Comunicação inadiável durante a 126ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagens de pesar pelo falecimento do ex-Senador Ronaldo Cunha Lima.

Autor
Aloysio Nunes Ferreira (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/SP)
Nome completo: Aloysio Nunes Ferreira Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Comunicação inadiável
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagens de pesar pelo falecimento do ex-Senador Ronaldo Cunha Lima.
Aparteantes
Pedro Simon.
Publicação
Publicação no DSF de 10/07/2012 - Página 33217
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, RONALDO CUNHA LIMA, EX SENADOR, ESTADO DA PARAIBA (PB), ELOGIO, VIDA PUBLICA.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco/PSDB - SP. Para uma comunicação inadiável. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srª Senadora, eu quero em primeiro lugar agradecer a proverbial cortesia e a benevolência que o Senador Pedro Simon sempre me dispensou, me permitindo vir à tribuna para requerer a inserção na ata dos nossos trabalhos de voto de pesar pela morte do Senador Ronaldo Cunha Lima. Eu poderia fazê-lo simplesmente, Sr. Presidente, da bancada, mas creio que, para falar ainda que poucas palavras de Ronaldo Cunha Lima, é necessário vir à tribuna do Senado.

            Ronaldo Cunha Lima foi uma das figuras mais extraordinárias da política brasileira contemporânea. Nós o conhecemos, eu o conheci, em 1990, há 22 anos, quando Ronaldo se preparava para disputar o governo da Paraíba, depois de ter reconquistado a prefeitura de Campina Grande, de onde fora arrancado por um ato arbitrário da ditadura, que lhe cassou os direitos políticos.

            Eu, àquela altura, era candidato a vice-governador e, para liberar o nosso candidato, Luiz Antônio Fleury, para que fizesse a campanha, eu havia assumido toda a canseira inerente à coordenação da campanha. Anunciaram a presença de Ronaldo Cunha Lima para uma visita de cortesia. E o que era para ser, Sr. Presidente, uma visita de cortesia, transformou-se num episódio que me ligou a ele ao longo de toda a vida depois, nesses mais de vinte anos.

            Era irresistível a conversa de Ronaldo Cunha Lima. Em pouco tempo, ele me contou a sua vida política; contou-me o sofrimento da cassação dos direitos de cidadão, de político, quando prefeito de Campina Grande; a sua trajetória pelos cargos que ocupara anteriormente: de vereador, de deputado estadual. Falamos sobre aquela campanha eleitoral que estávamos vivendo; cada qual empenhado em ganhar a eleição no seu Estado, mas preocupados com a situação política que o Brasil vivia naquele momento, pois havia sido eleito um Presidente da República que não tinha nenhum apoio entre os grandes partidos, nenhum apoio institucionalizado, e Ronaldo temia pela estabilidade de uma democracia recém conquistada. Tudo isso falado no meio de histórias da Paraíba, de episódios da sua vida que pareciam episódios de folclore, mas eram episódios reais. Uma conversa em que, mesmo nos assuntos mais sérios, nos momentos mais sérios, não se apagava do rosto de Ronaldo Cunha Lima o vestígio de um sorriso e o brilho do seu olhar, que ele conservou até o final.

            Lembro-me aqui, no plenário do Senado, no dia em que seu filho, Cássio Cunha Lima, discursou pela primeira vez, depois de ter lutado durante mais de um ano contra a injustiça que o impediu de assumir o mandato desde o primeiro dia. Havia duas lágrimas grossas escorrendo pelo rosto de Ronaldo Cunha Lima, que olhava com admiração o seu filho, que era um amor na sua vida, um amor que levou Ronaldo, certa vez, a ultrapassar os limites da sensatez. Estava Ronaldo orgulhoso e feliz.

            Foi a última vez que o vi.

            Ronaldo foi um grande poeta. Tenho os livros dele. Uma junção difícil de acontecer entre o político, o administrador, o político de luta

            Do nosso MDB, um administrador que fez tanta coisa por Campina Grande, pela Paraíba, um administrador e um político que é obrigado, no seu mister, a ser duro, objetivo, claro, conciso, preciso e o poeta, o poeta especialmente lírico, como foi o poeta Ronaldo Cunha Lima, com poemas fervilhantes de alusões, que convida o leitor a construir com ele o sentido de sua poesia.

            Nesta tribuna, Sr. Presidente, Ronaldo Cunha Lima pronunciou um dos mais belos discursos que eu já assisti. Eu era colega de V. Exª, Deputado Federal, quando se anunciou que Ronaldo iria discursar em homenagem ao falecido Governador Antônio Mariz.

            Eu vim aqui ao Senado, onde raramente entrei antes de ter a legitimidade para fazê-lo, já titular de um mandato, para assistir ao discurso de Ronaldo Cunha Lima.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco/PSDB - SP) - Já concluo, Sr. Presidente.

            No discurso de forte conteúdo político, que lembrava a passagem de Antônio Mariz pela política paraibana e brasileira, os percalços enfrentados por ambos naquela década que marcou a consagração dos esforços do nosso povo pela redemocratização do País, Ronaldo Cunha Lima pronunciou uma frase de poeta para evocar a noite em que o corpo do falecido governador saía do seu sítio e era levado em cortejo ao Palácio da Redenção.

            Disse Ronaldo: “As luzes da cidade se acendiam e os sonhos das almas se apagaram.” Esse é o poeta e o político. Eu, todas as vezes que me encontrava com Cássio, perguntava de Ronaldo: como vai seu pai? Ele me dizia: “Ronaldo vai bem.”

            Nós temos certeza, Sr. Presidente, o Ronaldo agora está bem.

            O Senador Pedro Simon pretende me honrar com um aparte. Se V. Exª permitir, eu o ouço com grande prazer.

            O Sr. Pedro Simon (Bloco/PMDB - RS) - Eu creio, com toda sinceridade, que V. Exª... Quando V. Exª ia assumir à tribuna, eu disse “Por que está com a cara tão amarrada?” Eu vejo agora que V. Exª tem razão.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco/PSDB - SP) - Estou triste. Muito triste.

            O Sr. Pedro Simon (Bloco/PMDB - RS) - Eu convivi com Ronaldo Cunha Lima nesta Casa. Ele era um home fora de série. Em primeiro lugar a pureza, a dignidade, era um homem de bem com a vida. Ele não entrava no debate da discussão, da acusação; ele era um poeta. Aliás, que poeta fantástico! Eu vi reuniões, manifestações dele onde ele era um repentista poeta, onde ele falava e discutia, fazia um pronunciamento todo fazendo poesia. Olha, eu tinha muito respeito pelo Cunha Lima, muito respeito por ele. Ele era uma voz importante nesta Casa - lá na Câmara, mas principalmente aqui no Senado. Ele era uma alma política, aliás, teve uma geração ali da Paraíba, a começar pelo Presidente Lucena...

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco/PSDB - SP) - É verdade!

            O Sr. Pedro Simon (Bloco/PMDB - RS) - ...que foi um grande companheiro, uma geração que realmente se impôs a nós todos. O Cunha Lima foi um grande prefeito de Campina Grande. É interessante a Paraíba, porque dizem que Campina Grande é mais importante do que a capital, há uma ciumeira nesse sentido. Ele foi um grande governador e foi um grande senador, e preparou o filho dele, que está aqui nos honrando hoje, mas preparou com afeto para ser esse grande jovem político de grande futuro que é o Cunha Lima filho. Eu me lembro que, homem de coração aberto, o que levou ele a perder a tranqüilidade e a cometer, inclusive, o que lamentavelmente aconteceu, ao brincarem com a honra do filho dele. E o que não era verdade! Quer dizer, um rapaz sério, digno, correto que numa estatal lá no Nordeste estava brilhando e aparecia em manchetes como o exemplo da nova geração de como fazer. Foi a única vez que eu vi ele...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Pedro Simon (Bloco/PMDB - RS) - Acho que qualquer um de nós também perderia, quando mexeram com a tranquilidade do filho dele. Nós sofremos muito a perda dele, sinceramente. Acho que o Brasil perde um nome de primeira grandeza. Eu o admiro. Por exemplo, eu sou fã do Presidente do Supremo, de repente há um poeta na Presidência do Supremo, um grande jurista e um poeta. O Cunha Lima era isso. Era um grande político e era um poeta. E um poeta que na sua poesia cantava a vida, cantava os fatos, as questões sociais e, às vezes, fazia um pronunciamento, como o que eu ouvi, só debatendo, fazendo um plano de governo em poesia. Olha, eu trago a minha solidariedade, através de V. Exª, ao filho dele, nosso irmão e colega, e a todo o povo da Paraíba. Deus tem sido duro com a Paraíba. Foi o Lucena, foi o ex-governador Antônio Marins, um das figuras mais extraordinárias que conheci, e agora o Lucena. Infelizmente, no Brasil, as coisas são mais ou menos assim, vão os que podiam ficar e ficam os que podiam ir. Muito obrigado.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco/PSDB - SP) - Eu que agradeço a V. Exª por este belíssimo aparte, meu caro Senador Simon. V. Exª, com a sua sensibilidade, leu bem no meu rosto a tristeza que eu carregava comigo por ter que vir à tribuna para lamentar a morte de Ronaldo Cunha Lima.

            Fica aqui, Sr. Presidente, este voto de pesar que é endereçado a sua família, ao Governo do Estado da Paraíba, à Assembléia Legislativa, à Prefeitura de Campina Grande, à Academia Paraibana de Letras, à Academia de Letras de Campina Grande, ao Pen Club do Brasil, eu diria também a São Paulo, à Advocacia de São Paulo, onde Cunha Lima brilhou nos tempos em que esteve com os direitos políticos cassados, os meus pêsames a Dª Maria da Glória, aos seus filhos Gláucia e Savigny, Ronaldo e ao nosso querido, queridíssimo companheiro, herdeiro das melhores qualidades de Ronaldo Cunha Lima, Cássio Cunha Lima.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/07/2012 - Página 33217