Pela Liderança durante a 219ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com a seca no Nordeste brasileiro.

Autor
Cícero Lucena (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PB)
Nome completo: Cícero de Lucena Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
CALAMIDADE PUBLICA, DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • Preocupação com a seca no Nordeste brasileiro.
Aparteantes
Vital do Rêgo.
Publicação
Publicação no DSF de 28/11/2012 - Página 64186
Assunto
Outros > CALAMIDADE PUBLICA, DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • COMENTARIO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, SECA, REGIÃO NORDESTE, REFERENCIA, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, ESTADO DA PARAIBA (PB), SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, PUBLICAÇÃO, REGISTRO, REALIZAÇÃO, DEBATE, ASSUNTO, TRANSPOSIÇÃO, RIO SÃO FRANCISCO, CRITICA, ATUAÇÃO, MINISTRO, MINISTERIO DO PLANEJAMENTO ORÇAMENTO E GESTÃO (MPOG), MOTIVO, AUSENCIA, ESFORÇO, AGILIZAÇÃO, OBRA PUBLICA.

            O SR. CÍCERO LUCENA (Bloco/PSDB - PB. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, serei bastante breve, até porque voltarei a este assunto na sessão de amanhã, fruto da oportunidade que teremos logo no dia de amanhã. Será instalada, ou será verificada, na verdade, a comissão de acompanhamento e fiscalização da transposição das águas do Rio São Francisco, onde nós já vamos discutir o plano de trabalho e de ação dessa comissão, comissão essa que eu tive a honra de propor no início do ano, aprovada por unanimidade por esta Casa e instalada, há pouco mais de dez dias, sob a Presidência do Senador Vital do Rêgo.

            Senador Vital, aproveitando inclusive a presença de V. Exª aqui, eu, neste momento, além de registrar a minha preocupação com esse tema -- que é comum à preocupação de V. Exª, como foi também do pronunciamento do Senador Cássio Cunha Lima, já tratando do problema da seca no Nordeste e, em particular, na Paraíba --, gostaria de registrar rapidamente dois momentos que dão a verdadeira dimensão e a preocupação que o Brasil e o mundo têm que ter com essa situação que nós estamos vivendo.

            O primeiro momento é uma matéria jornalística da revista A Semana, do nº 682, editada na Paraíba, Presidente, onde há uma fotografia, fotografia essa que deveria ganhar um prêmio internacional, porque registra, com muita propriedade, a oportunidade em que um agricultor, sofredor do sertão da Paraíba, está tomando alguns goles de água em uma garrafa, e, ao seu lado, esperando que caia alguma gota, está uma vaca na expectativa de lamber o rosto do sofrido agricultor paraibano. Isso demonstra, de forma clara, através de fotografia, a verdadeira realidade que o povo paraibano e nordestino está vivendo.

            Há poucos instantes, conversava com o ex-Governador do Piauí Wellington Dias, e ele me dizia que acaba de morrer, está morrendo no Piauí cerca de cem mil hectares de pés de caju, fonte de renda, de sobrevivência e de vida, não só para os agricultores que plantam e que usam o caju, como inclusive para a indústria que cultiva as abelhas, que também vai entrar em processo de extinção.

            Sr. Presidente, amanhã nós teremos o debate -- e V. Exª também participa dessa comissão -- sobre o trabalho da transposição.

            E o segundo fato que faço questão de registrar é com mais preocupação ainda. Mas muito mais preocupação! É que, esta semana, a Ministra Miriam Belchior, ao responder sobre o problema da paralisação dessas águas, disse que a transposição das águas iria concluir-se após 2016, mas que não tinha nada não porque o povo de lá -- esse povo a que a Ministra fez referência, Senador Vital, somos nós paraibanos, são os cearenses, são os rio-grandenses-do-norte, são os pernambucanos, parte da Bahia, de Alagoas, de Sergipe, do Piauí, do Maranhão, do Ceará -- sofre com algo que é histórico e que é vivido diariamente pelo sofrido povo nordestino.

            Pois bem, Ministra, eu lhe respondo que o povo nordestino tem fé, e muita fé! Eu inclusive vou colocá-la nas minhas orações para que Deus possa tocar no seu coração, possa lhe dar sensibilidade e compromisso de ajudar a resolver problemas tão graves, mas tão graves do povo da minha terra e de todo o Nordeste.

            Amanhã, farei um pronunciamento em que convocarei os direitos humanos, as entidades internacionais, porque pergunto: que diferença há entre um acidente de chuva, de enchente, de furacão, que tira vidas, que destrói a vida das pessoas, e essa lentidão da seca, que mata os animais -- onde estão os defensores dos animais? -- e mata, mais ainda, a esperança e a confiança no povo nordestino num amanhã muito melhor?

            Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

            O Sr. Vital do Rêgo (Bloco/PMDB - PB) - Senador Cícero Lucena, antes de V. Exª deixar a tribuna, eu gostaria…

            O SR. PRESIDENTE (Inácio Arruda. Bloco/PCdoB - CE) - V. Exª é o próximo inscrito.

            O Sr. Vital do Rêgo (Bloco/PMDB - PB) - Mas não quero deixar de apartear o nobre Senador Cícero Lucena, se V. Exª me permitir.

            O SR. CÍCERO LUCENA (Bloco/PSDB - PB) - Será um prazer, até porque eu não usei o meu tempo.

            O SR. PRESIDENTE (Inácio Arruda. Bloco/PCdoB - CE) - Claro.

            O Sr. Vital do Rêgo (Bloco/PMDB - PB) - Ontem V. Exª trazia consigo o exemplar da revista A Semana e fazia questão de me mostrar essa fotografia em que a imagem traduz o cearense sofrido, Senador Inácio, mais do que milhares de laudas discursais. Um garrote, um novilho sofrido do sertão paraibano, disputando gotas de água ou esperando saciar a sua sede com um lavrador paraibano. É grave, é muito grave. O Senador Cássio, digno representante do nosso Estado, traduziu há pouco a sua preocupação, e V. Exª o faz agora, nesse canto lamurioso, ensolarado do vexame que nós estamos passando. Daqui a pouco, vou assumir a tribuna para também falar da seca, falar das ações que estão sendo feitas, dos paliativos que possam estar chegando, mas da necessidade estruturante da grande obra que estão a nos dever governos pretéritos e o atual Governo, ao qual eu tenho a honra de defender e de pertencer. Pois bem, Senador Cícero, amanhã nós vamos ter, com muita honra, a instalação não da comissão, mas, na sua primeira sessão ordinária, das diretrizes do nosso grupo de trabalho, das ações efetivas a serem apresentadas pela comissão especial proposta por V. Exª, cujo requerimento foi aprovado por este Plenário, de acompanhamento das obras de transposição do Rio São Francisco -, essa, sim, obra redentora do Nordeste brasileiro e obra de fundamental importância para a Paraíba. Nós vamos, com os demais Senadores, com o nosso relator, Senador Humberto Costa, decidir em votação as regras do nosso trabalho, através desse plano sobre o qual, em poucos dias, nós teremos a posição do Senado Federal, a posição do Senado Federal com relação a essa obra que, lamentavelmente, precisa ser, por parte desta Casa, acompanhada com um olhar não apenas meu, seu, do Senador Cássio, dos Senadores do Nordeste, mas em nome daqueles que estão sofrendo, e com risco, efetivamente, de morte. Isso porque o caso que nós estamos vivendo é um caso de morte. Vidas estão sob risco, e nós precisamos da nossa voz, porque é nossa responsabilidade. Nós temos obrigação com essa gente.

            O SR. CÍCERO LUCENA (Bloco/PSDB - PB) - Agradeço ao Senador Vital, como sempre com seus apartes enriquecendo o simples pronunciamento que nós estamos fazendo.

            E aproveito, Sr. Presidente, para pedir que seja registrada, nos Anais desta Casa, essa reportagem da revista A Semana, em que a manchete chama-se “O Sertão pede socorro”.

            Permite-me, Presidente, que ainda estou dentro do meu tempo…

            O SR. PRESIDENTE (Inácio Arruda. Bloco/PCdoB - CE) - Claro!

            O SR. CÍCERO LUCENA (Bloco/PSDB - PB) - Eu queria contar uma história, primeiro deixando bem claro que eu sou totalmente favorável aos investimentos estruturantes do Brasil. Eu sou totalmente favorável aos investimentos, desde que bem acompanhados, para a Copa do Mundo, para mostrar o potencial e proporcionar o desenvolvimento econômico, a geração de renda e a melhor distribuição dessa renda.

            Mas eu me recordo de um fato -- e talvez V. Exª se lembre de que cidade foi essa --, nos idos de 80, quando eu ainda não militava na vida pública, mas, sim, eu era um pequeno construtor no meu querido Estado da Paraíba. O governo federal daquela oportunidade tinha um programa de centros sociais urbanos, e havia, Senador Rollemberg, centro social tipo A, B e C. Alguns Estados escolhiam o tipo que queriam colocar nas cidades. E, coincidentemente, Senador Inácio Arruda, no Ceará, eu assisti, em um Jornal Nacional, à inauguração de um centro social urbano que, entre outros equipamentos de ginásio coberto, de área de treinamento e formação de mão de obra, de sala de corte de costura, de teatro, tinha também piscina. Eu me recordo -- isso tem mais de 30 anos --, e o Jornal Nacional mostrou, Senador Rollemberg, que essa pequena cidade foi convocada para a inauguração do centro social urbano. Pois não é, Senador Vital, que a população toda compareceu à inauguração do centro social urbano? Mas compareceu de uma forma muito simples: com latas na cabeça para tirar a água azul e tratada da piscina, já que a cidade não tinha abastecimento d’água.

            Então, ou cuidamos de matar a sede do Nordeste, investindo de forma responsável e urgente, como se faz necessário, ou correremos o risco de, na frente dos estádios de cidades que serão sedes da Copa no Nordeste, como Recife, Natal e Fortaleza, termos alguns nordestinos com latas na cabeça tentando apanhar a água que iria irrigar o gramado dos campos de futebol.

            É urgente a nossa ação. O povo está com sede e está perdendo a sua vida!

            Muito obrigado.

 

DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR CÍCERO LUCENA EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e §2º, do Regimento Interno.)

Matéria referida:

- O Sertão pede socorro.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/11/2012 - Página 64186