Pela Liderança durante a 220ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários acerca de missão humanitária realizada por S.Exa. no Senegal. (como Líder)

Autor
Magno Malta (PR - Partido Liberal/ES)
Nome completo: Magno Pereira Malta
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
RELIGIÃO.:
  • Comentários acerca de missão humanitária realizada por S.Exa. no Senegal. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 29/11/2012 - Página 64408
Assunto
Outros > RELIGIÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, ATUAÇÃO, ORADOR, MISSÃO OFICIAL, PAIS ESTRANGEIRO, SENEGAL, OBJETIVO, TENTATIVA, SOLUÇÃO, ARBITRARIEDADE, PRISÃO, BRASILEIROS, MOTIVO, DIVERSIDADE, RELIGIÃO, FATO, ORIGEM, DENUNCIA, PESSOAS, DIFERENÇA, SEITA RELIGIOSA.

            O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PR - ES. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, quem nos ouve e nos assiste pelos meios de comunicação desta Casa, o que me traz a esta tribuna, Sr. Presidente, é o registro que preciso fazer da viagem humanitária que fizemos ao Senegal.

            Na semana próxima passada, Senador Aloysio, fui ao Senegal, numa missão humanitária oficial por esta Casa. Foi nos dada a informação e nos demos conta de que brasileiros, missionários, pregoeiros da vida e da paz, pessoas que deixaram o conforto das suas casas, atendendo a uma vocação e foram ao Senegal -- um país irmão; aliás, desde 1919 que temos relações com o Senegal, as melhores possíveis -- estavam encarcerados por conta da arbitrariedade cometida pela polícia e por uma denúncia vazia contra brasileiros que cumprem uma missão humanitária significativa no Senegal.

            O Presidente Sarney, que ali se encontra, Presidente desta Casa, muito rapidamente atendeu ao apelo das missões e das comunidades que oficiaram esta Casa, para que esta Casa pudesse mandar mensageiros, para que pudesse assistir. Ao mesmo tempo, a Câmara dos Deputados, na pessoa da sua Vice-Presidente, a Deputada Rose de Freitas, na ausência do Deputado Marco Maia, enviou o Deputado Paulo Freire, que ali está; o Deputado Ronaldo Fonseca, que ali está, para que pudéssemos, juntos, ir ao Senegal.

            Antes da viagem ao Senegal, Sr. Presidente, eu fui à Embaixada do Senegal aqui no Brasil. Fui muito bem recebido pelo Sr. Embaixador, que não conhecia o caso -- a princípio, assustou-me um pouco, porque era um caso que já estava com repercussão mundial, e ele não tinha conhecimento dele --, mas me prometeu que ia levantar, ia tomar informações a respeito do caso e me deu algumas garantias por conta das denúncias que o mundo inteiro já havia veiculado, que a prisão deles era uma prisão religiosa por conta de ser um país mulçumano, e o processo está na mão de um juiz mulçumano. A denúncia teria sido feita por um pai mulçumano.

            Dizia ele: “Nosso País é laico”, embora o Senegal tenha 94% de pessoas de confissão islâmica, embora a prática religiosa seja outra, porque nós sabemos que a cultura afro, a sua prática religiosa é outra, mas mulçumanos de confissão, poucos cristãos e um dado dos mais alarmante: 400 mil crianças, quase meio milhão de crianças, abandonadas nas ruas.

E, lá, nós temos, Sr. Presidente, um pouco mais de 250 brasileiros, missionários, que deixaram um País cuja economia está estabilizada. Aliás, para deixar V. Exª feliz, os fundamentos da economia do Brasil foram dados pelo seu Partido no Governo Fernando Henrique Cardoso. Há que se reconhecer isso, e só não reconhece quem se dispõe o tempo inteiro a tapar o sol com a peneira. Avançamos no Governo Lula, e os fundamentos da economia foram dados, Senador Aloysio Nunes, no Governo Fernando Henrique Cardoso.

            O que leva um médico, o que leva uma assistente social, o que leva um pediatra, o que leva um médico cirurgião cardíaco…

(Soa a campainha.)

            O SR MAGNO MALTA (Bloco/PR - ES) - … a largar o seu país e ir para um país que não é seu, de condições absolutamente precárias, a morar em lugares onde não há água tratada, onde não há energia elétrica, pensando no bem-estar, a não ser que tenha uma chamada muito especial da parte de Deus, que lhe toca a alma e que o leva a colocar a sua vida à disposição dos seus semelhantes?

            Aliás, o senhor é imortal, porque é um intelectual. Eu já fui imortal, porque, em 1990, eu não tinha onde cair morto. Mas o senhor é imortal porque é intelectual.

            A minha mãe era analfabeta profissional e dizia, Senador Cristovam, que o único bem da vida -- e vida só há uma, Senador Aloysio -- é quando nós investimos a nossa vida na vida dos outros.

            E fomos comentando isso no avião, o Deputado Paulo, o Deputado Ronaldo E, lá, vimos meio milhão de crianças de oito, de sete, de cinco, de dez, de catorze anos abandonadas, mutiladas, queimadas, sofridas, no meio da rua. Brasileiros que para lá vão, em missões, sustentadas pelas igrejas brasileiras, encarcerados. E nós queremos conhecer a razão.

            Ao descer naquele país, nós fomos ao chamado orfanato escola, um lugar limpo, cheio de crianças chorando, por conta da missionária Zeneida, que, aliás, é uma baiana do interior, lá de Itapetinga, também de onde eu fui criado. Aliás, o pai dela -- ela que foi para o campo das missões com 52 anos de idade --, o Irmão Zacarias era companheiro de oração da minha mãe, Dona Dadá. Ela, presa; as crianças, chorando, sabe por que, Presidente Sarney? Com medo de ela não voltar, com medo de as autoridades fecharem o Orfanato Escola e com medo de voltarem para a rua.

(Soa a campainha.)

            O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PR - ES) - E fui me encontrar com o chefe tribal, o homem que comanda aquela região tanto espiritualmente quanto do ponto de vista do conselho administrativo, porque assim são as divisões. Aquele homem se reúne conosco, um homem de confissão muçulmana, não é isso, Deputado Paulo? E ele diz, Senador Alfredo Nascimento: “Esses missionários, pastores e missionárias são como filhos para mim. Ao chegarem aqui, a realidade da nossa comunidade mudou. A polícia, arbitrariamente, invadiu o abrigo e não quis ouvi-los em nenhum momento. Encarcerou a missionária Zeneida e o pastor, num presídio estadual”.

            Nós fomos, em seguida, ao Ministério das Relações Exteriores. Não sou diplomada, nem estudei Direito. Ele que é diplomata e que deve ter passado para um instituto que não é o Rio Branco, porque o Rio Branco é o nosso.

            Fomos muito mal atendidos (Fora do microfone.) por um embaixador mal-educado, que olhava para o chão, não olhava nos nossos olhos e que nos deu a entender, realmente, que a prisão era exatamente o que os jornais estavam falando.

            Eu não tenho obrigação nenhuma, porque não estudei no Instituto Rio Branco, de engolir desaforos de ninguém. Fui lá para atender brasileiros que estão em missão humanitária. Eu disse a ele: “Sou mais educado do que o senhor. Vamos sair daqui agora. Aliás, calha muito mal o comportamento do senhor porque estamos discutindo a renovação do prazo de uma dívida do Senegal lá no Senado. Mas viemos aqui, como brasileiros e autoridades, para dizer que eles não são defuntos sem choro. A relação que nós temos com este país, de respeito, a relação de amizade, é uma relação humanitária.

            Há cinco anos, lá houve uma peste de gafanhotos, e aviões pulverizadores (Fora do microfone.) foram mandados pelo Brasil, no Governo Lula. Então, minimamente, homens e mulheres brasileiros, sem antecedentes criminais, com residência fixa, prestando um serviço humanitário lá no Senegal poderiam muito bem responder à acusação em liberdade, mas estavam encarcerados. E levantei-me do alto da minha educação, Senador Mário Couto -- e vou dar um tapa aqui, como V. Exª; fiz bem? --, ele também se levantou e me acompanhou, já mais educado, dizendo que tinha conhecimento da missão humanitária deles.

            Fomos ao presídio no outro dia, Senador Aloysio, ver os prisioneiros. Entramos em um presídio em condições precárias. Se no Brasil os presídios são precários, avaliem lá!

            Nós nos encontramos com um coronel que serviu 33 anos na ONU. Ele nos recebeu educadamente, um homem sensível, um homem que conhece a necessidade do seu país e a necessidade de que países irmãos (Fora do microfone.) mandem missões para poder ajudá-los. Ele disse a mim e ao Deputado Ronaldo Fonseca: “Vou mandar chamar os prisioneiros”. E nós preparamos o nosso espírito para consolá-los. Ao entrarem os prisioneiros, senti-me deste tamanho. Entram um homem e uma mulher; um mineiro, Senador Aécio Neves -- o pastor que está preso no Senegal --, e uma baiana. Tinham o rosto resplandecente pela valentia daqueles que amam a vida e que estão dispostos a morrer pela vida do outro, com a coragem, a fé e a determinação de quem tem pleno conhecimento do Deus que os chamou para uma missão como essa.

            Eles nos olham sorrindo, e eu fiquei pequeno. Abraçaram-nos e começaram a relatar a experiência e as razões pelas quais estavam presos.

            Aquele coronel ouvia todos os relatos com os olhos cheios de lágrimas.

(Interrupção do som.)

            O SR. PRESIDENTE (Mário Couto. Bloco/PSDB - PA) - Senador Malta, V. Exª já ultrapassou o tempo, mas seu discurso é tão brilhante que está chamando a atenção de vários Senadores. Por isso, a Mesa lhe concede mais três minutos. Se precisar de mais cinco, com certeza, obtê-los-á pelo brilhante e importante pronunciamento de V. Exª.

            O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PR - ES) - Muito obrigado, Senador Mário Couto.

            E dizia aquele missionário, olhando para o coronel: “Por que ler isso na Bíblia? O Apóstolo Paulo disse, todo o mundo diz, o padre diz, o pastor diz, quem conhece a Bíblia diz. E é uma referência significativa a força e a coragem de Paulo”. Mas ouvir isso na era da Internet, no mundo globalizado… Aquele pastor olha para nós e para o coronel e diz: “Fiquem em paz que nós somos prisioneiros de Cristo”. Em nome da paz, em nome do Evangelho e em nome da vida, Sr. Presidente, eu saí daquele presídio dizendo: “Não sei o que é mais importante: que eles permaneçam no presídio ou que saiam de lá”, porque as presas já estavam chorando com medo de a missionária ir embora, e os presos, preocupados com a saída do pastor, dada a paz, a vida e o significado que eles levaram ao presídio.

            Encontrei-me com um advogado. Aliás, há que se ressaltar: eu ouvi uma coisa que nunca ouvi na Bíblia: “Vocês fiquem na paz, que nós estamos aqui”.

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

            O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PR - ES) - Eu sei que ele não quis dar um ninja em mim. Foram três, mas só me deu um.

            Aliás, o trabalho da Embaixada brasileira é importante, especialmente daquela Embaixadora competente e do Embaixador Marcos, que quero abraçar em nome do Brasil, aquele jovem de 31 anos, de São Paulo, com um defeito grave: é corintiano! Colocou-se à disposição e que fez dessa causa a sua família. A nossa Embaixada contratou dois criminalistas importantes no Senegal que nos disseram: “Nada tem fundamento. Nada tem fundamento”. Aliás, dizia o coronel do presídio: “Se depender do meu relatório, eles já estarão na rua”. E diziam os advogados: “Nos próximos dez, quinze dias, eles irão para a rua”.

            Mas o meu questionamento, Deputado Ronaldo, é que eles não têm antecedentes. Eles são de um País que avaliza por eles, de um País amigo, irmão, que estende a mão no momento da dor daquele país. Eles não precisavam estar encarcerados, para que pudessem averiguar uma denúncia mentirosa.

            Eu não sei se a gente já voltou à prática de poder usar um data show aqui. Eu tenho aqui três senegaleses vestidos de garçom de churrascaria. Há um missionário. A missão é abrir churrascaria lá, e tiram os meninos da rua porque os meninos são mandados para abrigos em tenra idade. Para quê? Mandados para aprender a rezar e a ter humildade. Os talibeses, como são chamados, de abrigos completamente precários, põem os meninos nas ruas para esmolar, para aprender a humildade. E os meninos recebem metas a cumprir. É preciso trazer, no final da tarde, R$3,00, R$5,00, seja lá o que for.

(Interrupção do som.)

            O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PR - ES) - Eles não conseguem. São espancados, queimados, e aí eles vão para a rua. Meio milhão na rua! Eles são recrutados, aprendem o ofício e viram garçom de churrascaria.

            Esta foto, Sr. Presidente, é de um cidadão que tem o comando, a liderança, uma espécie de distrito, onde os funcionários estão baseados. Aqui, é uma foto nossa, em frente ao Parlamento, porque para lá também fomos, Deputado Ronaldo, Deputado Paulo Freire. Mas eu gostaria de mostrar uma foto desses meninos, que têm fantasias pelo Brasil, pelo futebol brasileiro. São milhões e milhares de crianças.

            Lá, no abrigo, além de corte e costura -- porque lá quem costura são os homens --, eles aprendem futebol, eles aprendem marcenaria e são preparados para a vida.

            Esse grupo significativo que eu tenho aqui, nessas fotos, de crianças senegalesas, arrancadas das ruas, não vai virar drogado, nem de prostitutas. Aqui é um grupo de quase cem brasileiros, com formação universitária, que deixou -- porque este País, hoje, tem lugar para quem tem formação; o Brasil, hoje, só não tem acomodação de trabalho para quem não tem formação --, abandonou o País para poder servir ao seu semelhante.

            Nós estamos esperando, mas o mais importante de tudo isso, dizia o coronel, é que o nosso país recebeu o aviso e a lição de que brasileiros no Senegal e no mundo não estão sozinhos.

            Aliás, Sr. Presidente, esta frase eu quero dedicar a V. Exª, porque V. Exª teve compreensão no primeiro momento. Dizia ele, Sr. Presidente: “Em 33 anos, eu nunca vi autoridades se descolarem do seu país para virem a um presídio ver alguém…

(Interrupção do som.)

            O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PR - ES) - … cometeram e que tão somente pratica o bem, precisam ser assistidos de uma forma maior, para que o mundo saiba que o Brasil se preocupa com seus filhos”.

            Agradeço a Deus a oportunidade. Agradeço, Sr. Presidente, a Deus a oportunidade de ter podido ir com o Deputado Paulo, com o Deputado Ronaldo, que muito acrescentaram, do ponto de vista intelectual, do ponto vista humanitário, à minha vida, na viagem que fizemos, como peregrinos, e sobre aquilo que refletimos.

            Muito obrigado, Sr. Presidente, pela sua disposição.

            Muito obrigado aos Senadores que, de forma imediata, votaram esse requerimento para que pudéssemos atender os nossos irmãos.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/11/2012 - Página 64408