Discurso durante a 214ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Necessidade da busca de solução pacífica para o conflito entre Israel e Palestina.

Autor
Sergio Souza (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
Nome completo: Sergio de Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DISCRIMINAÇÃO RACIAL, POLITICA INTERNACIONAL.:
  • Necessidade da busca de solução pacífica para o conflito entre Israel e Palestina.
Aparteantes
Eduardo Suplicy.
Publicação
Publicação no DSF de 21/11/2012 - Página 62125
Assunto
Outros > DISCRIMINAÇÃO RACIAL, POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • REGISTRO, HOMENAGEM, COMEMORAÇÃO, DIA NACIONAL, CONSCIENTIZAÇÃO, NEGRO, IMPORTANCIA, DATA, REFERENCIA, RELEVANCIA, MOBILIZAÇÃO, GRUPO ETNICO, EVOLUÇÃO, COMBATE, DISCRIMINAÇÃO RACIAL, DESIGUALDADE SOCIAL.
  • COMENTARIO, APREENSÃO, ORADOR, GOVERNO FEDERAL, RELAÇÃO, CONFLITO, PAIS ESTRANGEIRO, ISRAEL, PALESTINA, REFERENCIA, MORTE, CIDADÃO, CRIANÇA, AUMENTO, CUSTO, PETROLEO, PAIS, MUNDO, MANIFESTAÇÃO, APOIO, DIALOGO, PACIFICAÇÃO.

            O SR. SÉRGIO SOUZA (Bloco/PMDB - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Sr. Presidente, Senador João Capiberibe.

            Também faço minhas as palavras do Senador Rodrigo Rollemberg no que diz respeito ao Dia Nacional da Consciência Negra, que comemoramos esta semana. E nós temos, aqui no Congresso Nacional, avançado e muito na defesa dos interesses das classes raciais. Os negros têm ocupado grande espaço e ganhado grande espaço na inserção social e econômica, principalmente na garantia ao acesso a vagas, a concursos públicos, como proposto pela PEC última apresentada e aprovada aqui, no Senado Federal, que reserva também cotas, nas escolas públicas, nas universidades públicas, de até 50% para as pessoas carentes, inclusive aqueles que têm uma diversidade racial.

            Sr. Presidente, venho hoje à tribuna para falar sobre um tema que está chamando a atenção de todo o Planeta. O assunto que tem muito preocupado muitos países, inclusive o Governo brasileiro, e que chama a atenção de todos nós também é o conflito na Faixa de Gaza, conflito armado entre Israel e a Palestina. Afinal, até agora há pouco, tínhamos dados de que 120 foram os mortos no conflito armado entre os dois países, sendo que quase a totalidade foi no Estado Palestino e somente três no Estado de Israel. Há uma preocupação, porque 27 das 117 mortes ocorridas até agora no Estado da Palestina foram de crianças, com toda certeza, civis, com toda certeza, indefesas. Não se trata aqui de defender qualquer um dos lados envolvidos, ou Israel ou o Hamas, mas me parece absolutamente fundamental evitar a todo custo a morte de crianças e inocentes de qualquer origem.

            Dessa forma, antes de qualquer coisa, somo minhas palavras àquelas que defendem o imediato cessar-fogo nesse conflito. O ideal seria que, a partir dessa nova crise, o mundo pudesse, enfim, negociar um acordo de paz entre palestinos e judeus que assegurasse a existência dos dois países, com uma definição clara e definitiva de seus respectivos territórios. É absolutamente legítima a pretensão do podo judeu em manter a sua terra e, sobre ela, viver em paz, sem quaisquer riscos à sua população.

            Porém, é igualmente justo que o povo palestino tenha o mesmo direito de possuir seu território e autodeterminar livremente seu destino, escolher o seu destino, respeitando, obviamente, a paz na região.

            Em seu discurso na abertura da 67ª Assembleia Geral da ONU, em Nova York, no último dia 25 de setembro, a Presidente Dilma Rousseff voltou a defender a soberania da Palestina como forma de reduzir os conflitos no Oriente Médio.

            Nas palavras da Presidente, com as quais eu concordo integralmente, "apenas uma Palestina livre e soberana poderá atender aos legítimos anseios de Israel por paz".

            Em verdade, a defesa da criação de um Estado Palestino é comum a praticamente todos os principais líderes mundiais, tendo sido, inclusive, defendida pelo presidente reeleito dos EUA, Barack Obama.

            Há controvérsias quanto ao processo, sendo que, para alguns, o Estado Palestino deveria ser o fim, e não o começo das negociações entre os atores envolvidos, enquanto outros advogam maior agilidade na determinação do novo país.

            Porém, há quase unanimidade em reconhecer o direito palestino ao seu próprio território e, além disso, em acreditar que a paz no Oriente Médio passa necessariamente por essa decisão.

            O problema, Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, meu caro Prefeito de Ângulo, Sr. Pedro Vicentin, que aqui nos visita, na tribuna de honra do Senado Federal, é que já passou da hora de solucionarmos este impasse. O mundo assiste há décadas, desde a criação do Estado de Israel, à evolução dos conflitos entre árabes e judeus naquela região.

            As razões e motivações de cada lado do confronto são conhecidas, muitas delas até mesmo legítimas, e praticamente todas são justificadas. Cada um tem seu ponto de vista e defende seus interesses, sejam econômicos, culturais ou religiosos. Contudo, a perspectiva de fim do conflito ainda parece distante, mesmo que tenhamos a convicção de que todos aqueles que lá vivem anseiam por paz, independente do lado do território em que vivam, do lado palestino ou do lado do Estado de Israel.

            A ONU e, repito, todas as principais lideranças mundiais também fazem coro permanente pela paz, ou seja, aparentemente não faltam motivos nem vontade para um desfecho. Faltam atenção e ação. Ação diplomática sem a necessidade de provocar nenhum derramamento de sangue, seja de judeu, seja de palestino.

            Quem sabe, agora, que acabou de ser reeleito o Presidente dos EUA, a maior economia do Planeta, não seja enfim o momento de, imediatamente após o cessar-fogo, aprofundarmos as negociações e buscarmos a solução definitiva dessa crise, que afeta diretamente todos os demais países no que diz respeito à economia.

            Não basta o clamor para que não haja ações que envolvam a retirada de seres humanos injustamente. Nós devemos tratar, por exemplo, da sustentabilidade através da energia, através do petróleo, mas uma guerra como essa aumenta o custo do petróleo, o barril do petróleo em nível global, e quem paga a conta somos todos nós.

             Recentemente, Sr. Presidente, o Presidente dos Estados Unidos da América reconheceu o direito de Israel defender seu povo - posição que compartilho -, porém deixou clara sua resistência a uma invasão terrestre a Gaza, preocupação que eu também compartilho. Aliás, aparentemente, mais uma vez, a maioria dos líderes mundiais que se pronunciaram sobre o assunto, inclusive nossa Presidente Dilma Rousseff, externaram contrariedade a uma invasão israelense à Faixa de Gaza.

            Para tanto, é fundamental o cessar-fogo de ambos os lados. Que o Hamas possa encerrar os ataques de morteiros e mísseis ao território israelense e que Israel possa fazer o mesmo.

            Tenho grande dificuldade em vislumbrar qualquer tipo de ganho para o povo palestino quando a manutenção dos ataques do Hamas tem resultado na morte de crianças e inocentes em Gaza, a partir da reação de Israel.

            Concedo um aparte ao Senador Suplicy.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Quero cumprimentá-lo, prezado Senador Sérgio Souza, pela maneira como agora trata do conflito entre Israel e Palestina, que tanto preocupa a todos nós, brasileiros, e a outras pessoas em todo o mundo. V. Exª, levando em consideração inclusive as ponderações da Presidenta Dilma Rousseff, do Presidente Barack Obama e do Secretário-Geral da ONU, soma o seu apelo para que possa haver uma trégua e o caminho da paz. Ainda há pouco, recebi o Prof. Edward Kaufman, que é judeu de Israel e um dos que, ainda hoje pela manhã, fizeram uma palestra no Itamaraty a respeito da possibilidade de árabes e judeus, no Brasil, poderem dar um exemplo de congraçamento, de entendimento e inclusive colaborar para que possa haver um melhor entendimento entre Israel e a Palestina, já que aqui, no Brasil, temos uma tradição de entendimento entre os povos de todas as origens. Então, V. Exª fala com esse espírito, o espírito de nós, brasileiros. Eu me lembro muito bem do Presidente Lula, no Clube Monte Líbano, que, preocupado com o conflito de Israel com a Palestina, transmitiu aos árabes, às pessoas de origem árabe ou palestina e aos sírio-libaneses que, quando vai ao Hospital Albert Einstein, ele observa médicos de origem judia colaborando com médicos de origem árabe-palestina; quando vai ao Hospital Sírio Libanês, ele também observa o mesmo. Mas assim também é em todas as instituições que conhecemos: V. Exª no Paraná; eu próprio na Fundação Getúlio Vargas, na Universidade de São Paulo, na Pontifícia Universidade Católica, em praticamente todas as instituições de ensino superior e se formos observar o que se passa ali, em meio àquela multidão da Rua 25 de Março, onde pessoas de todas as origens se espalham pelas lojas. Há algumas semanas, eu estava caminhando com o Fernando Haddad, então candidato a Prefeito de São Paulo, e ele mostrava o local onde seu pai tinha loja, mas também ali eram ora iranianos, ora coreanos, ora judeus, palestinos, japoneses, pessoas de todas as origens que ali estavam colaborando, interagindo uns com os outros. Daí a sugestão do Prof. Edward Kaufman de que possamos, brasileiros de origem árabe, brasileiros de origem judia, eventualmente, até ir para Israel e Palestina e mostrar que é possível um bom entendimento. Então, as palavras de V. Exª são exatamente no sentido de que a paz é possível. É possível que Israel venha a reconhecer o Estado da Palestina e que a Palestina também venha a reconhecer Israel, de tal maneira que possam esses povos, efetivamente, o quanto antes, provocar menos mortes, menos aflição a seus familiares, mas também a todos os povos. É importante que esse espírito de entendimento presida as relações entre Israel e Irã e os demais países árabes e todos os países do Oriente Médio. Quero congratular-me com V. Exª pelo espírito de promover a paz que caracteriza o seu pronunciamento, Senador Sérgio Souza.

            O SR. SÉRGIO SOUZA (Bloco/PMDB - PR) - Obrigado, Senador Eduardo Suplicy. De fato é uma preocupação de todos nós. Cumprimento também o colega advogado, Procurador aqui do Distrito Federal, Leite Chaves, que nos visita na tarde de hoje.

            Sr. Presidente, Sr. Senador Suplicy, senhoras e senhores, sem qualquer intenção de apontar culpados, parece-me evidente a superioridade bélica de Israel em comparação ao seu inimigo. O número de palestinos mortos expõe essa situação. São três judeus, até o meio da tarde, pelos dados que nós tínhamos aqui, contra 114 palestinos. Parece-me que isso é muito claro no número de mortos. E é sabido por todos nós, pela comunidade internacional, que o aparato bélico do Estado de Israel é um dos melhores do Planeta.

            Parece-me fundamental, portanto, para o bem-estar de seu povo, que o Hamas e todos os demais representantes palestinos decidam pelo cessar-fogo e possam sentar-se à mesa para negociar, com a participação da ONU, da Liga Árabe e de todos os demais atores envolvidos no assunto, inclusive o Brasil, uma saída pacífica para o impasse entre as duas nações.

            Se não for possível uma solução imediata, que sejam estabelecidos prazos ou um cronograma de discussões com metas, mas, sobretudo, que o bom senso prevaleça em defesa da harmonia no Oriente Médio.

            Vejo com satisfação e esperança as notícias que informam o crescimento da pressão mundial por um acordo em Gaza. E chegou agora há pouco, em torno de 15h40min, uma notícia retirada do G1 e da Folha de S.Paulo online de que o Hamas anuncia um cessar-fogo, mas que Israel está negando esse cessar-fogo. Isso muito nos preocupa, porque o poderio bélico - repito - de Israel é conhecido como sendo muito superior ao do Estado da Palestina.

            O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, Ban Ki-moon, que estava no Cairo e está a caminho de Israel, pediu um cessar-fogo imediato e disse que uma operação israelense por terra em Gaza seria uma "escalada perigosa" que deve ser evitada.

            A posição da União Europeia foi no mesmo sentido. Os Ministros de Relações Exteriores e de Defesa do bloco, reunidos ontem, propuseram o fim imediato das hostilidades e insistiram na proposta de dois Estados na região: Israel e Palestina.

            A situação atual sublinha uma vez mais a necessidade urgente de se mover para uma solução de dois Estados, permitindo ambos os lados para viver lado a lado em paz e segurança.

            Uma vez que criarmos ou admitirmos a criação do Estado Palestino e que Israel também o reconheça, isso pode vir a trazer uma solução para a região, afirmam os ministros em conjunto.

            Também é esperada a presença, ainda nesta terça-feira, da Secretária de Estado americana Hillary Clinton, em Israel, para mais uma tentativa de alcançar um cessar-fogo imediato.

            Enfim, Sr Presidente, Srªs e Srs. Senadores, todos aqueles que nos ouvem pela Rádio Senado e que nos assistem pela TV Senado, estamos em pleno século XXI, época em que a humanidade atingiu progressos inimagináveis há poucas décadas. No entanto, infelizmente o mundo ainda convive com algumas ignomínias, dentre as quais o conflito entre judeus e palestinos certamente merece destaque.

            É inaceitável que continuemos compactuando com tamanha incapacidade de resolver uma crise cuja solução é compartilhada por praticamente todos os países do globo: a criação de dois Estados soberanos e livres que convivam lado a lado, em paz.

            Que esse absurdo conflito seja encerrado imediatamente, acabando com as injustificáveis mortes, e que ele possa servir de ponto de partida para a construção de um Oriente Médio pacífico e tolerante.

            Era o que tinha a dizer na tarde de hoje, Sr. Presidente.

            Muito obrigado. Uma boa tarde a todos.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/11/2012 - Página 62125