Discurso durante a 158ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Pesar pelo falecimento do ex-Presidente do PMDB no Município de Jaru, em Rondônia, Sr. Vicente de Souza Ramos; e outro assunto.

Autor
Tomás Correia (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RO)
Nome completo: Tomás Guilherme Correia
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO. HOMENAGEM, POLITICA SOCIAL.:
  • Pesar pelo falecimento do ex-Presidente do PMDB no Município de Jaru, em Rondônia, Sr. Vicente de Souza Ramos; e outro assunto.
Publicação
Publicação no DSF de 30/08/2012 - Página 44994
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO. HOMENAGEM, POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, EX PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), MUNICIPIO, JARU (RO), ESTADO DE RONDONIA (RO).
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, SANÇÃO PRESIDENCIAL, PROJETO DE LEI, REFERENCIA, RESERVA, PERCENTAGEM, COTA, VAGA, ESTUDANTE, ENSINO PUBLICO, NEGRO, INGRESSO, UNIVERSIDADE, SETOR PUBLICO, CONTRIBUIÇÃO, MELHORIA, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, BRASIL.

            O SR. TOMÁS CORREIA (Bloco/PMDB - RO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Paulo Paim, Srªs e Srs. Senadores, quero fazer um registro.

            No meu Município de Jaru, em Rondônia, na semana passada, faleceu o ex-Presidente do PMDB daquele Município, Vicente de Souza Ramos, o Vicentão Poeta, como era conhecido. Uma figura extraordinária.

            Foi fundador do PMDB em Jaru. Foi uma figura que nos representou no Município de Jaru durante muito tempo. Era uma pessoa simples, mas um poeta. Gostava de fazer poesia sobre agricultura, sobre a vida. Era uma pessoa que tinha um prestígio muito grande naquele Município em face da sua luta pela democracia. Foi Presidente do PMDB, fundador do PMDB naquele Município. Ali construiu o partido, escondido, na época da ditadura.

            Então, quero aqui render as minhas homenagens ao Vicente de Souza Ramos, aos seus familiares neste momento de sofrimento. Sei que é uma pessoa que certamente deixou um legado, uma história. Foi o Vicente candidato a prefeito de Jaru, candidato a vereador, candidato a deputado. Uma pessoa muito pobre, mas muito digna. Certamente, não logrou êxito nas candidaturas de que participou, até pela sua condição simples.

            Mas era uma figura que, quando tinha uma reunião no partido, era o primeiro a aparecer lá, contando os seus versos, as suas poesias, de sorte que eu queria fazer esse registro e lamentar a morte de Vicente de Souza Ramos.

            Sr. Presidente, o meu objetivo era só fazer esse registro, mas, diante do que V. Exª falou há pouco, eu quero fazer um pequeno comentário: eu lembro que, na época da escravatura, quando se falava em abolição, existia reação, a reação das oligarquias. E veja V. Exª: em pleno século XXI, ainda assistimos a alguma reação à política de cotas, haja vista um mandado de segurança impetrado perante o Supremo Tribunal Federal. Felizmente, essa Corte de Justiça houve por bem, numa decisão histórica, refutar, considerar totalmente improcedente. E, ouvindo aqui V. Exª contando a história da sua mãe, que faz alguns anos que morreu, acho que hoje completam...

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Nove anos hoje.

            O SR. TOMÁS CORREIA (Bloco/PMDB - RO) - Nove anos hoje. Veja V. Exª: eu costumo dizer que a nossa história é contada e o nosso destino é traçado, e nós não sabemos, por alguma mão que não é a nossa. V. Exª está aqui pela mão de alguém que não é certamente desta terra, e pela mão e pelo voto do povo do seu Estado, lá do querido Rio Grande do Sul.

            E eu, ouvindo V. Exª, e vendo a coincidência: no dia exatamente em que sua mãe completa nove anos de falecida, V. Exª tem oportunidade de ser chamado ao Palácio pela Presidenta Dilma Rousseff, para sancionar uma lei dessa importância, que fixa as cotas aqui no País.

            E eu me lembro de mim, Presidente Paim, e vou aqui, permita V. Exª, fazer uma referência, porque a gente vê alguém falando de pobre, e às vezes conhece pobre pela televisão. Mas eu conheço pobre de viver, de participar, de ter sido pobre. O lugar em que nasci, Senador Paulo Paim, não tinha escola, não tinha energia, e lá eu vivi até os 18 anos de idade. A minha primeira escola oficial foi aqui em Brasília, aqui na Vila Planalto, Escola Rabelo, e minha professora, por sinal, negra também, foi Cristina Ferreira da Mota, minha professora do primário.

            Aos 18 anos, eu me matriculei no 2º ano primário aqui, na Escola Rabelo. Depois, eu fiz o primário e, posteriormente, o ginásio, tudo em escola pública. E fui inventar de fazer o 2º grau em escola particular. Ganhava um salário pequeno, mínimo, e muitas vezes, Presidente, sentado na cadeira, chegava o diretor da escola, distribuía prova de mesa em mesa, e saltava a minha mesa. Eu não sabia por quê. Aí, eu ia lá, na tesouraria; e lá me era informado que o aluno que estivesse em atraso não poderia fazer a prova. Eu ali negociava na tesouraria, e sempre o diretor me autorizava a fazer a prova, mas depois de passar a humilhação de todos saberem que eu não podia fazer a prova.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Um constrangimento.

            O SR. TOMÁS CORREIA (Bloco/PMDB - RO) - Um constrangimento que hoje seria crime.

            Então, quando V. Exª fala aqui desse projeto... Eu tive a honra de votar a favor dele aqui; tive a felicidade de ser uma das primeiras matérias que aqui tive o prazer de votar.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Eu me lembro que V. Exª me disse: “Mas, Paim, não acredito que alguém vai votar contra esse projeto”.

            O SR. TOMÁS CORREIA (Bloco/PMDB - RO) - É verdade, é verdade.

            Eu queria só fazer uma ressalva aqui, porque foi unânime a votação, com exceção de um voto de São Paulo, do Senador Aloysio Nunes. Mas quero aqui fazer justiça ao Senador. Ele não é contra as cotas. Ele declarou que era contra o projeto, porque achava que devia permanecer a autonomia das faculdades, das universidades, para concedê-las, mas que ele era favorável. Quer dizer, era um projeto a que todos, no seu mérito, eram favoráveis; ninguém era contra.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - E, se V. Exª me permitir...

            O SR. TOMÁS CORREIA (Bloco/PMDB - RO) - Pois não.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Ele fez um debate também de alto nível.

            O SR. TOMÁS CORREIA (Bloco/PMDB - RO) - De alto nível.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - É legítimo pensar diferente.

            O SR. TOMÁS CORREIA (Bloco/PMDB - RO) - Perfeito.

            Então, Senador Paim, hoje, veja V. Exª, fiquei aqui até mais tarde para fazer esse registro que fiz do falecimento do meu prezado presidente do PMDB de Jaru, Vicente de Souza Ramos, e tive o prazer de presidir a sessão, enquanto V. Exª discursava sobre um tema dessa natureza.

            E eu queria trazer este testemunho e dizer, Senador Paulo Paim, que, a partir de hoje, quando essa lei foi sancionada, o senhor pode ter certeza de que o Brasil será outro. A vedação de o pobre ir à faculdade não existe mais. E não vai ser a queda da excelência, porque a queda da excelência não será pelas cotas; será pela falta do investimento do setor público, a partir do ensino fundamental até o ensino superior. Não é, de forma nenhuma, de jeito nenhum, em razão das cotas. As cotas são um avanço. E amanhã, se não houver mais necessidade das cotas, muito bem, excelente. Será possível que isso ocorra, como em outros países.

            Então, eu queria dizer a V. Exª que este é um momento importante para o País. A oportunidade... Quantas pessoas gostariam de fazer faculdade e não conseguem? Eu fiz vestibular para Direito aqui em Brasília e, no dia em que fiz o vestibular, no estacionamento do Ceub, ouvindo o rádio dos carros, eu não tinha carro, mas estava ouvindo os rádios, quando falaram o meu nome, Senador, foi de certa forma uma alegria, mas, ao mesmo tempo, uma frustração, porque eu não tinha um amigo para me abraçar, para comemorar aquela aprovação no vestibular. E depois, fazendo o curso de Direito, morando aqui nas proximidades também, eu pegava um saquinho de plástico, colocava os livros no saquinho de plástico e ia me defendendo da chuva, por baixo dos blocos, até chegar à faculdade.

            Então, quando eu vejo uma matéria dessas hoje, a aprovação de um projeto desses, abrindo a oportunidade à escola pública, às pessoas pobres, negras ou não, eu acho que isso é um passo importante e uma oportunidade que está se abrindo àqueles que, lamentavelmente, não têm espaço nenhum neste País, que são sempre excluídos de tudo, que não são chamados para participar do desenvolvimento, do crescimento. Somos a 6ª, a 7ª economia, mas ainda temos gente passando fome, morrendo por falta de educação, por falta de condições básicas, mínimas de tudo, inclusive de saúde e educação.

            Eu queria só dizer a V. Exª que me perdoe o entusiasmo de, neste momento, fazer essa referência, mas não poderia deixar de fazer esse pequeno comentário, porque na verdade fico muito feliz, porque Deus também me deu a oportunidade exatamente de estar presidindo a sessão quando V. Exª fazia esse anúncio à Nação.

            Então, Senador Paulo Paim, Deus construiu a sua história, e o povo do Rio Grande do Sul colocou-o aqui no Senado.

            Muito obrigado a V. Exª.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Meus cumprimentos ao Senador Tomás Correia pelo seu pronunciamento.

            E uma frase que a gente gosta de repetir é: e assim caminha a humanidade; e vamos ajustando e, com isso, melhorando a qualidade de vida para todos.

            Parabéns! Sua história é uma história bonita também, de alguém que sabe o que é vir de um patamar, eu diria, onde a pobreza é muito grande e que chegou onde chegou pela força, pela raça, pela coragem e pela competência.

            Meus parabéns! V. Exª é um orgulho para o nosso País.

            O SR. TOMÁS CORREIA (Bloco/PMDB - RO) - Muito obrigado a V. Exª, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/08/2012 - Página 44994