Discurso durante a 82ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Relato da solenidade de instalação da Comissão da Verdade; e outros assuntos.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DIREITOS HUMANOS, ATIVIDADE POLITICA. COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO.:
  • Relato da solenidade de instalação da Comissão da Verdade; e outros assuntos.
Aparteantes
Cássio Cunha Lima, Roberto Requião.
Publicação
Publicação no DSF de 18/05/2012 - Página 19528
Assunto
Outros > DIREITOS HUMANOS, ATIVIDADE POLITICA. COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO.
Indexação
  • ELOGIO, ORADOR, DESTINAÇÃO, DISCURSO, AUTORIA, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ASSUNTO, INSTALAÇÃO, COMISSÃO NACIONAL, VERDADE, OBJETIVO, AMPLIAÇÃO, CONHECIMENTO, CRIME, HISTORIA, DURAÇÃO, DITADURA, BRASIL.
  • CRITICA, ORADOR, DESTINAÇÃO, SENADO, MOTIVO, FALTA, INTERESSE, EFICIENCIA, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), OBJETIVO, DEMONSTRAÇÃO, AUSENCIA, SENADOR, RESOLUÇÃO, INVESTIGAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO.
  • CRITICA, DESTINAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO.
  • CRITICA, DESTINAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, MOTIVO, AUSENCIA, APURAÇÃO, INVESTIGAÇÃO, EMPRESA, CONSTRUÇÃO, LIGAÇÃO, CORRUPÇÃO.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/ PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, em primeiro lugar, a nossa emoção - V. Exª e eu, e o Brasil inteiro - com a reunião de hoje no Palácio do Planalto.

            Ora, são 82 anos de vida e eu era um gurizinho quando entrei pela primeira vez no Palácio do Catete; o Presidente era o Getúlio. Mas nunca senti a emoção que eu senti ontem. Realmente... Começa que aquele gesto da Presidente... Ela, o Fernando Henrique, o Lula, o Presidente Collor e o Presidente Sarney descerem juntos ali... Meu Deus, o Lula não querendo usar bengala, mas apoiando num amigo!. Aquela chegada deles no plenário, e a ovação 

            E a ovação, a alegria da gente toda que estava ali. Cá entre nós, que discurso fez a Presidenta. Meu Deus do céu, que discurso fez a Presidenta! Foi uma das peças oratórias mais bonitas que assisti na minha vida, a peça e o momento que a gente estava vivendo.

            E olhava para o lado, por todos os lados, e estava todo mundo flutuando. Foi uma sessão que dava para se ver que as pessoas estavam participando. Foi um dia histórico.

            Recebi a cópia da carta que a esposa e os filhos de Luiz Carlos Prestes mandaram para a Presidenta. Eles dizem uma coisa interessante. O Brasil era Colônia, ficou independente. Até hoje não se tem a história, os fatos. Não se conhece a verdade de tudo que aconteceu na época da Colônia. Nunca se averiguou. Viramos um Império. De Império viramos República. Até hoje não se tem a história, a ideia das coisas que aconteceram na época da República.

            Sou um admirador de Tiradentes pela humildade, simplicidade e coragem da morte. Mas me caiu outro dia nas mãos um livro sobre Tiradentes, que virou “herói”. Que quando proclamaram a República tinham que ter um nome, tinham que ter alguém em cima do qual se faria uma imagem popular. Teriam tentado o Deodoro. Não deu. Então, foram buscar o Tiradentes. Mas até hoje, na verdade, não se fez absolutamente com relação àquela passagem. E tivemos a República Velha. E tivemos a ditadura de 37.

            É a primeira vez que vamos saber e poder conhecer as coisas do nosso País.

            Cada um de nós, neste momento, deverá acompanhar isso no sentido - como aliás a Presidenta disse muito bem - nem de perdão nem de vingança, mas de buscar a verdade. Bonita a sessão de ontem!

            O SR. PRESIDENTE (Aloysio Nunes Ferreira. Bloco/PSDB - SP) - Senador Pedro Simon, V. Exª me permite? Creio que V. Exª ficará feliz de saber que temos, aqui em nossa galeria, uma delegação de alunos do curso de Pedagogia da Universidade de Brasília. São bem-vindos.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - O Presidente foi o Relator dessa matéria, uma das matérias mais importantes que já passaram por esta Casa. O seu parecer foi fundamental para que ela passasse por unanimidade dentro deste plenário.

            Mas a vida no Brasil é muito interessante. Talvez V. Exª, Senador, meu bravo Governador do Paraná, eterno Governador do Paraná e permanente meu candidato à Presidência da República pelo MDB... O MDB não quer, mas que nós temos um candidato temos. Que não se diga que o MDB não tem candidatos. Dizem que não tem, que é o maior Partido do Brasil, mas não tem candidato. Casualmente, está aqui presente um grande candidato. O Brasil é assim: um dia...É que nem lá no Rio Grande, que nem lá em São Paulo: de madrugada é inverno, ao meio-dia um calor dos infernos e, de noite...

            Hoje, de manhã, vivi uma tragédia. Foi a CPI do Cachoeira. A Folha publicou: “CPI do Cachoeira poupa a Delta, governadores e políticos de investigação.” Vão investigar todo o resto, menos a Delta, os políticos e os governadores. Tenho comparecido a todas as

            Tenho comparecido a todas as reuniões e fiquei do início ao fim. O jornal até publicou e tenho a fotografia e deveria mostrar eu dormindo na sessão, o Senador Pedro Simon dormindo.

            É verdade, mas por que tinha que estar dormindo? Na verdade estava há 7 horas lá e não havia nenhuma decisão. Vamos convocar o Governador de Goiás, não, não; vamos convocar o pessoal da Delta, não, não... É impressionante! Senador Requião, lembra-se do trabalho que V. Exª foi Relator, época em que a CPI funcionava nesta Casa, foi um trabalho fantástico que nós investigamos. Saímos do zero e V. Exª não recebeu nenhum relatório da Polícia Federal nem da Procuradoria e nem de coisa alguma e foi investigar casa a caso. Naquela época a gente fazia as coisas e V. Exª e a Comissão encontrou e a denúncia foi feita.

            Até assinei chorando, mas pedindo a cabeça de um governador, meu irmão do PMDB, seu irmão, mas que foi pego na questão, ele, o Maluf e outros tantos. Essa era a CPI do nosso tempo, isso era uma CPI no nosso tempo. A CPI dos Anões do Orçamento cassou 10 Deputados, a CPI do Impeachment cassou o Presidente da República e isso era uma CPI, esse era o Congresso Nacional!

            Hoje, em primeiro lugar, as CPIs viraram um vexame. As duas últimas, nem vou repetir. ONG que no mundo inteiro é sinônimo de modernidade, composta por pessoas pobres que não têm nada ou por milionários que têm tudo e que organizam uma entidade, onde alguns bilionários doam metade. Um bilionário deu metade da sua fortuna para uma obra social.

            As Ongs no Brasil, não que não tenham Ongs fantásticas, mas se desmoralizaram porque é símbolo de pegar dinheiro, botar a mão e fazer bandalheira. A CPI, ridículo, os cartões corporativos, hoje, qualquer cidadão tem o cartão dele, é funcionário do segundo escalão do Ministério não sei da onde, compra o que quer, faz o que quer, gasta o que quer, e ninguém toma conhecimento de nada. Queremos uma CPI. Se o partido fizer acordo, não investigo tudo, tu não investigas tudo, e deu em zero. Então, as CPIs estavam desmoralizadas, ridicularizadas. De repente, aparece esta CPI, completamente diferente do que tínhamos até aqui, porque os fatos já estavam provados. É completamente diferente daquela que V. Exª presidiu. V. Exª saiu para presidir para buscar coisas que a gente não sabia que tinha, nem imaginava e apareceu. Agora, já está tudo provado. A CPI começou com oitenta e tantos já denunciados pela Polícia Federal e pela Procuradoria, já estava o fato pronto, e a CPI está engavetando, está tirando, está tirando, está esvaziando, está esvaziando, para não reduzir a zero. Até concordo, acho que o entendimento, o diálogo, acho que, nesta hora, se fôssemos levar esta CPI ao fundo da questão seria uma bomba que não sei o que aconteceria, mas não fazer nada! Pela primeira vez na história, Requião, o que nunca conseguimos, nesta Casa, que é fazer uma CPI com empreiteira ou com o corruptor, nunca se conseguiu, nunca, ela já veio pronta, a Delta já está ali provada, comprovada, já está tudo pronto e resolvido, a CPI está tirando fora, a CPI está tirando fora, uma CPI em pleno andamento. Vendem a Delta por R$1,00, R$1,00. Para uma empresa que era um açougue de Goiás e que foi crescendo... Que bom que foi crescendo... E que bom que cresceu! Que bom virou um baita açougue e que bom é o maior frigorífico do mundo! Mas lá está o dinheiro do BNDES... Lá está o dinheiro do BNDES! O Rio Grande do Sul, para poder pagar sua dívida com o Governo Federal, paga juro que é uma roubalheira! E esse frigorífico pegou o dinheiro do BNDES para comprar todos os seus concorrentes a juro quase que zero. E essa empresa (o frigorífico) vai lá e quem está na sua presidência agora? O ex-Presidente do Banco Central... O ex-Presidente do Banco Central! Diz a imprensa que teria consultado Lula; eu digo que é mentira, eu não acredito. Mas a empresa diz... E o frigorífico do BNDE (35% dele) vai lá e compra a Delta. Deposita um dólar... Mentira: um real! Ontem, em vim aqui e pus dois reais nesta mesa. Eu dou dois reais! Ninguém me deu bola, ninguém me respondeu... Se ela deu um, eu dou dois! E não acontece nada...

            A gente lê na imprensa que o Governo faz questão de dizer que não tem nada a ver com a venda da Delta para o frigorífico... Mas como não tem nada... De quem é o BNDES? Como se não tem nada! Até agora... O Deputado Miro Teixeira berrou 10 vezes: “Vamos confiscar, vamos registrar os bens da Delta, vamos garantir para que não se mexa neles.” O Sr. Cavendish já está vendendo tudo e vai morar na Inglaterra. Vai fazer... Parece que trabalhar com postos de gasolina lá nos Estados Unidos... O Sr. Cavendish...

            E alguém falou, com a maior tranquilidade... O problema, meu amigo Requião, é que a Delta está lá... Primeiro lugar, é uma coisa fantástica! Copa do Mundo... Viva a Copa do Mundo! Maravilha a Copa do Mundo... Mas a gente está se organizando para a Copa do Mundo e que parece que nós estamos preparando a Copa do Mundo e a Olimpíada porque, quando nós fizermos, terminará o problema da miséria no Brasil, terminou o problema da fome no Brasil, terminou o problema da infraestrutura miserável do Brasil.

            Em primeiro lugar, inclusive, tem uma coisa a ser analisada. No atual estádio do Grêmio, em Porto Alegre, cabem 100 mil pessoas. Estão fazendo uma obra espetacular, mas somente para 60 mil pessoas. Cada vez mais o pobre não entrará nos estádios. Tem cabine, tem suíte, tem camarote, tem não sei mais o quê. No Maracanã, no jogo Brasil X Uruguai, em 1950, diziam que tinha 250 mil pessoas. A regra, a lei, as informações oficiais é de que foram 150 mil pessoas. Fizeram uma reforma espetacular e caberão somente 75 mil. Conclusão, pobre não irá mais a futebol, não poderá ir. É passagem, é isso, é aquilo, é não sei o quê. Pobre não vai mais. Estão fazendo esse gasto todo, essa loucura toda e não se pode mexer na Delta porque, se mexer na Delta... Um Ministro por quem tenho o maior carinho, o maior carinho, nem vou citar o nome, é um dos homens mais dignos que conheço neste Governo, é o homem que fez a Presidenta Dilma assinar o Ficha Limpa, foi iniciativa dele. E ele disse à imprensa: se fechar a Delta as obras vão parar, vamos ter de fazer uma nova licitação, vamos ter de começar tudo de novo. Então, deixa a roubalheira, deixa como está. Não é possível! É a primeira vez na história, não que o Congresso tenha investigado, não que o Senador Pedro Simon, o João, o Manoel, o Antônio, tenha feito uma investigação e tenha descoberto um corruptor, um empreiteiro, não, foi a Polícia Federal que encontrou e mandou para cá tudo preparado, tudo certinho e a nossa CPI está tirando fora, está esvaziando. Esse? Tira. Esse? Tira. Fica o quê? Acho que o Cachoeira eles vão deixar, acho que o Demóstenes eles vão deixar. São os dois que podem ficar, o resto é o resto. Pois não, Senador.

            O Sr. Cássio Cunha Lima (Bloco/PSBB - PB) - Senador Pedro Simon, na condição, inclusive, de membro da CPMI, quero trazer uma palavra de apoio e de solidariedade a toda essa linha de raciocínio eloquente e lúcida seguida por V. Exª neste instante, o que é coerente com toda a sua respeitável trajetória de homem público. Nós temos ali uma tarefa muito simples a cumprir. O Sr. Carlos Cachoeira tem três facetas. Ele é um contraventor, e este caiu, a partir da investigação bem-sucedida do Ministério Público e da Polícia Federal, e, inclusive, está preso por isso. Contudo, ele também era ou é um empresário formal, que, na formalidade, também praticou ilicitudes. E é exatamente a partir desse ponto e da faceta Carlos Cachoeira lobista da Delta que a CPMI deveria se debruçar. Na origem dos trabalhos, quando da apresentação do roteiro, do plano de trabalho da CPI, eu, talvez, tenha sido um dos poucos membros, em três votos contrários, a me insurgir contra o plano de trabalho do Relator, que já anunciava aquilo que se confirmou hoje, uma investigação seletiva, que protege alguns e expõe outros já expostos. E, no transcorrer disso - V. Exª deu ênfase a esta questão há poucos instantes -, há algo ainda mais escabroso, que é o fato de uma empresa anunciada publicamente como quebrada pelo seu próprio Presidente - o Sr. Fernando Cavendish, em entrevista à Folha de S.Paulo, com todas as letras, anunciou que a Delta estava quebrada - ser vendida por R$1,00.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Os jovens estão saindo, mas vão tranquilos. O Brasil está melhorando e vai melhorar apesar de tudo. Estejam certos.

            O Sr. Cássio Cunha Lima (Bloco/PSDB - PB) - Creiam nisso! Dessa forma, assistimos à compra de uma empresa pelo valor simbólico de R$1,00, cujo Presidente declarou publicamente que ela estava quebrada, por uma holding que tem 30% do capital do BNDES. E não se encontram mecanismos para barrar essa maioria política que se forma e que estarrece o Brasil. Neste meu aparte, que concluo agora, nobre Senador Pedro Simon, reitero o meu apreço e minha admiração por V. Exª e somo minha palavra à indignação que V. Exª traz à tribuna do Senado neste instante em relação aos acontecimentos da CPI do Cachoeira, a CPI do jogo, que, na verdade, é um jogo de carta marcada.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Agradeço muito a V. Exª, e sou testemunha da atuação de V. Exª na Comissão.

            Estou pagando os meus pecados. Não sou membro da Comissão. A elite que lidera o MDB me jogou de escanteio; não reúno condições. Mas, ao ficar ali quatro, cinco, seis horas de boca calada, não podendo falar, eu termino engolindo e, às vezes, eu me sinto mal. Mas falo aqui porque não posso falar lá.

            Mas eu tenho pena dessa Comissão. Eu sinto que tem muita, muita gente preocupada e interessada em buscar a verdade. Mas agora eu vejo, acho que é hora de a gente ver essa análise. É impressionante, principalmente no Senado, nós somos, de certa forma, quase, eu diria, marionetes, onde quatro ou cinco pessoas fazem o que acham que deve ser feito, e nós vamos atrás.

            O destino da CPI foi traçado em uma reunião que foi feita a portas fechadas entre fulano, fulano, fulano, fulano e fulano. Eles deram as repostas do que deve ser feito. O resto todo nós estamos fazendo de mentirinha.

            Parece mentira, mas este é o Congresso. Cadê a independência? Cadê a autoridade? Cadê a capacidade? E falta até um Teotônio para berrar, que nem ele gritava, para bater na mesa e sair da Arena, como ele saiu e foi para o MDB, porque ele queria buscar liberdade e não conseguia no seu partido. Não existe.

            E essas pessoas nem comparecem, nem estão lá na CPI. Pode olhar na tevê. A reunião é feita antes ou depois, e as decisões são tomadas. E a CPI é mais uma vez de mentirinha, é mais uma vez de mentirinha.

            E, olha, dez, quinze anos atrás, no tempo do meu amigo Requião, quando ele foi relator - e a atuação dele foi tão brilhante que a TV Senado competia com a novela da Globo das oito horas, por causa da atuação de S. Exª como relator.

            Convidaram-no, inclusive, para interpretar uma novela da Globo. Ele não aceitou, mas funcionava, porque as pessoas estavam na expectativa de que as coisas iam acontecer, e aconteciam.

            Ali, envolveram-se um governador radical, espetacular, nosso, e um outro, nada espetacular, do outro lado, mas os dois foram enquadrados. Não se reuniam para tirar os dois; reuniam-se para enquadrar os dois. Aconteceu, mas lá era CPI. Lá era votação, voto por voto, como foi no impeachment.

            O impeachment foi adiante porque, na hora da decisão dos membros que integravam a CPI, o Senador Amin, de Santa Catarina, do PP, não quis fazer parte: “Eu não vou fazer parte.”

            Aí, fui ao gabinete dele e disse: “Então, indica o Bisol.”

            José Paulo Bisol era um desembargador brilhante, a vida toda como juiz e, quando se aposentou como desembargador, veio para o Senado.

            O Amin indicou o Bisol - o Amin era do governo -, e o Bisol foi o voto decisivo na escolha da Presidência e da Relatoria, e, o que é mais importante, ao fazer o calendário de quem chamar e de quem não chamar.

            A partir daí, foi para o debate. Foi para o debate e a maioria quase que unânime achava que era ridículo pensar em cassar um Presidente da República. 

            O Dr. Ulysses veio ao meu gabinete para dizer: “Mas tu estás louco, Simon? Logo tu, do Rio Grande do Sul? Foi com o negócio de fazer isso que tu estás fazendo que levaram o Getúlio ao suicídio. Foi com o negócio de fazer isso que tu estás fazendo que derrubaram o Jango. Vamos deixar terminar o mandato desse homem, senão, daqui a pouco, o que vai acontecer é que vai voltar tudo de novo!” Mas nós fomos adiante e a CPI deu resultado, e o Presidente foi afastado.

            Itamar, Presidente da República, criamos a CPI dos Anões do Orçamento, provando a corrupção toda que existia. Parlamentares foram cassados. Funcionava.

            Hoje, não tem mais Congresso. Olha, eu duvido que dá para botar 10 pessoas. Câmara e Senado, que são quem decide tudo.

            Eu não vou dizer o nome, mas V. Exª sabe quem é do PMDB, V. Exª sabe quem é do PT, nós sabemos quem são de todos os partidos que decidem tudo. E nós, aqui, fazemos o papel de bonecos. E assistimos a isso: a uma manchete que nem esta da Folha de S.Paulo: “CPI do Cachoeira poupa Delta, governadores e políticos de investigação.” Arquiva tudo, para ficar uma CPI de mentirinha.

            Pois não, Senador. Acho que, realmente, V. Exª, na realidade, daria um belo personagem nas novelas da Globo.

            O Sr. Roberto Requião (Bloco/PMDB - PR) - Eu gostaria, Senador Pedro, de fazer a CPI da Globo também, e não ser ator de novela da Globo. Mas, Senador Pedro Simon, como funcionava a Delta com o apoio do Cachoeira? Entrava em concorrências públicas com valor baixo. Depois, valendo-se do tráfico de influência da corrupção...

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Desculpe-me, mas a coisa era tão clara que, invés de aprovar, a Delta tinha de fazer uma reunião e dizer por que a Delta está oferecendo por oito, e, que vem em segundo lugar, está oferecendo por vinte? Quer dizer, ela oferecia uma proposta de oito; a segunda, vinte, a outra, vinte e três, a outra vinte e quatro, a outra, vinte e cinco. Era oito, e um mês depois passava para vinte e dois.

            O Sr. Roberto Requião (Bloco/PMDB - PR) - Depois de vencida a concorrência, com a influência do tráfico do jogo do bicho, vinha a indústria dos aditivos. E a Delta elevava o seu preço, então, a valores extraordinariamente superiores ao da concorrência inicial. Então, a Delta merecia, por si só, uma Comissão Parlamentar de Inquérito própria. Eu me pergunto se, em nome da continuidade de obras superfaturadas, evidentemente, notoriamente superfaturadas, nós podemos admitir que ela seja comprada pelo Meireles e pelo frigorífico JBS. É qualquer coisa como descrevia o Roger-Gérard Schwartzenberg no O Estado Espetáculo. É um espetáculo de moralidade que oculta a verdadeira imoralidade, que é a continuidade da Delta trabalhando para o Governo, para o Governo Federal e para os Governos Estaduais. No Paraná...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Roberto Requião (Bloco/PMDB - PR) - Estou sem som, SR. Presidente. V. Exª sabe que esse Cachoeira andou por lá, no Governo que me antecedeu. Eles legalizaram os bingos, organizaram loterias especiais, a Totobola, e eu detonei isso tudo. Pouca gente sabe, mas quando investigamos a Associação Paranaense de Empreiteiros de Obras Públicas, através de algumas denúncias que chegaram à Secretaria de Segurança, um juiz paranaense decretou a prisão de todos eles, inclusive do tal Cavendish, que fugiu, se não me engano, à época, para o Rio de Janeiro, e não foi preso. Mas essa gente trabalhou com esse processo de corrupção de uma forma continuada. Nós acabamos com o jogo no Paraná, liquidamos isso tudo, mas pouca gente sabe, Senador Pedro Simon, que até hoje estou sendo condenado pela Justiça do Paraná por crimes contra a honra dos ladrões que eu denunciei, porque o Ministério Público não age; quando age, age mal; a Justiça não julga, e os juízes dizem o seguinte: “Requião, você não pode chamar de ladrão quem ainda não foi condenado em instância final”, e me condenam civilmente a pagar indenizações a essa gente toda. É uma coisa absolutamente inusitada e, já que falei no Roger-Gérard Schwartzenberg, que é francês, lembro agora do Dacio de Arruda Campos, um paulista, Senador Aloysio, que escreveu um livro que me impressionou muito na juventude: A Justiça a Serviço do Crime. O mecanismo judicial abrindo espaço para as chicanas jurídicas e protegendo os bandidos, ao mesmo tempo em que a condenação dos denunciantes vem extremamente rápida. Tenho 71 anos de idade. A poupança da minha vida está sendo dilapidada pelas denúncias que eu fiz, dos Cachoeiras, dos Cavendishes, dos empreiteiros e dos corruptos do governo que me antecedeu, mas a corrupção maior, a meu ver, é o silêncio em torno da continuidade da Delta agora, travestida em frigorífico JBS, e isso está sendo feito com a complacência da maioria da Comissão Parlamentar de Inquérito, que evita, muitas vezes, bem como a Comissão de Ética, que a televisão do Senado transmita ao vivo o que está acontecendo, quando todos sabemos que, numa CPI com 60 membros, tudo irá vazar de forma quase instantânea pelos telefones celulares, pelos gravadores. E, quando não existe a transmissão ao vivo e no instante, vai existir a interpretação da mídia, e a mídia está envolvida com esse processo de corrupção também. A CPI da Delta e do Cachoeira tem de ser a CPI da Veja também, se não não é CPI alguma. Mas eu lembro, já que V. Exª falou na CPI da qual eu fui Relator, dos títulos públicos, a famosa CPI dos Precatórios, que neste plenário nós aprovamos o meu duro relatório - duro e sofrido para mim, porque envolvia companheiros de partido de longa e maravilhosa tradição na política brasileira - à unanimidade. Mas, depois, por iniciativa do governo e para a defesa do sistema financeiro brasileiro, este mesmo Plenário votou um perdão, com um único voto divergente, que foi o meu. “Não podemos levar isso para frente porque o sistema financeiro brasileiro pode quebrar”. Não ia quebrar coisa alguma! O mesmo tratamento que a minha CPI teve é o que se está dando à Delta hoje, ao admitir que ela seja, numa simulação, comprada pelo frigorífico JBS. Seria maravilhoso se a TV Senado estivesse presente, com um sinal aberto para o Brasil inteiro, em todas as reuniões. E, de repente também, Senador, para engrossar essa sua crítica, essa lástima, coisas que me ferem duramente, eu vejo o Ministro do Supremo interromper a CPI dizendo que o Cachoeira não pode ser ouvido, quando os dados que a CPI tem são exatamente os mesmos que o advogado do Cachoeira tinha no Supremo Tribunal Federal. E o Senado, passivamente, diz: “Não, sentença judicial tem que ser obedecida, e não discutida”. Isso aqui é o Senado da República, que está investigando um crime contra a Nação, crime continuado de jogatina, de roubo em obras públicas, de superfaturamento. Essa passividade me constrange. É evidente que a sentença prolatada no Supremo Tribunal foi uma sentença técnica, daquela visão conservadora. Mas foi um desrespeito ao País. Foi uma atitude de subserviência absoluta do Senado da República a uma sentença isolada do Supremo Tribunal Federal, que tinha, sim, que ser contestada,...

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Um aparte a V. Exª apenas, Senador.

            O Sr. Roberto Requião (Bloco/PMDB - PR) - Porque quem muito se abaixa, diz o ditado, a bunda lhe aparece.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Até porque tudo que havia lá e que eles pediram para a defesa tomar conhecimento foram eles que divulgaram.

            O Sr. Roberto Requião (Bloco/PMDB - PR) - Exatamente o mesmo material.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Eles que divulgaram. Tudo veio de lá. A gente poderia fazer o contrário. O Presidente do Supremo poderia dizer: olha, você vai ouvir o que tem lá, e vocês, Cachoeira, mostrem o resto que vocês têm e que ainda não mostraram.

            O Sr. Roberto Requião (Bloco/PMDB - PR) - Então, Senador Pedro, o seu discurso é extremamente oportuno. Acredito que já é tarde, mas ainda é tempo de o Senado abrir os olhos e rapidamente transformar o Conselho de Ética e a Comissão Parlamentar Mista em ferramentas da democracia, fortes e definitivas. Mas não parece a mim que é esse o caminho que estamos tomando. Enquanto conversam na CPI, às escondidas, o JBS já assumiu toda a patifaria da Delta, todos os sobrepreços, e a corrupção desse processo todo está sendo ocultada e coberta em nome do quê? Como, ontem, na CPI em que fui Relator, era em nome da estabilidade financeira do País, hoje é em nome da continuidade das obras do PAC.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Eu agradeço a V. Exª.

            Eu diria: estaria na hora de defender, nesta Casa, a tese de que cada Senador é um voto e deve votar pela sua cabeça, e não quatro chamados líderes decidem e tenhamos que cumprir. É um absurdo, em uma CPI, quatro ou cinco chamados líderes se reunirem e decidirem: a Delta só no Centro-Oeste; o resto arquiva; o fulano arquiva; o fulano... E a CPI vira deboche, como está acontecendo. Era importante que isso acontecesse, que o Senado fizesse uma verdadeira rebelião para que cada Senador falasse por si o que pensa e o que sente. Aí não dá para acontecer que nem agora. O Pedro Simon faz isso. Então, nas comissões, os projetos que vêm para o Pedro Simon relatar são: dar o nome da avenida tal, da estrada tal para o nome tal, dar o nome para o colégio tal, porque qualquer projeto que tenha qualquer significado, importância... Já até me mandaram; eu me preparei para relatar; e me pediram de volta. Havia sido engano. Estou suportando isso. No Jornal do Senado, a divulgação do que eu falo, em algumas edições não sai coisa nenhuma ou sai às avessas; e, em outras, tenho que procurar com binóculo. Eu aguento. Faz parte. Eu estou aqui sozinho, mas, se todos tivessem independência, aí três ou quatro não fariam a voz deste Senado.

            Que bom se nós tivéssemos autonomia. Tenho certeza de que se estivessem aqui no plenário os 81 Senadores e ficássemos o dia inteiro debatendo para depois todos votar nominalmente o que pensam, a conclusão não seria esta. Eu duvido que a conclusão fosse essa que os Líderes estão querendo fazer em nome do Senado. Eu duvido! Bote os 81 Senadores sentados aqui, deixe todo mundo falar o que quer, que venham os Líderes falarem, que venham os defensores da Delta e companhia falarem, mas que fale cada um. Seria muito diferente. Mas apenas quatro falam e decidem. E um cochicha para o outro: é isso, é isso, é isso, e está tomada a decisão. É uma pena. E nessa vamos todos juntos: o Congresso, o próprio Judiciário, de certa forma, e o Executivo. Não a Presidente Dilma, porque desde o início ela era contra. Ela não quis entrar nesse jogo. Mas dizem que o Presidente Lula foi quem estimulou.

            Tenho dito e tenho repetido: se o Procurador deve alguma coisa...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Já encerro, Sr. Presidente.

            Se o Procurador deve alguma coisa, vamos entrar com uma representação, que pode ser na própria Procuradoria, no Conselho Federal de Procuradores ou no Supremo. Mas tire o Procurador desse processo. Tem que investigar a Delta, tem que investigar a corrupção. Esse é o problema.

            Se tem algum problema com à Veja, com jornalista, que se investigue, que se faça um processo, mas lá fora. Essa CPI é para investigar a corrupção que nós conhecemos e que, inclusive, já foi conclusa pela Polícia Federal e pela Procuradoria Geral da República. Mas, não. O negócio da CPI é misturar, é fazer tudo de mentirinha. E a CPI que iniciou com os fatos já julgados, vai dar absolvição. Por isso que quando me pedem para fazer uma CPI digo que não, porque se a fizermos, não vai acontecer nada e ainda vamos dar absolvição. É o que está acontecendo agora.

            É uma pena, Sr. Presidente.

            Muito obrigado a V. Exª.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/05/2012 - Página 19528