Discurso durante a 94ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre artigo, publicado na revista Carta Capital, que apresenta reflexão a respeito da última pesquisa sobre a preferência de legendas do eleitor.

Autor
Anibal Diniz (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Anibal Diniz
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • Considerações sobre artigo, publicado na revista Carta Capital, que apresenta reflexão a respeito da última pesquisa sobre a preferência de legendas do eleitor.
Publicação
Publicação no DSF de 01/06/2012 - Página 23061
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, CARTA CAPITAL, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), REFERENCIA, ANALISE, PESQUISA, COMPORTAMENTO, ELEITOR, PREFERENCIA, PARTIDO POLITICO.

            O SR. ANIBAL DINIZ (Bloco/PT - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Waldemir Moka, Srs. Senadores e Srªs Senadoras, telespectadores da TV Senado e ouvintes da Rádio Senado, o que me traz à tribuna, na sessão de hoje, é apresentar uma reflexão feita em artigo publicado na revista Carta Capital pelo diretor do Instituto Vox Populi, o Sr. Marcos Coimbra, grande conhecedor da política brasileira. Ele trabalha com análises estatísticas com muita precisão, há muitos anos, e tem, digamos, um nome muito associado a essa ideia de pesquisa, de interpretação das intenções de voto em períodos eleitorais e, também, a respeito do sentimento do povo brasileiro quando se trata de opinião pública.

            O Sr. Marcos publicou, na revista Carta Capital, uma reflexão a respeito de uma última pesquisa sobre a preferência dos partidos no Brasil. E isso me parece muito interessante, porque a gente tem se deparado com posicionamentos divergentes. Aqui é uma Casa onde se cultiva muito os pontos de vista. Então, é muito natural a gente ouvir parlamentares fazendo suas defesas de tese e fazendo ataques às teses adversárias. A gente tem ouvido muito falar sobre o que tem acontecido na política brasileira, esses momentos conturbados, CPMI acontecendo, denúncias. É como se o povo brasileiro, o eleitor brasileiro estivesse vivendo uma repulsa total e absoluta de tudo o que está acontecendo.

            Mas os dados demonstrados por Marcos Coimbra, em seu artigo na revista Carta Capital, mostram exatamente o contrário. E aí eu passo a ler esse artigo e, por considerá-lo de muita profundidade, eu gostaria de pedir que ele fosse transcrito, na íntegra, pela Taquigrafia do Senado:

Ao contrário do que se costuma pensar, o sistema partidário brasileiro tem um enraizamento social expressivo. Ao considerar nossas instituições políticas, pode-se até dizer que ele é muito significativo.

Em um país com democracia intermitente, baixo acesso à educação e onde a participação eleitoral é obrigatória, a proporção de cidadãos que se identificam com algum partido chega a ser surpreendente.

Se há, portanto, uma coisa que chama a atenção no Brasil não é a ausência, mas a presença de vínculos partidários no eleitorado.

Conforme mostram as pesquisas, metade dos eleitores tem algum vínculo.

Seria possível imaginar que essa taxa é conseqüência de termos um amplo e variado multipartidarismo, com 29 legendas registradas. Com um cardápio tão vasto, qualquer um poderia encontrar ao menos um partido com o qual concordar.

Mas não é o que acontece. Pois, se o sistema partidário é disperso, as identificações são concentradas. Na verdade, fortemente concentradas.

O Vox Populi fez recentemente uma pesquisa de âmbito nacional sobre o tema. Deu o esperado: 48% dos entrevistados disseram simpatizar com algum partido. Mas 80% desses se restringiram a apenas três: PT (com 28% das respostas), PMDB (com 6%) e PSDB (com 5%). Olhado desse modo, o sistema é, portanto, bem menos heterogêneo, pois os restantes 26 partidos dividem os 20% que sobram. Temos a rigor apenas três partidos de expressão.

Entre os três, um padrão semelhante. Sozinho, o PT representa quase 60% das identidades partidárias, o que faz que todos os demais, incluindo os grandes, se apequenem perante ele.

Em resumo, 50% dos eleitores brasileiros não têm partido, 30% são petistas e 20% simpatizam com algum outro - e a metade desses é peemedebista ou tucana. Do primeiro para o segundo, a relação é de quase cinco vezes.

A proeminência do PT é ainda mais acentuada quando se pede ao entrevistado que diga se "simpatiza", "antipatiza" ou se não tem um ou outro sentimento em relação ao partido. Entre "muita" e "alguma simpatia", temos 51%. Outros 37% se dizem indiferentes. Ficam 11%, que antipatizam "alguma" coisa ou "muito" com ele.

Essa simpatia está presente mesmo entre os que se identificam com os demais partidos. E simpática ao PT a metade dos que se sentem próximos do PM DB, um terço dos que gostam do PSDB e metade dos que simpatizam com os outros.

Se o partido é visto com bons olhos por proporções tão amplas, não espanta que seja avaliado positivamente pela maioria em diversos quesitos: 74% do total de entrevistados o consideram um partido "moderno" (ante 14% que o acham "ultrapassado"); 70% entendem que "tem compromisso com os pobres" (ante 14% que dizem que não); 66% afirmam que "busca atender ao interesse da maioria da população" (ante 15% que não acreditam nisso).

Até em uma dimensão particularmente complicada seu desempenho é positivo: 56% dos entrevistados acham que "cumpre o que promete" (enquanto 23% dizem que não). Níveis de confiança como esses não são comuns em nosso sistema político.

Ao comparar os resultados dessa pesquisa com outras, percebe-se que a imagem do PT apresenta uma leve tendência de melhora nos últimos anos. No mínimo, de estabilidade. Entre 2008 e 2012, por exemplo, a proporção dos que dizem que o partido tem atuação "positiva na política brasileira" foi de 57% a 66%.

A avaliação de sua contribuição para o crescimento do País também se mantém elevada: em 2008, 63% dos entrevistados estavam de acordo com a frase "O PT ajuda o Brasil a crescer", proporção que foi a 72% neste ano.

O sucesso de Lula e o bom começo de Dilma Rousseff são uma parte importante da explicação para esses números. Mas não seria correto interpretá-los como fruto exclusivo da atuação de ambos.

Nas suas três décadas de existência, o PT desenvolveu algo que inexistia em nossa cultura política e se diferenciou dos demais partidos da atualidade: formou laços sólidos com uma ampla parcela do eleitorado. O petismo tornou-se um fenômeno de massa.

Há, é certo, quem não goste dele - os 11% que antipatizam, entre os quais os 5% que desgostam muito. Mas não mudam o quadro.

Ao se considerar tudo que aconteceu ao partido e ao se levar em conta o tratamento sistematicamente negativo que recebe da chamada "grande imprensa" - demonstrado em pesquisas acadêmicas realizadas por instituições respeitadas - é um saldo muito bom.

E com essa imagem e a forte aprovação de suas principais lideranças que o PT se prepara para enfrentar os difíceis dias em que o coro da indústria de comunicação usará o julgamento do mensalão para desgastá-lo. Conseguirá?

            Esse é o teor do artigo do Sr. Marcos Coimbra, que eu gostaria que fosse transcrito, na íntegra, pela Taquigrafia.

            Sr. Presidente, um minuto mais para encerrar.

            Faço essa leitura na sessão de hoje exatamente para reafirmar a minha posição - tenho certeza de que é também a posição da maioria dos Srs. Parlamentares - de que a política não pode ser espalhada para as pessoas como se fosse algo ruim, algo pecaminoso, algo contagioso. Pelo contrário, as coisas boas que acontecem, as transformações importantes que acontecem precisam da presença da política. Então, nós temos que valorizar a boa política.

            Essa pesquisa relatada e analisada pelo Sr. Marcos Coimbra é uma prova inequívoca de que o povo brasileiro sabe reconhecer a importância da política. Nesse aspecto, tem representado uma grande contribuição a participação do Partido dos Trabalhadores na vida institucional brasileira.

            Nesse sentido, eu cumprimento todos os dirigentes do Partido dos Trabalhadores e também o ex-Presidente Lula, que continua dando sua contribuição como Presidente de honra do Partido, e também a Presidente Dilma Rousseff, cujas medidas, na condição de Presidente, têm sido muito importantes, inclusive para fortalecer esses laços de proximidade, de fidelidade e de aproximação com o eleitorado brasileiro.

            Ao cumprimentar os dirigentes do Partido dos Trabalhadores, dirijo-me, em particular, aos dirigentes do Partido dos Trabalhadores no Acre, onde o partido tem uma participação importante. O Partido dos Trabalhadores está na sua quarta experiência de Governo no Estado do Acre. Tenho certeza de que, analisado em profundidade como o eleitor se comporta, temos muito o que conversar com o eleitorado acriano e com o eleitorado brasileiro. Tenho certeza de que o Partido dos Trabalhadores vai manter essa simpatia, essa aproximação, sempre no sentido construtivo, aos eleitores brasileiros.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SENADOR ANIBAL DINIZ EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I, § 2º, do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

- “Artigo publicado na revista Carta Capital”.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/06/2012 - Página 23061