Discurso durante a 138ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Análise da questão da luta contra a corrupção no Brasil.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
JUDICIARIO, CORRUPÇÃO, CONGRESSO NACIONAL.:
  • Análise da questão da luta contra a corrupção no Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 09/08/2012 - Página 40272
Assunto
Outros > JUDICIARIO, CORRUPÇÃO, CONGRESSO NACIONAL.
Indexação
  • COMENTARIO, ELOGIO, ORADOR, RELAÇÃO, RESULTADO, JULGAMENTO, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), FATO, PAGAMENTO, MESADA, CONGRESSISTA, CRITICA, SENADOR, REFERENCIA, ATUAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sra. Presidente, Srs. Parlamentares, interessante e estranha a situação que estamos vivendo nesta semana. De um lado, o Supremo vive talvez os momentos mais históricos e mais brilhantes de toda a sua atividade ao longo do século. Um desafio que parecia indecifrável. Tiveram coragem; e não só tiveram coragem como também estão levando adiante.

            E que página linda da democracia estamos vivendo, quando o Ibope anuncia que recordes de audiência estão sendo obtidos pela TV Justiça e pelo canal Globo News, da Rede Globo, que estão transmitindo tudo ao vivo.

            Pouquíssimos países se dão ao luxo de ver um acontecimento dessa natureza. Ali, transmitida para o Brasil inteiro, a Nação assiste a uma das mais escandalosas páginas da história política brasileira, onde nos mínimos detalhes tudo é contado e onde o cidadão não vai saber o resultado, não entendendo nada, mas pode acompanhar passo a passo os fatos e as suas consequências.

            Eu me emociono, porque digo que o Brasil está mudando agora. Folha limpa. Essa decisão do Supremo é o início do fim da impunidade no Brasil. É o fim do início do rouba e não acontece nada.

            Mas, ao mesmo tempo em que isso está acontecendo lá no Supremo, aqui no Senado, minha querida Presidenta, nós estamos vivendo um dos momentos mais vexatórios da nossa história: a CPI do Sr. Cachoeira está virando um ato que envergonha o Congresso Nacional. Custa crer que isso esteja acontecendo numa CPI que foi pedida pelo ex-Presidente Lula, o governo é que pediu.

            Constituída a CPI, uma CPI constituída em cima de fatos já existentes - o normal da CPI no Congresso é uma denúncia -, então, a gente cria uma comissão parlamentar de inquérito que vai investigar para ver se existem ou não existem os fatos arrolados na denúncia. O impeachment do Collor foi uma denúncia do irmão dele contra o PC Farias. Nós criamos a CPI para investigar e verificamos que era verdade. Agora não. Agora a Polícia Federal e o Ministério Público encontraram toda a corrupção, toda a corrupção do Sr. Cachoeira, toda a corrupção denunciada pelo ex-presidente do DNIT. Os fatos estão provados. E a CPI insiste em deixar os fatos na gaveta para não deixar virem à tona.

            Não é apurar; já estão apurados. É deixá-los vir à tona, e eles não deixam.

            O ex-Presidente do DNIT vai à imprensa e diz: eu quero falar. Eu tenho fatos os mais graves para contar. Eu quero contar! E o Relator da CPI não quer ouvir. A comissão já aprovou que ele seja chamado, mas o Relator não quer ouvir; foi ouvir a mulher do Sr. Cachoeira ontem. Amanhã vai ouvir a ex-mulher do Sr. Cachoeira. Não sei se vão perguntar por que se separaram, por que não se separaram; o que aconteceu, o que não aconteceu. Agora, o ex-Presidente do DNIT que quer contar, que conhece os fatos, esse não é convocado.

            Olha, eu, Pedro Simon, 32 anos de Senado, há 32 anos estou querendo criar CPI para investigar corruptor, empreiteiro, e nunca consegui. Não passa, não passa. Pois esta CPI que veio... E os escândalos da Delta já estão provados, já estão claros. O Presidente da Delta disse em entrevista, na revista: com 30 milhões, eu compro qualquer Senador. Eu compro qualquer Senador e faço o que bem quiser. Essa Delta, uma empresa de terceira categoria, de repente é a empreiteira que mais tem obra no Governo Federal, que mais obras tem no Governo Federal, mais do que as tradicionais que estão aí.

            O Governo pega um açougue de Goiás e o transforma no maior frigorífico do mundo, com dinheiro do BNDE - o maior frigorífico do mundo com dinheiro do BNDE! Aí essa empresa entra na Delta com dinheiro do BNDE. O Governo diz que a Delta é inconfiável, que não merece confiança, obrigou o banco, o BNDE, a voltar atrás, e anulou a união da Delta com o açougue, hoje frigorífico.

            Pois, até agora, o Relator e a Comissão não querem ouvir o Presidente da Delta, não convocam o Presidente da Delta. Olha, pelo amor de Deus, estou aqui há 32 anos, ouvi muita coisa, mas que nem essa não tinha acontecido. Dizem que é acordo entre os maiores partidos, é um arreglo; tu não falas do fulano, outro não fala no fulano, e outro não fala no fulano. Dizem até que é por isso que o Cachoeira ainda está preso porque ele é uma pessoa que é ambulante, pode aparecer morto, porque o que ele tem a contar, e o medo é este, que o Sr. Cachoeira venha e conte aquilo que ele sabe e que outras fitas que existiriam, mexendo não sei com quem, dizem até mexendo com aqueles que o dono da Delta compraria por não sei quantos mil dólares. Então, não vão ouvir nada. Não ouço os do PT, os do PT não ouvem os do PSDB, estes não ouvem os do PMDB, não se convoca ninguém. Mas onde é que estamos? Numa hora em que o Supremo escreve a página mais bonita da sua história, cortando na carne, o Procurador-Geral falou durante cinco horas e falou duro, falou duro do PT, falou duro do Sr. José Dirceu e, nas entrelinhas, falou duro do próprio ex-Presidente, embora, com categoria, não o trouxesse à tona, o que acho que ele fez bem, mas ficou mal para ele. O Supremo escreve uma página genial, e o Congresso escreve na...

            (Interrupção do som.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - ...mesma hora e no mesmo momento uma página vergonhosa, tão vergonhosa que não se teve coragem de passar na TV Senado, passaram uma outra Comissão qualquer porque ficaram com vergonha de transmitir na TV Senado. Até onde vamos, meu Deus do céu? (Fora do microfone.) Desafio o Presidente da CPI, o ilustre Senador do meu Partido. Mas de um modo especial eu desafio o relator do PT, que é quem está engavetando. Muito feio! Muito feio.

            Nós já criamos uma CPI assim, porque eu ainda vou ter que vir a esta tribuna para contar o início dessa história do mensalão, desta tribuna que estou aqui nesse momento. Quando apareceu na televisão aquele cidadão dos Correios - que apareceu mil vezes na televisão, sentado ali e outro cara dando o dinheiro para ele e ele botando o dinheiro no bolso e discutindo as comissões lá nos Correios -, eu disse aqui: Presidente Lula, demita já, demita já para dar orientação ao seu partido. Demita já! E saí daqui e fui lá. Eles disseram que iriam demitir e não demitiram.

            Como não demitiram, o Senador Jefferson Peres e eu entramos com um pedido de CPI. O Presidente do Congresso, a pedido do Lula não deixou criar a CPI. Como não deixaram criar a CPI, nós entramos no Supremo. Ganhamos no Supremo. Foi criada a CPI, mas um ano depois. Ai não era mais o negócio dos Correios, aí já era o mensalão, era uma roubalheira, era um escândalo generalizado.

            Criaram a CPI, mas criaram a CPI que foi conhecida como a CPI Chapa Branca. O Presidente era do PT do Mato Grosso do Sul, o relator era um relator nosso lá do Nordeste. Todo mundo disse que foi criada de mentirinha para abafar, mas aí começaram a aparecer os fatos; aí começaram a aparecer os fatos e o ilustre Senador que nos honra até hoje aqui, do Mato Grosso, e o ilustre relator, hoje Ministro Garibaldi, tiveram personalidade. Eram do governo, mas não abafaram, apuram tudo, tudo, tudo. Não houve aquela história de que não, mas é contra o governo e não sei o quê. Provaram tudo e daí surgiu o mensalão que está aí.

            Naquela oportunidade uma CPI composta só de gente do governo, mas apuraram. Agora hoje é uma vergonha. Lá apuraram, lá descobriram. Aqui o fato já existe e eles estão engavetando. É uma vergonha!

            Mas nós estamos vivendo, no mesmo dia, duas páginas: a página mais bonita da história do Supremo; e, pelo menos nos 32 anos que estou nesta Casa, uma das páginas mais tristes na história do Congresso.

            Muito obrigado pela tolerância, Sra. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/08/2012 - Página 40272