Pela Liderança durante a 168ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Repúdio à agressão sofrida por S. Exª em Manaus.

Autor
Vanessa Grazziotin (PC DO B - Partido Comunista do Brasil/AM)
Nome completo: Vanessa Grazziotin
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • Repúdio à agressão sofrida por S. Exª em Manaus.
Publicação
Publicação no DSF de 13/09/2012 - Página 47627
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • REPUDIO, AGRESSÃO, VITIMA, ORADOR, LOCAL, ESTADO DO AMAZONAS (AM), REALIZAÇÃO, DEBATE, CANDIDATO, PREFEITURA, MUNICIPIO, MANAUS (AM), ACUSAÇÃO, PARTICIPANTE, OPOSIÇÃO.

            A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco/PCdoB - AM. Pela Liderança. Sem revisão da oradora.) - Muito obrigada, Srª Presidenta, Senadora Ana Amélia, a quem peço uma especial atenção.

            Lamento ter de vir à tribuna para falar de um episódio triste que aconteceu ontem, na cidade de Manaus. V. Exª, esta Casa, todos sabem que, neste período eleitoral, eu disputo a prefeitura da cidade de Manaus, ao lado de outros que, por outras coligações, outros partidos, disputam o mesmo cargo.

            Srª Presidenta, ontem, tivemos o terceiro debate realizado na cidade de Manaus, organizado pelo SBT, pela TV Em Tempo. Quando da minha chegada no debate, Presidenta Ana Amélia, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, fui surpreendida por uma ação da mais extrema violência. Está aqui estampada na capa do maior jornal da minha cidade, A Crítica, que mostra o episódio e fala da agressão que sofri no dia de ontem.

            Quero dizer que não falo desta tribuna como candidata a prefeita de Manaus, não falo desta tribuna de um fato relativo apenas a um período eleitoral; falo desta tribuna como alguém que é mulher, Senadora da República e cidadã, que merece, assim como todos os cidadãos, como todas as cidadãs, respeito, merece tratamento digno, mas, infelizmente, não foi isso o que aconteceu ontem à noite na cidade de Manaus.

            Tenho mais fotografias, Srª Presidenta, tenho fotografias de pessoas que mostram que esse ato não partiu de qualquer pessoa do povo, que não foi um ato de uma pessoa isolada; foi um ato planejado, foi um ato que partiu de um grupo que foi para a frente da emissora de forma organizada, Presidenta Ana Amélia. Tenho algumas fotos em que um grupo de pessoas, a serviço de um candidato concorrente, portava bonecas que representavam bruxas, cartazes denegrindo a minha imagem e ovos na mão, Srª Presidenta. Ovos na mão! Sofri uma agressão como nunca a cidade de Manaus viu nos últimos tempos.

            Então, eu me obrigo, Srª Presidenta, repito, não como candidata, mas como uma Senadora da República, como uma cidadã e como uma mulher, a vir a esta tribuna para repudiar o que aconteceu ontem na cidade de Manaus, o que aconteceu ontem, antecedendo um debate muito importante não só para mim, que sou candidata e para os demais candidatos, mas importante para toda a cidade de Manaus.

            Afinal de contas, não existe período mais importante da democracia do que o período eleitoral, que todos comparam a uma festa da democracia, porque não são apenas parlamentares, não são apenas militantes políticos, mas é toda uma comunidade, toda uma população que debate a política, debate a sua cidade, debate os destinos da sua cidade, debate educação, debate saúde, debate segurança, e nós não podemos, Srª Presidenta, conviver com isso, e eu não poderia ficar calada.

            Eu não sei se eu fosse um homem, se teria sofrido a agressão que eu sofri ontem. Aliás, não foi apenas ontem, as agressões já vêm de muito tempo. Eu tenho sido obrigada a pedir ajuda ao Tribunal Regional Eleitoral, para retirar determinadas propagandas da televisão que não são só depreciativas à candidatura, mas são depreciativas à condição feminina, são depreciativas a alguém que tem uma história de vida naquela cidade, uma história política naquele Estado.

            Eu, Srª Presidenta, sou Senadora da República hoje, mas fui Deputada Federal durante 12 anos. Numa das eleições, eu fui a primeira mais votada do meu Estado e a segunda, proporcionalmente, Senador Capiberibe, mais votada do Brasil. Fui vereadora da cidade de Manaus durante 10 anos. Comecei a minha militância política sem deter qualquer mandato. Como jovem estudante, militei no movimento estudantil. Como professora, militei no movimento sindical, e construí minha carreira em cima da verdade, construí minha carreira em cima do respeito às diferenças, porque tenho diferenças com muitas pessoas, tenho diferenças com muitos partidos, mas as diferenças devem ser expressas com palavras, devem ser expressas no debate, e não em ações truculentas, como as que aconteceram ontem.

            Quero dizer, Presidenta, Senadora Ana Amélia, que eu estou encaminhando, hoje, ao Presidente José Sarney, um ofício, um expediente relatando o fato e pedindo ajuda do Senado para que reforce a solicitação à polícia do Estado do Amazonas, ao Tribunal Regional Eleitoral, para que apurem tudo isso que aconteceu, porque eu tenho convicção, nós temos convicção absoluta... Eu não seria leviana de chegar aqui e apontar nomes, porque isso não cabe a mim, isso cabe à Justiça Eleitoral, isso cabe à polícia do meu Estado, que acompanhou tudo o que aconteceu no dia de ontem, na cidade de Manaus.

            Se V. Exª me permite, eu concedo aparte ao Senador Eduardo Braga.

            O Sr. Eduardo Braga (Bloco/PMDB - AM) - Senadora, a Presidenta me informou que V. Exª está falando pela Liderança. Logo a seguir, eu falarei pela ordem, para não quebrar o Regimento, mas deixo aqui a minha solidariedade a V. Exª. Daqui a pouco, eu me manifestarei pela ordem.

            A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco/PCdoB - AM) - Eu agradeço a V. Exª, Senador. V. Exª participa comigo desse pleito, que é importante.

            Eu acredito que atitudes como essa não fazem com que um ou outro grupo, uma ou outra coligação, um ou outro time político perca, mas faz com que o próprio processo democrático perca muito com isso.

            Eu tenho dito muito: palavras são muito fáceis de serem ditas, são muito fáceis. Palavras são fáceis de serem ditas, agora, jamais nós devemos julgar alguém pelas palavras. Devemos, sim, julgar pelos atos.

            Manaus, no passado, viveu um momento de muita dificuldade. Há 20 anos, nós vivemos problemas graves de repressão a trabalhadores, repressão que nós abominamos e nós não podemos... Na eleição passada, na eleição anterior, eu não me recordo, e duvido que alguém do meu Estado se recorde, de tamanha agressão, porque, repito, a disputa deve-se travar no debate, no campo das ideias e não no campo da violência, que foi o que fizeram ontem.

            Senador Alfredo Nascimento, V. Exª, que chega ao plenário neste momento, não foi o ato isolado de uma pessoa. Não foi. Eu tenho convicção absoluta e, mais do que isso, nós temos provas, nós temos elementos de que lá, na frente da emissora, havia um grupo organizado. Não era para debater com a candidata, não era para debater com os nossos militantes, que estavam também lá na frente, de forma ordeira...

            O Sr. Alfredo Nascimento (Bloco/PR - AM) - V. Exª me concede um aparte, Senadora?

            A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco/PP - RS) - Senador Alfredo Nascimento, ela está falando pela Liderança do PCdoB.

            O Sr. Alfredo Nascimento (Bloco/PR - AM) - Ah, pela Liderança?

            A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco/PP - RS) - É, e o Regimento não permite.

            Eu gostaria muito de conceder o aparte. mas, como fez o Senador Eduardo Braga, que vai pedir a palavra pela ordem, assim que ela terminar, eu sugiro a V. Exª que use também desse mecanismo.

            O Sr. Alfredo Nascimento (Bloco/PR - AM) - Muito obrigado, Presidente.

            A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco/PP - RS) - Eu lhe agradeço muito.

            A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco/PCdoB - AM) - Então, Presidenta, ficou claro que não foi ação isolada, tampouco alguém do povo.

            O povo é ordeiro, o povo é sábio, o povo sabe escolher o seu candidato de forma justa, de forma correta, sem agredir aqueles que não escolheu. Não havia ninguém do povo lá para fazer isso. O que havia era um grupo de pessoas organizadas.

            Repito: não vou eu apontar nomes, porque cabe à Justiça Eleitoral, porque cabe à polícia do meu Estado apontar os nomes, porque provas, eu repito, existem muitas, provas fartas, que mostram a que grupo político pertenciam as pessoas que me atingiram e atingiram os que me acompanhavam. Essas pessoas foram para lá organizadas não com bandeiras dos seus candidatos, mas foram para lá com bonecos, com bonecas, depreciando a condição feminina, depreciando a condição de cidadã.

            E eu repito: estarei, daqui a pouco, com o Presidente José Sarney, encaminharei a ele um expediente, encaminharei a ele todas as fotos, as cópias dos jornais, relatando tudo o que aconteceu. Afinal de contas, eu estou numa disputa eleitoral, mas eu sou Senadora da República. E, como Senadora, mas também como mulher, como cidadã, mereço respeito, como todo o povo brasileiro merece respeito. E tenho a certeza e a convicção de que haverá muito empenho das instituições e das forças policiais para apontar a pessoa que fez isso, ou as pessoas que fizeram isso a mando de alguém.

            Não podemos admitir. Nunca agimos assim, Srª Presidenta. Nunca agimos assim, e não vamos permitir que qualquer pessoa ou que qualquer partido trate os seus adversários com tamanho desrespeito, com tamanha violência, com tamanha truculência, como eu fui tratada no dia de ontem.

            E não fui eu apenas a pessoa violentada no dia de ontem. Foi a própria democracia que sofreu com isso, porque a democracia não suporta isso, não convive com esse tipo de atitude. Não convive! E nós lutamos muito. Eu me orgulho de dizer que, ainda muito jovem, lutei muito pela redemocratização deste País, para fazer do Brasil um país livre, democrático, para que todos tivessem o direito livre de expressão. Mas direito livre de expressão não é organizar verdadeiras claques, verdadeiros grupos para atingir fisicamente candidatos ou candidata, no meu caso, como fui atingida no dia de ontem.

            Peço desculpas a V. Exª, Senadora Ana Amélia. Peço desculpas aos meus pares por ter de trazer um assunto tão desagradável relacionado à minha cidade e à disputa...

(Interrupção do som.)

            A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco/PCdoB - AM) - Mas eu me sinto na obrigação, Srª Presidenta, até para que isso sirva de exemplo para mais de cinco mil cidades brasileiras que estão vivendo um processo idêntico ao processo vivido na minha querida cidade de Manaus. A violência nunca vale a pena. A violência nunca leva a absolutamente nada.

            Cheguei ao debate depois desse episódio e, em respeito aos telespectadores, Srª Presidenta, não toquei no assunto. Em respeito aos telespectadores que ligaram suas televisões para assistir ao debate, não toquei neste assunto, o que não significa dizer que eu não queira a apuração. Quero, sim! Porque quem mandou fazer isso vai ter de aparecer e se explicar, não perante mim, não perante a minha coligação, mas perante a minha gente querida de Manaus.

            Muito obrigada, Srª Presidenta.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/09/2012 - Página 47627