Discurso durante a 144ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Homenagem ao Senador Henrique de La Rocque Almeida pelo transcurso, hoje, dos cem anos de seu nascimento.

Autor
José Sarney (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
Nome completo: José Sarney
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao Senador Henrique de La Rocque Almeida pelo transcurso, hoje, dos cem anos de seu nascimento.
Publicação
Publicação no DSF de 09/08/2012 - Página 40384
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ORADOR, RELAÇÃO, CENTENARIO, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, EX SENADOR, ESTADO DO MARANHÃO (MA), REGISTRO, ELOGIO, HISTORIA, VIDA, POLITICO.

            O SR. JOSÉ SARNEY (Bloco/PMDB - AP. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, minha longa vida nesta Casa me faz, já nesta etapa, ser um pouco melancólico, sobretudo em relação às pessoas com quem eu convivi, com quem eu vivi, e que hoje já estão na época de completar centenário de nascimento ou no caminho de marchar para o destino de todos nós.

            E, nesse sentido, eu não queria que passasse em branco, neste dia 8 de agosto, que hoje se comemoram 100 anos de nascimento, é o centenário de um homem que foi um grande Senador aqui nesta Casa na década de 70 e que era um homem de uma extrema presença e de uma extrema bondade. Ele era tido aqui no Senado como um homem bom, um homem que foi Secretário da Casa, um homem que não tinha inimigos, um homem que tinha uma aura de bondade e de estima: falo do Senador Henrique de La Rocque Almeida.

            Ele foi aqui, na Casa, uma referência e, sobretudo, uma referência de carinho, de amizade, de convivência com as pessoas. Ele tinha como norma de sua vida sempre olhar o lado bom, o lado correto das pessoas, e nunca vi, nós nunca vimos aqui, nesta Casa, em nenhum momento, La Rocque agredir a quem quer que fosse no tempo em que ele aqui foi Senador, durante seis anos -- daqui saiu para ser Ministro do Tribunal de Contas da União.

            Ele nasceu em São Luís, cursou o ginásio na Bahia, no Colégio Antônio Vieira, o mesmo em que estudou Jorge Amado. Depois, foi para o Rio de Janeiro, onde formou-se em Direito, cursando a Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, da Universidade do Brasil, atualmente UFRJ.

            Muito moço, ele foi aprovado em concurso e tornou-se técnico do Ministério da Fazenda. Chefia o Departamento da Câmara de Reajustamento Econômico. Em 1951, é nomeado Presidente do Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Comerciários, onde ele fez uma excelente administração. Durante esse tempo, fez uma amizade muito grande com o Presidente Vargas, que queria também muito bem ao La Rocque, que tinha um apreço pelo La Rocque, julgava também o La Rocque um homem muito bom e o fez presidente do IAPC.

            Nessa época, ele começa a participar da política maranhense, reunindo-se com os líderes da oposição na tentativa de encontrar uma solução para a crise da eleição de Eugênio Barros, em 1951.

            Em 1953, faleceu o grande nome do Maranhão, que era Senador, Clodomir Cardoso, grande jurista, grande latinista, grande professor. Com o seu falecimento, abriu-se, no Senado, uma vaga, já que, ao mesmo tempo, o seu suplente tinha renunciado e faltavam dois anos para o término do seu mandato.

            Getúlio, com a intermediação de Tancredo Neves, indicou La Rocque para concorrer a essa vaga de Senador. Mas o Senador Vitorino Freire não aceitou as relações que o La Rocque tinha com as Oposições Coligadas e lançou a candidatura do Carvalho Guimarães, também um velho político do Maranhão, que já estava com certa idade, figura tradicional, conhecido como parlamentarista, amigo do Raul Pilla. Então, La Rocque foi candidato, mas não se elegeu. Evidentemente era muito difícil naquele tempo que ele se elegesse. Mas isso fez com que ele sedimentasse um caminho e, no ano seguinte, fosse candidato a Deputado Federal, elegendo-se pelo Partido Trabalhista Brasileiro, onde ingressara por sua ligação pessoal com Vargas.

            Em 1958, Clodomir Millet e Neiva Moreira o convidam para concorrer pelo PSP, que era o partido de Adhemar de Barros, também um partido muito forte no Maranhão, porque era comandado por Clodomir Millet, que veio a ser Senador. E ele renovou o seu mandato em 1962.

            Em 1966, também uma vez mais era Deputado, já então eleito pela Arena. Foi 1º Secretário da Câmara -- gostava de ser membro da Mesa --, também já fora 2º Secretário da Mesa e, em 1970, elegeu-se pela quarta vez.

            Quando chegou em 1974, na eleição de 74 -- eu já era Senador --, achei que devíamos já lançar La Rocque como candidato ao Senado. E apoiei sua candidatura a Senador. Foi bem eleito e aqui ficou até 1980, quando foi escolhido Ministro do Tribunal de Contas da União. Infelizmente, pouco exerceu o cargo, que significava para ele uma proteção financeira. Era um homem extremamente pobre, de hábitos muito simples e de grande austeridade. Faleceu em 1982. Lembro-me de que com lágrimas participei do seu sepultamento. Era uma dessas pessoas em quem a gente se liga pessoalmente.

            A política cria afeições, amizades. No caso de La Rocque, além da política -- na qual nem sempre estivemos juntos, mas separados, porque ele era do PSP e eu da União Democrática Nacional --, havia uma grande amizade. Gostava bastante de La Rocque e o assisti muito nos últimos anos de vida, no sofrimento que teve até a sua morte.

            Era um homem de grande inteligência, mas muito discreto e de excelente convívio. Era muito querido pela população de São Luís. Interessante, porque não era um desses políticos clássicos, chamados populistas. Não era daqueles políticos populares que fazem discursos e mais discursos, que exploram as situações. Não, era um homem extremamente calado, extremamente discreto. É o primeiro caso que conheço de um político com essa característica que se torna extremamente popular. Quando ele passava, diziam: “Ali vai o Dr. La Rocque, um homem bom.” Foi um grande político. Em São Luís, sempre se elegeu com uma grande votação. Era um homem de grande integridade, de um comportamento exemplar e foi uma referência na vida pública, não só para o meu Estado como também para o Brasil.

            É com grande amizade que celebro hoje a sua memória nesta data em que ele faria 100 anos. Por isso, não queria deixar que passasse este 8 de agosto sem dizer umas palavras sobre La Rocque. Que fique nos Anais que ele é lembrado ainda por seus colegas do passado. Ele não deixou filhos, parentes também muito poucos, mas, ao mesmo tempo, deixou amigos que, como eu, também estão bem vividos e ainda registram essa lembrança, que é feita de muitas pessoas que sobrevivem na memória de alguns que também desaparecerão e, com essa memória desaparecendo, eles também desaparecerão.

            Relembro seu centenário como uma data marcante na história dos políticos maranhenses, dentre os quais ele ocupa um lugar de destaque, como também dos políticos brasileiros e como uma grande figura que passou pelo Senado Federal.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/08/2012 - Página 40384