Discurso durante a 132ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Preocupação com o papel das Forças Armadas Brasileiras no contexto da atual crise ambiental.

Autor
João Capiberibe (PSB - Partido Socialista Brasileiro/AP)
Nome completo: João Alberto Rodrigues Capiberibe
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
FORÇAS ARMADAS, POLITICA DO MEIO AMBIENTE.:
  • Preocupação com o papel das Forças Armadas Brasileiras no contexto da atual crise ambiental.
Publicação
Publicação no DSF de 17/07/2012 - Página 37224
Assunto
Outros > FORÇAS ARMADAS, POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
Indexação
  • VISITA, ORADOR, BASE NAVAL, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), BASE AEREA, ESTADO DE GOIAS (GO), ATENÇÃO, NECESSIDADE, REFORMULAÇÃO, AMPLIAÇÃO, ENCARGO, COMPETENCIA, FORÇAS ARMADAS, INCLUSÃO, DEFESA, MEIO AMBIENTE, TERRITORIO NACIONAL, COMENTARIO, INTERESSE, PAIS ESTRANGEIRO, INTERNACIONALIZAÇÃO, REGIÃO AMAZONICA.

            O SR. JOÃO CAPIBERIBE (Bloco/PSB - AP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Mozarildo, do meu hemisfério, nós que habitamos o Hemisfério Norte deste País, nas distâncias da Amazônia; Srs. Senadores; Sras. Senadoras - Senadora Ana Amélia, muitíssimo obrigado pela permuta -, na sexta-feira passada, fui convidado pelo comando da Aeronáutica para visitar a base naval no Rio de Janeiro e para participar de uma manobra com um submarino da Marinha de Guerra do Brasil. Antes, um mês atrás, tive a oportunidade de visitar e de conhecer a base aérea onde estão nossos aviões de caça aqui, em Anápolis.

            Essas duas visitas me levaram a uma reflexão sobre o papel das nossas Forças Armadas, sobretudo neste momento, em que nós embarcamos numa crise que me parece permanente, que é a crise ambiental. Com as crises políticas, estamos acostumados a conviver. Não que nós nos acostumemos, mas há, com muita frequência, as crises políticas e as crises econômicas, que chegam, causam danos grandes à sociedade, mas terminam sendo superadas. Mas a crise ambiental veio para ficar. É uma crise permanente e que, só agora, começa a mostrar os seus efeitos.

            Nessas duas visitas, dei-me conta de que é fundamental integrar as questões ecológicas e ambientais à nossa estratégia de defesa de segurança nacional. Tomo como parâmetros as reflexões feitas pelos militares franceses, que, segundo eles próprios, estão muito atrasados nessa questão. Ora, se as Forças Armadas francesas consideram que estão muito atrasadas no debate, na discussão, em trazer para a agenda as questões ambientais, imagino que, no Brasil... Eu até desconheço o nível do debate em que pautam as nossas Forças Armadas.

            Paris publicou, muitos anos depois de Washington e Londres, no início deste ano, dois relatórios exortando os estrategos da defesa e da segurança francesa a se interessarem cada vez mais pelas questões ambientais e ecológicas, particularmente no caso das mudanças climáticas.

            O primeiro relatório foi produzido pela Secretaria-Geral da Defesa e da Segurança Nacional (SGDSN), serviço subordinado diretamente ao Primeiro Ministro. O segundo relatório é um documento parlamentar que trata do impacto das mudanças climáticas em matéria de segurança e de defesa, elaborado pelos Deputados André Schneider, Deputado que representa a direita na Assembleia Nacional francesa, e Philippe Tourtelier, do Partido Socialista, portanto da esquerda. Esse relatório foi feito por esses dois parlamentares.

            Os franceses constataram que, há mais de 15 anos, os especialistas do Pentágono imaginam as guerras de amanhã com fortes componentes ambientais e ecológicos. Os oficiais americanos acreditam que cada vez mais deverão participar de conflitos cujas causas serão ambientais, como no caso dos refugiados climáticos, do acesso aos recursos naturais e energéticos, particularmente petróleo, da degradação de biomas e ecossistemas. E aí nós fazemos parte da América e nós somos vizinhos dos Estados Unidos, que fazem exatamente essa leitura.

            No caso dessa última preocupação, biomas e ecossistemas, ela está diretamente relacionada à Amazônia, até porque, na medida em que se desmata a Amazônia, esse desmatamento vai provocar, certamente, mudanças climáticas nos Estados Unidos. A minha pergunta é se o governo americano vai ficar de braços cruzados. Além do mais, eles julgam que o mundo poderá estar mais instável do que hoje também no caso da água e da alimentação. Esses recursos poderão ser objeto de disputas entre nações. Os consultores militares americanos também estão preocupados com a fusão dos gelos do Ártico, fato que está despertando ambições dos países vizinhos do Polo Norte, tanto mais que eles não dispõem de navios adaptados a esta nova situação: ao degelo das calotas polares.

            Portanto, essas mudanças preocupam os Estados Unidos, e acho que nós também temos que embarcar nessa preocupação.

            Os consultores do Pentágono e da CIA fazem estudos prospectivos sobre essas questões há muito tempo, assim como a alta hierarquia militar americana já integrou a problemática ambiental em sua grade de leitura.

            Em 2009, numerosos generais e almirantes americanos fizeram um apelo para que a Marinha se adaptasse à evolução do clima - em função de a Marinha ocupar o mar e também os portos não só dos Estados Unidos como das suas bases espalhadas pelo mundo todo -, mas as preocupações vão mais adiante. Os militares americanos pensam também em adaptar o material militar ao clima futuro, seja mais úmido, seja mais seco, conforme os terrenos. Também se preocupam com a elevação do nível do mar e o aumento da frequência e da intensidade dos ciclones, que são verdadeiras ameaças às suas principais bases - Diego Garcia, no Oceano Índico, e Pensacola, na Flórida. A essas duas bases, eu acrescentaria grandes cidades, como Nova York, que está localizada no mesmo nível do mar.

            Pelas razões expostas acima, eu gostaria de conhecer as reflexões efetuada pelas nossas Forças Armadas. É claro, além de agradecer o convite e a recepção que nos foi oferecida tanto na Base Aérea de Anápolis quanto no Rio de Janeiro, eu gostaria de conhecer essas reflexões efetuadas por nossas Forças Armadas no tocante às grandes questões ecológicas, ou seja, mudanças climáticas, perda de biodiversidade, esgotamento de recursos naturais e, finalmente, as poluições dos meios naturais (água, ar e solos).

            Acho que é fundamental que as nossas forças de defesa e segurança se preocupem com essas questões que nós teremos que enfrentar; já estamos enfrentando e, cada vez mais, teremos que enfrentar. E são irreversíveis.

            Evidentemente, essa questão é bastante séria e não deve ser caricaturada como sendo uma temática que interessa apenas às ONGs internacionais com interesses espúrios e contrários aos interesses nacionais. Não. A questão ambiental, a crise ambiental é definitiva. Ela veio para ficar. Portanto, ela tem que ser objeto de preocupação do conjunto da sociedade brasileira e, em especial, das nossas Forças Armadas, que têm que estar preparadas na eventualidade de terem que defender o nosso País.

            Era isso, Sr. Presidente.

            Muito obrigado. 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/07/2012 - Página 37224