Discurso durante a 123ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Considerações sobre a necessidade de ajuste da política externa brasileira, devido às mudanças políticas, econômicas e institucionais ocorridas no mundo.

Autor
Romero Jucá (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RR)
Nome completo: Romero Jucá Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA.:
  • Considerações sobre a necessidade de ajuste da política externa brasileira, devido às mudanças políticas, econômicas e institucionais ocorridas no mundo.
Publicação
Publicação no DSF de 05/07/2012 - Página 31990
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • COMENTARIO, ALTERAÇÃO, POLITICA INTERNACIONAL, ECONOMIA INTERNACIONAL, PROCEDENCIA, CRISE, ORIENTE MEDIO, EUROPA, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), REDUÇÃO, CRESCIMENTO ECONOMICO, CHINA, RELAÇÕES DIPLOMATICAS, ARGENTINA, ELOGIO, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DILMA ROUSSEFF, POLITICA EXTERNA, ADOÇÃO, MEDIDA, AJUSTE, ECONOMIA NACIONAL, ESTRATEGIA, FORTIFICAÇÃO, MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL), DESENVOLVIMENTO REGIONAL, AUMENTO, PARTICIPAÇÃO, ORGANISMO INTERNACIONAL, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), PARCERIA, AFRICA, ASIA.

            O SR. ROMERO JUCÁ (Bloco/PMDB - RR. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, no início de março passado, a Presidente Dilma Rousseff solicitou aos seus principais assessores da área internacional a preparação de um estudo para ajustar alguns pontos importantes da política externa brasileira.

            De acordo com vários especialistas no assunto, em virtude das mudanças políticas, econômicas e institucionais que estão ocorrendo em várias partes do mundo, não é mais possível continuar seguindo os mesmos caminhos de 2011.

            Acredita-se que essa necessidade de mudança ficou mais evidente a partir de alguns acontecimentos recentes, como, por exemplo: o novo cenário de poder que se formou no Oriente Médio, após a queda de vários ditadores; o agravamento da crise financeira internacional; as dificuldades de recuperação da economia americana; das fortes turbulências econômicas que ocorrem na zona do euro; do futuro imprevisível das economias da Espanha, Grécia, Itália, Irlanda e Portugal; da queda de nossas exportações para os principais mercados mundiais; da diminuição das taxas de crescimento da China; das dificuldades comerciais com a Argentina; da falta de entendimentos no âmbito do Mercosul e dos prejuízos que esses eventos estão provocando em nossas metas econômicas para este ano.

            Para o atual Governo, o mundo de hoje é multipolar e a grande preocupação brasileira deve ser a de ganhar mais espaço nos encontros onde se discutem os grandes problemas globais. Por isso, na atual conjuntura, nossa maior atenção está voltada para o processo de recuperação econômica dos Estados Unidos, para o futuro da zona do euro, para os problemas ambientais que afetam a vida de bilhões de pessoas, para a China e para a América do Sul, onde os interesses econômicos, comerciais, políticos, culturais e estratégicos do Brasil são mais visíveis.

            A questão sul-americana é estratégica para o nosso País. A diplomacia brasileira dedica uma atenção especial a essa parte do território americano. Ela procura demonstrar que temos uma política externa de boa vizinhança, focada na preservação da paz, no fortalecimento da democracia em todos os países limítrofes, no respeito aos direitos humanos, no combate às desigualdades, no entendimento e na preservação do Mercado Comum do Sul (Mercosul), que simboliza a unidade regional. Todavia, não podemos deixar de reconhecer que o Brasil tem procurado, embora de maneira discreta, afirmar uma posição de liderança na região.

            É importante dizer que o Mercosul tem sido extremamente útil para abrir os espaços que desejamos e para ampliar nossa influência, em toda a extensão de nossas fronteiras de língua espanhola. Logo, o surgimento desse instrumento de integração foi extremamente importante para uma maior projeção do Brasil em nível regional.

            Apesar das dificuldades que continuam a desafiar o seu futuro, das divergências políticas, dos contenciosos comerciais não resolvidos, dos problemas de protecionismo, dos desníveis de desenvolvimento entre os países, das assimetrias econômicas e geográficas, das diferenças culturais e da projeção mundial brasileira, que gera ciúmes no interior do grupo, o Mercosul serve muito bem aos nossos interesses e traz grandes benefícios para os outros sócios. De uma maneira geral, suas dificuldades têm sido administradas de maneira razoável e são bem menores do que as da União Européia, que está sufocada por uma grave crise.

            O Mercosul, hoje formado pela Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela, tendo Bolívia Chile, Colômbia, Equador e Peru, como Estados Associados, foi fruto de um grande esforço diplomático brasileiro, realizado durante toda a década de 1980, que buscava uma maior aproximação com os países vizinhos. Até então, nossos olhares eram dirigidos unicamente para os Estados Unidos e Europa Ocidental e o mundo era dividido em dois blocos: capitalismo e socialismo.

            Assim, em pleno início da globalização e do avanço do processo de integração das economias mundiais, a partir do final da Guerra Fria, o Brasil teve a competência de perceber que mudanças estruturais estavam acontecendo nas relações políticas e econômicas internacionais. Aliás, essa foi a senha para o nosso País assumir a posição de maior protagonista da aprovação do Tratado de Assunção, de 26 de março de 1991, que deu vida ao Mercosul, reafirmado pelo Protocolo de Ouro Preto, de 17 de dezembro de 1994.

            Nesses 21 anos de existência, o comércio entre os países do Mercosul cresceu quase 900%, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) do Brasil. De acordo com a mesma fonte, em 1991, a economia brasileira exportou apenas 2 bilhões e 300 milhões de dólares para os países do bloco econômico e importou 2 bilhões e 200 milhões de dólares, uma corrente comercial da ordem de 4 bilhões e 500 milhões de dólares.

            Em 2010, as exportações representaram 22 bilhões e 600 milhões de dólares, as importações, 16 bilhões e 600 milhões de dólares, um total de 39 bilhões e 200 milhões de dólares de transações comerciais de ambos os lados. Apenas para termos uma idéia da importância desse intercâmbio para o Brasil, basta dizer que, naquele ano, o total de nossas transações comerciais com os Estados Unidos, somou 46 bilhões de dólares.

            Por fim, é importante acrescentar que, para a diplomacia brasileira, o Mercosul é um fator de estabilidade na região. Ele tem a capacidade de gerar, a cada momento, uma série de interesses e relações que torna mais profundas as relações entre os seus membros. Indiscutivelmente, o Brasil é um País hegemônico no bloco, em razão da grande estrutura industrial que possui, do seu peso agrícola, dos» enormes recursos naturais, do tamanho de sua economia que é 6ª do mundo, de sua extensão geográfica e de sua população, de quase 200 milhões de habitantes.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o agravamento da crise financeira internacional tem levado o nosso País a assumir um tom veemente contra os países ricos. Recentemente, em visita oficial à Alemanha, a Presidente Dilma Roussef, em seu discurso oficial dirigido à Chanceler Ângela Merkel, disse que a Europa, com as medidas de austeridade que adotou para enfrentar a crise, provocou um "tsunami monetário".

            Na recente visita do Rei Juan Carlos I da Espanha, o tom do discurso foi o mesmo. Nas palavras da Presidente da República, os países desenvolvidos precisam se unir para definir uma ação coordenada contra a recessão econômica e contra o desemprego e não esperar que os países emergentes se sacrifiquem sozinhos para restabelecer as finanças internacionais. De uma maneira geral, será essa a posição que o Brasil deverá apresentar na Cúpula do G-20, que ocorrerá na cidade de Los Cabos, no México, entre os dias 18 e 19 de junho.

            Nobres Senadoras e Senadores, embora muitos caminhos percorridos pela política externa brasileira nesses dezessete meses de Governo Dilma Rousseff guardem algumas semelhanças com o que foi feito durante os dois mandatos do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os estilos são diferentes.

            A agenda internacional atual do nosso País tem sido mais formal e o perfil da política externa brasileira está em processo de mudança. Assim sendo, o discurso forte contra os maiores responsáveis pela crise econômica internacional, o respeito aos direitos humanos, a luta pela erradicação da fome e a defesa do desenvolvimento sustentável, certamente, continuarão a fazer parte dos nossos pronunciamentos, nos encontros com os principais líderes mundiais.

            Em termos mais práticos, o Brasil deverá continuar a aprofundar o processo de integração regional sul-americana, a partir do fortalecimento do Mercosul; a promover maior participação nos organismos multilaterais; a defender a reforma do Conselho de Segurança da ONU; a buscar maior aproximação com os Estados Unidos, China e Europa; além do contínuo processo de diversificação de parcerias na África, na Ásia e no Oriente Médio. Na opinião dos especialistas, é a "Diplomacia de Resultados", com um viés mais técnico e mais discreto. De qualquer maneira, o País segue na busca por resultados, no entanto, com um estilo diferente do anterior.

            Era o que tinha a dizer.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/07/2012 - Página 31990