Discurso durante a 92ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Cumprimentos ao Município de Aveiro - PA; e outros assuntos.

Autor
Flexa Ribeiro (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PA)
Nome completo: Fernando de Souza Flexa Ribeiro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DO MEIO AMBIENTE, DIVIDA PUBLICA, GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Cumprimentos ao Município de Aveiro - PA; e outros assuntos.
Publicação
Publicação no DSF de 30/05/2012 - Página 22163
Assunto
Outros > POLITICA DO MEIO AMBIENTE, DIVIDA PUBLICA, GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CONGRATULAÇÕES, DESTINAÇÃO, MUNICIPIO, AVEIRO (PA), ESTADO DO PARA (PA), MOTIVO, VITORIA, APROVAÇÃO, SENADO, MEDIDA PROVISORIA (MPV), ASSUNTO, LIBERAÇÃO, TERRITORIO, RESERVA ECOLOGICA, FLORESTA NACIONAL, DEPENDENCIA, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), OBJETIVO, POSSIBILIDADE, CONSTRUÇÃO, OBRAS, CIDADE.
  • CRITICA, DESTINAÇÃO, PACTO FEDERATIVO, UNIÃO FEDERAL, MOTIVO, DESEQUILIBRIO, DISTRIBUIÇÃO, RECURSOS, FATO, AUMENTO, DIVIDA, MUNICIPIOS.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, AUTORIA, JORNALISTA, PUBLICAÇÃO, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ASSUNTO, CRITICA, GOVERNO FEDERAL, MOTIVO, REDUÇÃO, IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS (IPI), CRIAÇÃO, PREJUIZO, MUNICIPIOS, ESTADOS.

            O SR. FLEXA RIBEIRO (Bloco/PSDB - PA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Presidente Senador Jayme Campos; Srs. Senadores; Srªs Senadoras, antes de iniciar pronunciamento que farei na tarde-noite de hoje, quero aqui parabenizar os amigos e as amigas do Município de Aveiro.

            Há pouco acabamos de aprovar a Medida Provisória 558, de 2012, pela qual a área do Município de Aveiro foi retirada da Flona e, com isso, resolvido o problema que impedia o crescimento e o desenvolvimento daquele querido Município do oeste do meu Estado.

            Lembro aqui que em 2008 cheguei a fazer um pronunciamento exatamente a respeito daquela situação em que se encontrava o Município. Fiz, naquela ocasião, um apelo ao Ministro do Meio Ambiente à época, o Ministro Carlos Minc, e ao IBAMA; apelo que recebi dos moradores de Aveiro, como eu disse um pequeno Município a oeste do Estado. E, àquela altura, a Prefeita na ocasião, Maria Gorete, passou às minhas mãos uma documentação que basicamente apresentava pedido de melhores condições de infraestrutura e denunciava o impedimento da prefeitura para realizar obras e firmar convênios com os Governos estadual e federal a fim de beneficiar a população.

            Eu lembrava, naquela ocasião, que o Município de Aveiro surgiu de uma antiga aldeia indígena, Munduruku, e que recebeu esse nome de Aveiro em homenagem a uma cidade portuguesa de mesmo nome, o que era uma prática comum no nosso Estado do Pará.

            O Município de Aveiro foi criado oficialmente pelo Decreto Lei nº 1.152, de 4 de abril de 1883, e, em 19 de fevereiro de 1974, foi criada, pelo Decreto Presidencial nº 73.684, a Floresta Nacional do Tapajós. Aí começaram as dificuldades do Município. A Flona, a Floresta Nacional, acabou por incluir, dentro da sua reserva, a própria sede do Município. A população já não conseguia mais ter direito a desenvolvimento, Senador Edinho, porque o Governo Federal, praticamente cem anos de criado o Município, por meio de decreto presidencial, criou uma reserva indígena, com a sede do Município passando a integrar essa reserva indígena.

            O que aconteceu? Como conseqüência desse decreto, 80% da área do Município foram transformados em reserva ambiental e a área urbana ficou sob jurisdição do Ibama. Prefeitura e moradores ficaram impossibilitados de regularizar seus terrenos e dependiam da aprovação do Ibama para realizar qualquer obra. E a Prefeitura, então, não tinha direito a assinar convênios nem com a União, nem com o Estado e, aí, não podia desenvolver nenhum tipo de assistência e de ação para os munícipes.

            Hoje, com a aprovação da MP nº 558, de 2012, que acabamos de aprovar aqui no Senado e que vai à sanção presidencial, acabou a agonia dos habitantes do Município de Aveiro, que teve a sua área territorial retirada da Flona, ou seja, da Floresta Nacional do Tapajós.

            Quero deixar, aqui, o registro de parabéns à população de Aveiro, por meio de todos os amigos e amigas daquele Município da nossa região oeste do Estado do Pará.

            No meu pronunciamento de hoje, quero fazer referência, Senador Jayme Campos, a uma matéria que o jornal O Liberal, do meu Estado, da última quarta-feira, na semana passada, dia 23, trouxe como manchete de primeira página, que dizia o seguinte: “União suspende repasse de verbas a 127 Municípios paraenses por estarem em situação de inadimplência”.

            Ora, aqueles que conhecem o Estado do Pará e os telespectadores da TV Senado e ouvintes da Rádio Senado do meu Estado sabem que o Pará tem 143 Municípios. Cento e vinte e sete, ou seja, quase 90%, mais de 80% dos Municípios estão impossibilitados de usufruir de repasses da União, e, por consequência, do próprio Estado, por estarem inadimplentes.

            Isso, lamentavelmente, não é um caso que diz respeito somente ao Estado do Pará. Isso, lamentavelmente, como eu disse, é em nível nacional. Os Municípios brasileiros, todos eles, estão em estado de insolvência. Estão todos reduzidos a uma situação de não poder atender seus munícipes nas questões mais importantes, que dizem respeito à saúde, à educação, à segurança, porque estão com suas finanças em estado de insolvência.

            Como vemos isso? O Governo Federal parece que fica alheio a essa situação em que os Municípios brasileiros se encontram.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, aqui, nesta tribuna, todos os dias, Senadores e Senadoras da base aliada ou da oposição alertam para o perigo iminente da quebra do chamado pacto federativo.

            E, entre os inúmeros aspectos que apontam para essa direção, está o posicionamento prepotente da União em relação aos Estados e Municípios. Municípios, aliás, onde moram os brasileiros que pagam impostos e mantêm esta mesma União.

            Para o Governo Federal é tudo muito simples: cortam-se repasses para os Municípios que não estão mais com as contas em dia. Olha-se o efeito simplesmente, não a causa. Essa prática é simplesmente deplorável. Ora, se os Municípios estão endividados, existe uma causa. E, muitas vezes, esta causa é a própria União, que simplesmente não aceita sentar-se à mesa para que possamos rever o famigerado pacto federativo.

            E, ao falar do pacto federativo, abordamos diversos aspectos, não apenas a arrecadação, onde cerca de 60% são destinados para a União, 24% aos Estados e apenas 16% aos Municípios. Tratamos de questões mais pontuais.

            Um caso é o próprio endividamento dos Municípios e dos Estados. Não estamos falando de gestores. Não estamos falando de prefeitos do partido A, B ou C. Quando o Governo Federal prejudica os Municípios e Estados, ele é bastante democrático. Prejudica a todos, sem distinção de coloração partidária.

            Em relação ao endividamento dos Municípios, especificamente, bom, o próprio Governo admite que não vai repassar recursos, pois os Municípios estão endividados. Agora, por que eles estão endividados? Esta deveria ser a pergunta. E, se este fosse um Governo sério, ele estenderia a mão e não apontaria o dedo, como está fazendo.

            O Governo Federal, ano após ano, tem-se esquivado de suas responsabilidades. Apenas para citar um caso específico: a saúde. Em 2000, o Governo Federal arcava com 59,8% das despesas com ações e serviços públicos em saúde. Os Municípios, com 21,7%. Em 2008, a participação da União caiu para 45,5% e a participação dos Municípios, com receitas cada vez mais apertadas, subiu para 29,2%. No mesmo período, a participação dos Estados nas despesas com saúde subiu de 18,5% para 25,3%.

            Esses números mostram, com clareza, o que acontecia até 2008. Se verificássemos os números de 2012, veríamos que a situação atual é muito mais cruel com Estados e com Municípios não só na área da saúde, como estamos vendo aqui, mas em qualquer outra área. Estamos notando que, cada vez mais, a União se retira da sua obrigação de atender os brasileiros, repassando esses custos para os Estados e para os Municípios, cada vez com menor capacidade de atendimento.

            Srªs e Srs. Senadores, na última semana, na Comissão de Assuntos Econômicos desta Casa, recebemos o Ministro Guido Mantega. Entre outros assuntos, não só eu como vários outros Senadores, inclusive os da base aliada e os do mesmo Partido da Presidenta Dilma, questionamos esse endividamento dos Municípios e dos Estados e possíveis soluções.

            Cheguei a perguntar diretamente ao Ministro Mantega: por que o Governo Federal, para resolver esse problema, não ataca imediatamente a mudança do indexador das dívidas dos Estados e dos Municípios? Argumentei que não se trata de deixar que esses valores a serem pagos a menos sejam utilizados em custeios. Não! A determinação, se houvesse vontade política do Governo Federal, seria no sentido de que a dívida poderia ser paga por meio de investimentos. Assim, forçaríamos o aumento dos investimentos de Estados e de Municípios em diversas áreas em que a população precisa, inclusive na infraestrutura. Essa é uma reivindicação feita permanentemente por governadores e prefeitos, sejam eles de que partido forem.

            Há um fato que o Governo evita comentar: Estados e Municípios já pagaram muito além daquilo que tomaram no passado, inclusive quando fizeram a renegociação da dívida. Dou um exemplo: o meu Estado, o Pará, devia, quando renegociou a sua dívida com a União, em 1998, R$388 milhões à União. Pagou, até dezembro de 2011, R$864 milhões. E devia, em dezembro de 2011, R$886 milhões. Eu vou repetir: repactuou, em 1998, R$388 milhões, pagou R$864 milhões - duas vezes e meia a mais - e devia, em dezembro de 2011, R$886 milhões. É uma conta que não fecha! Quando essa bola de neve, alimentada por juros e correção, vai parar de crescer? Tudo por conta das taxas de juros de IGPDI entre 6% e 9%, que são extremamente abusivas! Temos de rever o indexador, temos de rever a dívida, mas podemos ir além, tratando passo a passo essa questão.

            Ao concluir, Presidente Jayme Campos, quero fazer referência ao editorial da Folha de S.Paulo sobre a ação do Governo Federal na conjuntura econômica atual, que todos sabemos que tende a se agravar em face da crise internacional.

            O Governo Federal insiste em manter as mesmas ações que vem repetindo: ações de isenções, que são necessárias, de incentivos ao consumo, de redução de IPI, que agrava a crise de Estados e de Municípios. Eu próprio fiz emenda para que as reduções de IPI fossem feitas somente na parte que cabe à União, não na parte que cabe a Estados e a Municípios. Eu já tinha feito um projeto que tramita há vários anos nesta Casa, em que a redução do IPI, como incentivo, fosse feita toda na parte que cabe à União, na partilha do IPI entre Estados, Municípios e União.

            O projeto está tramitando no Congresso, mas fiz uma emenda à Medida Provisória nº 563, cujo texto entreguei em mão ao Ministro Mantega. No caso dessa emenda, o texto estabelece que o valor equivalente à parte da arrecadação do IPI, em razão dos benefícios da medida provisória, integrará o cálculo da parcela de IPI destinada ao Fundo de Participação dos Estados (FPE) e ao Fundo de Participação dos Municípios (FPM), ou seja, a emenda determina que a perda decorrente da redução de IPI sairá exclusivamente dos recursos da União. Afinal, sabemos que o Governo vem sistematicamente estabelecendo reduções de IPI, que importam em perdas diretas ao FPM e ao FPE. A União estende benesses com uma mão e, com a outra, tira recursos dos Estados e dos Municípios.

            Portanto, peço encarecidamente o apoio dos meus Pares e nosso esforço conjunto pela aprovação dessa emenda e de outras que possam revigorar nosso pacto federativo. Em especial, eu me dirijo ao Senador Romero Jucá, que é o Relator da Medida Provisória nº 563.

            Que, ao definir o voto e a posição de cada um, adaptando as palavras aqui proferidas pelo Senador Aécio Neves, fiquemos ao lado dos Estados e dos Municípios que aqui representamos, não do partido que integramos!

            Nesta semana mesmo, verificamos toda a pirotecnia do Governo Federal, ao anunciar uma nova redução do IPI. Porém, o cidadão brasileiro não tem acesso a todas as informações. Fica apenas a boa imagem da propaganda do Governo Dilma, enquanto prefeitos e governadores arcam com as perdas dessa redução, sem que a União tenha qualquer prejuízo.

            Mais do que isso, o pacote anunciado pelo Ministro Mantega é tímido. É dose homeopática para combater um perigo que é maior do que o diagnóstico feito pelo Governo. A questão não é pontual, é estrutural.

            Refiro-me agora, como eu disse, Senador Jayme Campos, para concluir, ao editorial da Folha de S.Paulo do último dia 23.

            Na última semana, o jornal Folha de S.Paulo abordou a política econômica do Governo Federal no editorial do dia 23 de maio, com o título “Déficit de ousadia”. Entre outros pontos, o texto afirma que a situação da economia brasileira é diversa da de quatro anos atrás. O limite de endividamento das famílias brasileiras já parece próximo de ser alcançado, o que restringe a margem para estímulos pela via do crédito e do consumo. A alternativa, aponta a Folha de S.Paulo, seria aumentar a taxa de investimento público e privado, hoje em redor de 19% do PIB. Mas isso não será alcançado, sem enfrentar barreiras estruturais, em que o pacote oferecido pelo Governo Federal nem chega a tocar: gastos estatais e carga tributária.

            O texto ainda mostra que o Governo Federal gastou, no ano passado, 5,7% do PIB com juros, a maior rubrica depois do INSS, que consumiu 6,8% do PIB.

            Por fim, reproduzo as palavras do editorial, ao afirmar que “está na hora de conceber uma estratégia de maior fôlego e austeridade, por impopular que seja ou possa parecer. Um primeiro passo é a contenção de gastos correntes, permitindo ao Governo a fixação de uma trajetória de desoneração tributária mais abrangente e de longo prazo”.

            Acredito que outros pontos devem ser tocados. E, se falamos em aumento do investimento público, o mesmo pode ser feito por Estados e Municípios, transformando as dívidas impagáveis pelos altos juros e indexador questionável em obras e investimento em diversas áreas.

            Por fim, a tecla a ser batida é uma só: o Governo Federal tem de rever o pacto federativo, tem de rever a forma como trata os demais entes desta Federação, tem de, antes de cortar repasses por inadimplência, fazer mea-culpa e reconhecer que esse endividamento é causado pela própria União. Por fim, tem de estender a mão e não apontar o dedo. E, se com a outra mão quer oferecer benefícios para a população, que seja com seu próprio chapéu!

           O SR. PRESIDENTE (Jayme Campos. Bloco/DEM - MT) - Concedo-lhe mais dois minutos, para que V. Exª possa concluir, Senador Flexa Ribeiro.

            O SR. FLEXA RIBEIRO (Bloco/PSDB - PA) - Sr. Presidente, já concluí.

            Eu só pediria a V. Exª que fizesse constar na íntegra, nos Anais do Senado Federal, o editorial do jornal Folha de S.Paulo do dia 23 de maio de 2012, quarta-feira passada, que faço encaminhar à Mesa.

            Com isso, concluo meu pronunciamento.

            Era o que eu tinha a dizer.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR FLEXA RIBEIRO EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I, § 2º, do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

- “Déficit de ousadia”, Folha de S.Paulo - 23/05/2012.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/05/2012 - Página 22163