Pronunciamento de Cyro Miranda em 26/06/2012
Discurso durante a 111ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Crítica à postura do ex-Presidente Lula de aliança com o Deputado Federal Paulo Maluf.
- Autor
- Cyro Miranda (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/GO)
- Nome completo: Cyro Miranda Gifford Júnior
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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ELEIÇÕES.:
- Crítica à postura do ex-Presidente Lula de aliança com o Deputado Federal Paulo Maluf.
- Publicação
- Publicação no DSF de 27/06/2012 - Página 28028
- Assunto
- Outros > ELEIÇÕES.
- Indexação
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- CRITICA, APOIO, EX PRESIDENTE, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, DEPUTADO FEDERAL, PAULO MALUF, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ASSISTENCIA, CANDIDATURA, PREFEITURA, EX MINISTRO, FERNANDO HADDAD, REGISTRO, HISTORIA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, INCOMPATIBILIDADE, POSIÇÃO, ANTECEDENTES.
O SR. CYRO MIRANDA (Bloco/PSDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente Paulo Davim, Srªs e Srs. Senadores, TV Senado, Rádio Senado, praticamente todos os jornais e revistas de grande circulação deram como manchete a forma como o ex-Presidente Lula se juntou ao Deputado Paulo Maluf para apoiar a candidatura do ex-Ministro Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo. Ao que tudo indica, nem sequer consultou o próprio PT e agiu por conta própria.
Não é que eu queira ser paladino da ética, porque todos nós que militamos a política sabemos da importância das alianças e dos minutos no rádio e na televisão. Mas não creio que exageraria em recomendar ao ex-Presidente Lula que se aconselhasse um pouco com a Presidente Dilma sobre a postura de um chefe de Estado. E vejam que não busco como exemplo, embora pudesse, o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, porque minha intenção nesta tribuna não é de confrontar ideologias e propostas; o objeto desta intervenção é outro, é o de natureza ética dos limites da razoabilidade.
É evidente que estamos no cenário político onde alianças se fazem e se desfazem, em razão de conquista do poder por meio do voto, valor soberano da democracia e da República. Mas vejo como temerária a postura do ex-Presidente Lula, que não me parece muito afeto a limites. Há um tom de soberba, de dono da verdade em muitas das suas ações e das intervenções feitas pelo ex-Presidente desde que deixou o Planalto.
Ninguém pode deixar de reconhecer o percurso do cidadão Luiz Inácio Lula da Silva, que, decerto, é exemplo de superação para milhares de brasileiros. Ninguém pode ignorar tampouco a popularidade atingida pelo ex-Presidente Lula no Brasil e a projeção obtida no exterior. Mas nada disso o credencia a agir como se tivesse o cetro do poder permanente, acima da própria República.
O Presidente Lula não deve se enganar e deixar-se levar pela ideia de que é uma espécie de timoneiro-mor a quem todos seguem de olhos vendados. Seria um ledo engano! Por quê? Porque bastam cinco ou dez minutos de conversa nas ruas e nas esquinas para ver como as pessoas começam a questionar o comportamento do ex-Presidente. Lula dá mostras de que o poder subiu-lhe a cabeça.
Mal consegue esconder como se sente grandioso por ter elegido a sua sucessora e por considerar que derrotaria qualquer adversário em potencial. Continua presidente, sem ser presidente. Sente-se como um rei!
Até mesmo a doença, que, para a maioria das pessoas, costuma ser um momento de profunda reflexão sobre a própria existência e fragilidade humana, para Lula, lamentavelmente, parece ter reacendido ódios e mágoas.
Com certeza, o ex-Presidente não parece ter colhido a lição da humildade que nos ensinou, ao longo dos anos, o seu Vice, o saudoso José Alencar.
Não ousaria retirar do ex-Presidente Lula o legítimo direito de errar, porque todos nós erramos. Mas creio que ele passou da hora de parar e verificar que as intervenções como a do nebuloso encontro com o Ministro Gilmar Mendes prestam um grande desserviço à Nação. Foi, sem qualquer dúvida, um desses arroubos de poder, à moda Hugo Chaves. Uma atitude que revela um amor velado pelo caudilho e pela manipulação a qualquer preço dos Poderes da República.
Lula parece de tal sorte inebriado pela figura de um redentor da Pátria que chegou mesmo a declarar que não permitiria que outro tucano chegasse à Presidência.
Ora, Sr. Presidente, na democracia quem decide os destinos da Nação são as urnas, a vontade soberana do povo brasileiro de escolher os governantes.
Quando Lula fala um disparate desses é como se dissesse que os cidadãos brasileiros não passam de uma massa de manobras. Talvez por isso acredite que a forma como se aliou a Paulo Maluf não lhe vá custar absolutamente nada.
A coerência de Lula é o próprio Lula. Mas quem acompanha sua trajetória começa a perceber que, por trás dessa liderança inconteste, há um ego excessivamente grande, enorme. A cada dia, o ex-Presidente reforça uma imagem de arrogância e soberba, começa a mostrar uma personalidade intransigente, de pouca ponderação. Fica claro agora. Não foi por acaso que Lula disse: “se Jesus Cristo viesse para cá, e Judas tivesse a votação em um partido qualquer, Jesus teria de chamar Judas para fazer coalizão”. Ora, Srªs e Srs. Senadores, Jesus faria como Lula fez.
Não foi por acaso, tampouco, que Lula recomendou aos Ministros de Dilma Rousseff que, eventualmente, viessem a ter os nomes envolvidos em casos de corrupção que resistissem, resistissem sempre. E disse: “o político tem que ter casco duro, porque, se cada político tremer a cada vez que alguém disser uma coisa errada dele, e ele não enfrentar a briga para provar que está certo, as pessoas vão saindo mesmo”.
Se o ex-Presidente Lula continuar nesse ritmo, logo, logo vai se transformar em uma figura isolada, caracterizada pela falta de bom-senso e oportunidade e pelas fanfarronices e episódios nebulosos em que se envolve.
Certa está a Deputada Erundina: “Lula passou dos limites”.
Obrigado.