Discurso durante a 145ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro da importância histórica do julgamento do “mensalão” pelo Supremo Tribunal Federal; e outro assunto.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CORRUPÇÃO.:
  • Registro da importância histórica do julgamento do “mensalão” pelo Supremo Tribunal Federal; e outro assunto.
Publicação
Publicação no DSF de 10/08/2012 - Página 40667
Assunto
Outros > CORRUPÇÃO.
Indexação
  • REGISTRO, IMPORTANCIA, JULGAMENTO, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), PAGAMENTO, MESADA, CONGRESSISTA, APLICAÇÃO, LEGISLAÇÃO, FICHA LIMPA, MELHORAMENTO, DEMOCRACIA, PAIS, CRITICA, OCORRENCIA, DESVIO, FUNDOS PUBLICOS, ANALISE, DIVULGAÇÃO, ASSUNTO, MEIOS DE COMUNICAÇÃO, COMENTARIO, NECESSIDADE, ATENÇÃO, IMPRENSA, SITUAÇÃO, BRASILEIROS, ATIVIDADE POLITICA, REFERENCIA, EXPECTATIVA, ORADOR, MELHORIA, EXERCICIO, POLITICA, BRASIL.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senadora Lúcia, muito obrigado pela gentileza de V. Exa. Aliás, V. Exa. é uma figura incomparável nesta Casa. Estou indo na expectativa de que o avião atrase. E, se atrasa, a gente não diz nada, mas, se sai no horário, sai no horário.

            Eu volto a esta tribuna na minha trilogia: salientei a importância do momento histórico que nós estamos vivendo. Se eu tivesse algum poder de força, eu faria uma espécie de feriado, para as pessoas todas ficarem em casa assistindo na televisão ao julgamento do Supremo, por ser uma aula de bom ensinamento, uma aula de equilíbrio, uma aula de compreensão, uma aula de patriotismo.

            Falei ontem na página negativa, que se eu tivesse condições eu escondia, não publicava em nenhum jornal o que está acontecendo na CPI do Congresso. É uma aula de indecência, uma aula triste, um dos piores momentos da história desta Casa.

            Mas hoje eu quero dizer o seguinte: olha, Senadora Lúcia, eu acredito que nós estamos vivendo um momento muito importante. Olha que, nos meus 80 anos, eu já repeti muitas vezes - muitas vezes -: na morte de Getúlio, na derrubada de Jango, na renúncia do Jânio, no impeachment, na ditadura. Mas sinto que estamos vivendo, no Brasil, pela primeira vez para valer, um momento de definição. Vivemos isso nas Diretas Já. Ninguém imaginava que estávamos ali vendo o final de um ciclo, de uma cruel ditadura. Mas vivemos isso.

            Agora, nesse silêncio que se está a ver, sinto que o Supremo Tribunal Federal vai dar uma lição ao Brasil, vai dar um norte ao nosso País, vai apontar um caminho à sociedade brasileira. Este País, o país da impunidade, onde há um setor de pessimismo, o país do jeitinho, este País vai encontrar um jeito e uma linha pela qual vai caminhar.

            O Supremo e a Ficha Limpa vão terminar com a impunidade. Você, meu irmão, que está me assistindo, não está se dando conta, mas a Lei da Ficha Limpa já está limpando a lista de muita gente que não poderia ser candidato e que seria se não fosse a Ficha Limpa.

            No meu Partido, o PMDB, o Presidente nacional mandou uma circular a todos os diretórios municipais, orientando para que não coloquem candidatos a prefeito, a vice ou a vereador que tenham problema de ficha limpa. Isso vai criar um problema para o Partido e para ele. Se o cidadão está tranquilo, não está tendo nada, ele entra e vai ser processado, desmoralizado e não pode ser candidato. Muita gente já não vai entrar na lista por causa da Ficha Limpa.

            Vamos começar a mudar o Brasil com a decisão do Supremo e esta eleição.

            Dentro desse contexto, eu me dirijo a ti, meu irmão que está me assistindo. Eu creio que é o momento em que nós poderíamos integrar-nos, dar-nos as mãos, iniciarmos uma caminhada nova. Iniciarmos uma caminhada, assim como faz a CNBB faz a chamada para os 40 dias de jejum e de penitência, na campanha da fraternidade. Vamos fazer, no Brasil, uma caminhada no sentido de tomar e retomar o processo da dignidade. Vamos iniciar um movimento em que realmente busquemos um caminho de ética, de moral e de seriedade.

            Em meio ao debate que está acontecendo no Supremo Tribunal, há um aspecto da maior importância. Está havendo uma discussão que talvez você, meu irmão que está assistindo, não esteja dando a devida identificação. A Procuradoria analisa que houve desvio de dinheiro público, que houve dinheiro irregularmente aplicado, e a Defesa está dizendo que não houve nada, que só houve caixa dois.

            O caixa dois, que é um escândalo, que é exatamente arrumar dinheiro por fora sem nenhuma explicação de onde veio e como veio! O caixa dois, que é crime, está sendo defendido por todos os advogados de defesa lá. É preferível o caixa dois à formação de quadrilha ou coisa parecida. Caixa dois o crime já prescreveu. Absolvido, cometeu o crime, cometeu o delito, usou o caixa dois, mas o tempo da pena já passou e não acontece nada. Assim é o Brasil, a lei de Gérson, levar vantagem em tudo. Levar vantagem contra o fisco, levar vantagem na fila, levar vantagem no que for possível, não interessa quem for o adversário, não interessa quem saia perdendo. 

            Eu creio, Sr. Presidente, que é importante essa caminhada. O programa de televisão novo da ilustre jornalista Fátima Bernardes, que era apresentadora junto com o marido do Jornal Nacional, me chamou a atenção.

            Esse jovem que apareceu no programa da Globo já tinha estado no meu gabinete. Um menino lá do interior do teu Ceará, meu ilustre Senador, um menino humilde, que montou uma biblioteca - eu diria quase que na favela da sua casa. Ali estão dezenas, quase centenas, de livros que ele conseguiu amealhar e que, ali na sua casa, distribui para seus colegas.

            A Globo o levou para fazer a sua apresentação. Fiquei impressionado com essa lição de vida, o que a vida mostrou. Como é que aquele jovem, cujo pai é quase inválido - está andando de muletas -, a mãe está firme ao seu lado, um quarto, uma cozinhazinha, e o resto é cheio de livros, que ele foi conseguindo com uns e com outros. Todos os seus colegas de aula iam ali apanhar os livros, ler os livros. Esse jovem foi para a universidade e deu uma lição de vida no programa dessa jornalista, Sra. Bernardes, que emocionou todos os componentes, e também me emocionou.

            Que a Globo veja esse programa e mostre quanto de positivo existe - como este caso - na história do Brasil que poderia aparecer no Jornal Nacional, ao lado dos que são drogados, dos que matam, dos que fazem um milhão de coisas erradas. Parece que no Brasil só tem isso!

            Eu repito aqui pela 10ª vez: amigo meu jornalista, eu fui me queixar porque só saia coisas ruins da Assembleia Legislativa, e as coisas importantes, muito importantes não apareciam. Ele respondeu: “Vocês são pagos pelo Governo e, se são pagos pelo Governo, têm obrigação de fazer. Se vocês fizerem uma coisa muito boa, muito importante, é manchete, mas fazer o dia a dia é obrigação de vocês. Aprenda, Simon, se você descer daqui e, na hora que sair da Zero Hora, um cachorro de morder, tu não sais nem no noticiário policial, porque não vale dois mil réis. Quer ser capa da Zero Hora? Morde o cachorro. Desce e morde o cachorro e você é capa da Zero Hora.”

            Essa é a realidade brasileira. Essa é a realidade brasileira.

            Estou a promulgar, a defender que junto, em vez de transformar esse fato em mais um fato, em vez de transformar essa decisão do mensalão numa coisa “terminou, passou”, vamos iniciar uma caminhada, uma grande caminhada, no sentido de que cada entidade faça uma revisão, cada um de nós faça uma revisão no Brasil inteiro em algo que pode fazer para melhor, para a nossa sociedade.

            Vamos reunir aqui no Senado os Líderes e vamos ver quantas coisas nós podemos fazer altamente positivas, para o Senado, para o Erário, votação de projetos que estão engavetados e alguns são altamente importantes. Vamos ver na associação dos amigos do bairro, vamos ver quanto podemos fazer numa cruzada. Eu quase diria que não vamos mudar, mas vamos melhorar o Brasil.

            Creio que isso é viável, creio que, se nós iniciarmos um movimento ao conjunto da sociedade, creio que, se a grande imprensa entrar nessa, realmente entrar nessa...Continuem apontando 90% do tempo as coisas ruins que estão acontecendo. Continuem, nem posso imaginar que parem.

            Mas, junto com isso, deem um tempo para publicar aquilo que se vai fazer para melhorar, para avançar no sentido da seriedade e da dignidade. Eu acredito nisso, Sr. Presidente.

            Quando um partido político iria imaginar... O tradicional de um partido político, na hora de escolher candidato, é escolher o cara que tem voto. Ele pode ser bicheiro, mas se tem uma longa fila de companheiros e amigos, pode ser o que for. É a primeira vez na vida.

            Meu nobre tesoureiro do meu Partido, o nosso Presidente mandou uma circular a todos os presidentes de partido pedindo para não colocar na chapa de prefeito, vereador e vice-prefeito alguém que tenha ficha suja, porque será impugnado, e ficará mal para o Partido e para ele. É a primeira vez que acontece um fato que nem esse. Isso tem que ser salientado. Isso tem que ser manchete, até para que outros partidos façam o mesmo! É a primeira vez!

            Diz o nosso Presidente, com muita competência, que vai criar problema para o Partido e para ele. Se o candidato está nessa situação, para que colocar o seu nome em manchete para ser vetado, debatido, desmoralizado? Vá melhorar a situação; vá resolver o seu problema para depois ser candidato. É a primeira vez que se faz isso, mas esse gesto deve ser salientado. A imprensa deve entender a importância desse gesto. E quanta gente que normalmente seria candidato, dessa vez não vai ser por causa da ficha limpa. Então, vamos adotar isso. Vamos fazer isso em todos os segmentos.

            Que a nossa querida UNE, ao lado da campanha pela construção da sede mais bonita do mundo, que será a nossa, ao lado da campanha da meia entrada, que é importante, ao lado da campanha em defesa da liberdade sexual, olhe para trás e veja quantas campanhas espetaculares já fez. E inicie uma caminhada com os jovens. Inicie a projeção de uma nova caminhada para os votos, neste momento. Se, de repente, conseguirmos fazer isso e iniciarmos esse movimento, poderemos estar iniciando a nova sociedade.

            Repito, mais uma vez, o meu querido Darcy Ribeiro e seu livro O Povo Brasileiro. Darcy Ribeiro via com um otimismo impressionante o povo brasileiro, a raça brasileira, mistura de negros e portugueses e índios e italianos e alemães e chineses e japoneses e árabes e judeus. “Está se formando”, dizia ele, “Está se formando essa mescla de mestiçagem geral da qual vai resultar o povo brasileiro”.

            Mas ao contrário, por exemplo, lá dos Estados Unidos, onde, em qualquer lugar a que você vá, você vê, aqui, o chinês, onde são todos chineses, falando chinês, ali são japoneses, ali são judeus, ali são árabes, ali são italianos, fechados, como os negros, e tudo mais, não se mesclando.

            Nós temos essa integração ,da raça e da gente. E estamos fazendo um grande povo. E esse povo vai crescer e vai avançar. Ao contrário do que alguns estão querendo imaginar, inclusive na discussão de que o Brasil é o país do mundo em que o investidor estrangeiro mais tem que botar dinheiro para a corrupção e para a anarquia da burocratização administrativa, ao invés disso, que o Brasil adote normas com as quais todos nós, juntos, vamos transformar a nossa sociedade.

            Acho que há coisas positivas que devem ser analisadas. Independentemente de sermos oposição ou governo, vamos reconhecer: começou com o Lula, lembrando o negócio de combate à fome; foi para o Itamar Franco, que buscou lá o Bispo de Duque de Caxias e iniciou o movimento de Fome Zero; passou pelo Fernando Henrique, que não foi feliz no sentido de político da transformação, mas continuou - aliás, a posição da sua esposa, correta, na movimentação da sociedade, encaminhava para isso -; e culminou com o Lula, com a sua caminhada hoje, em que está provado, indiscutivelmente, que é impressionante o número dos que eram miséria ontem e, hoje, com salário família ou coisa familiar, almoçam e jantam todos os dias.

            Hoje já se fala em uma nova classe média que não é a classe média tradicional que nós conhecemos ao longo de 200 anos, uma classe média encostada na rica, mas pobre e revoltada. Uma classe média que era miserável, que estava lá embaixo e que agora está começando a vir. Ao lado desse movimento, é a hora de começarmos essa caminhada. A Presidenta Dilma poderia entrar nela, deveria entrar nela. Alguns exemplos já está dando. Alguns exemplos ela está dando. Alguns, o Brasil não está dando. Vamos iniciar, vamos fazer com que esse movimento...

            A decisão do mensalão, eu aqui não estou me importando, preocupado com que sejam absolvidos ou condenados mais ou menos. O que estou reconhecendo é que o Supremo teve a coragem de agir, de debater, de analisar. E vai julgar. Se há alguém que tenha dúvida eu não tenho nenhuma dúvida de que vai julgar com dignidade, de acordo com a consciência de cada um, que pode ser igual à minha e pode ser diferente, mas deve ser respeitada.

            Vamos falar com a nossa Comissão, essa Comissão do Cachoeira. Ela talvez possa ser o maior exemplo que possamos dar. Vamos falar com os representantes, com os líderes. Eles vão dizer que essa Comissão tem de ter um rumo. Vamos ver qual é o rumo, até onde nós podemos ir. Mas não se pode fazer papel de bobo. Chamou a mulher do Cachoeira, a ex-mulher do Cachoeira, agora vai chamar uma antiga namorada do Cachoeira e não sem mais quem. É um papel ridículo que ela está fazendo. Está desmoralizando o Congresso Nacional. Não vamos fazer isso. O Relator, do PT, um jovem por quem tenho respeito, entenda o papel negro para a sua biografia. Ele está vivendo momentos tristes, em que vai cunhar o seu nome para o resto da vida, se não refletir.

            Eu acho que é o primeiro gesto que o Senado pode fazer: dar um fim digno à Comissão, um fim pelo menos respeitoso. Pode não ser aquele que eu quero ou que alguns queriam, mas que pelo menos seja um fim sério, um fim respeitável. Creio que sim, Sr. Presidente. E nisso há um fato novo: a mídia social.

            Essa mídia social é um fato de que ainda não estamos dando conta do seu alcance, não estamos dando conta do seu alcance. A Síria que fale: 50 anos de uma ditadura que está lá até hoje. O Egito que nunca teve uma democracia, os jovens nas ruas marcaram encontro social para se reunir na frente do palácio e derrubaram o governo.

            Esses jovens vão fazer muito. Eles atuaram aqui na hora do Ficha Limpa, eles ajudaram o nosso voto, eles atuaram no Supremo na hora da decisão e eles ajudaram. Creio que esses jovens poderão iniciar esse movimento, esse grande movimento para um Brasil melhor.

            Cada um faça a sua parte! Não é eu pedir para que você faça a sua; eu faço a minha. Cada um reconheça algo que pode fazer para melhorar o Brasil. Está aí uma campanha que a grande imprensa de um lado pode começar, que os políticos de outro lado podem continuar e que as redes sociais dessa gurizada podem assumir o comando.

            Era isso, Sr. Presidente. Agradeço a gentileza de V. Exa., a minha querida amiga e o meu querido companheiro que me concederam o tempo mas era o que tinha a dizer, achando que provavelmente possamos estar vendo a aurora anunciando um novo dia. Não vamos apenas chorar ou ficar satisfeitos porque o fulano foi condenado ou coisa parecida. Vamos ficar felizes porque a sociedade mudou e o Brasil também.

            Muito obrigado a V. Exa.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/08/2012 - Página 40667