Discurso durante a 86ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Observações sobre a efetividade das medidas econômicas recentemente adotadas pelo Governo Federal.

Autor
Casildo Maldaner (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/SC)
Nome completo: Casildo João Maldaner
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Observações sobre a efetividade das medidas econômicas recentemente adotadas pelo Governo Federal.
Aparteantes
Wellington Dias.
Publicação
Publicação no DSF de 23/05/2012 - Página 20410
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • COMENTARIO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, GOVERNO FEDERAL, REFERENCIA, COMBATE, EFEITO, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL, ALTERAÇÃO, REGULAMENTAÇÃO, CADERNETA DE POUPANÇA, DESONERAÇÃO TRIBUTARIA, REDUÇÃO, TAXAS, JUROS, OFERTA, CREDITOS, INCENTIVO FISCAL, UNIFICAÇÃO, ALIQUOTA, IMPOSTO SOBRE CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS E SERVIÇOS (ICMS), IMPORTAÇÃO.
  • REGISTRO, PRESENÇA, PREFEITO, REPRESENTANTE, MUNICIPIO, BALNEARIO CAMBORIU (SC), ESTADO DE SANTA CATARINA (SC).

            O SR. CASILDO MALDANER (Bloco/PMDB - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Cara Presidente Marta Suplicy, caros Colegas, antes de tudo, quero fazer, com muita alegria, o registro de que se encontra, na Tribuna de Honra, o nosso grande e extraordinário Prefeito de uma das maiores estações balneárias de nosso País e - por que não dizer? - da América do Sul, o Município de Balneário Camboriú, no nosso litoral catarinense. O nosso Prefeito chama-se Edson Renato Dias, que está na Tribuna de Honra. Ele é conhecido popularmente, não só na grande Balneário Camboriú, mas em todo o Estado de Santa Catarina - ele foi Vereador e Deputado Estadual e é Prefeito daquele Município -, como Periquito. Vejo que o Senador Wellington Dias, que foi Governador do Piauí, sorri. Mas é esse mesmo o seu apelido. É como ele é conhecido lá. Vejo aqui também a Senadora Maria do Carmo, de Sergipe. Lá ele é conhecido com essa intimidade. Então, o nosso Prefeito de Balneário Camboriú, Edson Renato Dias, conhecido como Periquito, está aqui com sua equipe, com o Secretário da Fazenda e também com o Chefe da Casa Civil, honrando-nos na Tribuna de Honra.

            Eu gostaria de fazer alguns comentários nesta tarde. Não sei se a reunião já terminou, mas, há pouco, o nosso Ministro da Fazenda encontrava-se na Comissão de Assuntos Econômicos, debatendo temas que interessam muito ao Brasil, temas que nos atraem, em relação aos quais todos os brasileiros estão a postos e que, sem dúvida, estão na pauta do mundo. Está aí o Mercado Comum Europeu. Os países europeus e os Estados Unidos passaram por isso. Portanto, Sr. Presidente, trago uma pequena reflexão sobre esse tema.

           O Governo Federal tem tomado medidas de mitigação dos efeitos da crise econômica internacional e de estímulo ao crescimento interno. São ações louváveis, que, em curto prazo, podem mostrar-se eficientes. Mas há um questionamento que não pode calar: para onde esse caminho nos leva, em longo prazo? As estratégias utilizadas visam a soluções definitivas para alguns dos gargalos que asfixiam nosso crescimento sustentável?

           O Ministro da Fazenda, Guido Mantega, nesta manhã e tarde, esteve em nossa Comissão de Assuntos Econômicos, expondo aos Senadores as principais mudanças nas regras da poupança. A medida pretende garantir condições para a redução dos juros reais no Brasil, reconhecidamente entre os mais elevados do mundo.

           Ontem, foi anunciado novo pacote de incentivo, composto de corte de impostos, notadamente IOF e IPI, redução de taxa de juros em determinadas operações do BNDES e, por fim, liberação de parte dos compulsórios retidos pelo Banco Central para que as instituições financeiras concedam empréstimos para a compra de automóveis. Na essência do pacote, que custará quase R$3 bilhões aos cofres públicos, está a intenção de elevar a taxa de crescimento do País acima dos 3% ao ano, tendo como alicerce o incremento no consumo. Essa conjunção de juros mais baixos, redução de impostos e oferta de crédito configura, inegavelmente, um cenário propício para a elevação do consumo, que trará benefícios imediatos.

           Não podemos, no entanto, descuidar dos possíveis efeitos colaterais. Teremos uma forte pressão inflacionária, tendência para a elevação do endividamento das famílias e para a inadimplência, que já vem crescendo mês a mês.

           Para combater essas pressões que virão, sem dúvida alguma, os mecanismos de defesa entram em ação: aumento da taxa básica de juros, que é a taxa Selic, e retorno de impostos antes suprimidos. É a verdadeira política do “morde e assopra”, sem buscar uma solução definitiva.

           Em outra ponta, vimos que a ação do Banco Central para conter uma dita sobrevalorização do real frente ao dólar surtiu efeito. A moeda americana ganhou força, subindo aproximadamente 20%, nos últimos três meses. A medida é certamente benéfica aos exportadores, mas, como todos os fatos na economia positiva, traz consequências, efeitos colaterais. O preço dos insumos cotados em dólar, por exemplo, também sofre elevação, encarecendo produtos no nosso mercado interno e forçando igualmente a inflação. Neste momento de crise internacional, em que as compras externas estão em queda, questiona-se a efetividade da medida. É com isso que nos preocupamos.

           Outro incentivo à indústria, de acordo com a posição do Governo, foi a aprovação da Resolução nº 72/2010, no Senado, que unifica a alíquota do ICMS de importação nos Estados. Aliás, foi aprovada há pouco. Ora, se a medida busca o estímulo à produção nacional e o fim da chamada “guerra dos portos”, cria também uma distorção maléfica. Fortalece os grandes centros de consumo, causando uma concentração de desenvolvimento em alguns poucos Estados, enquanto outros observam secar a fonte de seus já parcos recursos.

           Digo isso, Senador Wellington Dias, porque, no nosso Estado, em função dessa ferramenta que os Estados detêm, a ferramenta do ICMS, houve uma motivação, um incentivo. Temos cinco portos nos quais as empresas investiram, a logística melhorou. Isso ajudou na geração de emprego. Houve investimentos fortes. Com a Resolução nº 72, a partir de janeiro, vão sair dali. Se não encontrarmos outros mecanismos, vai haver novamente a concentração de recursos, como todos sabemos, em São Paulo.

            E questiono novamente: há um plano do Governo Federal, um plano não de consumo, mas um plano de preservação e crescimento descentralizado entre seus entes federados? Aí é que eu me questiono: há um plano para os entes federados? Há uma ação planejada que vá além da concessão de empréstimos via BNDES? Essa é uma espécie de compensação para trazer um alívio inicial, mas isso acaba por comprometer ainda mais a dívida dos Estados, seus níveis de endividamento. Afinal de contas, é uma compensação feita via empréstimo: no momento, alivia, mas, com o tempo, é preciso devolver isso com juros. Não sei, mas acho que essa é uma solução paliativa.

            Medidas como essas podem até surtir efeito imediato - e, sinceramente, esperamos que sejam bem-sucedidas -, mas adiam as reformas estruturais indispensáveis para o crescimento econômico e social de forma descentralizada. Aí é que está a questão: o crescimento deve ser alcançado de forma descentralizada. Entendo que seja este o momento para a discussão de uma reforma mais ampla, que dote nosso País do necessário ambiente de competitividade internacional de que precisamos.

            Digo isso porque acho que precisamos pensar um pouco mais a longo prazo, até para darmos condições às nossas indústrias de competir no campo internacional.

            Vejo que o Senador Wellington Dias, Senadora Marta Suplicy, pretende contribuir, como é de seu feitio. Eu não poderia deixar de ouvi-lo neste momento tão importante para o nosso País.

            O Sr. Wellington Dias (Bloco/PT - PI) - Agradeço à nossa Presidenta. Senador Casildo, a V. Exª, com toda a experiência que tem, com toda a dedicação aos diversos temas, especialmente esse da nossa economia, quero, primeiro, dizer que é inegável que estamos diante de um conjunto de mudanças que, há muito tempo, eram esperadas. Cito a política de redução dos juros, inclusive na área pública; o controle do câmbio e da inflação, que é mais tradicional, mas o câmbio olhado pelo interesse do Brasil; a ampliação de financiamentos. Enfim, qual é o problema? Neste momento em que estamos, todos, União, Estados e Municípios, tiveram reduzida a sua capacidade de investir. Faz-se necessário um alavancador para poder viabilizar investimentos, e, por isso, muitas vezes, financiamentos são um caminho. Agora, ressalto que, além da exposição hoje do Ministro Guido Mantega, trago também a fala do Presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, mostrando que também precisamos seguir esta direção que V. Exª enfoca: redução de encargos. E, nos encargos, além dos juros, temos, no custo Brasil, muito peso nos impostos, especialmente em algumas áreas. Ele citava, por exemplo, a energia. A energia, além de ser vital para cada família e para cada pessoa do Brasil, é vital para a produção e para a indústria. E, hoje, a energia tem um preço acima dos padrões dos nossos concorrentes. Então, o que diz Tombini? A necessidade de a gente, na política de redução de impostos, direcionar, por exemplo, para uma área como a do setor de energia. Parabéns!

            O SR. CASILDO MALDANER (Bloco/PMDB - SC) - Se me permitir, cara Presidente, vou concluir.

            Quanto à energia, V. Exª aborda um ponto importantíssimo. Creio que isso aí agregaria para a indústria nacional, para a nossa produção com durabilidade. São questões pontuais, profundas, de longevidade. Nessas questões, nós nos irmanamos. Essas outras - eu diria - são paliativas, são muito presentes, são de curto prazo. Precisamos enfrentar umas de mais longo prazo, pensar mais adiante, sem recorrer a paliativos.

            Esta medida tomada agora, se não me engano, serve por 90 dias. Baixa-se o IPI daqui, retira-se o imposto de automóveis, para fomentar a venda de automóveis. Dizem: “Podem comprar! Podem contar com mais prazo para comprar um automóvel! Vamos lá!”. Estimula-se isso, e se faz uma espécie de liquidação. Essa liquidação é de uma temporada. Não sei se isso, de certo modo, resolve a questão.

            Lembro que, nos Estados Unidos, houve aquele débâcle do setor imobiliário, mas eles davam as casas como garantia. E as pessoas pegavam os empréstimos e compravam, compravam materiais, compravam isto, compravam aquilo. Mas, no Brasil, o que estamos oferecendo como garantia? Não temos uma casa para oferecer. Nós estamos “pegando o fio de bigode”. Mas, nem sempre, todo mundo tem o fio de bigode. Não é fácil oferecer como garantia. Então, temos o receio de que comprem o automóvel com o prazo que quiserem, provocando uma avalanche. Às vezes, temos de cuidar um pouco disso.

            Finalizando, devo dizer que é preciso fazer uma reforma tributária e administrativa, investimentos fortes em infraestrutura e um novo pacto federativo que dê condições reais de desenvolvimento aos Estados, aos Municípios e à comunidade brasileira, com os pés no chão. Essa é uma grande discussão que temos de enfrentar.

            Muito obrigado pela tolerância com o tempo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/05/2012 - Página 20410