Pronunciamento de João Durval em 02/07/2012
Discurso durante a 115ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Registro do transcurso, hoje, do Dia da Independência da Bahia, bem como de sua importância para o processo de independência do País.
- Autor
- João Durval (PDT - Partido Democrático Trabalhista/BA)
- Nome completo: João Durval Carneiro
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
HOMENAGEM.:
- Registro do transcurso, hoje, do Dia da Independência da Bahia, bem como de sua importância para o processo de independência do País.
- Publicação
- Publicação no DSF de 03/07/2012 - Página 29805
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
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- COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO, INDEPENDENCIA, ESTADO DA BAHIA (BA), DOMINIO, PAIS ESTRANGEIRO, PORTUGAL, IMPORTANCIA, PARTICIPAÇÃO, POPULAÇÃO, COMBATE.
O SR. JOÃO DURVAL (Bloco/PDT - BA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, o 2 de julho é o dia mais importante do ano para todo cidadão baiano.
Temos dito, desta tribuna, que esta data representa um marco histórico para o nosso País. Muitas vezes, passa-se a impressão de que estamos comemorando apenas e simplesmente a independência da Bahia. A verdade, Sr. Presidente, é que, no dia 2 de julho, nós comemoramos um dia que significou a concretização, o último ato, do que se convencionou chamar de Independência do Brasil.
Em 1822, D. Pedro I anunciou que, a partir daquele momento, o Brasil estava livre do jugo de Portugal. Mas a realidade mostrou que os portugueses não deixariam o Brasil pacificamente, que eles não atenderiam a uma simples ordem do príncipe filho de El Rey. E a Bahia foi o Estado brasileiro onde os portugueses resistiram por mais tempo. E essa resistência foi uma guerra dura, violenta, que envolveu soldados, mas que envolveu, acima de tudo, o povo baiano.
Entre os baianos destacaram-se vários heróis. Um deles foi Maria Quitéria, a mulher que abraçou o ideal da liberdade e se vestiu de homem para ir ao campo de batalha. Outra foi soror Joana Angélica, que entregou a própria vida para impedir a invasão do seu convento, o Convento da Lapa.
Enquanto o Brasil inteiro comemorava a libertação, na Bahia a história seria diferente. Na Bahia, a renda gerada pela produção da cana-de-açúcar mantinha a cobiça do reino de Portugal sobre as nossas riquezas e a ordem era resistir. O responsável por essa resistência era o General Inácio Luís Madeira de Melo.
Diante dessa realidade, o governo de D. Pedro I precisava fazer alguma coisa. O príncipe contratou, então, o serviço mercenário e competente do General Pedro Labatut. E o desempenho dos baianos na luta pode ser medido pela decisiva e vitoriosa Batalha de Pirajá.
Símbolos da participação popular nas batalhas, as mulheres baianas mostraram a sua força e se transformaram em heroínas.
Mártir da luta pela independência, soror Joana Angélica entrou para a história ao abrir os braços, num gesto comovente, para tentar impedir que os portugueses entrassem no Convento da Lapa. Foi assassinada a golpes de baioneta no portão da casa de Deus.
Outra heroína da guerra foi Maria Quitéria, que se disfarçou de homem e conseguiu se incorporar ao batalhão de Voluntários do Príncipe, conhecidos como Periquitos, porque tinham os punhos e as golas das suas fardas verdes. A história destaca a valentia do soldado Medeiros, como era chamada Maria Quitéria de Jesus Medeiros.
Assim como Maria Quitéria, Maria Felipa de Oliveira também participou da luta, liderando a resistência popular à invasão da Ilha de Itaparica. A história diz que Maria Felipa era uma negra forte, simpática e tinha um amor muito grande pelo Brasil, já que ela tinha vindo do Sudão e aqui encontrou sua verdadeira pátria. Liderando um grupo de quarenta mulheres, ela simplesmente destruiu 42 embarcações portuguesas que estavam ancoradas nas costas de Itaparica.
Na vitoriosa Batalha de Pirajá, vale recordar a entrada dos Encourados do Pedrão. Eram sertanejos, voluntários do Recôncavo, vaqueiros, que se incorporaram ao exército com suas roupas de couro, montados nos seus cavalos, empunhando seus facões e gritando “Liberdade”.
Vários historiadores narram uma curiosidade decisiva da Batalha de Pirajá. Com 1.500 baianos para enfrentar os três mil soldados profissionais portugueses, o Major Barros Falcão, no comando dos brasileiros, descobriu que poderia ficar irremediavelmente sitiado. Percebendo a inferioridade diante dos soldados profissionais portugueses, Barros Falcão ordenou ao corneteiro Lopes que tocasse a retirada.
Mas Lopes fez o oposto: empunhando a corneta deu toque, primeiro, de avançar cavalaria e, em seguida, o toque de degolar. Os inimigos, enganados pela ousadia do corneteiro e acreditando na chegada de reforços, bateram em retirada. Os brasileiros saíram vitoriosos da luta.
O importante é que esses portugueses, cerca de 3.000, saíram de Pirajá e foram diretamente para os seus barcos, que estavam na costa da Bahia. Tomaram cerca de 33 navios portugueses e voltaram para a sua pátria.
Lembro ainda o poema de Castro Alves ao exaltar a liberdade que a coragem dos baianos proporcionou ao povo brasileiro.
Lá do campo deserto da batalha
Uma voz se elevou clara e divina.
Eras tu, liberdade peregrina
Esposa do porvir - noiva do Sol!
Hoje comemoramos os 189 anos dessa data histórica. Lá no nosso Estado, a Bahia, o 2 de julho é lembrado e comemorado com cortejos cívicos, desfile de carros, queima de fogos, hasteamento das bandeiras do Brasil e do 2 de Julho, acendimento da pira do fogo simbólico, apresentações de orquestras, exposições culturais diversas e manifestações populares, tudo isso marcado pela imagem da alegoria do “Caboclo”, que representa a luta duradoura, ligada às aspirações de um povo.
Na memória do povo da Bahia essa data não se apaga, ao contrário, fazemos questão de lembrá-la...
(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)
O SR. JOÃO DURVAL (Bloco/PDT - BA) - ... pelo marco histórico que ela representa para os baianos e para a cidadania de todo o Brasil.
Muito obrigado, Sr. Presidente.