Pronunciamento de Ana Amélia em 25/09/2012
Discurso durante a 182ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Preocupação com as finanças dos pequenos Municípios, dependentes do repasse de verbas do Governo Federal.
- Autor
- Ana Amélia (PP - Progressistas/RS)
- Nome completo: Ana Amélia de Lemos
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL, POLITICA FISCAL, REFORMA TRIBUTARIA.:
- Preocupação com as finanças dos pequenos Municípios, dependentes do repasse de verbas do Governo Federal.
- Publicação
- Publicação no DSF de 26/09/2012 - Página 50353
- Assunto
- Outros > ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL, POLITICA FISCAL, REFORMA TRIBUTARIA.
- Indexação
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- APREENSÃO, RELAÇÃO, REDUÇÃO, RECEITA MUNICIPAL, FUNDO DE PARTICIPAÇÃO DOS MUNICIPIOS (FPM), MOTIVO, IMPLANTAÇÃO, PROGRAMA DE GOVERNO, GOVERNO FEDERAL, ISENÇÃO, RECOLHIMENTO, IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS (IPI), OBJETIVO, INCENTIVO, CONSUMO, EFEITO, AUSENCIA, RECURSOS FINANCEIROS, MUNICIPIOS, INVESTIMENTO, EDUCAÇÃO, DIFICULDADE, QUITAÇÃO, COMPROMISSO.
A SRª ANA AMÉLIA (Bloco/PP - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Caro Presidente Anibal Diniz, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, nossos telespectadores da TV Senado, ouvintes da Rádio Senado, servidores desta Casa, é preocupante, para dizer o mínimo, Srs. Senadores, que, às vésperas da eleição municipal, não temos segurança alguma de que as contas de milhares de prefeituras chegarão ao fim deste ano quitadas, como determina a eficiente Lei de Responsabilidade Fiscal, em vigor no País. Em novembro deste 2012, quando as eleições já estarão terminadas, muitas prefeituras poderão se endividar até além do permitido.
O mais grave em tudo isso é que parte desse problema que enfrentam os Municípios envolve a relação com o Governo Federal, que aumentou os gastos com o salário mínimo em valores acima da inflação - o que é positivo do ponto de vista social da distribuição da renda, do aumento do poder aquisitivo dos trabalhadores, mas isso tem impacto sobre as contas dos Municípios -, reajustou o Piso Nacional do Magistério - também uma medida justa e necessária - e abriu mão da arrecadação de impostos que ajudam na receita dos Municípios em um momento econômico preocupante e de cautela. A questão é que a desoneração de IPI é um recurso a menos no FPM - Fundo de Participação dos Municípios.
Muitas cidades pequenas, que são maioria no País, já estão com os caixas vazios e comprometidos com despesas para o pagamento de funcionários ou o custeio da prefeitura. Aproximadamente R$9 bilhões não chegarão aos cofres das prefeituras municipais, segundo levantamento feito pela Confederação Nacional dos Municípios. Só de repasses do Fundo de Participação dos Municípios, o famoso FPM, gerido pelo Governo Federal e formado com recursos da arrecadação do Imposto de Renda e do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), serão R$6,9 bilhões a menos na composição do FPM, que, todos sabem, é a principal fonte de receita dos Municípios.
É preciso chamar a atenção, Srªs e Srs. Senadores, para um detalhe relevante: muitos Municípios dependem exclusivamente dos recursos desse fundo. Em todo o País, 4,3 mil Municípios são atingidos duramente quando esse recurso não chega.
Municípios pequenos, com 5 mil habitantes, no meu Estado, o Rio Grande do Sul, são centenas e, também como os demais, correm o risco de não ter dinheiro para pagar funcionários ou mesmo para concluir obras que estão em andamento - nem se fala no décimo terceiro salário, compromisso de que se está chegando próximo.
Nas cidades pequenas, nas quais a atividade rural é a principal atividade econômica, a arrecadação dos impostos é transferida para o Estado e para a União. Isso significa que grande parte do que é arrecadado nos Municípios não volta para beneficiar o Município onde foi gerada aquela receita. Esse é o nosso injusto sistema tributário. Assim, esse recurso do Governo Federal, o FPM, é extremamente relevante para a saúde financeira e fiscal de todas as prefeituras do País, de norte a sul, de leste a oeste.
Esse dinheiro, portanto, precisa chegar aos Municípios. Esse recurso precisa estar no cofre das prefeituras, pois nem o mais competente e responsável prefeito consegue administrar uma cidade, sem recurso.
A propósito disso, lembro-me de uma proposta do Senador Aécio Neves a esta Casa, no sentido de que, cada vez em que o Governo comprometer o recurso do Fundo de Participação, terá de fazer uma compensação ao ente que sofreu essa queda na receita, como agora o faz em relação à redução do IPI para alguns setores, como forma de ativar a economia. É em boa hora que chega essa providência, porque não pode o Governo Federal fazer festa com recurso alheio.
As grandes cidades brasileiras têm graves problemas conhecidos por todos nós, mas apenas 19 delas - que têm mais de 1 milhão de habitantes - não são atingidas por esse problema, o da transferência do Fundo de Participação dos Municípios. Os grandes e médios Municípios, ao contrário dos menores, conseguem levantar recursos em outras fontes, com outros impostos, como o Imposto sobre Serviços (ISS), sobre Transmissão de Bens Imóveis (ITBI), sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU), entre outros.
A decisão do Governo de reduzir a cobrança da Contribuição de Intervenção no Domínio Económico, a famosa Cide, para o setor de combustíveis também gera problemas para os Municípios. Quase R$600 milhões deixam de ser arrecadados para as prefeituras, por conta das mudanças na Cide. A redução do IPI, que estimula o consumo, também faz o caixa das prefeituras ficar menor.
Desse modo, a área da educação é uma das que mais sofre e terá problemas no presente, agora em 2012, e no futuro, a partir de 2013. A redução dos repasses do FPM e a queda de arrecadação pode causar um rombo no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação, mais conhecido como Fundeb, Senador Paulo Bauer, V. Exª que conhece bem essa área. A perda prevista no Fundeb, para os Municípios, é de R$17 bilhões, considerando apenas a contribuição de Estados e Municípios.
Lamentavelmente, as prefeituras que deveriam estar investindo na qualidade do ensino da população dos pequenos Municípios, no ensino fundamental, nas creches para as crianças, não o farão porque as condições para isso, financeiramente falando, não são, infelizmente, nem um pouco favoráveis.
Nas comunicações institucionais do Ministério da Educação é fácil encontrar a propaganda de que a "União tem compromisso com a educação básica". Mas se os Srs. Senadores perguntarem aos técnicos do órgão federal, eles saberão dizer, na ponta da língua, que o Fundeb foi criado para aumentar, em até dez vezes, o volume de recursos federais destinados para financiar todas as etapas da educação básica e para programas de educação de jovens e adultos. Ou seja, a redistribuição dos recursos vinculados à educação, com base nos censos escolares.
Mas como os prefeitos vão conseguir melhorar a qualidade da educação básica, sobretudo com índices oficiais bem abaixo da média, em diversos Municípios brasileiros?
O problema é tão grave que os Municípios já preveem um rombo de R$25,3 bilhões nas contas deste ano. Trata-se de uma quantia suficiente para comprar uma frota gigantesca de 970 mil carros populares no Brasil, ainda mais agora, com o IPI reduzido, outro fator que também pesou para a queda das receitas dos Municípios.
Outra situação que acende uma luz amarela e agrava as condições de trabalho das prefeituras são os chamados "restos a pagar". Mais de R$18 bilhões que deveriam ter sido repassados para as prefeituras pelo Governo Federal em anos anteriores simplesmente ainda não chegaram aos Municípios, apesar de estes terem direito a esse recurso.
E em um ano de eleição, o que tudo isso significa, Srs. Senadores?
Significa que muitos prefeitos, mesmo cumprindo a cartilha da boa gestão e tendo se esforçado para cumprir as regras fiscais, correrão o risco de serem penalizados, porque estarão, em tese, "fora da lei" quando 2013 chegar - e está chegando muito rapidamente.
Infelizmente, isso pode ocorrer porque o Governo Federal ainda não conseguiu repassar esses recursos dos chamados “restos a pagar" para as prefeituras municipais. A situação é tão complexa, Srªs e Srs. Senadores, que se estende também para o lado das empresas.
É que muitas empreiteiras que foram contratadas para fazer obras básicas, como a construção de pontes e estradas nessas prefeituras "endividadas", também correm o risco de quebrar - as prefeituras não têm dinheiro para liquidar esses compromissos, e são obras já iniciadas. Como o dinheiro não chega, a empresa não consegue terminar a obra. E como a cidade é pequena e a obra é a única da cidade, ocorre o óbvio: a empresa quebra porque também é uma pequena empresa.
Para ter um retrato mais claro dessa situação, a Confederação Nacional dos Municípios fez uma pesquisa com mais de 85% de todos os Municípios brasileiros, e as constatações foram as seguintes: dos 4.773 Municípios pesquisados, 532 informaram que estão com os salários atrasados, já estão com os salários atrasados.
De todos os Municípios ouvidos nessa pesquisa de opinião, quase 48% afirmaram que estão com atrasos no pagamento de fornecedores; 19% ainda não conseguiram implantar o Piso Nacional do Magistério; mais de 80% afirmaram que o aumento do salário mínimo cria problemas para administrar as despesas com pessoal; 47% desses mesmos pesquisados Municípios informaram que tiveram problemas com convênios celebrados com a União para a execução de obras ou aquisição de equipamentos; e 66% dessas prefeituras indicaram que poderão deixar restos a pagar no final desse exercício, devido ao não pagamento desses convênios firmados com a União.
Portanto, Sras e Srs. Senadores, gostaria de chamar a atenção para este assunto de extrema relevância, sobretudo agora, num momento de transição dos governos municipais. A Lei de Responsabilidade Fiscal é um avanço importantíssimo para a Administração Pública brasileira. Isso ninguém nega.
Os ganhos para a Administração Pública com esse formato são sempre crescentes. Sabemos também que a situação econômica não é das melhores. Estamos conseguindo administrar a economia, mesmo com as incertezas internacionais. O Governo tem reduzido, claro, com segurança e com sabedoria, os juros básicos da economia, através da ação do Banco Central e do Comitê de Política Monetária. A redução de impostos também tem vantagens, pois estimula o consumo e aumenta a atividade econômica.
Mas não podemos trabalhar somente com a emergência. É preciso ser tático, mas jamais deixar de ser estratégico. O nosso sistema tributário é complexo, sabemos disso.
(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)
A SRª ANA AMÉLIA (Bloco/PP - RS) - Estou concluindo, Sr. Presidente.
E as reformas necessárias não vêm porque o contexto muitas vezes não permite acordos e consensos nessa matéria, já que a União, Estados e Municípios, como Entes Federativos, têm interesses conflitantes quando se discute a questão do pacto federativo e da própria reforma tributária.
Entretanto, o Governo Federal precisa chegar a um entendimento sobre essa questão dos repasses dos recursos para os Municípios. O ajuste do chamado “cobertor curto” das finanças públicas é difícil, mas é necessário e inadiável. O Brasil não pode mais pensar apenas sob a ótica dos grandes centros urbanos, onde o consumo é concentrado. Muitas prefeituras também não fazem o dever de casa e alguns prefeitos são maus gestores.
Porém, todos nós precisamos fazer a parte que cabe a cada um, como sua responsabilidade. União, Estados e Municípios precisam se acertar, especialmente em tempos de crise econômica. A matemática orçamentária e fiscal só fecha se governos, Estados e Municípios conversarem e resolverem suas diferenças. Caso contrário, a transição que estamos acompanhando agora nas eleições municipais de 7 de outubro poderá significar não apenas um sopro democrático - mais um -, uma grande manifestação da liberdade e da nossa capacidade de mobilização nacional - estas são as eleições mais importantes -, mas também trazer junto consigo um problema sério, que é o de gestão pela falta de recursos.
Muito obrigada, Sr. Presidente.