Discurso durante a 148ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Encaminhamento de voto de aplauso e congratulações aos 258 atletas e a todas as equipes técnicas que representaram o Brasil nos Jogos Olímpicos de Londres; e outros assuntos.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. DIREITOS HUMANOS.:
  • Encaminhamento de voto de aplauso e congratulações aos 258 atletas e a todas as equipes técnicas que representaram o Brasil nos Jogos Olímpicos de Londres; e outros assuntos.
Publicação
Publicação no DSF de 15/08/2012 - Página 41554
Assunto
Outros > HOMENAGEM. DIREITOS HUMANOS.
Indexação
  • ENCAMINHAMENTO, VOTO, ELOGIO, CONGRATULAÇÕES, ATLETAS, COMISSÃO TECNICA, DELEGAÇÃO BRASILEIRA, REPRESENTAÇÃO, BRASIL, OLIMPIADAS.
  • RENOVAÇÃO, SOLICITAÇÃO, GOVERNO, PAIS ESTRANGEIRO, IRÃ, LIBERDADE, PERDÃO, PASTOR, CRISTÃO, ACUSADO, CRIME CONTRA A SEGURANÇA NACIONAL.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sra. Presidenta Ana Amélia, Srs. Senadores, acabo de encaminhar à Mesa um requerimento pelo qual, nos termos do art. 222 do Regimento Interno do Senado Federal, solicito a inserção em ata de voto de aplauso e congratulações aos 258 atletas e a todas as equipes técnicas que representaram, com fibra, amor e competência, o Brasil nos Jogos Olímpicos de Londres, de 2012, dos quais cito como referência os nossos medalhistas: Sarah Menezes, que ganhou o Ouro no judô, categoria até 48 quilos, Arthur Zanetti, Ouro na ginástica artística com argolas, Adenízia, Dani Lins, Fabi, Fabiana, Fernanda Garay, Fernandinha, Jaqueline, Natália, Paula Pequeno, Sheila, Tandara e Thaísa, Ouro no vôlei de quadra e que ontem foram tão alegremente recepcionadas pelos aplausos de todos os moradores de São Paulo, pois ali percorreram as principais ruas da cidade em cima do carro de bombeiros na justa homenagem; Thiago Pereira, Prata na natação, 400m medley; Alison e Emanuel, Prata no vôlei de praia; Alex Sandro, Alexandre Pato, Bruno Uvini, Danilo, Gabriel, Hulk, Juan, Leandro Damião, Lucas, Marcelo, Neto, Neymar, Oscar, Paulo Henrique Ganso, Rafael, Rômulo, Sandro e Thiago Silva, além do nosso técnico, Mano Menezes, que receberam Prata no futebol; Esquiva Falcão, Prata no boxe, categoria até 75kg; Bruno Rezende, Dante, Giba, Leandro Vissotto, Lucão, Murilo Endres, Ricardinho, Rodrigão, Serginho, Sidão, Thiago Alves e Wallace, Prata no vôlei de quadra; Mayra Aguiar, Bronze no judô, categoria até 78kg; Felipe Kitadai, Bronze no judô, categoria até 60kg; Rafael Silva, Bronze no judô, categoria mais de 100kg; César Cielo, Bronze na natação, 50m livres; Adriana Araújo, Bronze no boxe, categoria até 60kg; Bruno Prada e Robert Scheidt, Bronze na vela, classe Star; Juliana e Larissa, Bronze no vôlei de praia; Yamaguchi Falcão, Bronze no boxe, categoria até 81kg; Yane Marques, Bronze no pentatlo moderno.

            Aproveito a oportunidade para também cumprimentar o pai Touro Moreno, de Esquiva Falcão e de Yamaguchi Falcão, pois ele se destacou como um brilhante estimulador de seus filhos, que são numerosos - salvo me engano, 18 -, mas diversos ele quis treinar para que pudessem chegar às Olimpíadas como campeões de pugilismo em favor das bandeiras do Brasil.

            O esporte, Sra. Presidente, é um grandioso instrumento para o exercício da cidadania. No domingo, 12 de agosto de 2012, assistimos à festa de encerramento dos Jogos Olímpicos de Londres, nos quais a participação do Brasil encheu de orgulho a todos nós, torcedores, que acompanhamos, com muita vibração, o esforço de todos nossos atletas.

            De acordo com o Comitê Olímpico Brasileiro, participamos de 32 modalidades esportivas nas Olimpíadas. Nossas equipes, o team Brasil, deixaram em Londres um exemplo do perfeito entendimento do respeito e do amor a tudo que representa o esporte olímpico para a humanidade. Obtivemos um grande número de atletas entre os primeiros colocados. A delegação brasileira retornou de Londres com 17 medalhas - três de ouro, cinco de prata e nove de bronze, sendo que, do total, seis foram obtidas por mulheres -, o que colocou o País na 22ª posição no quadro geral.

            O esporte de competição é uma escola para a vida. Afasta a juventude do vício do cigarro e do alcoolismo, afasta o jovem das drogas, da cocaína, do crack. O esporte é um antídoto contra esses males.

            Como a formação e a preparação do atleta começam ainda na infância, percorrem toda a adolescência, chegando até os 24, 26 anos ou para além dos 70, 80 anos, como é o meu caso. Hoje, com 71 anos, avalio como fundamental sempre realizar atividade esportiva, até para que possa aqui bem realizar minha obrigação como Senador ou como professor.

            O treinamento desportivo de competição exerce um poderoso suporte de virtudes, atuando na fase em que o jovem está mais vulnerável, pois está consolidando sua personalidade e os valores que vai carregar para toda vida. Mente sã em corpo são. Quem verdadeiramente pratica um esporte de competição não perde noites de sono, tem de se alimentar bem. O esporte leva à disciplina, ao respeito às pessoas, ao reconhecimento da existência de limites. Essa compreensão do que são os limites, base para a vida cotidiana, e a necessidade de preparação e superação incomum para a quebra desses limites, principalmente os internos, são as marcas do esporte de competição. Um exemplo é o extraordinário Bolt, atleta da Jamaica que comoveu o mundo com seus recordes, tanto na corrida dos 100 metros quanto na dos 200 metros rasos.

            O esporte pode ser tudo na vida de um jovem, pode fazer toda a diferença na sua formação humana. Ele ensina que a vitória somente tem valor, somente faz sentido se calcada nas virtudes do que seja ético. Vencer a qualquer preço não tem lugar no esporte. Ele conduz a um entendimento da justiça como virtude maior do relacionamento humano.

            Estou convencido de que o treinamento desportivo, aliado a uma boa educação formal, constrói um povo como grande nação.

            Por tudo, então, cumprimento todos os que fizeram o sucesso da delegação brasileira nas Olimpíadas de Londres 2012, os atletas que se prepararam arduamente para os jogos, tendo competido ou não, e as equipes técnicas de diversas modalidades, bem como apresento o meu voto de reconhecimento e louvor aos professores de educação física e técnicos desportivos de todo o País, pois é desse trabalho silencioso e diuturno, nas escolas e nos clubes, que surgem os grandes campeões.

            Em Londres, o Brasil superou o número de medalhas que havia conquistado nas Olimpíadas de Pequim em 2008. A meta do Brasil para 2016 é estar entre os dez melhores do ranking de medalhas no Rio de Janeiro.

            Será a primeira vez que os Jogos Olímpicos serão realizados no continente sul-americano.

            A exemplo do que foi feito em Londres, cidade que já está na sua terceira Olimpíada, a construção de uma infraestrutura que receba em alto nível as delegações de atletas, os integrantes das redes de comunicação do exterior e o público do turismo olímpico, bem como o sentimento de civilidade que, certamente, o nosso povo passará para o mundo devem ser o foco prioritário da preparação de nosso País.

            Paralelo a isso, considero que, para um melhor desempenho das equipes olímpicas brasileiras em 2016, deveremos ter um planejamento que busque não um sucesso pontual de uma Olimpíada, mas uma consolidação de processos vitoriosos vindouros.

            Todos os órgãos envolvidos na preparação dos nossos atletas, coordenados pelo Governo Federal, em especial pelo Ministério de Esportes, hoje tendo à frente Aldo Arantes, devem ter em mente a necessidade de responder de forma transparente ao aumento dos investimentos financeiros públicos aplicados pelo Brasil na preparação das Olimpíadas do Rio de Janeiro.

            Quero, também, cumprimentar o governo do Reino Unido e todas as autoridades responsáveis pela organização das Olimpíadas de Londres, pela beleza comovente de todas as suas etapas, desde a cerimônia de abertura, até a de encerramento, com a apresentação dos maiores artistas ingleses e de muitos outros países, inclusive do Brasil, desde Paul McCartney, Elton John, John Lennon (in memoriam), numa comovente participação, até Marisa Monte, Seu Jorge e BNegão, dentre outros, e ainda a surpreendente presença de Pelé.

            Encerrando, aproveito para formular os votos de muito sucesso aos nossos atletas paraolímpicos que, dia 29 de agosto, começam os seus Jogos. Estamos na torcida por cada superação desportiva que, tenho certeza, irá ocorrer. Boa sorte a toda a delegação paraolímpica brasileira nos Jogos de Londres 2012!

            E possam os atletas que receberam as medalhas, que tão bem representaram o Brasil, serem, aqui, bem-recebidos pela nossa querida Presidenta Dilma Rousseff.

            Possam as Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016, se caracterizar por um profundo sentimento de solidariedade e de aproximação entre os povos de maneira a significar um passo efetivo para a paz mundial.

            Sra. Presidente, gostaria ainda de aqui tratar de dois temas. Um referente a um apelo já feito pela Comissão de Relações Exteriores, mas aqui o renovo, em função inclusive do apelo feito pelo Sr. Rodrigo Celso de Assis Pinto.

            Em 2010, o Pastor iraniano Yousef Nadarkhani foi colocado no corredor da morte no Irã, acusado de apostasia e de tentar evangelizar os muçulmanos. Após inúmeros protestos por todo o mundo, a Imprensa Internacional noticiou que a pena tinha sido anulada. Todavia o Pastor continuou preso.

            No mês de julho passado, o site do Ministério Verdade Presente (Present Truth Ministries) postou a informação de que o Pastor deverá enfrentar novo tribunal, agora em setembro, para responder por acusações de apostolado da religião cristã.

            Ainda, de acordo com o site do Ministério Verdade Presente, que tem acompanhado de perto o caso, Nadarkhani será julgado, também, por crimes contra a segurança nacional.

            O Pastor, que é iraniano, ficou conhecido pelos cristãos de todo o mundo após ser preso em 13 de outubro de 2009, depois de protestar contra a decisão do governo em forçar todas as crianças, incluindo os filhos de cristãos, a lerem o Corão.

            O Pastor Nadarkhani era líder de uma rede de igrejas domésticas que reunia cerca de 400 pessoas. De acordo com a Sharia (lei islâmica), um apóstata tem até três dias para se retratar. Todavia, o Pastor se recusou repetidas vezes a negar a sua fé.

            No ano passado, a Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal aprovou o Requerimento nº 139, de 2011, com uma Moção de apoio ao Pastor Yousef Nadarkhani, declarando como inaceitável e inacreditável que, em pleno século XXI, uma pessoa não tenha o direito de processar, livremente, sua fé.

            Como novas notícias dão conta de que o Pastor irá a novo julgamento em setembro, aqui reitero o meu apelo ao governo iraniano pelo perdão e libertação imediatos do Pastor Yousef Nadarkhani, pois, aqui, por exemplo, no Brasil, nós respeitamos inteiramente aqueles que professam os ensinamentos do Alcorão, de Maomé, dos quatro califas que escreveram o livro dos Hadith, na tradição daqueles que professam e seguem os ensinamentos de Maomé e será próprio que também no Irã possa haver a liberdade de religião para todos.

            Mas, no que diz respeito à luta pela liberdade, eu gostaria muito, Sra. Presidenta Ana Amélia - é possível que V. Exa. já o tenha visto, bem como os Senadores -, de falar sobre um filme tão belo, Além da Liberdade, que fala da vida de Aung San Suu Kyi, ou simplesmente Suu, conforme era chamada por seu marido.

            A Sra. Aung San Suu Kyi viveu um tempo na Índia e, depois, foi - e era uma das três filhas de um dos líderes da independência da Birmânia, hoje Myanmar - estudar em Oxford. Ali conheceu um inglês, que se especializava na cultura tibetana, fazia os estudos sobre a religião do Tibete.

            Eis que se casou com esse professor inglês, da Universidade de Oxford, com quem teve dois filhos, e voltou ao seu país e ali se tornou líder de um partido de aliança pela democracia na Birmânia e, como discípula de Mahatma Gandhi, uma grande líder pela liberdade, pela democracia, uma vez que na Birmânia havia um governo ditatorial dirigido por generais militares que imprimiram um sistema de repressão dos mais ferozes do mundo, em que inúmeras vezes estudantes e líderes de movimentos sociais foram objeto de tiros de metralhadoras nas manifestações estudantis.

            Essa senhora conseguiu um movimento formidável, mas sempre por meios pacíficos, tanto é que ela ficou presa em prisão domiciliar por 15 anos. Em 1991, um movimento de solidariedade internacional indicou-a para o Prêmio Nobel da Paz; entretanto o seu marido e seus filhos é que estiveram presentes na premiação, pois ela continuava presa, sem poder sair da prisão domiciliar em Mianmar, ou Birmânia.

            Em 16 de junho passado, pela primeira vez, ela pôde outra vez sair de seu país, visitar diversos países, como o Reino Unido, a Irlanda e a Noruega, e, perante a Rainha da Inglaterra e toda a Academia do Prêmio Nobel, numa audiência simplesmente formidável, fez um discurso brilhante e recebeu, pessoalmente, o Prêmio Nobel da Paz, que havia sido dado a ela em 1991.

            Eu recomendo a todos que conheçam essa exemplar pessoa, que hoje é a principal líder de seu partido e foi eleita, em abril deste ano, deputada. Há poucos dias, ela se encontrou, embora sendo membro da oposição, com o Presidente da Birmânia, ou Mianmar. E ela disse, recentemente, que poderá se tornar Presidente, será a possível candidata a Presidenta de Mianmar nas próximas eleições de 2015. Ela está, hoje, com 67 anos e se constitui num exemplo formidável.

            Ainda recentemente, em junho de 2012, ela recebeu o prêmio da Anistia Internacional e o cantor Bono foi encarregado de homenageá-la. E vou ler aqui, para concluir, Sra. Presidente, se me permite, as palavras de Aung San Suu Kyi ao agradecer o prêmio que lhe foi concedido pela Anistia Internacional:

Receber este prêmio é me lembrar de 24 anos atrás, quando eu assumi deveres que eu não deveria ter assumido, mas vocês me deram a força para seguir em frente e me mostraram que eu não estaria sozinha ao cumprir meus deveres.

Muitas pessoas me perguntaram como é sair da Birmânia pela primeira vez em 24 anos. Na verdade, essa jornada começou com uma curta viagem à Tailândia, há umas duas semanas, e agora eu já fui à Suíça e à Noruega e aqui, esta noite, à Irlanda, e agora eu sei responder quando as pessoas me perguntam qual é a sensação: "movimento" é a palavra, e por "movimento" eu quero dizer uma agitação no coração, assim como um impulso em direção à meta - um novo ímpeto em direção às metas que nós estamos tentando alcançar há 24 anos. Vocês nos ajudaram maravilhosamente.

Eu tenho que confessar que eu nunca soube quantas pessoas se importaram conosco e com a nossa causa até que eu começasse essa jornada, que teve início na Tailândia, como eu disse, há cerca de duas semanas. Eu fiquei encantada e extremamente tocada pelo calor humano que os tailandeses demonstraram por mim e pela minha causa e, então, a jornada teve continuidade para o oeste, Suíça e Noruega.

Aqui na Irlanda eu descobri quantas pessoas mais se importam. Eu não esperava por isso. Foi uma surpresa pra mim. Eu me senti muito próxima de vocês. Os britânicos costumam se referir aos birmanenses como os "irlandeses do leste". Nós nunca entendemos muito bem o motivo. Alguns dizem que era porque nós nunca demos paz a eles, que nós éramos muito rebeldes; e outros dizem que é porque nossos homens gostam de sua bebida e nós somos muito supersticiosos.

Por qualquer que seja a razão, esta noite eu me sinto orgulhosa em ser conterrânea do leste. Eu estou muito feliz em ser a irlandesa do leste.

Ao longo de todos esses anos, vocês e outras pessoas como vocês, a Anistia Internacional e outras organizações como ela nos ajudaram a manter nossa pequena chama de autorrespeito acesa. Vocês nos ajudaram a manter a chama acesa. E nós esperamos que vocês estejam conosco nos anos que virão, que vocês sejam capazes de se unirem a nós em nossos sonhos, que não tirem seus olhos ou seu pensamento de nós e que nos ajudem a ser o país onde a história e a esperança se reencontram.

            Ora, Presidenta Ana Amélia, essa Sra. Aung San Suu Kyi, em tantas ocasiões, faz lembrar pessoas como Mahatma Gandhi, Nelson Mandela, Martin Luther King, Desmond Tutu e tantos outros que lutaram para que, em seus países, a liberdade e a democracia pudessem prevalecer. Que possa logo, lá em Mianmar ou Birmânia, a democracia plenamente florescer.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/08/2012 - Página 41554