Discurso durante a 112ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem à líder feminista Rose Marie Muraro; e outro assunto.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, ECONOMIA POPULAR.:
  • Homenagem à líder feminista Rose Marie Muraro; e outro assunto.
Publicação
Publicação no DSF de 28/06/2012 - Página 28332
Assunto
Outros > HOMENAGEM, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, ECONOMIA POPULAR.
Indexação
  • HOMENAGEM, INTELECTUAL, FEMINISMO, LEITURA, CARTA, ESCRITOR, SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, INTERNET, ASSUNTO, DINHEIRO, SUSTENTABILIDADE.
  • REGISTRO, REALIZAÇÃO, EVENTO, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP), ASSUNTO, POLITICAS PUBLICAS, ECONOMIA, SOLIDARIEDADE, CONVITE, PARTICIPAÇÃO, PUBLICO.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidenta Senadora Ana Amélia, Srªs e Srs. Senadores, quero fazer uma homenagem à nossa querida e extraordinária Líder e Ministra Rose Marie Muraro, que havia sido convidada para fazer uma comunicação, uma palestra na Rio+20, na mesma reunião onde falaria também a ex-Senadora e ex-Ministra Marina Silva e outras autoridades no tema, mas infelizmente Rose Marie Muraro teve uma indisposição e do hospital enviou, por sua filha Tônia, uma carta com a sua contribuição, que eu aqui quero ler:

Rio de Janeiro, 19 de junho de 2012

Caros amigos,

Estou impossibilitada de participar desta reunião que desejei tanto, pois me encontro internada no Hospital São Lucas e ainda enfraquecida. [Felizmente Rose Marie Muraro já se encontra em casa, e bem melhor.] Envio minha filha Tônia, diretora do Instituto Cultural Rose Marie Muraro, para me representar e dizer-lhes que escrevi um artigo sobre o meu mais recente livro publicado Reinventando o Capital/Dinheiro, o qual mostra uma visão completamente nova da economia e explica o atual paradigma que nem a economia liberal e nem o marxismo conseguiram. Meu artigo foi traduzido para a Ethical Markets Review sob o título Sustainable Money com introdução de Hazel Henderson, já tendo sido acessado por um milhão de pessoas.

Para entender um artigo de catorze páginas em uma, quero apenas dizer que rejeitei os modelos econômicos vigentes como estão fazendo todos os povos. Usei três tipos de paradigmas inventados por Hazel Henderson: o ganha-ganha em que a economia leva em consideração o ser humano total. O dinheiro sendo apenas medida de escambo não gerava juros. Isso durou praticamente dois milhões de anos e constituiu o primeiro paradigma da economia humana. Logo a seguir temos o segundo paradigma, que é o ganha-perde, em que o dinheiro gera juros e com isto a desigualdade e violência. Ele abrange dez mil anos incluindo o período agrário dos grandes Impérios e os 350 anos do período industrial. Ambos têm as mesmas características, são destrutivos e crescem de maneira exponencial porque a tecnologia vai se desenvolvendo de maneira também exponencial, o que faz com que o tempo seja menor e o conteúdo da civilização cada vez mais intenso. Isso vai até o século XXI, instaurando logo no início o terceiro paradigma, que será o ganha-ganha, caso a tecnologia continue se desenvolvendo à velocidade da luz, como os computadores e redes sociais, e não mais trate de mercadorias como no segundo paradigma, mas sim do intangível, que é o conhecimento e a informação a tempo real gratuitamente. E para que existam faz-se obrigatório que o mundo adote outra vez uma tecnologia ganha-ganha, mas de maneira infinitamente superior ao ganha-ganha da Pré-História. Isso é o que querem todos os povos que estão na rua reclamando por democracia e dando um basta ao autoritarismo e à violência do segundo paradigma.

Este artigo trata especificamente do terceiro paradigma, mostrando que, caso ele venha a dominar o mundo como desejam todos os povos que aqui estão [referindo-se àqueles que estavam presentes na Rio+20], é preciso que o dinheiro mude de natureza e não gere mais juros nem desigualdade. A nova tecnologia é como a luz de um fósforo que, caso se mantenha sem comunicação, morre. E só se comunica quando atinge a todos os intangíveis.

E é isso que queremos mostrar, pois estamos vendo nesta Rio+20 que todos desejam a mesma coisa, democracia, dinheiro que não gera juros, governança mundial, moedas alternativas locais e moeda alternativa internacional, destruindo todas as categorias do segundo paradigma. Já há um grande trabalho que vem neste sentido cada vez mais rapidamente [ser desenvolvido] como podemos ver nesta grande reunião da Rio+20, a mais importante do século XXI peio menos até hoje. Se não conseguirmos chegar ao novo paradigma ganha-ganha, seremos obrigados a engolir o violentíssimo paradigma perde-perde do qual nenhum de nós escapará.

Peço perdão [afirmou Rose Marie Muraro] de não poder ler pessoalmente meu trabalho, mas ele pode ser encontrado no Google pelos nomes em inglês “Sustainable Money” ou em português “Dinheiro Sustentável”, onde está tudo explicado com maiores detalhes. Este trabalho não me pertence, mas pertence a todos [diz Rose Marie Muraro, no seu espírito sempre solidário àqueles povos que querem ter o direito à palavra, o direito à vida, com dignidade].

Com muito entusiasmo pela possibilidade de ver a destruição ambiental ser revertida, faço aqui a minha parte e espero a compreensão de vocês.

Um abraço,

Rose Marie Muraro.

            Quero solicitar a transcrição, Srª Presidenta Ana Amélia, do artigo, na íntegra, de Rose Marie Muraro, denominado “Dinheiro Sustentável”, que pode ser acessado no site http://mercadoetico.terra.com.br/arquivo/o-dinheiro-sustentavel. Rose Marie Muraro é uma das maiores intelectuais brasileiras. É física, escritora e editora.

             Publicou livros inúmeros livros polêmicos, contestadores e inovadores dos valores sociais modernos. É uma das pioneiras do movimento feminista do Brasil. No seu artigo, em que ela descreve o que é o dinheiro sustentável e fala de como, no século XXI, há uma nova economia ganha-ganha e um novo tipo de dinheiro, ela menciona alguns exemplos de como surgiram moedas, inclusive ao tempo de John Maynard Keynes. Ela chega aqui a dizer:

As moedas ganha/ganha, fatalmente, terão que ser moedas locais e gerenciadas pelas comunidades elas mesmas. E de locais irão passando a nacionais e, finalmente, a uma moeda universal complementar. Chamaremos a estas moedas todas de moedas complementares. Ela surgiram no século XIX, inventadas por Sylvio Gesell e ao tomar conhecimento delas o próprio John Maynard Keynes disse: “Vocês vão dever a Sylvio Gesell muito mais do que deverão a Marx.”

            Dentre os exemplos citados por Rose Marie Muraro está que, no Brasil, nos anos 90, criou-se a primeira moeda complementar em uma favela infecta de 20 mil habitantes no Conjunto Palmeiras, em Fortaleza.

            Em dez anos lutando contra tudo e contra todos, o seu introdutor, Joaquim de Melo, conseguiu introduzir o palma, lastreado em reais, a moeda brasileira onde uma palma valia R$1,00, começando com R$2 mil, uma quantia mínima. Pouco a pouco, a favela foi melhorando, foi sendo saneada. No inverno, a chuva chegava até o pescoço das pessoas, ganhou mais lastro de organizações nacionais e estrangeiras. Chegou ao conhecimento do Presidente Lula, e o Banco Central Brasileiro, em vez de colocar a moeda na ilegalidade, incentivou-a, e hoje já existem, com Joaquim de Melo, 53 bancos comunitários e locais no Brasil inteiro. E o Conjunto Palmeiras já é um bairro de classe média totalmente urbanizado e ecológico. Eu estive lá e posso testemunhar.

            Além deste, há pelo menos mais cem bancos também espalhados pelo Brasil nos bolsões de miséria, ajudando os mais pobres a saírem dela, todas...

(Interrupção do som.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - ... lastreadas por reais emprestados à comunidade pelo BNDES.

            A propósito, Srª Presidenta, na próxima sexta-feira, o Núcleo de Psicopatologia, Políticas Públicas de Saúde Mental e Ações Comunicativas em Saúde Pública da Universidade de São Paulo realiza e tem o prazer de convidar todos para o I Seminário Intersetorial NUPSI-USP - Invenções Democráticas frente aos desafios do precariado: o encontro da Renda Básica com a Economia Solidária.

            O seminário receberá o Prof. Guy Standing, co-Presidente da Rede Mundial da Renda Básica, autor de The Precariat: The New Dangerous Class, que pronunciará conferência intitulada “Uma agenda progressista na perspectiva do precariado”.

            Eu ali comentarei esse trabalho, assim como também estará presente...

(Interrupção do som.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - ... o Prof. Paul Singer, Secretário Nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego; a Drª Rosane Maia, da Direção Técnica do Dieese; o Prof. Oscar Zalla, coordenador da Incubadora de Tecnologia Social e Economia Solidária; o Prof. David Calderoni.

            Todos são convidados, dia 29 de junho, a partir das 19 horas, no Auditório João Yunes da Faculdade de Saúde Pública da USP, na Avenida Doutor Arnaldo, 715, em São Paulo, perto do Metrô das Clínicas.

            Muito obrigado, Srª Presidenta, Senadora Ana Amélia.

            Peço para transcrever, na íntegra, o artigo de Rose Marie Muraro, publicado no Mercado Ético e correspondentes.

 

DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR EDUARDO SUPLICY

EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I, §2º, do Regimento Interno.)

            Matéria referida:

            - “O dinheiro sustentável” (artigo de Rose Marie Muraro)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/06/2012 - Página 28332