Discurso durante a 158ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Alerta quanto ao modelo adotado pelo Governo Federal para manter o crescimento econômico do País.

Autor
Cyro Miranda (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/GO)
Nome completo: Cyro Miranda Gifford Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Alerta quanto ao modelo adotado pelo Governo Federal para manter o crescimento econômico do País.
Publicação
Publicação no DSF de 30/08/2012 - Página 44898
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • COMENTARIO, DADOS, RELAÇÃO, CRESCIMENTO, ARRECADAÇÃO, IMPOSTOS, REGISTRO, PRECARIEDADE, SITUAÇÃO, SETOR PUBLICO, SAUDE, EDUCAÇÃO, SEGURANÇA, MOTIVO, IRREGULARIDADE, DISTRIBUIÇÃO, RECURSOS ORÇAMENTARIOS, CONCENTRAÇÃO, RECURSOS FINANCEIROS, OBJETIVO, PAGAMENTO, JUROS, REFINANCIAMENTO, DIVIDA PUBLICA, CRITICA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, CONSUMO, POPULAÇÃO, DEFESA, NECESSIDADE, IMPLANTAÇÃO, MODELO, GESTÃO, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA, BUSCA, RESULTADO, REDUÇÃO, DIVIDA, ESTADOS, MUNICIPIOS, AUMENTO, POUPANÇA.

            O SR. CYRO MIRANDA (Bloco/PSDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Srª Presidente Vanessa Grazziotin.

            Srªs e Srs. Senadores, ouvintes da Rádio Senado, telespectadores da TV Senado e da Agência Senado, independentemente de sermos oposição ou base de apoio ao Governo, o nosso desejo maior, como cidadão brasileiro, é que o Brasil consiga encontrar o caminho do desenvolvimento sustentável e o modelo de economia capaz de elevar o crescimento do PIB sem riscos e tropeços.

            Hoje queremos fazer uma alerta em relação ao modelo adotado pelo Governo para manter o crescimento.

            Não é preciso ser economista para ver que o caminho do estímulo irrestrito ao consumo pode esconder armadilhas perigosas, sobretudo quando verificarmos a pesada arrecadação tributária imposta ao Brasil.

            Nesta tarde, Srªs e Srs. Senadores, a arrecadação tributária alcançará R$1 trilhão e vai fazê-lo 15 dias antes do que verificado no ano de 2011.

            A velocidade da arrecadação dos impostos no Brasil salta aos olhos, porque a marca de R$1 trilhão é batida mais cedo a cada ano.

            Hoje, os brasileiros pagam R$4 bilhões em impostos por dia, sendo R$170 milhões por hora e quase R$3 milhões por minuto.

            A voracidade arrecadadora no Brasil é insaciável, mas os brasileiros não têm a devida reciprocidade por parte do Governo, em particular no campo da educação, da saúde e da segurança, haja vista as greves que estão acontecendo.

            O Brasil, por meio do Sistema Único de Saúde, atende a mais de 120 milhões de brasileiros. Isso quer dizer que a maioria da população depende apenas do SUS quando o assunto é assistência médica.

            Mas, para garantir o atendimento médico universal, são destinados apenas R$79,5 bilhões, ou seja, 3,5% do Orçamento. Isso, sem dúvida, é muito pouco considerados não só o montante arrecadado com impostos, mas também o número de cidadãos que, muito embora devessem ser atendidos adequadamente, morrem nas filas de espera dos hospitais públicos.

            Por falta de dinheiro ou por falta de vontade política?

            Em relação à educação pública brasileira, o quadro é semelhante, porque são destinados R$66,5 bilhões, ou seja, 2,9% do Orçamento. Este, um valor extremamente baixo quando se considera a árdua tarefa de preparar as futuras gerações para o mercado de trabalho da sociedade do conhecimento.

            Nesse domínio, o Brasil precisa, com a máxima urgência, seguir o exemplo de nações como a Coreia, que, ao longo de mais de uma década, investiram 10% do PIB para formar as novas gerações.

            A força tecnológica da Coreia está aí para todos verem, e o Brasil parece contentar-se com migalhas: melhora um índice aqui, piora outro lá, e não saímos do mesmo lugar.

            Temos um sistema de educação pública medíocre e ultrapassado, incapaz de aproveitar o potencial criativo dos nossos jovens. E nossas patentes vão indo, mas bem abaixo das expectativas e das nossas necessidades.

            Estamos acostumados a ver adiado o sonho maior de um Brasil educado, decerto o maior mecanismo de ascensão social existente em qualquer parte do mundo. Não se faz educação com leis, apenas com leis.

            E para a segurança dos brasileiros? Quanto está destinado? Muito pouco: R$8,4 bilhões, ou seja, 0,8% do Orçamento. Está aí o porquê de os brasileiros serem vítimas de tanta violência e terem se transformado em reféns em suas próprias casas.

            Só esses três pontos - a educação, a saúde e a segurança - demonstram, com propriedade, como o Poder Público administra mal o dinheiro arrecadado e oferece péssima contrapartida aos cidadãos que lhe pagam pesados impostos.

            Mas aonde vai o dinheiro do contribuinte brasileiro? Para onde vão os R$2,22 trilhões do orçamento federal? Para o pagamento dos juros e o refinanciamento da dívida, que, juntos, levam 36% do Orçamento, ou seja, R$792 bilhões. E, também, uma boa parte para o mensalão. Para o custeio da máquina pública, que leva mais de R$1 trilhão, ou seja, 49,5% do Orçamento. É o custo Brasil.

            A relação entre o Estado e os contribuintes no Brasil é, portanto, draconiana e predatória. E isso ocorre, sobretudo, pela falta de planejamento e gestão.

            O fato é que a administração por resultados permanece um desafio para a maior parte da Administração Pública brasileira. Enquanto não for feito um plano para sanar o endividamento público brasileiro, sobretudo as dívidas dos Estados e dos Municípios, o Brasil vai continuar a se mover lentamente, ao sabor da conjuntura externa.

            Quando tivermos um período de bonança, como ocorreu nos sete anos anteriores à bolha do subprime, cresceremos a um ritmo melhor, ainda que inferior ao de outras economias emergentes.

            Quando tivermos uma conjuntura internacional, como a de hoje, marcada pela crise da Europa e o lento crescimento econômico nos Estados Unidos, sentiremos o peso e a carga de um Estado mal administrado e prioridades mal definidas.

            Entre os parceiros do BRIC - Brasil, Rússia, Índia e China -, o Brasil tem a menor relação investimento/PIB.

            No ano passado, marcado pela lenta recuperação da crise econômica mundial, a China registrou taxa de investimento de 43%; a Índia, de 34%; e a Rússia, de 20%. No Brasil, essa relação havia despencado para 16,5% do PIB.

            E o que nos preocupa sobremaneira, nesse contexto, são exatamente os riscos do modelo de estímulo ao consumo no lugar de equacionarmos a dívida pública e, assim, fazermos poupança pública para investimento.

            As famílias brasileiras estão aumentando as dívidas mês a mês, e o Governo, por sua vez, estimula o consumo e aumenta o nível de arrecadação tributária ano a ano.

            O ponto de convergência dessas curvas, endividamento e carga tributária excessiva, pode levar o modelo de estímulo ao consumo a se esgotar num futuro muito próximo.

            Em julho, o número das famílias endividadas era quase de 58%, em agosto subiu para 59%, num processo que revela a terceira alta consecutiva, de acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo.

            No mesmo ritmo, tem crescido a inadimplência, que era de 21%, em julho, e passou para quase 23% em agosto.

            A questão que se coloca é o esgotamento da demanda pelo crédito. Num determinado momento, as pessoas que planejavam trocar carro, comprar televisores, computadores e geladeiras, já o terão feito. E o pior: terão contraído dívidas de médio e longo prazos, para além da vida útil média de muitos dos bens adquiridos, como já acontece hoje com os veículos.

            O hábito dos brasileiros de verificar apenas se a prestação cabe no bolso é perigoso, porque, depois de algum tempo de uso, o carro precisará de manutenção, assim como a geladeira, a televisão e o computador.

            Mas será que o orçamento familiar terá condições de arcar com todas essas dívidas? Será que esse modelo de estímulo irrestrito ao consumo é sustentável?

            Srª Presidente, com certeza o Brasil não está imune à onda da crise que tem marcado o contexto internacional nos últimos anos.

            A crise é bem maior que aquela “marolinha” da qual falava o ex-Presidente Lula.

            Que herança! Que herança, Presidente Dilma!

            O caminho para o Brasil forte, altaneiro e sustentável, é o da administração pública por resultados, o do equacionamento da dívida pública dos Estados e Municípios e do estímulo à poupança interna.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/08/2012 - Página 44898