimento toda a Comissão.
Aqui, estamos rezando e torcendo e nos oferecendo, na humildade da nossa capacidade, a ajudar, tanto quanto for possível e onde for necessário, para que a Comissão cumpra seu trabalho.
Muito obrigado.