Discurso durante a 138ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas contra a falta de apoio ao esporte no Brasil.

Autor
Cyro Miranda (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/GO)
Nome completo: Cyro Miranda Gifford Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESPORTE.:
  • Críticas contra a falta de apoio ao esporte no Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 09/08/2012 - Página 40280
Assunto
Outros > ESPORTE.
Indexação
  • CRITICA, SENADOR, FATO, PRECARIEDADE, INVESTIMENTO, AUTORIDADE, RELAÇÃO, ESPORTE, PAIS, SOLICITAÇÃO, ORADOR, REFERENCIA, MELHORIA, PLANEJAMENTO, GESTÃO, RECURSOS FINANCEIROS, OBJETIVO, RESOLUÇÃO, PROBLEMA.

            O SR. CYRO MIRANDA (Bloco/PSDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Sr. Presidente Casildo Maldaner.

            Sras. e Srs. Senadores, Rádio e TV Senado e Agência Senado, o Brasil vibrou com Arthur Zanetti quando o jovem atleta beijou a medalha olímpica e comemorou o ouro no mais alto lugar do pódio.

            Arthur Zanetti superou o chinês tetracampeão mundial. Seguiu o caminho de Sarah Menezes, ouro no judô, e ganhou a primeira medalha da ginástica nas argolas, uma modalidade pouco difundida no País. Foi o coroamento de um trabalho de 14 anos feito pelo clube Sociedade Esportiva Recreativa Santa Maria, de São Caetano do Sul, e do técnico Marcos Goto, o maior responsável por alçar Zanetti à elite da ginástica mundial.

            A carreira do atleta não começou como resultado de um trabalho sistemático que deveria existir por parte do Ministério do Esporte para encontrar as dezenas de Sarahs e Zanettis escondidos e acanhados nos diversos cantos deste imenso Brasil. Como o próprio técnico conta: "Não fui eu quem o descobriu. Foi ele que me descobriu".

            Exatamente assim, em 1998, começou a carreira olímpica desse campeão, que, aos oito anos de idade, distinguiu-se entre os meninos ávidos por treinar no Santa Maria. Pequeno, forte e muito ágil, Zanetti tinha o corpo ideal para as argolas. Não fosse o esforço da própria associação de pais do clube e do Município, que montaram uma equipe de apoio, talvez Arthur Zanetti tivesse permanecido apenas como um grande talento e nada mais. Somente quando começou a apresentar resultados, Arthur passou a ter as viagens pagas pela Confederação e pelo Comitê Olímpico Brasileiro.

            É difícil acreditar, Sras. e Srs. Senadores, que o atleta chegou a usar aparelhos feitos pelo pai.

            Sabem por quê? Porque, apesar de a Confederação ter recebido R$7 milhões do Governo em 2011 para comprar aparelhos, tudo o que fez foi vender ao Santa Maria, de São Caetano do Sul, um tablado subsidiado.

            Não faz muito tempo, Arthur Zanetti não tinha sequer argolas no padrão olímpico, que só chegaram - pasmem - a três meses dos jogos.

            Patrocínio? Só a dois meses do jogo!

            Isso demonstra alguns dos absurdos imperdoáveis que acontecem no Brasil. O fato é que, não fosse o verdadeiro consórcio de pais, amigos e apoiadores incondicionais, o Brasil não poderia contar hoje com mais uma medalha olímpica para enaltecer a Nação.

            A verdade é que, lamentavelmente, dezenas de talentos perdem-se a cada dia no Brasil em razão do mesmo mal: falta de planejamento e estratégia das autoridades competentes. E, como o próprio Goto diz: "Não se forma equipe campeã olímpica em 4 anos. E, sem apoio financeiro, o Brasil não deve esperar a revelação de novos talentos da ginástica para as Olimpíadas de 2016".

            Sr. Presidente, a formação de um atleta de alto desempenho é extremamente cuidadosa e segue passos rigorosos. O Brasil, assim como está atrasado nas obras para a Copa do Mundo em 2014, está muito atrasado para as Olimpíadas de 2016.

            O curioso é que, como a Presidente Dilma Rousseff disse, o Brasil tem um dos maiores programas de apoio individual de atletas do mundo, com R$60 milhões, que beneficiam mais de quatro mil desportistas, desde o iniciante ao atleta de alto desempenho. São R$200 milhões para a preparação das seleções nacionais e para a modernização dos centros de treinamentos.

            Em dez dias de competição, o Brasil já conquistou em Londres um número de medalhas maior que na Olimpíada de Pequim. Mas, como bem observa o ex-membro do Comitê Olímpico Brasileiro Alberto Neto, pelo investimento feito, o Brasil deveria ter muito mais medalhas, pelo menos o dobro. A Grã-Bretanha, por exemplo, tem 38 medalhas conquistadas até agora em Londres, contra 47 no total em Pequim.

            A anfitriã de 2012, que é usada como termômetro para o Brasil, sempre teve uma estrutura incrível voltada aos esportes. E, desde que a Olimpíada foi anunciada, o investimento foi feito de uma forma correta e com um planejamento ao longo de anos.

            No Brasil, a Portaria 164, de outubro de 2011, editada pelo Ministério do Esporte, pretende, por exemplo, que 85% do orçamento anual para a Bolsa Atleta - que este ano poderá chegar a R$80 milhões - seja para as modalidades olímpicas e paraolímpicas. Além disso, cria a categoria "Base" - espécie de iniciação no esporte.

            Portanto, é preciso reconhecer que há dinheiro no Brasil, sim.

            Mas o que falta, então?

            Gestão, critérios e planejamento.

            E agora já é tarde para transformarmos nossos talentos e o País numa potência olímpica em 2016.

            O caminho para o futuro do esporte no Brasil não pode ficar focado apenas na Olimpíada de 2016. É preciso ver todas as modalidades como um poderoso catalisador do talento da juventude e investir no esporte de base, difundido nas escolas com o apoio de estrutura compatível com a busca do alto desempenho.

            Se isso não for feito, vamos continuar a sobreviver apenas das conquistas de alguns atletas de ponta, surgidos com mais talento e sorte, e não das categorias de base devidamente apoiadas pelas ações de Governo.

            Portanto, transcrevo aqui algumas das conclusões a que chega o ilustre Ministro do TCU Augusto Sherman Cavalcanti, no Acórdão n° 357/2011:

1) A auditoria operacional realizada pelo TCU nas ações de apoio ao Esporte de Alto Rendimento evidenciou que, para o Brasil se tornar uma potência olímpica, os investimentos públicos devem ser direcionados para a criação de um efetivo sistema que fomente a detecção, o encaminhamento, a formação, o desenvolvimento e o aperfeiçoamento de atletas das diversas modalidades olímpicas. Constatou, ainda, uma série de problemas estruturais que necessitam ser equacionados.

2) Apesar de haver uma Política Nacional do Esporte desde 2005 e uma Política Setorial para o Esporte de Alto Rendimento desde 2006, as diretrizes e objetivos contidos nesses documentos não foram devidamente cumpridos. Entre outros fatores, está a ausência de um plano estratégico que detalhe as ações, responsabilidades, metas e indicadores para o setor;

3) Constituem achados importantes da auditoria, que demandam atenção especial e medidas saneadoras por parte do Ministério do Esporte:

- as deficiências operacionais e de infraestrutura dos centros de treinamento instalados;

- o risco da construção de novos centros sem qualquer análise de viabilidade, de sustentabilidade e de usabilidade para o esporte de alto rendimento;

- a intempestividade na concessão do Bolsa Atleta;

- a inexistência de política pública para o pós-carreira dos atletas; e

- a descontinuidade de ações governamentais, tanto nos projetos de detecção de talentos quanto na coordenação da Rede Cenesp.

4) Ademais, grande contingente de crianças e jovens não tem acesso à iniciação da prática esportiva, em virtude tanto da dificuldade de ingresso nos clubes que ofereçam a prática das modalidades, quanto da falta de disseminação dessa prática nas escolas brasileiras. Os poucos talentos que conseguem ser detectados, por uma ou outra iniciativa, seja pública ou privada, possuem dificuldades de continuidade na carreira, pois não há um "caminho" estabelecido para que possa chegar ao alto rendimento. Além disso, o apoio prestado aos atletas, nos diversos níveis de preparação, pela ciência do esporte, ainda é frágil.

            Sra. Presidente, o problema do Brasil, no que tange aos esportes olímpicos, é o mesmo da educação pública de qualidade, da infraestrutura e de tantos outros setores: falta de gestão e planejamento, mais do que de recursos públicos.

            Ao encerrar este pronunciamento, apelo às autoridades que, de fato, criem um planejamento sério, com objetivos e metas bem definidos, de modo a aproveitar esse maravilhoso potencial de nossa juventude, tão ávida por mostrar ao Brasil e ao mundo a força de nossos talentos.

            Muito obrigado!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/08/2012 - Página 40280