Discurso durante a 103ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem pelo transcurso dos 30 anos da morte de Nelson Maleiro, artista que revolucionou a música instrumental percussiva no País.

Autor
Lídice da Mata (PSB - Partido Socialista Brasileiro/BA)
Nome completo: Lídice da Mata e Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem pelo transcurso dos 30 anos da morte de Nelson Maleiro, artista que revolucionou a música instrumental percussiva no País.
Publicação
Publicação no DSF de 15/06/2012 - Página 26011
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, MUSICO, ESTADO DA BAHIA (BA), COMENTARIO, IMPORTANCIA, REVOLUÇÃO, MUSICA, INSTRUMENTO MUSICAL, ELOGIO, VIDA, CONTRIBUIÇÃO, CULTURA, PAIS.

            A SRª LÍDICE DA MATA (Bloco/PSB - BA. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras: a Bahia lembra neste mês de junho os 30 anos de morte de um artista que revolucionou a música instrumental percussiva no País, Nelson Maleiro.

            Nascido em Saubara, então distrito de Santo Amaro da Purificação, chegou a Salvador ainda muito jovem e se instalou no Centro Histórico, mas precisamente na Barroquinha, onde foi agitador cultural, artesão, cenógrafo, designer, esportista, etnólogo, músico, produtor de instrumentos de percussão e carnavalesco.

            A partir de 1926, começou a fabricar seus primeiros instrumentos musicais. Em 1930 criou a primeira oficina de investigação musical da cidade do Salvador, localizada na Av. Dr. J. J. Seabra, na Barroquinha.

            Na década de 40, já era referência em Salvador, pois fornecia instrumentos a toda cidade. Em 1949, convidado por seu amigo Vavá Madeira, teve a missão de confeccionar os instrumentos para o Afoxé "Filhos de Ghandy".

            Em 1950, com a habilidade que [he era peculiar, Maleiro continuou se renovando e, ao fundar os Mercadores de Bagdá, inova seus instrumentos utilizando tarraxas e aprimorando o som.

            Foi o primeiro bloco na Bahia a utilizar esta inovação. Ainda nos Mercadores de Bagdá, fez a fusão da música eletrônica com a percussiva. Tocava bombo com duas baquetas e prato, entre outros instrumentos.

            Na Bahia, em qualquer movimento musical que surgia quando se tratava de percussão, Maleiro em sua oficina era o caminho. Assim, foi com Maleiro que Dodô e Osmar, ao criarem o trio elétrico, adquiriram seus instrumentos percussivos.

            Em 1955, quando Orlando Tapajós inicia o trio Tapajós, ele também procurou a oficina de Maleiro, adquirindo instrumentos de percussão.

            Em 1957, quando a primeira Escola de Samba na Bahia desfilou, a "Ritmistas do Samba", Maleiro fez os instrumentos e inovou colocando um bombo com som grave semelhante à zabumba.

            Na década 60, quando o seu Clube Cavalheiros de Bagdá saiu às ruas no Carnaval pela primeira vez, além de criar sua personagem "O Gigante", Maleiro inovou a estética dos instrumentos introduzindo o celulóide que causava impacto visual.

            Foi artista de televisão, o primeiro negro a protagonizar uma propaganda comercial e, como carnavalesco e músico, apresentava-se nos programas Escada para o Sucesso e Sabatina da Alegria, como percussionista, tocando seu gongo, um instrumento oriental.

            Nelson Maleiro, sendo um dos revitalizadores do Pelourinho, na sede social dos Cavalheiros de Bagdá, propiciou àquela comunidade diversas atividades socioeducativas e, além de tudo isso, preparou uma infinidade de percussionistas que revezavam o aprendizado na sede localizada na Ladeira do Ferrão e na oficina da Barroquinha.

            Naquele tempo, Maleira já fazia tamborins e frigideiras, hoje utilizadas pelas escolas de samba do Rio de Janeiro.

            Considerado o maior construtor de atabaques, vários terreiros de candomblé ainda preservam estes instrumentos, construídos por Maleiro. Seus atabaques eram feitos em tiras de quartinha e de uma forma que depois, praticamente esses atabaques de corpo inteiro deixaram de existir,

            Como artista de vanguarda e com visão à frente de seu tempo, morreu em 1982 vendo seu sonho tornar-se realidade, deixando o Carnaval mais percussivo assim como toda a Bahia. Se a cidade do Salvador é considerada a capital mundial da percussão, o músico Nelson Maleiro é o responsável por preconizar o sucesso dos tambores baianos.

            Apesar da grande contribuição que deu à cultura e ao carnaval de Salvador, uma das raras homenagens prestadas a ele, foi no ano passado, quando a passarela do Campo Grande, onde desfilam as grandes atrações, recebeu seu nome.

            Hoje, em Salvador, a Associação dos Amigos de Nelson Maleiro se empenha para que o nome desse grande artista não caia no esquecimento, razão pela qual, ao encerrar esse registro, gostaria também de fazer referência a Ivan de Jesus Lima, pesquisador cultural e vice-presidente da Associação que tem se dedicado a coletar dados para preservar e divulgar a história desse baiano, que, com sua inteligência, escreveu muitos capítulos do carnaval da Bahia, contribuindo para essa que é hoje uma das maiores festas de rua do planeta.

            Obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/06/2012 - Página 26011