Discurso durante a 103ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Decepção pelo adiamento de convocações no âmbito da CPMI do “caso Cachoeira”; e outros assuntos.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO.:
  • Decepção pelo adiamento de convocações no âmbito da CPMI do “caso Cachoeira”; e outros assuntos.
Publicação
Publicação no DSF de 15/06/2012 - Página 25866
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO.
Indexação
  • CRITICA, ATUAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, MOTIVO, ADIAMENTO, CONVOCAÇÃO, DEPOIMENTO, EX-DIRETOR, DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRA-ESTRUTURA DOS TRANSPORTES (DNIT), FATO, INICIATIVA, CRIAÇÃO, OBSTACULO, APURAÇÃO, INVESTIGAÇÃO, DENUNCIA, CORRUPÇÃO.
  • CRITICA, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, MOTIVO, AUSENCIA, INTERVENÇÃO, CONTA BANCARIA, PRESIDENTE, EMPRESA DE ENGENHARIA E CONSTRUÇÃO, REU, PROCESSO, CORRUPÇÃO.
  • SOLICITAÇÃO, DESTINAÇÃO, RELATOR, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, ESCLARECIMENTOS, RELAÇÃO, ADIAMENTO, CONVOCAÇÃO, DEPOIMENTO, ENGENHEIRO, PROPRIETARIO, EMPRESA, CONSTRUÇÃO CIVIL, EX-DIRETOR, DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRA-ESTRUTURA DOS TRANSPORTES (DNIT).

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, se antiguidade tivesse peso, V. Exª já devia estar nessa Presidência há muito tempo. Durante muito tempo, V. Exª era sozinho no PT aqui. Aliás, diga-se de passagem, na minha opinião, V. Exª, sozinho na bancada do PT, dava muito mais trabalho do que toda a bancada do PT hoje, que usa um discurso muito bem diferente do de V. Exª.

            Aliás, V. Exª e eu não fomos indicados para a CPI. Eu sou capaz de desconfiar que seja mais ou menos pelo mesmo motivo. O comando do PMDB, no meu caso, acha que já estou velho, superado, não reúno as condições de ética, as condições da modernidade que representa o comando do PMDB; então, não entro. E V. Exª, com toda a sua experiência, também não está lá, não sei por que motivo, mas deve ser mais ou menos igual.

            Fizemos parte de comissões importantes no passado, mas eu tenho comparecido, tenho comparecido porque acho ser obrigação minha estar ali, como cidadão, como Senador, e tenho tentado ajudar, colaborar com o Presidente, pelo qual tenho muito respeito, pelo Relator e pelos membros da Comissão. Ainda bem que o senhor não apareceu lá hoje. Hoje, foi um dia muito triste, muito triste, e não precisava ser um dia tão triste como foi.

            O Sr. Pagot, um homem controvertido, que eu não conhecia pessoalmente, dá entrevista na revista IstoÉ se colocando à disposição de vir falar na Comissão. Eu, que podia ter pegado a entrevista e solicitar que ele fosse convidado, telefonei para o Sr. Pagot e disso: Olha, Sr. Pagot, vi a sua entrevista assim, assim, assim e estou falando com o senhor porque queria saber o seu pensamento. A primeira coisa que ele fez questão de dizer com relação à revista e entrevista é que não aceitava - e estava falando com a direção da revista - porque em nenhum momento ele fez aquelas declarações contra a Comissão: “Quero falar, tenho muita coisa para falar, mas tenho certeza de que não vão me convocar porque têm medo de me convocar.” Ele fez questão de dizer e eu comuniquei à Comissão que não era absolutamente aquilo, não era exato, que não era nesse sentido que ele queria vir. Ele fez questão de dizer a mim - e eu disse na Comissão - que ele também não era uma bomba atômica que podia explodir e que todo mundo estava assustado quanto ao que ele ia falar ou deixar de falar. Ele não vinha com outra intenção senão a de analisar o debate.

            O Dnit é o órgão que tem mais dinheiro no governo, que mais gasta e ele está a par de analisar, não no sentido apenas de analisar as coisas como eram, mas no sentido de ajudar em termos de futuro.

            Ontem, comuniquei à Comissão e hoje a Comissão se reuniu. Dois requerimentos: convocação do Sr. Pagot, já que ele estava se oferecendo; e a convocação do Sr. Cavendish, da empresa que o Governo veio considerar como uma empresa inidônea. A empresa foi considerada inidônea, já foi aprovada abertura das contas da empresa Delta e havia um requerimento convocando o Sr. Cavendish. Para surpresa, ambos os requerimentos foram rejeitados. Ambos os requerimentos foram rejeitados!

            Em compensação, foi aprovado o requerimento para vir a esposa do Sr. Cachoeira. Pegou moda! V. Exªs lembram que a CPI do Impeachment era a esposa do Sr. Pedro Collor, D. Thereza, uma senhora muito bonita, que realmente empolgou a Comissão; mas não empolgou tanto a tempo de nós, naquela época, a convocarmos para qualquer coisa. Pois agora a esposa do Sr. Cachoeira é convocada. Aliás, a notícia não diz por que ela é convocada nem para que é convocada.

            Agora, o Sr. Pagot e o Sr. Cavendish não são convocados. O requerimento era para convocar, para hoje se fazer uma convocação. Aí o Relator disse o seguinte: “Não, acho que poderá, que deverá ser convocado, mas em uma outra oportunidade. Agora não é a oportunidade.” Isso com relação ao Sr. Pagot e ao Sr. Cavendish. Falei: tudo bem. Então, vamos fazer o seguinte: convocamos o Sr. Pagot e convocamos o Sr. Cavendish, mas não para amanhã, para depois de amanhã. E fica nas mãos do Relator dizer qual será a época e a oportunidade em que eles deverão vir depor. Essa seria uma decisão racional, lógica. Nenhum dos dois lados ganhava e nenhum dos dois lados perdia. Não seria uma decisão política no sentido de ser contra ou a favor, mas era, repito, uma decisão racional. Fui, inclusive, ao Relator, pessoalmente, dizer: olha, Sr. Relator, acho que a decisão é essa. Aprovamos o requerimento de convocação do Sr. Pagot, mas você fica com a responsabilidade de dizer a época que quer que ele venha, quando ele deve vir. Não aceitaram. E o requerimento de convocação do Sr. Pagot foi rejeitado e o requerimento de convocação do Sr. Cavendish foi rejeitado. Foi uma pena.

            O ilustre Deputado Vaccarezza fez um discurso muito duro contra a convocação. Duro! Contra a convocação! Eu gosto do Deputado Vaccarezza, tenho muito respeito por ele, tanto que disse pessoalmente a ele: olha, Deputado, o senhor não calcula a infelicidade do pronunciamento que o senhor está fazendo agora.

            Nós estamos vivendo na Comissão, neste momento, um momento muito ruim na vida do PT. Talvez o PT marque essa data na sua história. Foi lá, naquele dia 14 de junho, na reunião da CPI, que o PT realmente mudou - posição que ele nunca tomaria. Um partido como o PT, com a história, com a biografia do PT, votar contra a vinda do Sr. Pagot e do Sr. Cavendish? O Sr. Cavedish é aquele que disse, numa entrevista, que ele faz o que quer, convoca o que quer, compra quem quer. Por R$7 milhões, ele pega o Senador que quiser. Já lhe ofereceu, Senador? A mim, não. Por R$30 milhões, ele aprova projeto da bandalheira que ele quiser. Não acharam esse motivo para vir.

            Então, dizia eu ao Vaccarezza, ao Deputado: este dia vai ficar marcado, porque uma coisa é o PT chegar no Governo e ser diferente do que era na oposição. O partido do Governo é o partido do Governo. Às vezes tem que engolir sapo. Uma coisa é fazer um discurso de oposição, duro, radical, violento, como o PT fazia, e outra coisa é estar no Governo. Uma coisa é estar na oposição, ver os trabalhadores sem terra reivindicarem terra, fazerem invasão e o PT vir e cobrar: Tem que dar terra! Que barbaridade! E outra coisa é o PT estar no Governo e o juiz mandar tirarem os trabalhadores da terra e ele ter que fazer alguma coisa.

            Isso tudo é compreensível. Mas uma posição como essa, do Sr. Pagot se oferecer para depor e dizer que tem muita coisa para contar... Reparem! Então, não é uma testemunha como o Cachoeira que vem e não diz nada e ganha um habeas corpus do Supremo para não falar, para não abrir a boca. O Sr. Pagot quer vir, que quer falar...mas não querem que ele fale. E a boataria é que, se vier o Pagot e se vier o Cavendish, muitos de nós podem aparecer aí com o nome envolvido em não sei o quê.

            Aliás, sobre isso o Miro fez um requerimento muito duro.

            O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco/PT - SP) - Permita-me, Senador Pedro Simon, queria anunciar que, ouvindo o seu pronunciamento estão os alunos do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal de Uberlândia, que estão aqui aprendendo muito com V. Exª, um dos Senadores de história mais brilhante e que tem dignificado o Senado Federal, do PMDB do Rio Grande do Sul.

            Sejam bem-vindos todos aqui.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Em assuntos internacionais os senhores têm muito a aprender mesmo.

            O Brasil, infelizmente, está no topo da corrupção não punida. O mal no Brasil não é que haja mais corrupção do que qualquer outro país do mundo. É que em qualquer outro país do mundo civilizado, quem comete uma bandalheira é processado e vai para a cadeia, seja rico, seja pobre. Aqui pobre e ladrão de galinha não precisa nem de justiça, vai para a cadeia direto. Agora, quem é rico e tem dinheiro para pagar um bom advogado. Esse que está aí pegou o ex-Ministro da Justiça... é verdade que pagou R$15 milhões mas está ganhando tudo.

            Muito obrigado.

            O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco/PT - SP) - Eu recomendo, se me permite, a vocês que possam ouvir até que ele complete a análise que está fazendo da Comissão Parlamentar de Inquérito. Sugiro ao professor ou à diretora que os está orientando que, agora, já que ouviram a primeira parte, que completem. Ouçam o pronunciamento completo, porque vão gostar. Não é todo dia que há aqui um pronunciamento com o conteúdo de tanta experiência e importante para o Brasil.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Mas, Sr. Presidente, o Deputado Miro Teixeira entrou com um requerimento hoje na Comissão: “Sr. Presidente, requeiro a esta Presidência que seja solicitado às Mesas do Senado Federal e da Câmara dos Deputados informações sobre a existência de missão especial de Senadores e Deputados a países africanos, em especial a Uganda.”

            Ele entra com esse requerimento dizendo que teria havido um almoço em Paris com o Sr. Cavendish e alguns parlamentares. E ele levanta interrogações de suspeições exatamente sobre essa matéria. Repare V. Exª que essa vai ser matéria de manchete amanhã, e a resposta é que o Senado não quis convocar.

            Mas eu dizia ao ilustre líder Vacarezza: esse teu discurso de hoje, Vacarezza, vai entrar para a tua biografia, vai te acompanhar para o resto da tua vida. Amanhã, tu vais ser candidato a governador de São Paulo, ou a Ministro, a não sei o quê, e esse discurso vai te acompanhar. Porque esse discurso vai marcar época, esse discurso vai ser sempre aquele: “Foi naquele dia, no dia 14, que o PT rasgou tudo que é compromisso com a sua biografia e convocou a esposa do Cachoeira e não convocou o Sr. Pagot e o Sr. Cavendish”.

            E olha, Vacarezza, na hora de ser líder do Governo, a Presidente te veta; na hora de ser relator da comissão, a Presidente te veta, e, na hora de fazer um discurso maluco que nem esse és tu que vais fazer? Por que tu? Vota como todo o mundo votou. Agora, fazer esse teu discurso, eu não consigo entender! Não consigo entender onde é que tu estás para fazer... A responsabilidade vai ser tua!

            Eu, aqui da tribuna, volto a dizer e pedir aos membros da Comissão, ao Relator e ao Presidente... Eu acharia até que o Sr. Presidente e o Sr. Relator poderiam dar uma notícia ainda hoje à opinião pública para que saísse amanhã junto com a notícia da negativa. Eu falei com o Líder do Governo e o Senador me disse que a bancada estava muito magoada com o requerimento pedindo para convocar a Presidente da República. Eu respondi a ele que estava preparado para encaminhar protestando contra o requerimento. Eu achei que era uma provocação, nós não temos competência para isso; não há argumento nesse sentido, apenas no sentido de tentar denegrir a imagem da Presidente na hora em que vêm ao Brasil cerca de cento e tantos Ministros e Presidentes da República e reis de tudo quanto é lugar, uma manchete que nem essa! Foi unanimidade a rejeição desse requerimento. Todos! Inclusive, o autor ficou todo encabulado e, a pedido de todos, o Presidente inclusive não pôs em votação, retirou por conta própria: “Não aceito. Recuso a apreciação deste requerimento, porque não é justo.”

            Então, por que nós não fizemos a votação normal? A votação para a convocação do Sr. Pagot e do Sr. Cavendish. O Relator disse que mais tarde ele vai decidir a época e a oportunidade. Então, por que não votamos a favor da convocação com um adendo que não é para amanhã? O Relator vai discutir a época em que ele deverá vir. Essa seria a resposta normal, essa seria uma decisão política, tática, inteligente e que não teria o desgaste que vai ter isso que vai acontecer. Se convocasse o Sr. Pagot, se convocasse o Sr. Cavendish hoje! Mas não para amanhã, nem para depois de amanhã. Ficava o Relator com o que ele está dizendo, ou seja, fazer a convocação quando achar o momento oportuno.

            Faço um apelo ainda agora. Há um movimento - o Deputado Miro está à sua frente - no sentido de convidarmos o Sr. Pagot para vir depor perante o grupo da Comissão Parlamentar de Inquérito e outros parlamentares que queiram assistir ao depoimento.

            É duro, não é, Sr. Presidente? De repente, numa sala do Senado, vamos reunir um grupo de Senadores e de Deputados e dizer: “Esses aceitaram fazer a reunião e vão ouvir o Sr. Pagot”. Como é que fica a Comissão Parlamentar de Inquérito? Como é que vai ficar o Congresso Nacional?

            O Miro, inclusive, convidou-me para presidir a reunião, e eu disse que dela aceitava participar, mas que não aceitava presidi-la porque era uma afronta à direção do meu Partido. Mas isso é algo que pode acontecer.

            Por isso, acho que o Presidente e o Relator da Comissão devem fazer hoje uma manifestação à imprensa. Na verdade, na verdade, nós vamos convocar o Sr. Pagot e o Sr. Cavendish logo ali, quando se achar a oportunidade necessária. Acho isso importante.

            Acho que o que o Sr. Miro falou... E, cá entre nós, o Deputado Miro Teixeira é o que conheço de melhor, e V. Exª sabe disso, na história da Câmara dos Deputados. São dez mandatos de grande competência, de grande capacidade! Em termos de comissão de inquérito, de investigação, ele é um profissional fora de série! É fora de série!

            Na CPI do impeachment, lá pelas tantas, o Dr. Brizola estava meio assim... Tática e estrategicamente para ele, não era interessante o Collor sair, porque, saindo o Collor, mudava o panorama, e, ficando desmoralizado o Collor, melhor ficava a situação para ele. O futuro provou que eu estava certo: a cassação do Collor terminou complicando a vida do Brizola como candidato à presidência. E, na hora da votação, ele falou para o Miro que o Miro não podia votar, mas o Miro disse: “Eu vou votar. Eu lhe obedeço, o senhor é o meu chefe, mas eu vou votar, porque não há como não votar”. E votou. A única concessão que se fez, a pedido de Brizola, foi a de se acrescentar no relatório, quando se falasse em corrupção, o nome do Quércia. Foi uma exigência que o Dr. Brizola fez, para, de certa forma, não mostrar que ele abria mão de tudo. E aí o Miro votou, e foi aprovado o relatório da maneira que deveria ser.

            Mas é o Miro, com essa responsabilidade e com essa seriedade que tem, que fala dessa reunião, de cuja existência eu nem sabia. Quando ele falou isso no plenário da Comissão, pensei que era aquele célebre jantar, que não se deu em Paris, mas em Mônaco. A imprensa toda publicou as fotografias. Mas não se tratava daquele jantar. Era um almoço que teria sido feito em Paris com o Sr. Cavendish, sem o Governador do Rio, e com um grupo de Senadores e Deputados. O que é? Não sei. Mas ele fez a afirmação e, mais do que isso, entrou com um requerimento ao Presidente do Congresso e ao Presidente da Câmara, solicitando os nomes de certas pessoas que teriam viajado não sei para onde e participado dessa reunião.

            Então, numa hora rejeitam o Pagot, que quer vir, que se oferece para vir. Outra hora, rejeitam o Cavendish, que diz que, com R$7 milhões, ele compra o Deputado e o Senador que ele quiser e que, com vinte, ele aprova o que ele quiser.

            Em outra hora, convocam a esposa do Sr. Cachoeira, a musa da CPI, segundo diz a imprensa. Para quê? Eu também não sei. É a única das convocadas da qual aparece uma fotografia enorme, bonita. E até acho que seria interessante conversar com ela, mesmo que ela nada tenha a dizer. Olhar mulher bonita não é pecado. Mas é só para isso também, porque outra razão não vejo.

            E, lá pelas tantas, rejeitam o Sr. Pagot e rejeitam o Sr. Cavendish.

            O senhor sabe a luta que fizemos nesta Casa para criarmos a CPI dos corruptores e para criarmos a CPI das empreiteiras. Foram mais de dez anos. Eram feitos requerimentos e mais requerimentos, com assinaturas, e, daí a pouco, retiravam as assinaturas. E não se fez a convocação. Nós não conseguimos até hoje nesta Casa fazer uma CPI para fazer levantamento de corruptor! Corrupto existe de montão! Deputado, Senador, Prefeito, Governador, Presidente da República, muita gente foi envolvida. São os corruptos. Para investigar corruptor, não foi feita uma CPI, uma investigação no Congresso!

            De repente, aparece uma, não feita por nós, mas pela Polícia Federal. A Polícia Federal mostra os dados da tal de Delta, mostrando que a tal de Delta é um escândalo. De repente, surgiu aí uma empresa que é a madrasta do PAC ou o padrasto do PAC. Mostrava-se isso. De repente, aparece o BNDES, e, até hoje, não se entende direito o que ele foi fazer no açougue que se transformou no maior frigorífico do mundo. De repente, o Meirelles aparece como presidente do frigorífico, e, de repente, o Meirelles e o frigorífico compram a Delta.

            Eu tiro o chapéu para o Governo. O Governo, com a decisão, com a determinação de fazer investigação e de dizer que a Delta era uma empresa inidônea - portanto, durante dois anos, a Delta não pode fazer nenhum novo contrato de empreiteira com o Governo Federal, com governos estaduais ou municipais -, fez seu papel, e suspenderam isso. Isso não aconteceu.

            Essa Delta, o Governo a considera inidônea. Nessa Delta, o BNDES estava entrando, mas dela saiu correndo. E não se abrem as contas do seu presidente, que não é convocado a vir depor. Abrem-se as contas da Delta, mas as do seu presidente não. A CPI não o convida a vir depor e a contar sua história.

            Eu não estou pedindo isso, Sr. Presidente, em primeiro lugar, porque ele não ia contar, mas pode aparecer nas gravações qual é o Senador e qual é o Deputado que, com R$7 milhões, ele compra e faz o que bem entende. Isso fica em cima da cabeça de todos nós.

            O que sai da reunião de hoje é que o Parlamento, a CPI ficou assustada com a possibilidade de o Sr. Cavendish falar quais são os caras. Até não digo que ele vai falar. Ele não vai falar, mas, de repente, nas gravações, abrindo o sigilo, daqui a pouco, pode aparecer o nome de fulano, de beltrano e de sicrano. Aliás, é o que se diz.

            Por que se ouviram os Governadores? Tranquilos, serenos, ouviram os Governadores. Nenhum Governador viria aqui para falar mal de Senador, nem de Deputado Federal. Nenhum Governador viria aqui... Vieram para se defender e, aliás, saíram-se bem, mas não viriam aqui para querer envolver a, b ou c. Então, vieram.

            Por que o Sr. Pagot e o Sr. Cavendish não podem vir? Porque, de repente, pode aparecer o nosso nome ali. De repente, nós podemos aparecer nessa questão. Por isso, não os tragam!

            Hoje, meu querido Presidente, é um dia muito triste para o PT. É um momento que marca. Hoje, dia 14 de junho, a decisão do PT foi contra toda a sua biografia, contra toda a sua história, contra toda a sua trajetória. A decisão de hoje foi de um partidozinho que chega ao Governo e que se acomoda, que não tem ética, que não tem diálogo, que não tem história, que não tem biografia, que não tem nada.

            Sei que a influência de V. Exª no comando do PT é mais ou menos igual à minha no PMDB: é pouca.

            O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco/PT - SP) - Permita-me, Senador Pedro Simon, dizer, primeiro - V. Exª mencionou -, que, antes de iniciar a CPMI, eu me coloquei à disposição do Líder e do Partido para ser membro, em que pese o fato de eu participar, como V. Exª, de um número muito grande de Comissões. E já estou com o tempo superatarefado.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Mas eu, com 82 anos, posso até dizer que já estou velho, cansado, mas V. Exª é um guri. V. Exª é moço e não pode usar esse argumento.

            O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco/PT - SP) - Não fui indicado para o Conselho de Ética ou para a CPMI, mas, se eu pudesse fazer uma recomendação hoje aos companheiros Senadores e Deputados do PT, eu levantaria o argumento de que ainda fossem ouvidos o Sr. Pagot e o Sr. Cavendish. Ouvindo-se o Relator, que, em algum momento, disse que seria positivo ouvi-los, penso que a CPMI deveria ouvi-los, sim. Eu só queria transmitir isso a V. Exª.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Esse é o Senador Suplicy. Aconteça o que acontecer é o pensamento do Senador Suplicy. Acha que não é hoje, mas espera que o Relator, em determinado momento, entenda que deva convocá-los.

            Meus cumprimentos! É o que eu penso. Repare V. Exª que a tese que defendi lá é exatamente a tese que V. Exª está defendendo.

            Agora, aqui, faço um apelo do fundo do coração, com a maior sinceridade. Presidente e Relator da CPI, os senhores têm autoridade para dar uma nota esclarecendo isso, dizendo: “Queremos dizer que, com relação à votação efetuada na Comissão hoje, realmente se rejeitou a convocação do Sr. Cavendish e do Sr. Pagot, como queria o requerimento. Mas, nas condições de que falou o Relator, não agora, isso virá oportunamente. Então, na verdade, não foi rejeitada a convocação. Ela foi protelada para outra data”.

            Eu acho que uma nota dada hoje pelo Presidente e pelo Relator seria realmente muito adequada. Se isso não acontecer, eu não sei... O Sr. Pagot é que está com a palavra. Mas, se ele aceitar, o Deputado Miro Teixeira e um grupo muito grande de Deputados e de Senadores estão dispostos a fazer uma reunião especialmente para ouvi-lo. E V. Exª há de concordar comigo que essa reunião, feita por membros da Comissão e por uma infinidade de parlamentares fora da Comissão, vai ter uma repercussão muito mais pesada e muito mais dura do que um depoimento normal.

(Interrupção do som.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - O desgaste do Governo será maior se não aceitar o meu apelo.

            Agradeço a V. Exª, Sr. Presidente. E me sinto bem representado por V. Exª, inclusive na Presidência, lugar do qual V. Exª está cada vez mais afastado, porque, cada vez mais, o PT que está aí se diferencia do seu PT.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/06/2012 - Página 25866