Pela Liderança durante a 210ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Relato de ações da CPI do Tráfico de Pessoas no combate e na investigação desse crime. (como Líder)

Autor
Paulo Davim (PV - Partido Verde/RN)
Nome completo: Paulo Roberto Davim
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
DIREITOS HUMANOS, SEGURANÇA PUBLICA.:
  • Relato de ações da CPI do Tráfico de Pessoas no combate e na investigação desse crime. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 14/11/2012 - Página 60786
Assunto
Outros > DIREITOS HUMANOS, SEGURANÇA PUBLICA.
Indexação
  • REGISTRO, REALIZAÇÃO, SALVADOR (BA), ESTADO DA BAHIA (BA), AUDIENCIA PUBLICA, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), INVESTIGAÇÃO, IRREGULARIDADE, ADOÇÃO, CRIANÇA, REGIÃO, POSSIBILIDADE, TRAFICO, PESSOAS, COMENTARIO, REFERENCIA, ATUAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR, SENADO, PAIS, OBJETIVO, AUXILIO, RESOLUÇÃO, PROBLEMA, APRESENTAÇÃO, IMPORTANCIA, APOIO, POPULAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, GOVERNO ESTADUAL, GOVERNO MUNICIPAL, MOTIVO, PROTEÇÃO, VITIMA.

            O SR. PAULO DAVIM (Bloco/PV - RN. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, a CPI do Tráfico de Pessoas, da qual sou Vice-Presidente, esteve ontem em Salvador. Nós fomos para realizar uma audiência pública e discutir um fato que ocorreu, há um ano e meio, na cidade de Monte Santo, interior da Bahia, mas foi divulgado no último mês pelo programa Fantástico, da Rede Globo. Nós fomos para investigar os fortes indícios de que o ocorrido em Monte Santo pode ter sido uma ação orquestrada de quadrilhas que traficam seres humanos, traficam pessoas.

            Estiveram presentes várias instituições não governamentais. Estava presente o promotor da comarca de Monte Santo. Estava presente o advogado da família que foi colocado através do Cedeca - Centro de Defesa da Criança e do Adolescente - da Bahia. Estiveram presentes alguns deputados estaduais e Deputados Federais, como a Deputada Alice Portugal. Estavam presentes representantes da Ouvidoria dos Direitos Humanos da Presidência da República, outras autoridades civis, toda a imprensa da capital Salvador. Foi uma audiência bastante concorrida e esclarecedora.

            Eu confesso que, ao sair dessa audiência pública, saí mais convencido de que o fato ocorrido em Monte Santo, há um ano e meio, se reveste de um requinte de crueldade, de insensibilidade e, mais do que isso, tem todos os aspectos, como nós chamamos o modus operandi, de uma quadrilha, ou de mais uma quadrilha que promove o tráfico de pessoas no Brasil.

            Esse é um crime que passa despercebido aos olhos da sociedade e que procura se revestir de certa legalidade, até porque as pessoas que são levadas do Brasil para o exterior, por incrível que pareça, saem com o seu passaporte, saem absolutamente legalizadas do País. As pessoas costumam construir a imagem ou a ideia de que o tráfico de pessoas, muitas vezes, poderia ocorrer contra a vontade da vítima. É claro que não. Essa é a diferença do tráfico para o sequestro.

            Muito menos haverá o tráfico de pessoas da maneira antiga, da época em que existiam os navios negreiros trazendo negros da África para o Brasil. Não é dessa forma. É uma forma mais sofisticada e, como eu disse, que se reveste de certo legalismo e, por isso mesmo, torna difícil ser enxergado à luz da legalidade de fato, da Justiça, e ser enxergado aos olhos da sociedade e das autoridades. Mas é um crime que movimenta aproximadamente US$30bilhões/ano, no mundo; e 10% dessa cifra é movimentada no Brasil.

            Há uma estimativa de que mais de um milhão de crianças são vendidas e são compradas, a cada ano, no mundo.

            E, agora, no mês de julho passado, o governo chinês prendeu 800 pessoas e conseguiu trazer de volta 181 crianças que haviam sido comercializadas lá, na República Popular da China. E o tráfico de pessoas, meus amigos, acontece para os mais variados fins: para a exploração sexual, para o trabalho análogo ao trabalho escravo, para a adoção ilegal e para a comercialização de órgãos. Acontece no Brasil muito mais frequente do que imagina. O Brasil tem aproximadamente 240 rotas de tráfico de pessoas.

            As mulheres, no Brasil, são as vítimas preferenciais, depois, seguem-se as crianças, travestis e os homens, mas a característica é que todo esse segmento, todas essas vítimas são oriundas de famílias humildes, elas sofrem a vulnerabilidade social, e esses bandidos, essas quadrilhas organizadas, quadrilhas financiadas, lançam mão, muitas vezes, do sonho acalentado por muitos jovens, meninas e meninos, para, em cima dessa vontade de ascensão social, dessa necessidade, sobretudo, de ascensão social, estabelecer o tráfico e cometer esse crime hediondo, esse crime abominável.

            É muito séria a questão do tráfico de pessoas no Brasil, e a nossa CPI esteve em Salvador ontem, e nós estaremos em Natal, no dia 3 de dezembro. Nós vamos em diligência para ouvir as mães das crianças que desapareceram de dentro das suas residências há 10 anos. Foram cinco crianças de um bairro pobre de Natal e até hoje esse crime não foi estabelecido. A CPI tomou a providência de solicitar ao Ministro da Justiça a presença da Polícia Federal na investigação deste caso inconcluso que envolveu famílias e crianças de Natal, num bairro periférico de Natal. Nós estaremos lá: vamos ouvir as mães, os parentes e vamos ouvir o delegado que está acompanhando este caso. Nós queremos, através do esforço de todos que fazem a CPI do Tráfico de Pessoas, dar a nossa contribuição, jogar luz nos casos em que as suas investigações ainda não foram concluídas. E, sobretudo, chamar a atenção da sociedade e das autoridades para este crime que passa despercebido aos olhos de todos, mas que é muito mais frequente do que se imagina.

            O Ministério Público da Bahia, assim como as instituições não governamentais que estão acompanhando este caso que aconteceu em Monte Santo, trouxeram até a CPI vários processos de crianças e adolescentes que, da mesma forma, foram levadas do Município para outras cidades do Brasil sem o cumprimento dos trâmites legais do processo, que qualquer processo de adoção teria que sofrer.

            Então, há uma suspeita forte de que as regiões de Monte Santo, Canudos, Euclides da Cunha e de outros Municípios pobres da Bahia sejam campo de atuação de alguma quadrilha de adoção ilegal e de tráfico de pessoas. Por isso que a nossa CPI convocou a agenciadora conhecida na região para, na próxima terça-feira, vir depor à CPI do Tráfico de Pessoas aqui no Senado Federal. Nós queremos ouvir e vamos ouvir o juiz atual de Monte Santo, que corajosamente teve o desprendimento de dizer a todos que os processos de adoção não atendiam às exigências legais.

(Soa a campainha.)

            O SR. PAULO DAVIM (Bloco/PV - RN) - E por isso mesmo está sofrendo ameaças. Até onde sei, pediu proteção à Polícia Federal.

            O fato é sério, o caso é grave, o crime é muito mais enraizado do que se imagina e, para enfrentarmos essas quadrilhas, precisamos contar com o apoio da sociedade, do Governo Federal, dos governos estaduais e dos governos municipais e, evidentemente, também de todas as organizações não governamentais que cuidam da criança e do adolescente no Brasil.

            Era só isso, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/11/2012 - Página 60786