O SR. JOSÉ SARNEY (Bloco/PMDB - AP. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Senadora Ana Amélia, eu é que fico honrado em pedir a palavra e ter a satisfação de a senhora presidir este momento da sessão.

            Eu queria fazer uma breve comunicação sobre o que já foi tratado aqui neste plenário, com justiça, sobre o falecimento do Ronaldo Cunha Lima.

            Eu acho que desaparece com Ronaldo Cunha Lima um dos melhores políticos do Nordeste e também do Brasil, porque aqui nesta Casa ele se revelou também um grande político no debate dos grandes temas nacionais.

            Recordo que, no governo Fernando Henrique, quando se levantou o problema de privatização da Petrobras, Ronaldo Cunha Lima foi nesta Casa uma voz firme, brava, decidida, em favor da Petrobras. Sem dúvida alguma, eu tenho certeza de que a ideia não prosperou, em grande parte, por causa da posição tomada por Ronaldo Cunha Lima.

            Ele era um homem de várias facetas. A primeira delas era realmente... Eu o considero acima do político, porque ela vem servir ao político, o intelectual. Ele era um homem de uma inteligência extraordinária, de uma cultura também muito vasta. Basta dizer que sobre Augusto dos Anjos ele não só escreveu, mas também sabia tudo sobre Augusto dos Anjos; até do padre que o batizou, Ronaldo Cunha Lima sabia.

            Uma vez, num programa de televisão que foi feito para falar sobre as pessoas que conheciam diversos assuntos, ele teve a oportunidade de dizer tudo, de surpreender o Brasil com aquilo que ele sabia, aquilo que ele expressava sobre Augusto dos Anjos.

            Mas ele também era o grande poeta, poeta erudito e poeta popular, um poeta também que era um grande improvisador, que conhecia todas as regras das cantorias do Nordeste, desde o Galope à Beira-Mar, desde o quadrão trocado a quadrão; enfim, que dominava todas as formas da poesia popular. Até discursos em praça pública ele fazia improvisando versos. Aonde ele chegava, ele sempre tinha uma manifestação do seu talento, da sua inteligência. Eu mesmo, quando ele pensou em entrar para a Academia Brasileira de Letras, me dispus (caso tivesse a oportunidade) a votar em Ronaldo Cunha Lima.

            Também devo ressaltar, entre essas facetas da sua personalidade, a figura humana, o causeur, o homem cordial, o amigo, gentil, solidário, leal e também o homem que não deixava passar nada sobre o Nordeste sem que ele não estivesse pronto e vigilante para sua defesa.

            Então, sobre a Paraíba, nem é preciso ressaltar, ele defendia o seu Estado com uma paixão. Em tudo que ele fazia na vida, ele colocava uma grande parte de paixão.

            Eu fui muito amigo de Ronaldo Cunha Lima, tive com ele uma convivência muito grande. Recordo as noitadas de cantoria que, às vezes, tivemos na Paraíba e mesmo em São Paulo, em casa do Saulo Ramos, que também é outro admirador da poesia popular. Sempre o Ronaldo nos surpreendia com a sua jovialidade, com a sua alegria. Era um homem que tinha a cultura da alegria, que tinha o gosto da convivência, tinha o gosto da vida.

            Portanto, com ele desaparece uma figura marcante da história política do Nordeste. Os seus últimos anos foram anos de grande sofrimento, mas que ele enfrentou sempre sem perder aquele otimismo, aquele gosto da vida, aquela busca pela vida que ele sempre tinha.

            Eu quero aqui, no Senado, nestas palavras, mais do que fazer o elogio a Ronaldo Cunha Lima, quero fazer a homenagem de saudade, o sentimento de tristeza e a minha solidariedade na dor de toda a sua família e de todos os seus amigos pelo seu desaparecimento. Solidariedade essa que eu estendo a todo o povo da Paraíba, que perdeu o seu grande e extraordinário filho.

            Muito obrigado.