Discurso durante a 101ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Defesa do aumento de investimentos públicos em infraestrutura, especialmente no setor de transporte rodoviário e ferroviário.

Autor
Blairo Maggi (PR - Partido Liberal/MT)
Nome completo: Blairo Borges Maggi
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • Defesa do aumento de investimentos públicos em infraestrutura, especialmente no setor de transporte rodoviário e ferroviário.
Aparteantes
Antonio Carlos Valadares, Armando Monteiro, Clésio Andrade, Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 13/06/2012 - Página 25083
Assunto
Outros > DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • REGISTRO, ENCERRAMENTO, PROJETO, CONSTRUÇÃO, TREM, SUPERIORIDADE, VELOCIDADE, LIGAÇÃO, MUNICIPIO, CAMPINAS (SP), ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), PEDIDO, ORADOR, REMANEJAMENTO, RECURSOS, AREA, RODOVIA, FERROVIA, REGIÃO CENTRO OESTE.

            O SR. BLAIRO MAGGI (Bloco/PR - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores e Senadoras, eu quero aproveitar esta oportunidade para fazer algumas colocações na área da infraestrutura, principalmente no meu Estado de Mato Grosso.

            Eu já tive várias ocasiões, várias oportunidades de vir a esta tribuna para reivindicar ao Governo Federal a criação de novos caminhos na área de infraestrutura no Estado de Mato Grosso, e quero fazer isso novamente.

            Quero, hoje, aproveitar para dar uma sugestão ao Governo Federal, à Presidente Dilma, ao Ministério dos Transportes. 

            Lembro que, um ano atrás aproximadamente, Sr. Presidente, foi aprovada aqui neste plenário uma autorização para o Governo se comprometer com R$30 bilhões para construção de uma linha que chamamos aqui, ou foi apelidada, de trem-bala, que liga Campinas/SP ao Rio de Janeiro. E esse trem-bala que foi autorizado tinha um prazo para iniciar e entrar em operação até 2014, na Copa do Mundo, mas o Governo acabou se atrapalhando e não conseguiu fazer a licitação dessa obra que todos acham importante para o desenvolvimento do Brasil. E era importante para as Olimpíadas e para a Copa.

            Mas isso já não vai ficar mais pronto para a Copa e, com toda certeza, também não ficará pronto para as Olimpíadas.

            Mas gostaria de deixar uma sugestão ao Governo, e sabemos que o Governo não tem feito grandes investimentos. Lá na BR-364, em Rondônia, está virando uma buraqueira também. E, depois, vou falar de outro trecho da 364 em Mato Grosso. Nós sabemos que o Governo tem tido problemas nos investimentos por falta de recursos. E, às vezes, tem recursos e não consegue aplicá-los, porque a guerra do papel é muito maior; demora-se muito mais hoje para vencer a guerra do papel, as licenças ambientais, os controles de TCU, CGU, MPF, MPE, TCE.

            É tanta gente cuidando de uma obra que já não se consegue mais fazer a obra sair do lugar.

            Então, temos essa dificuldade, mas sei que grandes projetos, ou outros projetos, não têm acontecido no País por falta de recursos. E eu queria aqui deixar uma sugestão ao Governo, para que pegasse a dotação dos R$30 bilhões... Se esse valor existia naquela época, ele deve existir hoje ainda, porque o aprovamos aqui.

            Aliás, não teve o meu voto naquele dia. Votei contra o projeto por entender que ele não é tão importante para a Nação e que temos coisas mais importantes para fazer na infraestrutura brasileira.

            E, neste momento, o País vive uma recessão, e vemos as contas todos os dias ficarem piores. A economia mundial derrete. A coisa está ficando complicada. Hoje, a Índia, Sr. Presidente, perdeu a condição de investimento prioritário, investment grade. Segundo a Agência Fitch, outros membros do Brics poderão perder isso também, e sabemos que a nossa economia também não anda tão bem, e perigamos inclusive perder o grau de investimento que temos hoje. Se isso acontecer, a nossa crise vai crescer mais ainda dentro do País.

            Então, qual é a sugestão dos R$30 bilhões? Ora, fazendo uma continha rápida aqui, para um país que precisa de rodovias como ninguém, que precisa de ferrovias como ninguém neste mundo, com os R$30 bilhões, Sr. Presidente Acir, nós poderíamos construir, a preços de R$4 milhões a R$4,5 milhões o quilômetro de ferrovia de bitola larga, compatível para este momento, com trens de alta velocidade e de grande carga. Nós poderíamos, no Brasil, com esse dinheiro, R$30 bilhões, se ele existe, aplicar em ferrovias e fazer 7,5 mil quilômetros de ferrovias no Brasil. Simplesmente 7,5 mil quilômetros, com R$30 bilhões.

            Se levarmos as ferrovias para Mato Grosso e Rondônia, seu Estado, nós poderemos fazer mais, porque lá as ferrovias custam R$3 milhões o quilômetro, para fazer.

            A ALL (América Latina Logística) está fazendo agora de Alto Araguaia a Rondonópolis, já parou no Itiquira, e o custo deles é de R$3 milhões o quilômetro. Então, em vez de 7,5 mil quilômetros, nós poderíamos pensar em algo quase como 10 mil quilômetros de ferrovia, se olharmos só o Centro-Oeste e Rondônia. Esses 10 mil ou 7,5 mil quilômetros poderiam ser feitos de maneira mais moderna, com uma concessão, e o Governo colocando dinheiro na frente, já que temos os R$30 bilhões. E que, com o passar do tempo, os concessionários pudessem devolver esse dinheiro para a União, que faria um grande negócio. Além de recolocar o seu dinheiro no caixa num prazo de dez, quinze anos, poderia melhorar a malha ferroviária no Centro-Oeste brasileiro, no Norte brasileiro.

            Mas, se não quiséssemos fazer as ferrovias, vamos então pensar em rodovias. Como eu disse, um país que precisa tanto de rodovias, que não tem estradas asfaltadas, que tem a sua malha rodoviária simplesmente deteriorada e que precisa fazer a duplicação das suas rodovias.

            Esses mesmos R$30 bilhões... Aliás, se a gente colocar os juros dos R$30 bilhões de um ano para cá, já serão R$33 bilhões no mínimo. Nós poderemos fazer 20 mil quilômetros de rodovias, Senador Cristovam Buarque - 20 mil quilômetros de rodovias! -, se nós fizermos a aplicação dos R$30 bilhões que foram ali colocados.

            Então, eu não consigo entender como um País que, em determinado momento, manda um projeto para o Plenário, dizendo que tem R$30 bilhões para colocar num negócio de R$58 bilhões - “a iniciativa privada vai colocar o restante, mas o meu está aqui, eu tenho” -, e o projeto não sai.

            Por que não aplicamos os recursos, então, para fazer 20 mil quilômetros de rodovias, para duplicar as rodovias brasileiras ou para fazer 7,5 mil quilômetros de ferrovias ou 10 mil quilômetros de ferrovias aqui, no Centro-Oeste brasileiro?

            Então, eu não consigo entender o que está acontecendo com o nosso País.

            Ouço o Senador Cristovam Buarque, com entusiasmo.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - Senador Blairo, o senhor está falando do Mato Grosso e está corretíssimo, mas a sua fala tem uma dimensão maior do que o seu Estado: tem uma dimensão nacional. O problema que a gente vive lá vive certamente Rondônia, Pernambuco, o Brasil inteiro, que é uma infraestrutura que não está satisfazendo o crescimento do Brasil. E é isso que me leva a insistir, muitas vezes, em que a nossa economia está bem, mas não vai bem; que ela está bem hoje, mas que não vai bem no futuro, não vou dizer quantos anos. Ela não vai bem no futuro no sentido de que há algumas amarras que nos impedem de dar um salto, como os gastos públicos muito elevados; a carga fiscal elevada; o real ainda sobrevalorado - e a gente sabe que se ele se desvalorizar mais, gera-se pressão inflacionária -; a taxa de juros; a incapacidade de inovação que o Brasil tem no setor industrial, embora tenha tido uma inovação - e o senhor é um dos que têm a sensibilidade para usar isso no caso da agricultura, do grande negócio da agricultura, da produção de soja e de outras sementes -; e a infraestrutura. Quanto à infraestrutura energética, até que nós temos visto um certo esforço do Governo, com Belo Monte e algumas pequenas hidrelétricas. Agora, quanto à infraestrutura do transporte, nós precisamos dar um salto, e aí falo na parte ferroviária, que, embora hoje esteja melhor do que há 10 anos nos projetos, ainda não é suficiente. O senhor traz um gargalo para a economia brasileira continuar crescendo de maneira sustentável - nem falo sustentável do ponto de vista ecológico; falo sustentável do ponto de vista de uma taxa satisfatória. A infraestrutura é preciso trabalharmos. E a gente vê que o Governo prefere pacotes a uma política de investimentos na infraestrutura. O pacote resolve a demanda no curto prazo, como vimos no caso do automóvel, com a facilidade do financiamento e com a redução de impostos. Isso ajuda no imediato, mas não ajuda no longo prazo. No longo prazo, ajudariam grandes investimentos na infraestrutura, além de diversos outros grandes investimentos. O Governo está trabalhando mais na ideia do consumo do que na do investimento. Os próprios gastos públicos são feitos para induzir o consumo através da folha de pagamento, através de medidas sobre a política de juros, inclusive com a redução, o que temos de elogiar. Mas não vemos uma política clara de investimentos. O PAC, que era a grande esperança, não está sendo realizado na dimensão que se esperava. Por isso, o seu discurso é tão oportuno não apenas para o seu Estado, mas para todo o Brasil.

            O SR. BLAIRO MAGGI (Bloco/PR - MT) - Muito obrigado, Senador Cristovam Buarque. Tenho acompanhado seus pronunciamentos e a forma como V. Exª tem chamado a atenção do Governo para o fato de que o Brasil está bem, mas não vai bem. V. Exª tem toda a razão.

            Quando o Governo estimula o crescimento ou pensa estimular o crescimento pelo consumo, o Governo não está no caminho correto. O pacote que foi feito em relação aos automóveis é, para mim, equivocado, porque é um pacote de tiro curto e de grande monta. O que vai acontecer? As fábricas de automóveis estão com os pátios abarrotados. Esse pacote que foi feito vai limpar os pátios. Mas, para quem já está desconfiado da economia, isso não vai fazer com que a produção acelere novamente. Portanto, daqui a seis meses ou menos, quando acabar esse incentivo, os pátios não estarão mais cheios de automóveis, e as fábricas não produzirão novos automóveis.

            Então, o acordo que foi feito é um acordo - digo isto com toda a tranquilidade - da base eleitoral, porque não se dispensam os empregados das fábricas de automóveis neste momento. As eleições vêm, e, depois, a gente vai pensar no que vai fazer.

            Senador Cristovam, V. Exª tem toda a razão. Defendo a tese de que o crescimento e o consumo devem vir pelo investimento na infraestrutura. Se, hoje, o Governo lançasse um pacote de 20 mil quilômetros de rodovias - como estou dizendo, com os R$30 bilhões do trem-bala, daria para fazer isso - ou de 7,5 mil quilômetros de ferrovia, veríamos a economia deste País crescer rapidamente, porque ela se esparramaria por todos os Estados da Federação. Defendo aqui a infraestrutura no Mato Grosso, no Centro-Oeste, em Rondônia, mas sei que essa infraestrutura tem de ser feita em todos os Estados da Federação. Estamos caindo aos pedaços com a nossa infraestrutura. No momento em que colocarmos R$30 bilhões nessas obras de infraestrutura, aí, sim, haverá um crescimento sustentado no País, em que quem vai a uma loja não o faz pelo incentivo fiscal, mas pelo fato de que tem recurso no bolso e de que tem a garantia do seu emprego no mês que vem, porque a obra é de um ano, dois anos, três anos. É obra sustentada, são obras de longo prazo.

            Ontem, num pronunciamento que fiz aqui, Senador Monteiro e Senador Clésio, que também está aqui - somos todos dessa área -, eu dizia que a primeira coisa que o governo americano fez em 2008, quando veio a crise, foi dizer: “Vou fazer um pacote, mas um pacote de infraestrutura”. Quem anda por aquele país tem a impressão de que não há estrada para ser construída, Senador Acir. Parece que não há estrada a ser construída, porque há uma estrada aqui, outra a quatro quilômetros, outra a seis quilômetros, uma ferrovia ali, uma hidrovia acolá. Mas o Presidente americano falou assim: “Vou recuperar a economia do país na base do investimento na infraestrutura. Vou construir estradas, vou reformar estradas. Vou construir ferrovias e reformar ferrovias. Vou construir pontes e reformar pontes. Vou construir escolas e informatizar as escolas”. Esse é o crescimento que temos de defender no Brasil, não o crescimento do consumo do automóvel, que vai acabar daqui a três meses. Não tem sustentação esse tipo de política!

            Não pode o Governo dizer o seguinte: “Senador Blairo, o senhor está enganado, e não posso fazer o programa de 20 mil quilômetros de rodovias ou de 7,5 mil quilômetros de ferrovia, porque não tenho dinheiro”. Tem dinheiro, sim! Este Plenário, como eu disse, aprovou aqui R$30 bilhões há um ano para fazer o trem-bala. O trem-bala não saiu. Não saiu o tiro, e aí há dinheiro sobrando para fazer os investimentos.

            Aqui, estou reivindicando, então, que o Governo dê prioridade aos projetos de infraestrutura. O Governo precisa conversar com os órgãos de controle e de fiscalização neste País. Nós estamos travados. Nós não conseguimos mais fazer obra alguma. É tanto documento, é tanta exigência, que o segundo documento não sai porque não há o primeiro documento, e o primeiro não sai porque não há o segundo. Os órgãos de controle e de fiscalização não se entendem mais.

            A própria CGU, órgão de controle interno do Governo, tem de alertar o Governo, dizendo que determinado caminho é mais complicado e que é preciso criar outro caminho. Não! A CGU virou mais um Ministério Público, a CGU virou mais uma Polícia Federal, porque age como a Polícia Federal. Em vez de alertar o Governo, estão prendendo aqueles que estão tentando trabalhar. Estão errados? Deixa a Polícia Federal ir para cima deles. Ninguém está defendendo a impunidade! Mas o País não sai mais do lugar, todo mundo tem medo de assinar qualquer documento neste País.

            Então, precisamos ter coragem de debater, precisamos mudar a nossa Lei de Licitações, a Lei nº 8.666. Temos de fazer esse enfrentamento, dizendo claramente para o Governo que a saída para o nosso País, que a alternativa para o nosso País é a infraestrutura. Não temos alternativa, quer seja em Pernambuco, quer seja em Minas Gerais, quer seja em Mato Grosso, em Rondônia, no Rio Grande do Sul, no Distrito Federal ou em qualquer outro lugar. É a infraestrutura que faz um país, é isso que faz um povo rico, é isso que faz um povo desenvolvido.

            O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco/PSB - SE) - Senador, V. Exª me concede um aparte?

            O SR. BLAIRO MAGGI (Bloco/PR - MT) - Em instantes, eu lhe concedo o aparte.

            Vou dizer mais: no ano de 2010, quando a Presidente Dilma foi eleita, a Rede Globo fez uma pesquisa que procurou elencar quais eram os itens mais importantes para a população brasileira, e apenas 2% da população achavam que a infraestrutura era uma coisa importante para o País. Então, vejam bem: aqueles que têm a obrigação de fazer a infraestrutura, que é o Executivo, enfrentam as dificuldades naturais, as dificuldades da legislação, e não têm o apoio do povo, porque o povo acha que isso não é importante. Mas, com o crescimento econômico que o País teve, com a inclusão de mais pessoas no mercado, com a venda de automóveis que foram colocados na rua, os milhões e milhões, esses mesmos que não davam importância para a infraestrutura, hoje, não conseguem sair de casa, porque não há rua, não há viaduto, não há túnel. A estrada é toda engarrafada. Eles não têm como embarcar num avião porque os aeroportos não funcionam.

            Então, minha esperança, como político e brasileiro, é a de que, nas próximas eleições, quando a mesma pesquisa for feita, esse percentual de 2% vá para 30% ou 40%, é a de que o povo passe a acreditar que infraestrutura é algo necessário. Infelizmente, o povo brasileiro que levanta de madrugada, pega um ônibus lotado e leva de duas a três horas para chegar ao seu emprego não percebe que está dentro de um ônibus apinhado de gente e que leva de duas a três horas para chegar ao emprego porque o País não se preocupou com a infraestrutura ou porque o País não teve dinheiro e não priorizou a infraestrutura.

            Este é o meu desejo: que possamos ver mudanças no País.

            Ouço o Senador Antonio Carlos Valadares e, depois, o Senador Monteiro e o Senador Clésio também, com todo prazer.

            O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco/PSB - SE) - O discurso de V. Exª, tenho a maior certeza, está em harmonia e em inteira afinidade com o pensamento do Governo. Sou o Relator da LDO e pude verificar pessoalmente que o Governo colocou como prioridade número um as obras do PAC e também as ações voltadas para o Brasil Sem Miséria. De um lado, priorizou a infraestrutura, visando a preparar o País para o enfrentamento das grandes questões abordadas por V. Exª; de outro lado, priorizou o apoio social, de que se deve revestir um país em crescimento, como o Brasil, para não deixar ninguém passar fome e dificuldades, inclusive na escola, no posto de saúde, em tudo aquilo que o Governo é obrigado a oferecer à população. Muitas obras de infraestrutura, V. Exª foi preciso ao dizer, são procrastinadas não pela vontade do Governo, mas por uma legislação muito apertada, por uma legislação que concede um sem-número de recursos a empresas que, vez por outra, se consideram prejudicadas na licitação. Mas o Governo é obrigado a atender não só do ponto de vista administrativo. E, quando do ponto de vista administrativo não se conformam, entram na Justiça! E uma obra que deveria começar em quatro meses começa em um ano. Depois, as obras paradas - muitas delas são determinadas pelo Tribunal de Contas com o apoio do Congresso Nacional - também contribuem para o retardamento das obras de infraestrutura. Mas algo tem de ser feito do ponto de vista da mudança na legislação, como também da vontade de todos os governos, porque essa não é uma obra de um governo só. É uma obra do Governo Federal, do Governo Estadual e dos Governos Municipais. Logicamente, temos de entender que, a esta altura dos acontecimentos, os Municípios - não digo tanto os Estados - estão em situação dificílima, sem as mínimas condições de fazer obras na parte de infraestrutura. Sem querer tomar mais o tempo de V. Exª, já que outros Senadores querem aparteá-lo, quero concordar com V. Exª que a prioridade deve ser a infraestrutura, com estradas, com linhas férreas. O Brasil abandonou, no passado, a questão ferroviária, mas esta está voltando a ser prioridade, a ter uma importância muito grande não só na sua região, como no Norte e no Nordeste do Brasil. Enfim, todas as obras de infraestrutura têm de ser garantidas, porque os recursos existem. Mas os meios para a aplicação desses recursos é que estão sendo bloqueados muitas vezes pela própria legislação, não pela vontade própria do Governo. Agradeço a V. Exª e o parabenizo, concordando in totum com seu pronunciamento, no sentido de que infraestrutura deve ser preocupação fundamental de todos os governos.

            O SR. BLAIRO MAGGI (Bloco/PR - MT) - Muito obrigado, Senador Valadares. V. Exª é o Relator da LDO, e podemos ajudar muito o Governo. Tenho reclamado, por exemplo, do TCU, da CGU. E todos os órgãos ficam em cima. Não sei se V. Exª sabe exatamente como funciona a fiscalização de uma obra. Fui surpreendido quando cheguei ao Governo do Estado de Mato Grosso.

            O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco/PSB - SE) - Fui governador e prefeito. Sei o que representa isso.

            O SR. BLAIRO MAGGI (Bloco/PR - MT) - Então, V. Exª sabe melhor que eu. Mas, talvez, o público que nos está ouvindo não entenda isso.

            Por exemplo, quando se contrata uma rodovia por R$1,5 milhão o quilômetro de CBUQ, com oito centímetros, para mim e para quem está em casa é claro que se faz a rodovia e que são recebidos R$1,5 milhão por ter feito o quilômetro daquela rodovia. Mas não é assim que funciona.

            Aí chega o TCU e vai fiscalizar de onde veio o produto betuminoso. Se no projeto está escrito que ele deveria ir de São Paulo para Mato Grosso e se, de repente, por questões comerciais, o empreiteiro resolve buscá-lo em Curitiba, faz-se a conta de que há 100 quilômetros de distância a menos, e se glosa aquela despesa. Em muitas oportunidades, abrem-se procedimentos contra a empreiteira por isso. Talvez, na LDO, Senador, pudéssemos dar uma nova dimensão a isso.

            O que nos interessa é a obra pronta. Não me interessa se o cascalho veio de 10 quilômetros ou de 20 quilômetros de distância. Quem fez o projeto, quem ganhou a obra tem de saber onde vai buscar isso. Não pode o fiscal do TCU fiscalizar cada item, dizendo: “Olha, se o óleo diesel está a R$2,00 e foi pago por R$1,95, é preciso glosar a diferença”.

            Então, criou-se uma condição de fiscalização extremamente desvantajosa para quem está construindo as obras, e, por isso, as coisas não andam. Talvez, pudéssemos discutir na LDO se o caminho é o de flexibilizar. Não se trata de dar margem para alguém fazer rolo, mas de se dar liberdade para que ele possa ser mais ágil, mais rápido, facilitando a conclusão das obras.

            Ouço o Senador Armando Monteiro com o maior prazer.

            O Sr. Armando Monteiro (Bloco/PTB - PE) - Senador Blairo Maggi, eu queria me congratular com V. Exª, porque esse pronunciamento de V. Exª nesta noite é de grande importância. V. Exª fala com a autoridade de quem, quando era Governador do seu Estado, realizou o mais amplo e arrojado plano viário de que aquele Estado tem notícia, graças a um modelo inteligente de Parceria Público-Privada. V. Exª sabe o que isso produziu no seu Estado, o resultado disso: eficiência, ganhos de produtividade, redução de fretes etc. Então, com autoridade, V. Exª adverte que, hoje, o Brasil precisa focar o investimento, pois o Brasil criou certa propensão a não investir, o que se dá pelas travas, pela burocracia, pelas dificuldades, por uma legislação que está flagrantemente desatualizada, como V. Exª lembra. Então, uma das maiores prioridades deste País é o investimento em infraestrutura, e é isso que produz o impacto sistêmico na economia e que melhora a produtividade global. Mas, infelizmente, o receituário do Brasil tem se voltado para medidas pontuais de desoneração e de estímulo ao consumo que não resolvem efetivamente os problemas do País, que precisa priorizar o investimento especialmente em infraestrutura. Por isso, congratulo-me com V. Exª e quero dizer que me associo e me integro a essa bancada da infraestrutura, se é possível assim dizer. Vamos construir nesta Casa uma grande frente pró-investimento no nosso País. Não adianta ficar apenas nesse modelo que se está esgotando de turbinar o consumo artificialmente, porque isso não nos vai conduzir à superação dos nossos problemas estruturais. Congratulo-me com V. Exª.

            O SR. BLAIRO MAGGI (Bloco/PR - MT) - Muito obrigado, Senador Monteiro. Quero agradecer a sua participação. É um aparte de alguém que já foi Presidente da Confederação Nacional da Indústria e que conhece profundamente a questão da competitividade brasileira, o quanto ela sofre pela falta de infraestrutura, pela deficiente infraestrutura que temos.

            Sr. Presidente, se V. Exª me permitisse, eu gostaria ainda de ouvir o Senador Clésio Andrade, que também é Presidente da Confederação Nacional dos Transportes. S. Exª, com certeza, tem “apanhado” muito dos seus associados pelos buracos e pela falta de infraestrutura no País.

            O Sr. Clésio Andrade (Bloco/PMDB - MG) - Quero parabenizá-lo, Senador Blairo. V. Exª é um grande produtor rural e um profundo conhecedor de logística e discorreu muito bem sobre a importância da infraestrutura de transportes no País. Falou também dos impactos positivos que pode trazer essa infraestrutura. Hoje, o Brasil precisa investir R$450 bilhões em infraestrutura de transportes. Só no sistema rodoviário brasileiro, precisamos investir R$140 bilhões. Precisamos investir mais de R$50 bilhões nos portos e, no sistema aquaviário, mais de R$80 milhões. Precisamos acabar de modernizar nossos portos, que ainda são muito atrasados. Especificamente para o sistema rodoviário brasileiro o que é importante? Se investirmos o valor equivalente ao que se vai gastar com o trem-bala, poderemos gerar dois milhões de empregos. São dois milhões de empregos de qualificação rápida. Um operador de máquina escavadeira, por exemplo, é treinado em três meses. Consegue-se formar um morador do interior como um operador de retroescavadeira, como um operador de máquina de asfalto. São operações mais simples que não demandam carteira de motorista, pois são feitas em local cercado, em acampamentos. Isso vai gerar o quê? Esses dois milhões de trabalhadores virarão potenciais compradores desses automóveis que V. Exª acabou de mencionar e que estão no esgotamento. Ou seja, a desoneração tributária está chegando a um limite. Não se pode mais trabalhar o País só com desoneração tributária. Temos, sim, de reduzir os impostos, sejam equivalentes ou não. É preciso fazer investimentos pesados e fortes em infraestrutura durante os próximos cinco anos, de R$70 bilhões, de R$80 bilhões, de R$90 bilhões, que vão gerar esses empregos. São empregos de fácil qualificação. Pode-se qualificar a mão de obra, profissionais sem qualificação, muito rapidamente, pela forma como isso é feito. Os nossos engenheiros, os nossos técnicos são mais qualificados e vão demandar uma necessidade de formação maior. Mas todo aquele pessoal que vai trabalhar na operação vai ganhar bem, vai ser qualificado. Eles vão virar operadores de máquinas e vão ser potenciais compradores desses automóveis, o que vai gerar um processo produtivo. Aí sim, o consumo sustenta esse aumento dos investimentos da infraestrutura, além de melhorar a redução do custo do transporte, melhorar a circulação das mercadorias e a circulação das pessoas. Além disso, também vamos reduzir o número de acidentes e de mortes em nossas rodovias. A cada cinco dias, morre nas rodovias brasileiras o equivalente à queda de um Boeing. É como se caísse um Boeing nos asfaltos brasileiros a cada cinco dias. Quando acontece um acidente com um avião, nós todos ficamos comovidos, com razão. Morreram ali duzentas pessoas! Mas, a cada cinco dias, está caindo um Boeing numa rodovia brasileira. Esse é o número de pessoas que estão morrendo. Resolveríamos fortemente essa questão, com a redução de 70% a 80% dos acidentes e das mortes no País. São 9,5 mil mortes por ano e 285 mil acidentes por ano no Brasil. Então, por aí, vê-se a importância social do investimento pesado em infraestrutura, a importância de geração sequencial da nossa economia, através até do aumento do consumo de automóveis populares, da melhoria do consumo das pessoas e de todo esse processo que V. Exª destacou muito bem. Parabenizo V. Exª por esse pronunciamento e assino embaixo de todo ele.

            O SR. BLAIRO MAGGI (Bloco/PR - MT) - Muito obrigado, Senador Clésio.

            Sr. Presidente, eu poderia ficar aqui por mais uma hora. Eu teria assunto para mais de uma hora, ao tratar sobre esse tema da infraestrutura, mas, no próximo capítulo, vou conversar sobre os efeitos da parada, pelo Dnit e pelo Ministério dos Transportes, das obras, há um ano, porque foi diminuído o investimento. As consequências são danosas não sobre o transporte, mas sobre a indústria de máquinas pesadas, pois os pátios estão abarrotados, e não há onde se colocar mais nada.

            Para finalizar, Sr. Presidente, permita-me - tenho dois minutos com a prorrogação - falar da BR-364, que liga Rondonópolis a Cuiabá.

            Ontem, o ex-Prefeito da cidade de Rondonópolis, meu amigo Adilton Sachetti, ligou-me. Ontem, ele fez a viagem e falou: “Senador, toma providência, porque a estrada está acabando. No Mato Grosso, diz-se que está virando ‘couro de jacaré’”. Há trepidação, e vão soltando os pedaços da estrada. E é uma rodovia em que passam doze mil carretas por dia, Senador Clésio Andrade. Trens de caminhão circulam um atrás do outro.

            Então, eu queria aqui chamar a atenção do General Fraxe e do nosso Ministro Paulo Sérgio, que esteve em Mato Grosso e que se comprometeu a, no mês de junho, lançar a licitação da duplicação da BR-364, que liga Cuiabá a Rondonópolis. Terá de fazer uma ação emergencial, pois, caso contrário, teremos de transitar na estrada de chão, nos próximos meses, para tirar de lá 38 milhões de toneladas de grãos, que é a maior produção agrícola deste País.

            Sr. Presidente, muito obrigado. Eu sei que V. Exª me concedeu várias prorrogações.

            Quero agradecer a cada um dos Senadores seus apartes, que foram importantes para minhas ponderações.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/06/2012 - Página 25083