Pronunciamento de Mozarildo Cavalcanti em 30/11/2012
Discurso durante a 222ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Homenagem ao maçom Francisco Murilo Pinto, Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil, falecido em 2001.
- Autor
- Mozarildo Cavalcanti (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/RR)
- Nome completo: Francisco Mozarildo de Melo Cavalcanti
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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HOMENAGEM, RELIGIÃO.:
- Homenagem ao maçom Francisco Murilo Pinto, Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil, falecido em 2001.
- Publicação
- Publicação no DSF de 01/12/2012 - Página 65093
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM, RELIGIÃO.
- Indexação
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- HOMENAGEM POSTUMA, DIRIGENTE, MAÇONARIA, COMENTARIO, HISTORIA, ENTIDADE, BRASIL, REGISTRO, IMPORTANCIA, ATIVIDADE POLITICA, REFERENCIA, NECESSIDADE, MELHORIA, RELAÇÃO, DIALOGO, DIFERENÇA, RELIGIÃO, SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, DOCUMENTO, ASSUNTO, ATIVIDADE, INSTITUIÇÃO RELIGIOSA.
O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (Bloco/PTB -- RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) -- Sr. Presidente, Senador Acir Gurgacz, é um prazer falar, nesta sessão, tendo, na Presidência, um amazônida; uma sessão que, quero esclarecer aos nossos telespectadores da TV Senado, aos ouvintes da Rádio Senado e também àquelas pessoas que aqui se encontram, é uma sessão não deliberativa, uma sessão destinada àqueles Senadores que desejam abordar temas importantes das suas regiões ou dos seus Estados, como fez, brilhantemente, V. Exª, ainda há pouco, mas também para abordar temas nacionais, e é o que pretendo, inclusive, fazer no dia de hoje.
Antes, porém, de fazê-lo, quero aqui cumprimentar uma comitiva de ilustres irmãos maçons que aqui estão presentes como: Sergio Luiz Pereira Soares, José de Arimatéia Barbosa, Frederico Oliveira Neto, Romes Cesar Scapin, Juliano Scacabarozi, Gubênio Carlos Mozimar Júnior, Antonio Cesar Sanches. Se por acaso não citei mais algum que esteja presente, sintam-se mencionados, juntamente com suas esposas que aqui estiverem.
Sr. Presidente, este pronunciamento que eu faço hoje seria melhor que fosse feito em janeiro. Mas, em janeiro, estaremos em recesso ou em férias parlamentares. Então, resolvi fazê-lo no dia de hoje, até porque a próxima semana será uma semana atribulada, com várias votações, inclusive a do Orçamento. Esperamos, portanto, aproveitar esta sessão leve para fazer uma homenagem a uma figura importante para o Brasil e muito importante para o Grande Oriente do Brasil, a potência maçônica à qual pertenço e a potência maçônica mais antiga do Brasil, fundada em 1822, com o fim específico de fazer a independência do Brasil.
Na verdade, o primeiro Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil foi José Bonifácio, Ministro do Imperador, chamado Ministro do Reino, e também Conselheiro do Imperador, que, junto com outros irmãos maçons que pertenciam também ao Gabinete do Imperador, mostrou ao Imperador a importância de ser maçon. Inclusive, esses irmãos que citei tinham saído do Brasil para estudar na Europa, onde eles obtiveram, vamos dizer, o envolvimento com as ideias iluministas da liberdade, da igualdade, da fraternidade, da idéia clara de que todos os homens e mulheres nascem iguais e têm iguais direitos.
Portanto, convenceram o Imperador de ingressar no Grande Oriente do Brasil. Logo em seguida, fizeram-no Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil. Portanto, D. Pedro I foi o segundo Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil e foi justamente na reunião de uma loja maçônica com outras presentes que ficou acertado, com o Imperador, que o Brasil faria a sua independência de Portugal.
Já vi alguns historiadores dizerem que, ao contrário dos nossos vizinhos que guerrearam, derramaram sangue para obter a sua independência -- por exemplo, os nossos vizinhos hispânicos guerrearam com a Espanha, no caso --, nós não guerreamos. Pode-se dizer, como alguns dizem, que foi uma independência acordada de pai para filho, já que o Rei de Portugal era pai do Imperador do Brasil.
Na verdade, isso demonstra até a capacidade maçônica de se obter vitórias através do diálogo, da concordância e do respeito à diferença de ideias. Lá mesmo, naquele momento, existiam duas correntes dentro da Maçonaria que defendiam formas diferentes de o Brasil fazer a sua independência. Existiam aqueles que queriam proclamar a República logo de imediato, como foi feito, por exemplo, na Venezuela, com derramamento de sangue, e em outros países que são os nossos vizinhos aqui na América do Sul. Mas prevaleceu aquela corrente que queria a independência, uma independência através de uma monarquia. Portanto, fazendo uma coisa gradual, de forma que atingíssemos o objetivo que queríamos, que era nos tornar independentes de Portugal e, gradualmente, ir consolidando a nossa independência.
Então, recapitulando aqui, a Maçonaria, lá no seu nascedouro, através do Grande Oriente do Brasil, fez a independência do Brasil, com o seu Grão-Mestre D. Pedro I. Depois, D. Pedro I, ao deixar o grão-mestrado, justamente porque havia essa luta muito forte entre republicanos e monarquistas, resolveu se afastar por um período e José Bonifácio voltou a ser Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil, sendo Ministro e Conselheiro do Imperador. Portanto, um homem muito ocupado.
Mas a imagem que quero hoje aqui ressaltar é a de um homem mais atual, que é o nosso irmão Francisco Murilo Pinto, que foi na nossa relação de Grão-Mestre -- pode haver alguns historiadores que vão divergir dessa relação, não fui eu que a inventei; tirei de um livro maçônico. O Dr. Francisco Murilo Pinto, que foi Juiz e Desembargador em São Paulo, foi o 33º. Simbolicamente, o de número 33. Por que ele foi o 33º? Porque alguns grãos-mestres anteriores a ele -- citei aqui já o José Bonifácio, mas vários -- tiveram dois mandatos consecutivos. Então, portanto, individualmente, ele foi o 33º.
E quem era Murilo Pinto? Nome completo: Francisco Murilo Pinto.
Francisco Murilo Pinto nasceu em 1929, em Fortaleza (CE) [-- portanto, coincidentemente, conterrâneo do meu pai --], e fez toda a sua vida universitária e profissional na cidade de São Paulo. [Como sói acontecer com muita gente do Norte e do Nordeste deste País.] Magistrado desde 1963, aposentou-se no cargo de Desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo. Foi iniciado [na Maçonaria] a 2 de dezembro de 1978, na Loja Maçônica “Universitária”, de Bragança Paulista (SP). Foi eleito Grão-Mestre Geral do Grande Oriente do Brasil no ano de 1993, tomando posse a 24 de junho daquele ano, como Grão-Mestre titular eleito e -- contando com adjuntos em exercício e interinos (…).
Graças ao seu trabalho à frente do Grande Oriente do Brasil, foi reeleito pelo povo maçônico em 1998, vindo a falecer a 21 de janeiro de 2001, em pleno exercício do mandato.
Portanto, nem bem no meio do seu segundo mandato, veio a falecer.
A gestão do irmão Murilo, no Grande Oriente do Brasil, foi dirigida a três objetivos principais: o aumento das relações maçônicas internacionais; o fortalecimento dos Grandes Orientes estaduais e o incremento da cultura maçônica.
Eu vou repetir porque sei que hoje estão nos assistindo muitos maçons pelo Brasil afora, como também os não maçons.
Eu pertenço àquele grupo de maçons que entende que a Maçonaria não deve ser uma Maçonaria fechada para a sociedade, porque, assim, nós não estaremos colaborando com a sociedade, não estaremos cumprindo o nosso papel que cumprimos no passado, quando falei aqui da Independência. Também fizemos a Abolição da Escravatura. Também fizemos a Proclamação da República. E também vou dizer que o próprio Marechal Deodoro, que comandou a Proclamação da República, era Ministro do Imperador D. Pedro II. Portanto, não era um homem aposentado. Ele, o Marechal Deodoro também, sendo Grão-Mestre, fez com que, nessa sequência, a Maçonaria estivesse à frente de todos os acontecimentos importantes para a nossa Pátria, até então.
Vou repetir os principais objetivos, por sinal, três principais objetivos: o aumento das relações maçônicas internacionais, o fortalecimento dos Grandes Orientes estaduais e o incremento da cultura maçônica.
No terreno das relações com as demais Obediências, o Grande Oriente do Brasil assistiu a um período de intensa atividade, quando o total de Tratados de Mútuo Reconhecimento e Amizade com outras Organizações Maçônicas mais do que duplicou em relação ao que foi encontrado, e quando foi iniciada a série de Tratados com as Grandes Lojas Estaduais Brasileiras -- começando com a Grande Loja Maçônica de São Paulo --, pondo fim a uma situação velada de hostilidade, que durava mais de 70 anos.
Vejam bem. Aqui também é bom esclarecer, porque muitas pessoas que nos assistem não são maçons, mas isso está nos livros de história escritos por maçons ilustres, que estão nas livrarias e qualquer pessoa pode acessar, e eu, sempre que falo da maçonaria, principalmente no dia 20 de agosto, quando fazemos uma sessão solene de homenagem à Maçonaria brasileira pelo transcurso do Dia do Maçom, faço questão de dizer que a Maçonaria não tem nada de sociedade secreta. Ao contrário, é uma sociedade que tem acumulado, nos seus ensinamentos, a sabedoria de milênios, de vários séculos, e que pode ser resumida em alguns princípios, como o amor à família. Aqui, por exemplo, eu sempre ressalto que não conheço outra instituição em que um homem, para entrar para uma instituição, dependa da concordância explícita de sua esposa. E nós, que somos acusados de sermos um grupo apenas masculino, temos essa situação, quer dizer, nós dependemos da concordância da mulher para entrarmos para a Maçonaria. Por quê? Porque a maçonaria valoriza como item número um a família, que é, como já é um jargão, a célula mater da Pátria.
Então, nós valorizamos a família, temos, por consequência, um amor profundo pela nossa Pátria e pregamos, sobretudo, a liberdade, a igualdade e a fraternidade entre todos, independentemente de religião, de cor, de etnia. Nós realmente buscamos essa unidade.
E aqui, quando estou falando de que o irmão Murilo colocou fim a, pelo menos, uma falta de entendimento entre o Grande Oriente do Brasil e a Grande Loja, começando pela de São Paulo, é bom que se frise que primeiro surgiu o Grande Oriente do Brasil. Depois, irmãos do próprio Grande Oriente do Brasil resolveram fundar, criar aqui as Grandes Lojas, que são uma outra potência maçônica, frutos, vamos dizer assim, de uma cisão do Grande Oriente do Brasil. Mas o irmão Murilo buscou fazer com que isso fosse esquecido e, principalmente, que nós nos uníssemos, de maneira muito fraterna, como era nosso objetivo.
Quanto ao fortalecimento dos Grandes Orientes nos Estados, o Grão-Mestrado Geral incentivou e contribuiu, criando, assim, as condições necessárias para que os Grandes Orientes se estruturassem, construindo suas sedes próprias, os que ainda não as tinham, e, consequentemente, fortalecendo também as lojas jurisdicionadas.
Isso é muito importante para nós, maçons, porque é bom que se explique que o Grande Oriente do Brasil é estruturado mais ou menos como é o nosso País. Ele tem o equivalente a um Presidente da República, que é o Grão-Mestre Geral, tem um equivalente ao Vice-Presidente da República, que é o Grão-Mestre Geral Adjunto, e tem, nos Estados, o equivalente aos governadores, que são os Grão-Mestres estaduais, e tem também o equivalente, vamos dizer assim, aos prefeitos, que são os Veneráveis Mestres.
Mas acontece que ele, Murilo Pinto, notou que tudo era muito concentrado, digamos, na Presidência da República, no Grão-Mestrado Geral, e tratou de fazer esse fortalecimento dos Grandes Orientes estaduais. E eu me recordo muito bem, eu que sou de um Estado pequeno, de uma Maçonaria relativamente jovem, embora eu seja de uma loja que é, até pelo seu número, não é uma loja tão nova. Então, isso foi muito importante.
Como exemplo [só para exemplificar essa ação de fortalecimento], citamos o Grande Oriente do Brasil-Paraná, que, como forma de agradecimento e reconhecimento, homenageou o Soberano Irmão Murilo, colocando o nome no suntuoso edifício de sua sede de Grão-Mestre Geral Francisco Murilo Pinto. No terreno cultural, as realizações foram imensas, pois, segundo o Soberano Irmão Murilo, só através da evolução cultural, é que poderá voltar a Maçonaria a ter o lugar de destaque social que já apresentou no passado.
Isso é muito importante, porque esses nomes que eu citei e alguns que ainda vou citar aqui foram, como eu disse, pessoas brasileiras que foram estudar na Europa e que voltaram, portanto, com uma cultura geral muito boa, sobretudo, a cultura da liberdade, da igualdade, da fraternidade, como já disse.
E foi nesse terreno que foram implantadas ideias virgens no Grande Oriente do Brasil. Assim, foi criada a Revista Cultural Minerva Maçônica; foi criado o Conselho Federal de Cultura; foram implantados rituais de todos os ritos, com base em estudos fundamentados em publicações originais e em literatura fidedigna; foram concretizados o Museu Maçônico e a Biblioteca do Grande Oriente do Brasil em Brasília, sendo-lhes dadas feições de modernidade em administração bibliotecária e museológica; foi descentralizada a cultura maçônica e levada, através da criação de curso itinerante -- o Curso Integrado da Maçonaria Simbólica do Grande Oriente do Brasil -- a praticamente todo o País. Por isso, Francisco Murilo Pinto passou à história como o Grão-Mestre da integração maçônica nacional e internacional e da evolução cultural, binômio que colocou o Grande Oriente do Brasil, novamente, no caminho de seus elevados destinos.
Aqui, Sr. Presidente, ao homenagear um exemplo de maçom que foi Grão-Mestre, portanto, dirigente maior do Grande Oriente do Brasil, eu quero também mencionar -- não vou ler todos, vou pedir a V. Exª que, depois, considere como lido, mas vou ler alguns -- exemplos de maçons que foram Grão-Mestres Gerais do Grande Oriente do Brasil, portanto, a autoridade máxima administrativa do Grande Oriente: José Bonifácio, já citei, que era Ministro do Reino e Conselheiro do Imperador; D. Pedro I, que foi Imperador; Antonio Francisco Holanda Cavalcanti, que foi Deputado Federal, Senador e Ministro, portanto, não era um homem desocupado; Miguel Calmon du Pin e Almeida, que foi Visconde, Marquês e Diplomata; Luís Alves de Lima e Silva, que foi Senador e Primeiro-Ministro; Bento da Silva Lisboa, Barão e Diplomata; Joaquim Marcelino de Brito, Deputado e Ministro; José Maria da Silva Paranhos, que foi o famoso Barão do Rio Branco, que fez um trabalho muito importante de reconhecimento das nossas fronteiras; Francisco José Cardoso Júnior, Marechal e Deputado; Luiz Antônio Vieira da Silva, Deputado e Senador; João Batista Gonçalves Campos, jornalista e advogado; Manuel Deodoro da Fonseca, nosso Marechal Deodoro, que foi Marechal e Presidente da República; Antônio Joaquim de Macedo Soares, advogado e juiz; Quintino Bocaiuva, que foi Ministro e Senador; Lauro Nina Sodré, mais conhecido como Lauro Sodré, que foi Governador do Pará e Senador da República; Francisco Glicério de Cerqueira Leite, que, embora tenha sido um Grão-Mestre interino, era Ministro também; Nilo Peçanha, que foi Senador e Presidente da República; Mário Marinho de Carvalho Behring, que era funcionário público; Vicente Saraiva de Carvalho Neiva, Ministro do Superior Tribunal Militar; João Severiano Hermes da Fonseca, General e médico; Octávio Kelly, Deputado Estadual e jornalista; José Maria Moreira Guimarães, General e Deputado Federal; Joaquim Gonçalves Neves, advogado; Benjamin Sodré, Almirante; Cyro Werneck de Souza e Silva, Advogado; Moacyr Arbex Dinamarco, médico e produtor; Osmane Vieira de Andrade, odontólogo; Osires Teixeira, Deputado Estadual e depois Senador que foi o responsável por trazer para Brasília a sede do Grande Oriente do Brasil, que originalmente era no Rio de Janeiro, no conhecido Palácio do Lavradio; Jair Assis Ribeiro, empresário de Goiânia; Enoc Vieira, Deputado Federal; Francisco Murilo Pinto, que homenageamos hoje, juiz e desembargador; Laelsio Rodrigues, industrial em Sorocaba, no Estado de São Paulo, que, portanto, não sendo um homem desocupado, foi um excelente Grão-Mestre; e o atual Grão-Mestre Marcos José da Silva, servidor público aposentado.
O que eu quero dizer ao Brasil, aos telespectadores da TV Senado, aos ouvintes da Rádio Senado é que eu, como tantos outros que aqui estão nesta tribuna de honra, mas também aqueles que aqui não estão e nos assistem, nós sonhamos em ter um Grande Oriente do Brasil, que está bem, do ponto de vista de que tem feito um bom trabalho, mas que pode fazer muito mais, principalmente em função do capital humano que tem, tanto dos irmãos maçons que são de diversas profissões. Eu sou médico, mas existem economistas; meu filho, por exemplo, é Juiz de Direito e é maçom; tenho um genro que é Procurador do DF e é maçom. Nós temos profissionais de todas as áreas; economistas, administradores, empresários, todos os tipos. E não é como alguns pensam, que a Maçonaria só aceita quem é rico. Ao contrário, exigimos apenas que quem entra para a Maçonaria tenha condições de poder contribuir, primeiro. com as obrigações que qualquer instituição cobra de seus associados, e, depois, com as obras sociais que a Ordem faz.
O fundamental é que, com tanta história no passado, nós não estejamos no presente, hoje, com tanta coisa por fazer e não estejamos sabendo usar esse capital humano que temos, dos irmãos, das esposas dos irmãos, que chamamos de cunhadas e que fazem um trabalho magnífico em uma instituição chamada Fraternidade Feminina Cruzeiro do Sul, e, na verdade, eu até diria, fazem muito mais no ponto de vista de serem invisíveis pela sociedade do que nós, maçons homens.
Eu quero, portanto, dizer que é muito importante termos a consciência de que sentimos de norte a sul, de leste a oeste, que é chegada a hora de o Grande Oriente do Brasil fazer mais, avançar mais, poder mais, porque se temos essas coisas que citamos como feitos importantes da nossa história no século XIX, o mesmo não podemos dizer do século XX e mesmo no século XXI, onde já gastamos mais de uma década. Portanto, o que queremos é, de fato, uma instituição harmônica com as suas coirmãs -- vamos dizer assim --, as grandes lojas, o Grande Oriente Independente, a Comab, para que possamos fazer um trabalho mais forte em benefício da sociedade em vários campos, no campo moral, no campo ético, no campo social. O mais importante é que a gente possa, de fato, dar passos mais arrojados. Ousemos mais.
E nesse sentido, nós teremos, em março, a eleição para o grão-mestrado geral do Grande Oriente do Brasil, e pelo menos quatro chapas deverão disputar essas eleições. Tenho certeza que serão eleições disputadas dentro dos nossos princípios de fraternidade com os irmãos candidatos que pensam ou têm enfoques diferentes sobre como conduzir a nossa instituição, respeito a essas idéias divergentes, tolerância com as dificuldades que podem existir entre pensar de um jeito e pensar de outro. Mas nós, maçons, nos chamamos de livre pensadores. Portanto, é bom que pensemos diferente, mas que tenhamos um objetivo comum, que é o de bem servir à humanidade, que é de fato, como fizeram os nossos irmãos no passado, transformarmos a nossa sociedade.
E eu quero aqui registrar que o irmão Sérgio Soares, que está ali na tribuna de honra, é candidato a grão-mestre adjunto do Grande Oriente do Brasil, na chapa em que eu tenho a honra de ser o candidato a grão-mestre geral.
Espero que as quatro candidaturas postas possam de fato fazer um bom debate, um debate aberto, um debate sincero, que as eleições possam transcorrer de maneira bem correta, e nós possamos ter avanços, porque, na verdade, nós queremos sempre fazer progressos na Maçonaria. Mas nós queremos fazer, sobretudo, que a Maçonaria volte a ser uma instituição que possa estar, como esteve lá no início do nosso País, com a Independência, a Proclamação da República e a abolição da escravatura… Que nós possamos ser agentes atuantes, agir inclusive de maneira moderna, como exige o século XXI, e que nós possamos de fato, qualquer que seja o vencedor, fazer esse desafio de melhorar cada vez mais a nossa atuação, porque se há uma coisa que faz mal ao ser humano, Senador Gurgacz, é o conformismo, é a acomodação com o que está, como se já tivéssemos atingido o patamar máximo do nosso trabalho.
Martin Luther King disse que o que mais assusta não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons. E nós, na Maçonaria, não podemos ficar silentes, diante, por exemplo, do que nós estamos assistindo no Supremo Tribunal Federal, um julgamento histórico contra uma corrupção, que todos nós sabemos que existe. Mas eu ouço pessoas de bem, pessoas que têm capacidade de interagir dizerem: Isso não tem jeito, não. Isso é assim mesmo. Todo mundo que vai para lá é desse jeito. Todo mundo é corrupto. Todo mundo… Então, aos nos conformarmos com isso, ficamos em silêncio e não temos, portanto, bandeiras para que a sociedade entenda por que existimos.
Mas eu posso afirmar para a sociedade não maçônica que a Maçonaria age, e age muito, embora, no meu entender, esteja agindo de maneira a não ser compreendida. Usando um linguajar ou pelo menos um dito que foi cunhado por um grande comunicador, que era o Chacrinha, que dizia que quem não se comunica se trumbica. Na verdade, eu diria até que, aqui no Senado, quebrei um paradigma, que foi o de fazer uma sessão solene de homenagem à Maçonaria; de vir a tribuna falar claramente sobre a Maçonaria; de vários irmãos, nós somos aqui 7 Senadores que são maçons, falarem também; de alguns Senadores que não são maçons, mas que conhecem a história, virem e também falarem; de algumas Senadoras que têm, digamos assim, conhecimento, ou porque tiveram parentes na sociedade maçônica ou porque acompanham a história da Maçonaria…
Eu tenho certeza de que essa postura, ao contrário do que pensam alguns conservadores, contribui para acabar com os mitos que ainda existem contra a Maçonaria, mitos que ainda são explorados no dia de hoje, como, por exemplo, o de que somos uma sociedade que temos pacto com o demônio. Isso é uma mentira deslavada, inventada lá na época da Inquisição, para justificar que muitos irmãos fossem queimados na fogueira e que pudessem ser perseguidos, carimbados de hereges, porque não obedeciam ao comando dos reis e dos papas.
Hoje, nós queremos fazer o contrário, nós queremos pacificar, queremos que a Maçonaria possa ter uma boa relação com a religião, queremos que as religiões atualmente entendam -- e felizmente algumas já entendem --, Senador Gurgacz, que nós não somos uma religião, mas nós somos uma instituição religiosa. Por quê? Porque só entra para a Maçonaria quem tem uma religião ou quem, de alguma forma, acredita em Deus. Como é que ele chama esse Deus? Não interessa para nós se é Jeová, Alá, ou Deus, como chamam os cristãos. O que importa é que creia em uma entidade superior, que nós maçons chamamos de Grande Arquiteto do Universo.
Então, quero encerrar meu pronunciamento, pedindo a V. Exª que autorize a transcrição dessas duas matérias a quem referi, cumprimentando os irmãos que estão aqui presentes, mas cumprimentando os irmãos de todo o País, dizendo que numa era em que estamos aí ligados on line de todas as formas, nas redes sociais, por telefone, nós seremos muito mais capazes de fazer muito mais pela nossa sociedade do que fizeram os nossos irmãos no passado, quando as comunicações e os deslocamentos eram feitos a cavalo. Coincidentemente, é só ver a figura reconhecida nacionalmente. Onde estava D. Pedro I quando deu o grito de Independência? Em cima de um cavalo, às margens do riacho Ipiranga, lá em São Paulo. Como estava o Marechal Deodoro quando proclamou a República? Em cima de um cavalo, lá no Rio de Janeiro. Então, nós não precisamos mais andar a cavalo e, portanto, temos que fazer muito mais do que eles fizeram quando as comunicações e o transporte eram feitos por esse meio.
Então, quero encerrar o meu pronunciamento, mandando a todos irmãos do Brasil um tríplice e fraternal abraço, e especialmente à família do meu mestre eterno, Francisco Murilo Pinto, pela passagem de mais um ano de seu falecimento, que vai acontecer no dia 21 de janeiro, portanto, como em janeiro nós estaremos de férias, eu estou antecipando essa homenagem a esse homem que é um símbolo da Maçonaria moderna.
Muito obrigado.
DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR MOZARILDO CAVALCANTI EM SEU PRONUNCIAMENTO.
(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I, § 2º, do Regimento Interno.)
Matéria referida:
-- Francisco Murilo Pinto, in memoriam
-- Histórico de Grão-Mestres Brasileiros