Discurso durante a 216ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reflexões sobre a escalada da guerra entre o Estado de Israel e a Palestina; e outros assuntos.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL.:
  • Reflexões sobre a escalada da guerra entre o Estado de Israel e a Palestina; e outros assuntos.
Publicação
Publicação no DSF de 23/11/2012 - Página 62920
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • COMENTARIO, HISTORIA, CONFLITO, TERRAS, PAIS ESTRANGEIRO, PALESTINA, ISRAEL, FATO, IMPORTANCIA, BUSCA, PAZ, TOLERANCIA, ORIENTE MEDIO.
  • REQUERIMENTO, VOTO, CONGRATULAÇÕES, PRESIDENTE, PAIS ESTRANGEIRO, EGITO, PRIMEIRO-MINISTRO, ISRAEL, SECRETARIA DE ESTADO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), MOTIVO, TENTATIVA, EXTINÇÃO, VIOLENCIA, FAIXA, CONFLITO, ORIENTE MEDIO.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Waldemir Moka, Srª Senadora Ana Amélia, Srs. Senadores, Srªs. Senadoras, a guerra entre Israel e Palestina subiu numa escalada extremamente rápida. Os iranianos vendem foguetes aos palestinos que chegam não mais até o sul de Israel, mas até Tel Aviv e Jerusalém e, ao mesmo tempo, Israel chegou a recrutar 75 mil homens e mulheres para se defenderem dessa escalada.

            Obviamente, o mundo inteiro se abalou.

            No Egito, reuniram-se o Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, os representantes da Liga Árabe, além da Secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, e o Presidente do Egito. A situação chegou a um tal nível de perigo que parece que estávamos num ponto de inflexão definitivo.

            Ambos, israelenses e palestinos, se julgam os donos verdadeiros das terras. Os israelitas por causa da promessa de Deus de lhes dar a terra de Canaã, onde hoje habitam esses dois povos, conforme diz Gênesis 15:13. Mas os palestinos e seus ascendentes se julgam os donos das terras desde tempos imemoriais, antes de os israelitas as tomarem, pois essas terras de Canaã já eram habitadas por muitas tribos, entre elas, os cananitas e filisteus ou filistinos, que são os ascendentes dos palestinos. Assim, vemos que essa briga dura há milhares de anos, e não é possível arrancar raízes tão profundamente implantadas nos povos que se julgam donos legítimos das terras.

            Daí, desde 1948, quando as Nações Unidas dividiram as terras de Canaã em duas partes iguais, uma para os palestinos e outra para os israelitas, que vieram a ser os israelenses, isso foi motivo de uma guerra que, até hoje, parece não se resolver e não se resolverá enquanto os dois povos não tiverem uma relação solidária e não competitiva.

            Embora nas terras longínquas, para onde migraram pessoas pertencentes a ambos os povos, exista uma convivência pacífica entre as etnias... Veja-se, por exemplo, o que acontece na Rua 25 de março em São Paulo e no Saara, no Rio de Janeiro, ou nas diversas instituições de saúde e de ensino, ou no comércio ou nas indústrias, em tantas de nossas cidades, como São Paulo. O Presidente Lula costumava dizer que, quando vai ao Hospital Sírio-Libanês, vê médicos de ascendência judia colaborando com os médicos de ascendência árabe, palestina, e que, quando vai ao Hospital Albert Einstein, também vê médicos de ascendência judia colaborando com os médicos de ascendência palestina e árabe. Então, nós vemos isso em todas as instituições, inclusive naquela onde sou professor, na Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo.

            Para nós que percebemos a possibilidade de árabes, palestinos, israelenses, judeus colaborarem uns com os outros, as soluções no território-mãe, às vezes, parecem muito distantes.

            É difícil julgar os acontecimentos quando eles estão fervendo, mas o que podemos dizer é que algo precisa ser realmente feito, caso contrário essa luta poderia espalhar-se por todo o Oriente Médio e depois para as grandes potências, como Rússia, China e EUA, aí "será o fim do mundo" como a Bíblia também profetizou (Zacarias 14, 1-6; Ezequiel 11, 5-12 e outros).

            Ainda hoje, a Igreja Católica traz o Evangelho de Lucas 19, 41-44, que diz:

Quando Jesus chegou perto de Jerusalém e viu a cidade, chorou com pena dela e disse: - Ah, Jerusalém! Se hoje mesmo você soubesse o que é preciso para conseguir a paz! Mas agora você não pode ver isso. Pois chegarão os dias em que os inimigos vão cercá-la com rampas de ataque, vão rodeá-la e apertá-la de todos os lados. Eles destruirão completamente você e todos os seus moradores. Não ficará uma pedra em cima da outra, porque você não reconheceu o tempo em que Deus veio para salvá-la.

           Ora, trata-se de uma advertência de Jesus muito importante.

            Nestes 2 últimos dias, com a atenção do mundo inteiro, houve um esforço real de cessar-fogo que pode mostrar uma luz no fim do túnel. Essa é exatamente a aspiração da grande maioria.

            Este texto pode parecer pessimista, mas é realista, porém não desesperançoso, porque o mundo inteiro está caminhando para um novo paradigma oriundo da tecnologia que funciona à velocidade da luz, com o computador e as redes sociais, e há um desejo generalizado de democracia e paz, independentemente de qualquer ideologia. Esse desejo universal como que se espalhou com extraordinária força nos últimos 2 anos, com a Primavera Árabe, e em tantos lugares do mundo, e parece agora envolver as atividades da juventude, seja ela israelense ou palestina. E, por isso, o futuro nos parece mais promissor do que a amargura dos profetas antigos.

            Temos uma esperança inabalável de que este vigor que está nascendo tão rapidamente tenha a capacidade também de invadir não só Israel e Palestina, como a Síria, o Iraque, o Irã e todos os demais países que agora se encontram conflitados.

            Oxalá esta esperança caminhe mais rapidamente do que os desejos fanáticos de hegemonia. O mundo está dando uma lição de humildade aos países outrora ricos e esperando que essa humildade - a única atitude realmente humana - possa contribuir para evitar esta catástrofe aparentemente iminente.

            Sra Presidenta Ana Amélia, hoje, na Comissão de Relações Exteriores, tendo em vista a boa nova de que ontem houve um cessar-fogo, apresentei requerimento, que foi assinado por todos os Senadores presentes na Comissão de Relações Exteriores, nos seguintes termos - e gostaria de aqui informar que foi aprovado por consenso:

Requeiro, nos termos do art. 222 do Regimento Interno, seja apresentado Voto de Aplauso ao Presidente do Egito, Sr. Mohammed Mursi; ao líder político do Hamas, Sr. Khaled Meshaa; ao Primeiro-Ministro de Israel, Sr. Benjamin Netanyahu; e inclusive à Secretária de Estado dos Estados Unidos, a Sra Hillary Clinton, que colaborou para que houvesse êxito nesse entendimento, pela trégua que põe fim à violência na Faixa de Gaza, na forma da seguinte justificação.

Nós, Senadores da República Federativa do Brasil, considerando que, entre os princípios constitucionais que regem a política externa brasileira, estão a busca da paz e a solução pacífica dos conflitos; considerando, ademais, que o Brasil é um país no qual as populações de origem hebraica e árabe convivem pacificamente há muitos anos; preocupados com. a crescente deterioração das condições de vida dos palestinos que vivem na Faixa de Gaza, submetida a um cruel bloqueio que impede a entrada de produtos indispensáveis à população civil, como alimentos e remédios; decepcionados com a ausência de progressos efetivos no necessário processo de busca da paz entre o governo de Israel e a Autoridade Palestina; expressando seu apoio ao Mapa da Paz, única maneira de resolver pacificamente o conflito palestino-israelense e de estabilizar definitivamente a região; condenando todo ato de violência, especialmente quando dirigido contra civis indefesos; consternados com as mortes de 167 palestinos, inclusive mulheres e crianças, e 5 israelenses, na recente ofensiva militar de Israel, na Faixa de Gaza [e também pelas formas como reagiram os palestinos]; esperançosos com o fim das hostilidades e com as perspectivas de novas negociações de paz.

Aplaudimos a trégua acordada entre as partes beligerantes, mediada pelo presidente egípcio. Ao mesmo tempo, fazemos votos de que o cessar-fogo facilite negociações consequentes entre as forças em conflito, com o objetivo de construir uma paz duradoura, baseada na Constituição de um Estado Palestino, soberano, economicamente viável e geograficamente coeso, conforme previsto na Resolução da Assembleia das Nações Unidas nº 181, de 1947. Por último, enviamos nossas sentidas condolências aos familiares das vítimas da recente ofensiva militar, especialmente àqueles que perderam suas crianças inocentes, imoladas pela cruel violência de um conflito que já dura quase 7 décadas.

            Se formos examinar aquilo que está na Bíblia Sagrada e, inclusive, aquilo que se constituiu na advertência feita por Jesus, mencionada no Evangelho, sabemos que Jesus veio para tentar conseguir a paz, mas advertiu que era importante que os moradores de Israel pudessem ter um procedimento tal que não levasse à destruição completa, pois, de outra maneira, não ficaria pedra em cima de pedra.

            Quero, aqui, aproveitar a oportunidade para, tendo em conta os indicadores de violência que aumentaram abruptamente nesse último mês na região metropolitana de São Paulo e, em especial, na capital, com o aumento de pessoas mortas - mais de 80% na região metropolitana e mais de cento e tantos por cento na capital; tendo em conta que o Governador Geraldo Alckmin resolveu colocar como novo Secretário da Segurança o ex-Procurador-Geral do Estado, Fernando Grella Júnior, desejar que o Sr. Fernando Grella Júnior possa efetivamente realizar ações, inclusive em colaboração e cooperação com o Ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, para que se possam efetivar meios de prevenir tamanha violência na grande São Paulo. E espero que o Sr. Fernando Grella possa tomar decisões compatíveis com a realização...

(Soa a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) -...de uma situação de maior tranquilidade para todos os moradores de São Paulo e do Estado de São Paulo.

            Muito obrigado, Srª Presidenta Ana Amélia.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/11/2012 - Página 62920