Discurso durante a 190ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem pelo transcurso hoje do Dia do Professor.

Autor
Sergio Souza (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
Nome completo: Sergio de Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO. HOMENAGEM.:
  • Homenagem pelo transcurso hoje do Dia do Professor.
Aparteantes
Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 16/10/2012 - Página 53754
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO. HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA NACIONAL, PROFESSOR, REGISTRO, RELEVANCIA, CATEGORIA PROFISSIONAL, FORMAÇÃO, VIDA ESCOLAR, ORADOR.
  • SOLICITAÇÃO, ANALISE, PROJETO DE LEI, AUTORIA, ORADOR, ASSUNTO, PROPOSTA, ALTERAÇÃO, LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL, INCLUSÃO, ENSINO, ETICA, POLITICA, CIDADANIA, OBJETIVO, MELHORIA, FORMAÇÃO, CIDADÃO, IMPORTANCIA, POLITICA EDUCACIONAL, CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO NACIONAL.

            O SR. SÉRGIO SOUZA (Bloco/PMDB - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente Ângela Portela, nobilíssima professora, parabéns pelo seu dia. É o tema que me traz à tribuna na tarde de hoje: Dia do Professor, 15 de outubro.

            A reflexão que venho fazer refere-se à importância desses educadores na minha vida. Desde o primário, hoje conhecido como ensino fundamental - nos idos dos anos 70, primário - eu, de família de agricultores familiares, estudava em uma escola rural de sala única, onde estudavam ao mesmo tempo, no período vespertino, 1ª e 4ª séries, e, no período matutino, a 3ª e 2ª séries do primário. Tínhamos todos a mesma professora, de manhã e à tarde para as quatro séries. Enquanto controlava a turma do 4º ano, não descuidava da turma do 1º ano. E assim também fazia para as turmas da 2ª e 3ª séries. Na época em que grande parte da população brasileira vivia no meio rural, as escolas também existiam no meio rural.

            A influência da escola primária na minha vida foi das mais marcantes. Lembro-me perfeitamente de entrar em fila todos os dias e todos os dias cantar um hino: da Bandeira, da Pátria ou o Hino Nacional, reverenciando o patriotismo, a cidadania brasileira. Lembro-me muito bem da professora Clarice, professora primária severa, que não só ensinava matemática e português, mas ensinava também conduta em sociedade, ensinava respeito mútuo, ensinava-me ser um cidadão.

            Esses ensinamentos, Srª Presidente, levaram-me, no início deste ano, a apresentar um projeto de lei no Senado Federal, o Projeto de Lei nº 2, que teve o privilégio de ter como relator o Senador Cristovam Buarque. É um projeto que sugere ao Governo brasileiro alteração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação para inclusão no ensino fundamental da disciplina Cidadania, Moral e Ética, e, no ensino médio, da disciplina Ética Social e Política.

            O recente levantamento realizado pelo Fórum Econômico Mundial, englobando 60 países, revelou que o Brasil ocupa 11ª posição no ranking daqueles com maior estabilidade econômico-financeira, superando - incrível - todos os países da zona do euro, superando países como o Japão e os Estados Unidos. Esse é o Brasil economicamente ativo de hoje.

            No entanto, o mesmo estudo mostra que o Brasil encontra-se, entre esses 60 países pesquisados na 50ª posição em corrupção e 55ª posição na ineficiência da justiça. Este é o Brasil de contrastes, como demonstrado pelo Senador Cristovam Buarque, quando à Nação brasileira fazia o seu pronunciamento na tarde de hoje, mostrando que somos a 6ª maior economia, mas, em contraponto, estamos em 8º, de trás para frente, na educação.

            Mas o Brasil que me faz refletir sobre a importância de colocarmos projetos como esse em pauta no Congresso Nacional e sugerirmos proposições para que possamos fazer um Brasil diferente me traz hoje à tribuna para fazer uma reflexão da importância da educação na minha vida, da importância da educação na vida de um país, na vida de um povo.

            Com o objetivo e o contrassenso inaceitável - afinal, o Brasil tem avançado de maneira exemplar na aplicação das políticas públicas que inserem o nosso País na trilha do desenvolvimento sustentável com inclusão social - não tenham dúvidas de que esses e outros problemas cruciais da nossa sociedade somente conseguirão ser superados de maneira definitiva pela implantação de uma política educacional cada vez mais voltada para a formação moral e ética das nossas crianças, o que refletirá positivamente na formação do caráter dos nossos jovens, preparando-os para o exercício responsável da cidadania.

            É com esse objetivo que apresentei o presente projeto de lei propondo alteração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional com a finalidade de aprimorar o conteúdo do ensino fundamental, com vistas a incluir, entre outras diretrizes, a preocupação com os valores morais e éticos. Propus também aprimorar a LDB no que se refere ao ensino médio, com o objetivo de dar o devido destaque à formação ética, social e política.

            Estou convencido, Srª Presidente, de que, desta forma, estaremos oferecendo à nossa sociedade instrumentos para o fortalecimento da formação de um cidadão brasileiro melhor. Por um lado, pela formação moral, ensinando conceitos em que se fundamentam a obediência às normas, tabus, costumes, ou mandamentos culturais hierárquicos; por outro lado, pela formação ética, ensinando conceitos que se fundamentam no exame dos hábitos de viver e do modo adequado da conduta em comunidade, solidificando a formação do caráter, e, finalmente, para sedimentar o exercício de uma visão crítica dos fatos sociais e políticos que figuram conjunturalmente na pauta prioritária da opinião pública, oferecendo aos jovens os primeiros contatos com as noções de democracia, sem caráter ideológico, ensinando-o a construir seu pensamento político por sua própria consciência.

            Trata-se, portanto, de uma ferramenta fundamental para que as crianças e os jovens estejam bem preparados para análise dos principais problemas sociais do Brasil e do mundo, estimulando ações proativas para convivência melhor em sociedade. Fortalece-se, assim, o sistema educacional brasileiro.

            Rogo, também, Srª Presidente, para que esse projeto seja o mais rapidamente pautado pelo Senado Federal, uma vez que, como foi aprovado terminativamente na Comissão de Educação, houve recurso perante o plenário e, já esgotado o prazo para apresentação de emendas, e sem emendas, o projeto está pronto para ser pautado pelo Congresso Nacional.

            Então, Srª Presidente, uma professora de primário, quando eu tinha menos do que 10 anos, influenciou a minha vida, a minha atuação aqui no Senado Federal - uma professora!

            Também faço reflexões sobre a importância do ensino colegial, que nós tínhamos como o ensino ainda de primeiro grau, da 5ª a 8ª série e sobre as dificuldades que tive para estudar morando numa pequena propriedade rural no interior do interior do interior do Estado do Paraná. Tinha que caminhar 7 quilômetros para e 7 quilômetros para voltar, ou seja, cerca de 14 quilômetros todos os dias para fazer da 5ª a 8ª série. Aprendi muito. Lembro-me ainda dos meus colegas de turma, lembro-me ainda dos meus professores.

            Para fazer o segundo grau, caminhava uma distância para tomar o ônibus e percorria dezenas de quilômetros até chegar ao Município, à sede do Município de Ivaiporã, minha terra natal. Chegando à casa, de volta, já no início da madrugada, as dificuldades não me deixaram ou não me venceram, porque tinha professores que me incentivavam, professores que me davam o norte que eu deveria persistir e perseguir, porque somente através do ensino poderíamos ou podemos fazer a diferença neste País.

            Srª Presidente, recordo-me ainda, já na cidade de Curitiba, onde finalizava o segundo grau, de um professor de nome Elton, professor de Geografia que dizia, no início dos anos 90, que o Centro-Oeste seria o grande produtor agrícola brasileiro, o maior produtor agrícola brasileiro, mostrando-nos a importância do clima, do solo e das precipitações nas produções agrícolas. Poucos acreditavam, mas hoje nós vemos que isso é fato, o que nos traduz que é através da educação e de bons professores que chegamos de fato ao conhecimento.

            O terceiro grau, a universidade, só foi possível após o cumprimento do serviço militar, que fiz na cidade de Curitiba, e do término do segundo grau, que também foi na cidade de Curitiba, que só veio aos 22 anos de idade e de mais um ano de curso preparatório para o vestibular.

            O primeiro ano de terceiro grau foi na cadeira de Geografia, curso que marcou a minha vida. Pude e aprendi que parte do Paraná foi fundo de mar. Aprendi, Senador Presidente Aníbal Diniz, a diferenciar uma estrela de um planeta. Foi só um ano de Geografia, mas foi um dos anos mais importantes da minha vida acadêmica.

            Lembro-me de todos os professores e colegas de turma. Naquele ano, pude conhecer o mar, as montanhas, os solos, entender um pouco de geografia, de astrologia e também de astronomia. No ano seguinte, fui cursar Direito, já com 25 anos de idade. Tive, no curso de Direito, professores da Magistratura federal e estadual, que, hoje, são desembargadores, alguns até mesmo candidatos a Ministros. Hoje, nós nos encontramos e conversamos, havendo orgulho recíproco. Sr. Presidente, tive professores causídicos, dedicados, da advocacia do meu Estado, mas também tive professores apenas dedicados a ensinar, a proferir, a professar.

            Rogo a esses tantos que sempre de forma positiva influenciaram minha formação cultural e social, ajudaram-me a ser mais patriota, mais humano, mais cidadão. Obrigado a vocês, professores, que mudaram o rumo da minha vida, por me transportarem de uma pequena propriedade rural do interior do Paraná para Brasília, por fazer de um agricultor familiar um Senador da República.

            Obrigado a todos, as Srªs e os aos Srs. Professores.

            Com muita honra, concedo um aparte ao Senador Cristovam Buarque.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - Senador, apenas para dizer da grandeza de sua fala ao agradecer aqueles que, de fato, compuseram V. Exª como é e fez com que chegasse aqui: os pais da gente e os professores. Como eu disse há pouco, cada um de nós nasce duas vezes: uma vez na maternidade, outra, na escola. E, felizmente, ainda temos pessoas que percebem isso e que têm a grandeza de vir aqui agradecer aos seus professores.

            O SR. SÉRGIO SOUZA (Bloco/PMDB - PR) - Obrigado, Senador Cristovam. Lembro-me da minha mãe.

            O primário foi numa escola rural, como disse, onde quatro turmas - 1ª, 2ª, 3ª e 4ª séries, duas de manhã e duas à tarde - compartilhavam a mesma sala e a mesma professora. Não pude, já terminado o quarto ano, fazer a 5ª série, porque não havia nenhum vizinho que pudesse ir junto comigo, uma criança de 10, 11 anos de idade. Mas, no segundo ano - então, fiquei um ano sem estudar -, uma família passava na estrada, e a minha mãe falou: “lá vai fulana de tal fazer a matrícula para a 5ª série. Por que você não vai junto?”. E eu, que estava capinando ao lado da estrada, incentivado por minha mãe, fui para casa, tomei um banho, pus uma roupa e fui fazer a minha matrícula para a 5ª série.

            De fato, duas coisas marcaram a minha vida: os professores e os meus pais, que me ajudaram a chegar onde estou hoje.

            Muito obrigado a todos os professores e professoras do meu Brasil, por fazerem, de forma direta, um País diferente.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/10/2012 - Página 53754